s
férias chegaram! Que alegria! Adriana olhava seu boletim com imensa
felicidade. Havia sido aprovada em todas as matérias. No ano seguinte,
iria para a quarta série. Não via a hora de mostrar o resultado
do seu esforço aos pais.
driana
amava muito seus pais e, afinal, reconhecia o sacrifício que eles
faziam para mantê-la em um colégio particular. Apesar de não
gostar de algumas matérias que ensinavam na escola, acreditava que
sendo boa aluna poderia no futuro ajudar os pais nas despesas da casa. Ela
associava tirar boas notas com a chance de ter um bom emprego quando crescesse.
O que ela não se conformava era ter que decorar todos aqueles nomes
e datas que aprendia em História e Geografia, mas o que amenizava
toda aquela xaropada era a bondade de Dona Amélia, sua mais querida
professora. Dona Amélia era maravilhosa; parecia ter uma paciência
inesgotável. Quando alguém trocava um nome ou esquecia uma
data, ela simplesmente ensinava mais uma vez. E, talvez por vergonha de
magoar Dona Amélia, Adriana e seus coleguinhas de sala se empenhavam
e acabavam aprendendo direitinho a lição.
as
agora chegaram as férias. Uma lágrima furtiva desceu pelo
rostinho rosado de Adriana ao se despedir da professora amada, e a saudade
dos amiguinhos que só voltaria a ver no final de fevereiro do ano
seguinte entristeceu um pouquinho a menina. De repente, nos seus nove aninhos,
ela se sentiu muito só. Não tinha irmãozinhos para
brincar e o apartamento em que morava era mal iluminado e pequeno. Era um
quarto-e-sala apertado de um edifício velho de um subúrbio
da zona norte do Rio de Janeiro. Sua caminha era o divã da sala,
que sua mãe, na hora de dormir, arrumava com todo carinho. Adriana
tinha poucos brinquedinhos, e o que mais gostava era do Pimpão, um
ursinho de pelúcia que ganhara do seu pai em seu último aniversário.
Era seu companheiro preferido e nunca o punha de castigo. Já Lara,
uma bonequinha de plástico, esta sim, já havia ficado de castigo
duas vezes. A primeira porque havia contado uma mentirinha. Ousara dizer
para Adriana que o Pimpão havia feito xixi na cama. Logo o Pimpão
que ela tanto gostava! A outra, porque a bonequinha esquecera de escovar
os dentes depois de chupar bala. Adriana já havia ensinado à
Lara que depois das refeições era importante escovar os dentinhos
para que eles não ficassem amarelos ou cariados. Principalmente depois
de comer doces e balas! Tirando o ursinho de pelúcia e a bonequinha
de plástico, os outros poucos brinquedos que possuía estavam
velhos ou quebrados.
or
tudo isso, quando chegavam as férias, Adriana sentia uma espécie
de alegria solitária e melancólica. Havia passado de ano,
e seus pais iriam ficar satisfeitos. De noite, quando chegassem do trabalho,
ela faria a surpresa dando a notícia. E depois? Dois meses longe
do Celsinho, do Bruno, da Blanquinha e da Vivian. Longe da Dona Amélia!
Era muita tristeza para o pequeno coração de Adriana. Com
estes pensamentos, como já fazia há dois anos, foi sozinha
para casa. A escola não era longe; ela só precisava atravessar
uma rua. Sua mãe, Dona Rose, havia lhe ensinado o caminho e feito
as recomendações de praxe, pois precisava trabalhar fora para
ajudar o marido. Seu Vitor, o pai de Adriana, era gráfico, e não
podia dispensar o auxílio que sua esposa lhe dava trabalhando como
recepcionista de uma pediatra que tinha um consultório a poucas quadras
de sua casa. A doutora atendia de manhã e de tarde. Por isto, Adriana,
além de voltar para casa sozinha da escola, tinha que esquentar sua
comidinha e ficar em casa estudando e brincando esperando seus pais chegarem.
Até o ano anterior, ela comia o almoço frio, sem esquentar.
Quando, em fevereiro, fez nove anos, a mãe lhe ensinou como acender
o gás do fogão, e Adriana, então, com todo cuidado,
passou a esquentar seu almoço, que sua mãe já deixava
prontinho em uma marmita em um banho-maria. Era fácil; bastava acender
o gás. A menina, na ocasião em que aprendera a lidar com o
fogão, havia ficado muito contente com a confiança que sua
mãe teve nela. Ela já não agüentava mais comida
fria. Às vezes, se escondia para chorar de tristeza. Mas agora, não!
Já podia esquentar a marmitinha de comida; era só acender
o gás e esperar quinze minutos. O almoço ficava quentinho.
Que delícia! De sobremesa, era banana, goiabada ou rapadura. Lá
de vez em quando, havia arroz-doce ou aletria. Aletria era seu doce predileto.
Com canela por cima então! Que delícia!
uando
chegou à casa, foi logo ver o que sua mãe havia deixado para
o almoço. Era arroz, feijão, macarrão, cenoura e uma
coxinha de galinha. Adriana se animou a esquentar a comidinha. Não
era sempre que havia galinha. Carne, só de vez em quando. De sobremesa,
sua mãe havia feito aletria. Era mesmo seu dia de sorte. Passara
de ano, havia coxinha para almoçar e, para completar, o doce que
mais gostava. Adriana deu um saltinho de alegria e se preparou para almoçar
logo, em companhia do ursinho de pelúcia e da bonequinha de plástico.
Ela fazia suas refeições sempre na cozinha.
erminado
o almoço, lavou os pratos e os enxugou. Escovou os dentes e, como
de costume, foi brincar com o Pimpão e com a Lara. Depois, se desse
vontade, veria um pouco de televisão.
rouxe
o ursinho e a bonequinha para a sala, sentou-se no divã e começou
a conversar com eles, contando as novidades do dia. Pimpão deu-lhe
parabéns e Lara abraçou-a com alegria. Os brinquedos fizeram
a maior festa por Adriana ter passado na escola.
tarde ia caindo suavemente, e Adriana, entretida com seus amiguinhos, não
sentia o tempo passar. Era um dia quente de dezembro, abafado, sem vento,
dando a impressão de que o mundo havia parado. Adriana abraçou
o ursinho e lentamente adormeceu. Um calorzinho
que não esquenta, gostoso, diferente, reconfortante, começou
a aquecer seus pés e a subir pelas suas pernas. Ela quis acordar
para verificar o que estava acontecendo, mas não teve força.
O calorzinho
foi subindo pelo corpinho da criança e já alcançara
seu coração. A sensação era espetacular. A garotinha
começou a vivenciar um estado de consciência que não
conhecia nem havia experimentado antes. Seu corpinho de criança era
todo energia e vibrava com suavidade. O calorzinho
continuou a subir, a subir... De repente, alcançou sua cabeça,
e ela ouviu o som de um gongo – o OM eterno – que a
fez desfalecer confortavelmente. Não sentiu qualquer dor ou mal-estar;
pelo contrário. Aquilo nunca houvera acontecido com ela, mas a sensação
era indescritivelmente maravilhosa, pois o calorzinho
inusitadamente refrescara todo o seu corpinho.
uando
acordou, viu diante de si um homem magro, alto, com barba e cabelos brancos.
Seus olhos eram azuis e irradiavam uma bondade infinita. Vestia uma túnica
azul e calçava sandálias brancas. Em seu peito, por cima da
túnica, pendia de um cordão uma Ankh – símbolo
da Vida Eterna – que piscava ininterruptamente. Adriana jamais havia
visto aquela belíssima Cruz. Tudo tão insolitamente insólito!
O que estaria acontecendo?
oi
então que Adriana reparou que não se encontrava em casa. Olhou
em volta, e – surpresa! – percebeu que estava dentro de uma
nave espacial. Bem, pelo menos o lugar era parecido com as naves dos desenhos
animados que ela via na televisão. Luzes piscavam em um painel de
controle à sua esquerda, e os objetos do lugar onde estava eram diferentes
e desconhecidos. É isso, pensou a menina: é uma nave. Só
pode ser uma nave. Estou viajando em uma nave espacial. Mas, por quê?
Para onde?
— ara o Sol. Para
o centro do Sol. — Respondeu bondosamente e com um sorriso amigo
e confortador o homem magro, alto, com barba e cabelos brancos e de olhos
de cor azul-celeste à sua frente. Ele fitava a menina para observar
sua reação. Não desejava de forma alguma amedrontá-la.
—
omo você descobriu
meu pensamento? — Perguntou Adriana um pouco assustada.
—
ão se preocupe.
Nós, habitantes do Sol, há muitos milênios, desenvolvemos
certas faculdades especiais. Uma delas é a telepatia, que nos permite
conversar sem gastar energia tendo que falar. E as distâncias, para
nós, praticamente inexistem,
não sendo um obstáculo para nos comunicarmos. Compreendeu?
—
im, compreendi. Mas o que eu
estou fazendo aqui? Como eu vim parar aqui? Eu me lembro que estava em casa
com o Pimpão e a Lara, e agora...
homem observou a menina e, com tranqüilidade, respondeu: — Sim.
De certa forma você está em sua casa. Mas também está
aqui. Como você já sabe, todos nós temos um corpo e
também Algo Superior que o anima. Muitos de vocês, na Terra,
chamam este Algo Superior de Alma. Outros chamam de Espírito, o que
não é a mesma coisa. Em situações como esta,
de forma simplificada para que você compreenda, o que acontece se
passa mais ou menos assim: durante o sono ou por sua própria vontade,
esse Algo Superior ou Alma pode viajar e conhecer coisas, pessoas, lugares.
Às vezes, essas experiências são recordadas; outras,
não. Assim, é a sua contraparte mais sutil e mais pura –
esse Algo Superior ou Alma – que está aqui. E você, por
isso, terá o especial privilégio de conhecer um lugar que
pouquíssimos conhecem. É um lugar de paz e de harmonia inimagináveis
para os terráqueos e para seres que habitam outros planetas da Terceira
Dimensão semelhantes ao seu. Lá, no Sol, não há
doença, dor, maldade e tristeza. E muito menos guerras.
—
o Sol? —
Perguntou a menina.
—
im. No centro do Sol. —
Respondeu o bom homem.
—as
eu posso me queimar! O Sol é muito quente. Estou com medo. —
Disse Adriana ensaiando um chorinho.
—
ão tenha medo.
Não há motivo. Aprenda uma coisa: apenas o Corpo Físico
pode sofrer e sentir dor. Aquilo que você entende como Alma, por ter
outra constituição, não pode ser magoado. Além
disso, Adriana, esta nave não é material; é constituída,
por assim dizer, de uma energia mental que resiste a temperaturas muito
superiores àquelas que existem na superfície do Sol. Todas
as nossas naves são feitas desta maneira, e nada pode destruí-las,
além do que, têm duração quase ilimitada.
Quando precisamos construir uma nave espacial, treze dos nossos mais
adiantados Irmãos se reúnem, e, através de um processo
místico-alquímico que não posso explicar, em três
dias ininterruptos planejam, constroem e concluem o projeto.
uvindo
estas explicações, Adriana se acalmou. Lembrou-se, então,
que não sabia o nome do seu anfitrião. Também gostaria
de saber o que ele fazia no Sol. Ela nunca imaginara que o Sol pudesse ser
habitado. E mais do que isso: habitado por seres tão evoluídos.
Para a menina, aquilo tudo era uma grande e auspiciosa novidade.
—
eu nome é Adhriann.
Como você pode ver, temos algo em comum: nosso nome é muito
parecido. Em minha cidade-divisão, que se chama VITRIOLVM II, sou
um dos responsáveis pelo que denominamos, por assim dizer, de turismo
cósmico. Aquelas pessoas que são por nós consideradas
merecedoras de nos conhecer são trazidas por mim e por outros Irmãos
ao centro do Sol para aprender um pouco sobre nossos costumes e nossa cultura.
É claro que, depois de nos visitar, todos se tornam diferentes.
Para melhor, pois uma espécie de Alquimia interior é operada.
Sua própria vida se tornará diferente, a partir de hoje.
—
eu mereci? — Balbuciou
Adriana emocionada.
—
im — respondeu
Adhriann. Não só mereceu, como é importante para
os seus amiguinhos que você saiba que nós existimos, pois é
necessário que você conte a eles esta experiência. Você
não deve guardar só para si o bem que recebe; deve distribuí-lo.
Com uma certa precaução, mas deve distribuí-lo. O egoísmo
é o pai de todas as desgraças humanas. Muitos dos que habitam
seu Planeta ainda acreditam que a vida consciente é uma regalia apenas
da Terra. Isto é um grave equívoco. O Universo é todo
povoado. Tudo vive; tudo é vida. O seu próprio Planeta é
um ser vivente. Vida da Santa Vida, ainda que a autoconsciência seja
Privilégio de poucos, pois só poderá
ser adquirida por merecimento e por amorosa Interferência Mântrica
Superior no código genético dos seres que ainda não
a possuem, mas que já estão aptos para dela serem dignos.
Você já observou que há animais que são quase
humanos? Medite sobre isto. Bem, a Consciência Universal, Consciência
Cósmica ou Alma Cósmica espalha-se e manifesta-se pelo Universo
inteiro. Não há um ponto do Universo, por menor que seja,
que esteja desprovido desta Vida. Alguns corpos siderais são habitados
apenas na superfície, outros, somente no interior, e há aqueles
que são povoados na superfície e no interior. O Sol, por exemplo,
está inserido no segundo caso.
dhriann
parou para observar a reação da menina sob o impacto destas
revelações inabituais. Mas Adriana, curiosamente, recebeu
as informações com absoluta tranqüilidade. De certa forma,
parece que ela já sabia aquelas coisas e que estava apenas recordando.
—
ico contente em saber
que não estamos sozinhos — disse Adriana tocando com sua
mãozinha a mão do homem. Ela agora o observava melhor, e ele,
apesar da barba e dos cabelos brancos, não parecia ter mais do que
quarenta anos. Seus olhos azuis-celestes ajudavam, inclusive, a lhe conferir
um aspecto jovial e terno.
—
ois é, Adriana —
continuou o Homem Solar — nós, habitantes do Sol, estamos
muito preocupados com a situação da Terra, que novamente vem
se agravando aceleradamente em todos os aspectos. São as guerras
fratricidas, as devastações e a poluição que
comprometem o equilíbrio dos vários ecossistemas, a criminalidade
e a corrupção crescentes em todos os níveis, a matança
de animais para todos os fins, as famílias se desfazendo como castelos
de areia... Seu Planeta, que em um passado remoto foi uma espécie
de paraíso, está hoje muito doente e ameaçado de um
grande desastre. Não um desastre motivado por um único fator;
mas pelo conjunto de violações e de desregramentos que vêm
sendo praticados individual e coletivamente. É, mais ou menos, como
se você tivesse uma grande caixa d'água e ali fosse, pouco
a pouco, depositando água ininterruptamente, sem dar oportunidade
que essa água fosse utilizada de alguma forma. Em um dado instante,
ela transbordaria, não é verdade? Pois isto é parecido
com a energia detrimentosa e desarmonizadora produzida por esse conjunto
de atos irresponsáveis de que lhe falei. Em um dado momento, a desarmonia,
a discordância e a divisão serão de tal ordem que enlouquecerão
os homens. Eles acabarão perdendo o pouco senso de responsabilidade
e de racionalidade que ainda lhes resta, e, envolvidos em um ódio
toldador e incontrolável, tentarão se destruir mutuamente.
Em pequena escala, que não é tão pequena assim, isto
já está erraticamente acontecendo. E os governantes, incapazes
e impossibilitados de retroceder, acabarão indo à guerra global,
que poderá quase aniquilar a espécie humana, a fauna e a flora.
Mas, se isto vier a acontecer, o que não desejamos, não será
o fim de tudo. Alguns poucos escaparão. Mas ocorrerá um sofrimento
generalizado nunca visto antes na história da Humanidade. Por isto,
você está aqui viajando para o Sol. Outros terráqueos
têm nos visitado também. Nosso propósito é mostrar
a alguns de vocês que a paz é possível, que a compreensão,
a tolerância e o respeito às diferenças, todos fundados
na liberdade, na justiça e no amor, são o único caminho
para que floresça e frutifique o progresso ancorado na eqüidade.
Este é basicamente o caminho, a única via, para a evolução-reintegração
paulatina de cada pessoa – e de todos – no seio daquilo que
poderia ser denominado de Suprema Harmonia Sideral. O contrário disto
é a morte recicladora para a Eterna Vida.
nave deslizava pelo espaço dando a impressão de imobilidade
aos que estavam em seu interior. Delicadamente, encurtava os 149 milhões
de km que separam a Terra do Sol. Isto, em valores aproximados, pois no
periélio (ponto mais próximo do Sol) a distância da
Terra ao Sol é da ordem de 147 milhões de km, ao passo que
no afélio (ponto mais afastado do Sol) é de cerca de 151 milhões
de km.
driana,
nos seus nove aninhos, ouvira a narrativa do seu interlocutor e dava tratos
à imaginação. Ela havia compreendido perfeitamente
as explicações de Adhriann, mas seria possível aquilo
tudo acontecer? A garotinha, que era só bondade e ternura, apesar
de ter entendido os esclarecimentos do Homem Solar, ficou triste e meio
perturbada com as coisas que ouviu. E, afinal, que papel ela desempenharia
naquilo tudo? Ela sabia que não era uma menina dotada de uma inteligência
especial. Esforçava-se para compreender as lições da
escola, e, por outro lado, era pobre e um pouco tímida. Mas, se pudesse
ajudar a evitar o tal desastre a que Adhriann se referira, isto sim, ela
o faria com todas as forças. Aproveitou o silêncio de Adhriann
para pedir mentalmente a Deus que não permitisse que aquelas coisas
horríveis acontecessem.
nave possuía uma grande escotilha de vidro perto do painel de controle,
e Adriana pôde ver a aproximação do Sol. Colunas gigantescas
de fogo se projetavam no espaço. Dentro da nave, a temperatura era
agradável, transmitindo segurança e conforto.
dhriann
decidiu não preocupar a cabecinha da garota com nenhuma nova informação.
Por enquanto, o que ela vira e ouvira era mais do que suficiente.
Sol agora estava mais próximo. Adhriann dirigiu-se ao painel de instrumentos
e apertou alguns botões para fazer uma pequena correção
no curso da nave; depois tentou fazer contato com a sua base. A nave deslizou
para a direita e começou a penetrar no Sol. Agora as explosões
solares ocorriam bem à vista, mas a nave as atravessava sem dano
aparente. Nem um ruído sequer era ouvido em seu interior. Adriana
estava deslumbrada. Ela podia ter imaginado tudo em seus devaneios infantis,
menos que um dia entraria no próprio Sol. Adhriann apenas observava
a menina sem dar uma palavra.
ara
Adriana, aquele magnífico espetáculo luminoso poderia durar
eternamente. Ela nunca vira algo tão sensacional. Era milhões
de vezes mais bonito do que o show de fogos de artifício
que assistira na Praia de Copacabana no fim do ano anterior.
entamente,
a nave avançava em direção ao centro do Sol, e as explosões
solares iam diminuindo de intensidade, até que um outro tipo de luminosidade
começou a surgir no vidro da escotilha da nave. Era uma luz azul-prateada
difícil de descrever, mas com prevalência do azul, muito clara,
mas que não ofuscava ou incomodava a visão. De repente, ao
longe, Adriana viu aparecerem as primeiras construções da
Cidade do Sol Espiritual. Diversas naves circulavam sobre aquela Cidade
gigantesca.
—
qui, na Cidade do Sol
Espiritual, somos um único povo e todos falamos o mesmo idioma
— comentou Adhriann com um sorriso encorajador nos lábios.
E continuou: — Em nossa Cidade, não há crimes, doenças
ou guerras. Todos são alimentados da mesma forma e há escolas
para todos. As oportunidades de progresso são rigorosamente iguais,
e cada um – dentro da mais estrita liberdade e da mais absoluta independência
– pode escolher qual ofício ou atividade que deseja desempenhar.
Sabe, entretanto, que deverá ter sempre em mente nosso Lema principal:
Aprender para evoluir; evoluir para servir; servir para aprender. Há
muitos milênios nosso povo baniu o egoísmo, como também
não existem entre nós quaisquer tipos de vícios. Somos
milhares em nossa Cidade, mas somos todos um.
itas
estas palavras, Adhriann encaminhou-se para o painel de controle da nave
e deu início à manobra de pouso. Neste momento, neste exato
momento, três rojões explodiram no ar. Eram os fogueteiros
do tráfico de um morro próximo avisando os traficantes das
diligências policiais que iam começar. Adriana sentiu um forte
impacto em seu peito, acordando de súbito sem entender o que estava
acontecendo. Mas... E a nave? E Adhriann? E a Cidade do Sol Espiritual?
Sonho? Tudo foi apenas um sonho? Como? Como toda aquela beleza podia ter
sido apenas um sonho? Tentou adormecer de novo, mas não conseguiu.
Pimpão, ao seu lado, olhava para a menina sem entender nada. Lara,
que também adormecera, não acordou com o estrondo dos rojões.
driana
pensou: passei de ano, entrei de férias, só verei meus coleguinhas
no ano que vem, conheci um senhor maravilhoso, viajei em uma nave espacial,
visitei a Cidade do Sol Espiritual... E tudo foi um sonho! Adriana não
resistiu à todas aquelas perdas
e chorou convulsivamente. Quando se acalmou, viu ao seu lado, no divã,
surgir um botão de uma rosa vermelha que se abria muito vagarosamente.
Tão logo a rosa se abriu completamente, foi lentamente se evaporando
no ar.
m
um canto daquele apartamento mal iluminado e pequeno de um edifício
velho de um subúrbio da zona norte do Rio de Janeiro, invisível
e silente, Adhriann, com toda atenção, observava o movimento
interior espiritual da menina. Ficou satisfeito com o que viu. Quando o
botão da rosa terminou de enflorescer e a flor sumiu no ar, o Alto
Iniciado partiu em silêncio.