Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

s férias chegaram! Que alegria! Adriana olhava seu boletim com imensa felicidade. Havia sido aprovada em todas as matérias. No ano seguinte, iria para a quarta série. Não via a hora de mostrar o resultado do seu esforço aos pais.

 

driana amava muito seus pais e, afinal, reconhecia o sacrifício que eles faziam para mantê-la em um colégio particular. Apesar de não gostar de algumas matérias que ensinavam na escola, acreditava que sendo boa aluna poderia no futuro ajudar os pais nas despesas da casa. Ela associava tirar boas notas com a chance de ter um bom emprego quando crescesse. O que ela não se conformava era ter que decorar todos aqueles nomes e datas que aprendia em História e Geografia, mas o que amenizava toda aquela xaropada era a bondade de Dona Amélia, sua mais querida professora. Dona Amélia era maravilhosa; parecia ter uma paciência inesgotável. Quando alguém trocava um nome ou esquecia uma data, ela simplesmente ensinava mais uma vez. E, talvez por vergonha de magoar Dona Amélia, Adriana e seus coleguinhas de sala se empenhavam e acabavam aprendendo direitinho a lição.

 

as agora chegaram as férias. Uma lágrima furtiva desceu pelo rostinho rosado de Adriana ao se despedir da professora amada, e a saudade dos amiguinhos que só voltaria a ver no final de fevereiro do ano seguinte entristeceu um pouquinho a menina. De repente, nos seus nove aninhos, ela se sentiu muito só. Não tinha irmãozinhos para brincar e o apartamento em que morava era mal iluminado e pequeno. Era um quarto-e-sala apertado de um edifício velho de um subúrbio da zona norte do Rio de Janeiro. Sua caminha era o divã da sala, que sua mãe, na hora de dormir, arrumava com todo carinho. Adriana tinha poucos brinquedinhos, e o que mais gostava era do Pimpão, um ursinho de pelúcia que ganhara do seu pai em seu último aniversário. Era seu companheiro preferido e nunca o punha de castigo. Já Lara, uma bonequinha de plástico, esta sim, já havia ficado de castigo duas vezes. A primeira porque havia contado uma mentirinha. Ousara dizer para Adriana que o Pimpão havia feito xixi na cama. Logo o Pimpão que ela tanto gostava! A outra, porque a bonequinha esquecera de escovar os dentes depois de chupar bala. Adriana já havia ensinado à Lara que depois das refeições era importante escovar os dentinhos para que eles não ficassem amarelos ou cariados. Principalmente depois de comer doces e balas! Tirando o ursinho de pelúcia e a bonequinha de plástico, os outros poucos brinquedos que possuía estavam velhos ou quebrados.

 

or tudo isso, quando chegavam as férias, Adriana sentia uma espécie de alegria solitária e melancólica. Havia passado de ano, e seus pais iriam ficar satisfeitos. De noite, quando chegassem do trabalho, ela faria a surpresa dando a notícia. E depois? Dois meses longe do Celsinho, do Bruno, da Blanquinha e da Vivian. Longe da Dona Amélia! Era muita tristeza para o pequeno coração de Adriana. Com estes pensamentos, como já fazia há dois anos, foi sozinha para casa. A escola não era longe; ela só precisava atravessar uma rua. Sua mãe, Dona Rose, havia lhe ensinado o caminho e feito as recomendações de praxe, pois precisava trabalhar fora para ajudar o marido. Seu Vitor, o pai de Adriana, era gráfico, e não podia dispensar o auxílio que sua esposa lhe dava trabalhando como recepcionista de uma pediatra que tinha um consultório a poucas quadras de sua casa. A doutora atendia de manhã e de tarde. Por isto, Adriana, além de voltar para casa sozinha da escola, tinha que esquentar sua comidinha e ficar em casa estudando e brincando esperando seus pais chegarem. Até o ano anterior, ela comia o almoço frio, sem esquentar. Quando, em fevereiro, fez nove anos, a mãe lhe ensinou como acender o gás do fogão, e Adriana, então, com todo cuidado, passou a esquentar seu almoço, que sua mãe já deixava prontinho em uma marmita em um banho-maria. Era fácil; bastava acender o gás. A menina, na ocasião em que aprendera a lidar com o fogão, havia ficado muito contente com a confiança que sua mãe teve nela. Ela já não agüentava mais comida fria. Às vezes, se escondia para chorar de tristeza. Mas agora, não! Já podia esquentar a marmitinha de comida; era só acender o gás e esperar quinze minutos. O almoço ficava quentinho. Que delícia! De sobremesa, era banana, goiabada ou rapadura. Lá de vez em quando, havia arroz-doce ou aletria. Aletria era seu doce predileto. Com canela por cima então! Que delícia!

 

uando chegou à casa, foi logo ver o que sua mãe havia deixado para o almoço. Era arroz, feijão, macarrão, cenoura e uma coxinha de galinha. Adriana se animou a esquentar a comidinha. Não era sempre que havia galinha. Carne, só de vez em quando. De sobremesa, sua mãe havia feito aletria. Era mesmo seu dia de sorte. Passara de ano, havia coxinha para almoçar e, para completar, o doce que mais gostava. Adriana deu um saltinho de alegria e se preparou para almoçar logo, em companhia do ursinho de pelúcia e da bonequinha de plástico. Ela fazia suas refeições sempre na cozinha.

 

erminado o almoço, lavou os pratos e os enxugou. Escovou os dentes e, como de costume, foi brincar com o Pimpão e com a Lara. Depois, se desse vontade, veria um pouco de televisão.

 

rouxe o ursinho e a bonequinha para a sala, sentou-se no divã e começou a conversar com eles, contando as novidades do dia. Pimpão deu-lhe parabéns e Lara abraçou-a com alegria. Os brinquedos fizeram a maior festa por Adriana ter passado na escola.

 

tarde ia caindo suavemente, e Adriana, entretida com seus amiguinhos, não sentia o tempo passar. Era um dia quente de dezembro, abafado, sem vento, dando a impressão de que o mundo havia parado. Adriana abraçou o ursinho e lentamente adormeceu. Um calorzinho que não esquenta, gostoso, diferente, reconfortante, começou a aquecer seus pés e a subir pelas suas pernas. Ela quis acordar para verificar o que estava acontecendo, mas não teve força. O calorzinho foi subindo pelo corpinho da criança e já alcançara seu coração. A sensação era espetacular. A garotinha começou a vivenciar um estado de consciência que não conhecia nem havia experimentado antes. Seu corpinho de criança era todo energia e vibrava com suavidade. O calorzinho continuou a subir, a subir... De repente, alcançou sua cabeça, e ela ouviu o som de um gongo – o OM eterno – que a fez desfalecer confortavelmente. Não sentiu qualquer dor ou mal-estar; pelo contrário. Aquilo nunca houvera acontecido com ela, mas a sensação era indescritivelmente maravilhosa, pois o calorzinho inusitadamente refrescara todo o seu corpinho.

 

uando acordou, viu diante de si um homem magro, alto, com barba e cabelos brancos. Seus olhos eram azuis e irradiavam uma bondade infinita. Vestia uma túnica azul e calçava sandálias brancas. Em seu peito, por cima da túnica, pendia de um cordão uma Ankh – símbolo da Vida Eterna – que piscava ininterruptamente. Adriana jamais havia visto aquela belíssima Cruz. Tudo tão insolitamente insólito! O que estaria acontecendo?

 

 

 

 

 

oi então que Adriana reparou que não se encontrava em casa. Olhou em volta, e – surpresa! – percebeu que estava dentro de uma nave espacial. Bem, pelo menos o lugar era parecido com as naves dos desenhos animados que ela via na televisão. Luzes piscavam em um painel de controle à sua esquerda, e os objetos do lugar onde estava eram diferentes e desconhecidos. É isso, pensou a menina: é uma nave. Só pode ser uma nave. Estou viajando em uma nave espacial. Mas, por quê? Para onde?

 

 

 

 

ara o Sol. Para o centro do Sol. — Respondeu bondosamente e com um sorriso amigo e confortador o homem magro, alto, com barba e cabelos brancos e de olhos de cor azul-celeste à sua frente. Ele fitava a menina para observar sua reação. Não desejava de forma alguma amedrontá-la.

 

omo você descobriu meu pensamento? — Perguntou Adriana um pouco assustada.

 

ão se preocupe. Nós, habitantes do Sol, há muitos milênios, desenvolvemos certas faculdades especiais. Uma delas é a telepatia, que nos permite conversar sem gastar energia tendo que falar. E as distâncias, para nós, praticamente inexistem, não sendo um obstáculo para nos comunicarmos. Compreendeu?

 

im, compreendi. Mas o que eu estou fazendo aqui? Como eu vim parar aqui? Eu me lembro que estava em casa com o Pimpão e a Lara, e agora...

 

homem observou a menina e, com tranqüilidade, respondeu: — Sim. De certa forma você está em sua casa. Mas também está aqui. Como você já sabe, todos nós temos um corpo e também Algo Superior que o anima. Muitos de vocês, na Terra, chamam este Algo Superior de Alma. Outros chamam de Espírito, o que não é a mesma coisa. Em situações como esta, de forma simplificada para que você compreenda, o que acontece se passa mais ou menos assim: durante o sono ou por sua própria vontade, esse Algo Superior ou Alma pode viajar e conhecer coisas, pessoas, lugares. Às vezes, essas experiências são recordadas; outras, não. Assim, é a sua contraparte mais sutil e mais pura – esse Algo Superior ou Alma – que está aqui. E você, por isso, terá o especial privilégio de conhecer um lugar que pouquíssimos conhecem. É um lugar de paz e de harmonia inimagináveis para os terráqueos e para seres que habitam outros planetas da Terceira Dimensão semelhantes ao seu. Lá, no Sol, não há doença, dor, maldade e tristeza. E muito menos guerras.

 

o Sol? — Perguntou a menina.

 

im. No centro do Sol. — Respondeu o bom homem.

 

as eu posso me queimar! O Sol é muito quente. Estou com medo. — Disse Adriana ensaiando um chorinho.

 

ão tenha medo. Não há motivo. Aprenda uma coisa: apenas o Corpo Físico pode sofrer e sentir dor. Aquilo que você entende como Alma, por ter outra constituição, não pode ser magoado. Além disso, Adriana, esta nave não é material; é constituída, por assim dizer, de uma energia mental que resiste a temperaturas muito superiores àquelas que existem na superfície do Sol. Todas as nossas naves são feitas desta maneira, e nada pode destruí-las, além do que, têm duração quase ilimitada. Quando precisamos construir uma nave espacial, treze dos nossos mais adiantados Irmãos se reúnem, e, através de um processo místico-alquímico que não posso explicar, em três dias ininterruptos planejam, constroem e concluem o projeto.

 

uvindo estas explicações, Adriana se acalmou. Lembrou-se, então, que não sabia o nome do seu anfitrião. Também gostaria de saber o que ele fazia no Sol. Ela nunca imaginara que o Sol pudesse ser habitado. E mais do que isso: habitado por seres tão evoluídos. Para a menina, aquilo tudo era uma grande e auspiciosa novidade.

 

eu nome é Adhriann. Como você pode ver, temos algo em comum: nosso nome é muito parecido. Em minha cidade-divisão, que se chama VITRIOLVM II, sou um dos responsáveis pelo que denominamos, por assim dizer, de turismo cósmico. Aquelas pessoas que são por nós consideradas merecedoras de nos conhecer são trazidas por mim e por outros Irmãos ao centro do Sol para aprender um pouco sobre nossos costumes e nossa cultura. É claro que, depois de nos visitar, todos se tornam diferentes. Para melhor, pois uma espécie de Alquimia interior é operada. Sua própria vida se tornará diferente, a partir de hoje.

 

eu mereci? — Balbuciou Adriana emocionada.

 

im — respondeu Adhriann. Não só mereceu, como é importante para os seus amiguinhos que você saiba que nós existimos, pois é necessário que você conte a eles esta experiência. Você não deve guardar só para si o bem que recebe; deve distribuí-lo. Com uma certa precaução, mas deve distribuí-lo. O egoísmo é o pai de todas as desgraças humanas. Muitos dos que habitam seu Planeta ainda acreditam que a vida consciente é uma regalia apenas da Terra. Isto é um grave equívoco. O Universo é todo povoado. Tudo vive; tudo é vida. O seu próprio Planeta é um ser vivente. Vida da Santa Vida, ainda que a autoconsciência seja Privilégio de poucos, pois só poderá ser adquirida por merecimento e por amorosa Interferência Mântrica Superior no código genético dos seres que ainda não a possuem, mas que já estão aptos para dela serem dignos. Você já observou que há animais que são quase humanos? Medite sobre isto. Bem, a Consciência Universal, Consciência Cósmica ou Alma Cósmica espalha-se e manifesta-se pelo Universo inteiro. Não há um ponto do Universo, por menor que seja, que esteja desprovido desta Vida. Alguns corpos siderais são habitados apenas na superfície, outros, somente no interior, e há aqueles que são povoados na superfície e no interior. O Sol, por exemplo, está inserido no segundo caso.

 

dhriann parou para observar a reação da menina sob o impacto destas revelações inabituais. Mas Adriana, curiosamente, recebeu as informações com absoluta tranqüilidade. De certa forma, parece que ela já sabia aquelas coisas e que estava apenas recordando.

 

ico contente em saber que não estamos sozinhos — disse Adriana tocando com sua mãozinha a mão do homem. Ela agora o observava melhor, e ele, apesar da barba e dos cabelos brancos, não parecia ter mais do que quarenta anos. Seus olhos azuis-celestes ajudavam, inclusive, a lhe conferir um aspecto jovial e terno.

 

ois é, Adriana — continuou o Homem Solar — nós, habitantes do Sol, estamos muito preocupados com a situação da Terra, que novamente vem se agravando aceleradamente em todos os aspectos. São as guerras fratricidas, as devastações e a poluição que comprometem o equilíbrio dos vários ecossistemas, a criminalidade e a corrupção crescentes em todos os níveis, a matança de animais para todos os fins, as famílias se desfazendo como castelos de areia... Seu Planeta, que em um passado remoto foi uma espécie de paraíso, está hoje muito doente e ameaçado de um grande desastre. Não um desastre motivado por um único fator; mas pelo conjunto de violações e de desregramentos que vêm sendo praticados individual e coletivamente. É, mais ou menos, como se você tivesse uma grande caixa d'água e ali fosse, pouco a pouco, depositando água ininterruptamente, sem dar oportunidade que essa água fosse utilizada de alguma forma. Em um dado instante, ela transbordaria, não é verdade? Pois isto é parecido com a energia detrimentosa e desarmonizadora produzida por esse conjunto de atos irresponsáveis de que lhe falei. Em um dado momento, a desarmonia, a discordância e a divisão serão de tal ordem que enlouquecerão os homens. Eles acabarão perdendo o pouco senso de responsabilidade e de racionalidade que ainda lhes resta, e, envolvidos em um ódio toldador e incontrolável, tentarão se destruir mutuamente. Em pequena escala, que não é tão pequena assim, isto já está erraticamente acontecendo. E os governantes, incapazes e impossibilitados de retroceder, acabarão indo à guerra global, que poderá quase aniquilar a espécie humana, a fauna e a flora. Mas, se isto vier a acontecer, o que não desejamos, não será o fim de tudo. Alguns poucos escaparão. Mas ocorrerá um sofrimento generalizado nunca visto antes na história da Humanidade. Por isto, você está aqui viajando para o Sol. Outros terráqueos têm nos visitado também. Nosso propósito é mostrar a alguns de vocês que a paz é possível, que a compreensão, a tolerância e o respeito às diferenças, todos fundados na liberdade, na justiça e no amor, são o único caminho para que floresça e frutifique o progresso ancorado na eqüidade. Este é basicamente o caminho, a única via, para a evolução-reintegração paulatina de cada pessoa – e de todos – no seio daquilo que poderia ser denominado de Suprema Harmonia Sideral. O contrário disto é a morte recicladora para a Eterna Vida.

 

 

 

 

 

nave deslizava pelo espaço dando a impressão de imobilidade aos que estavam em seu interior. Delicadamente, encurtava os 149 milhões de km que separam a Terra do Sol. Isto, em valores aproximados, pois no periélio (ponto mais próximo do Sol) a distância da Terra ao Sol é da ordem de 147 milhões de km, ao passo que no afélio (ponto mais afastado do Sol) é de cerca de 151 milhões de km.

 

 

 

 

 

 

driana, nos seus nove aninhos, ouvira a narrativa do seu interlocutor e dava tratos à imaginação. Ela havia compreendido perfeitamente as explicações de Adhriann, mas seria possível aquilo tudo acontecer? A garotinha, que era só bondade e ternura, apesar de ter entendido os esclarecimentos do Homem Solar, ficou triste e meio perturbada com as coisas que ouviu. E, afinal, que papel ela desempenharia naquilo tudo? Ela sabia que não era uma menina dotada de uma inteligência especial. Esforçava-se para compreender as lições da escola, e, por outro lado, era pobre e um pouco tímida. Mas, se pudesse ajudar a evitar o tal desastre a que Adhriann se referira, isto sim, ela o faria com todas as forças. Aproveitou o silêncio de Adhriann para pedir mentalmente a Deus que não permitisse que aquelas coisas horríveis acontecessem.

 

nave possuía uma grande escotilha de vidro perto do painel de controle, e Adriana pôde ver a aproximação do Sol. Colunas gigantescas de fogo se projetavam no espaço. Dentro da nave, a temperatura era agradável, transmitindo segurança e conforto.

 

dhriann decidiu não preocupar a cabecinha da garota com nenhuma nova informação. Por enquanto, o que ela vira e ouvira era mais do que suficiente.

 

Sol agora estava mais próximo. Adhriann dirigiu-se ao painel de instrumentos e apertou alguns botões para fazer uma pequena correção no curso da nave; depois tentou fazer contato com a sua base. A nave deslizou para a direita e começou a penetrar no Sol. Agora as explosões solares ocorriam bem à vista, mas a nave as atravessava sem dano aparente. Nem um ruído sequer era ouvido em seu interior. Adriana estava deslumbrada. Ela podia ter imaginado tudo em seus devaneios infantis, menos que um dia entraria no próprio Sol. Adhriann apenas observava a menina sem dar uma palavra.

 

 

 

 

ara Adriana, aquele magnífico espetáculo luminoso poderia durar eternamente. Ela nunca vira algo tão sensacional. Era milhões de vezes mais bonito do que o show de fogos de artifício que assistira na Praia de Copacabana no fim do ano anterior.

 

entamente, a nave avançava em direção ao centro do Sol, e as explosões solares iam diminuindo de intensidade, até que um outro tipo de luminosidade começou a surgir no vidro da escotilha da nave. Era uma luz azul-prateada difícil de descrever, mas com prevalência do azul, muito clara, mas que não ofuscava ou incomodava a visão. De repente, ao longe, Adriana viu aparecerem as primeiras construções da Cidade do Sol Espiritual. Diversas naves circulavam sobre aquela Cidade gigantesca.

 

qui, na Cidade do Sol Espiritual, somos um único povo e todos falamos o mesmo idioma — comentou Adhriann com um sorriso encorajador nos lábios. E continuou: — Em nossa Cidade, não há crimes, doenças ou guerras. Todos são alimentados da mesma forma e há escolas para todos. As oportunidades de progresso são rigorosamente iguais, e cada um – dentro da mais estrita liberdade e da mais absoluta independência – pode escolher qual ofício ou atividade que deseja desempenhar. Sabe, entretanto, que deverá ter sempre em mente nosso Lema principal: Aprender para evoluir; evoluir para servir; servir para aprender. Há muitos milênios nosso povo baniu o egoísmo, como também não existem entre nós quaisquer tipos de vícios. Somos milhares em nossa Cidade, mas somos todos um.

 

itas estas palavras, Adhriann encaminhou-se para o painel de controle da nave e deu início à manobra de pouso. Neste momento, neste exato momento, três rojões explodiram no ar. Eram os fogueteiros do tráfico de um morro próximo avisando os traficantes das diligências policiais que iam começar. Adriana sentiu um forte impacto em seu peito, acordando de súbito sem entender o que estava acontecendo. Mas... E a nave? E Adhriann? E a Cidade do Sol Espiritual? Sonho? Tudo foi apenas um sonho? Como? Como toda aquela beleza podia ter sido apenas um sonho? Tentou adormecer de novo, mas não conseguiu. Pimpão, ao seu lado, olhava para a menina sem entender nada. Lara, que também adormecera, não acordou com o estrondo dos rojões.

 

driana pensou: passei de ano, entrei de férias, só verei meus coleguinhas no ano que vem, conheci um senhor maravilhoso, viajei em uma nave espacial, visitei a Cidade do Sol Espiritual... E tudo foi um sonho! Adriana não resistiu à todas aquelas perdas e chorou convulsivamente. Quando se acalmou, viu ao seu lado, no divã, surgir um botão de uma rosa vermelha que se abria muito vagarosamente. Tão logo a rosa se abriu completamente, foi lentamente se evaporando no ar.

 

 

 

 

 

 

 

m um canto daquele apartamento mal iluminado e pequeno de um edifício velho de um subúrbio da zona norte do Rio de Janeiro, invisível e silente, Adhriann, com toda atenção, observava o movimento interior espiritual da menina. Ficou satisfeito com o que viu. Quando o botão da rosa terminou de enflorescer e a flor sumiu no ar, o Alto Iniciado partiu em silêncio.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fundo musical:

Sun

Fonte:

http://fios.jefftrout.com:8080/
~jw/midi/Enya/tc/

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.universia.com.br/
html/materia/materia_caia.html

http://www.freewebs.com/
hipoteseaa/flying_mach.htm

http://bestanimations.com/
Nature/Flora/Roses/Roses2.html

http://presys.com/
~ekklesia/cmeimage.htm