Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Recebi este interessante experimento em um e-mail. Não conheço o autor da animação, mas estou divulgando o experimento e vou comentá-lo muito rapidamente.

Logo abaixo, observe a animação (originalmente em GIF animado que eu transformei em flash). Para que lado a dançarina gira? Segundo alguns estudiosos, se você vê a dançarina girando no sentido horário, significa que trabalha mais o lado direito do cérebro. Se, no entanto, você a vê girar no sentido anti-horário, utiliza mais o lado esquerdo do seu cérebro.

Entretanto, se você desviar um pouco o foco da sua visão, para o lado esquerdo ou para o lado direito da animação, sem forçar, em poucos instantes, a dançarina muda o sentido do giro. E se você passar algum tempo sem olhar para a animação, quando voltar a olhar perceberá que a dançarina está girando para o lado oposto. E mais: se você olhar para a sombra dos pés da dançarina, imediatamente o sentido de rotação muda. Você ainda poderá experimentar regular a tela do seu monitor para ver apenas a parte de cima da animação ou apenas a parte de baixo, em ambos os casos dividindo a animação ao meio. Em cada situação há um tipo de movimento de rotação, que, de repente, poderá se alterar. Se você não acredita, tente.

 

 

 

 

 

 

 

Ora, na realidade, o que muda (se você teve sucesso no experimento) é a sua percepção do movimento giratório, ou seja, o que muda é a função perceptivo-cerebral do lado direito para o lado esquerdo, ou vice-versa, que ora trabalha decodificando o movimento de rotação da dançarina de uma forma, ora trabalha decodificando de outra (horário ou anti-horário). Isto não é sensacional?

O que é deplorável – e é isto que desejo comentar – é que, além de usarmos menos do que um décimo de nossa capacidade cerebral, muitas vezes usamos mal essa capacidade e, geralmente, sempre da mesma maneira. Desperdiçamos uma parte ponderável de nossa vida com besteiras comprometedoras, isso para chamar de besteiras esses comprometimentos. Bingo... Novelas de televisão... Conversas fúteis... Discussões inúteis... Pensamentos inconsistentes, inúteis, superficiais... Ações insinceras... Intenções hipotéticas... Medos infundados... Crenças amputadoras... Prisões apocópicas... Preconceitos medonhos... Xenofobias injustificadas... Lazeres deformantes e retrogressivos...

Bem, para melhorarmos a nossa capacidade cerebral, podemos variar um pouco nossos hábitos. Vale a pena e é muito bom: andar um pouco de costas; escovar os dentes, pentear o cabelo, coçar a orelha, beber água e pegar objetos com a outra mão; tentar fazer algumas coisas de olhos fechados (como, por exemplo, tomar banho, urinar, descomer, escrever, andar); começar a ensaboação, ao tomar banho, por diferentes partes do corpo; observar as variações de tons e de cores de uma pintura ou da Natureza; tentar isolar mentalmente os sons dos diversos instrumentos de uma composição musical ou mesmo da Natureza; tentar memorizar os objetos de um ambiente desconhecido; apertar o botão do elevador com o nariz e abrir a porta do mesmo elevador com a bunda (vice-versa não dá!); tentar tirar meleca com o dedão do pé; brincar e dançar sozinho; contar mentalmente o número de mastigações; contar o número de degraus ao subir uma escada; variar a forma de se vestir, começando um dia por uma peça, outro dia por outra et cetera. À noite, antes de dormir, recordar os fatos do dia é muito bom. Invente e auxilie o seu cérebro! Mas cuidadíssimo para não atiçar suas manias-fobias (se você as tiver) e não virar um Adrian Monk (Tony Shalhoub) ou um Melvin Udall (Jack Nicholson).

 

 

 

 

Mas, particularmente, o que tudo isto poderá interessar a um místico?

 

 

 

 

 

 

Somos iludidos por todos os nossos sentidos;

bem de manhãzinha, com a tardinha e de noite.

Muito pior: consideramos que os nossos gemidos

têm o mesmo valor ao meio-dia e à meia-noite.1

 

E temos pavor de mudar nossa maneira de ser;

queremos continuar a ser exatamente como somos.

E, devagarinho, vamos envelhecendo sem perceber.

E passaremos     do mesmo jeito que sempre fomos.

 

Com mil perdões da má palavra: isto é bisonho!

Em tudo e para tudo é preciso reconsiderar de siso.

 

Até bem pouco tempo, eu desgostava de computador;

hoje, divulgo textos no Pax Profundis com  

Nas impertinências... Fazer o siso. E navegar é preciso!2

 

 

 

 

Yoram Bonneh Illusion
Se, por algum tempo, você olhar fixamente
a animação acima, os pontos amarelos
desaparecerão esporadicamente.

 

 

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Notas:

1. Isto aqui é simbólico, mas nem tanto. Mas é mais ou menos como o ditado: De dia na lama, de noite na cama.

2. Navigare necesse. [Divisa]. Navegar é preciso. Navigare necesse; vivere non necesse. [Plutarco, Vida de Pompeu 50.2/Rezende 3765]. Navegar é preciso; viver não é preciso. (Frase do general romano Pompeu, o Grande, 106 a. C. - 48 a. C., em resposta aos marinheiros que o queriam dissuadir de embarcar durante uma tempestade para levar trigo a Roma, então ameaçada por fome iminente). Já Fernando Pessoa (1888-1935), em Navegar é Preciso, escreveu: Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: 'navegar é preciso, viver não é preciso'. Quero para mim o espírito d'esta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://beverlytang.com/
perception/blindness/

http://www.weizmann.ac.il/
home/masagi/yoram.html

 

Fundo musical:

Illusion

Fonte:

http://www.hotfiles.co.za/
midi/CREATIVE/PIANOIMP/