Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Desconstruindo para Reconstruir

 

 

 

Para que possamos construir,

te[re]mos que permutar o estar1 pelo devir2.

Para que possamos ascensionar,

te[re]mos que ter coragem para dialetizar.

 

 

Adianta o quê insistir na claudicação?

O que adianta dar uma de espertalhão?

Oh!, como haverá de lamentar o esperto

que escolheu ficar longe em vez de perto!

 

 

Do lado de lá é parecido, mas é diferente,

apesar de não ser morno, frio ou quente.

Os cruéis que esperam encontrar angelitudes

 

 

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Será assim? Será pior? Será melhor?

 

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Para que possamos vencer a morte

precisamos fazer uma Dialética3 com a Morte.

Para que possamos conhecer a Vida

precisamos fazer uma Dialética com a vida.

 

 

 

 

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Notas:

1. Nada nem nenhum de nós é; tudo e todos nós estamos. Temporariamente. Se nós, seres humanos, estamos de uma determinada forma, é porque queremos, é porque desconhecemos uma maneira melhor de ser. Cabe a nós – e só a nós – mudar, conhecer. E depois, mudar e conhecer de novo. E de novo... E de novo... E de novo... Fomos... Estamos... Seremos... Em um perpétuo e ilimitado devenir.

 

 

2. Transformar-se.

3. Dialética, em sentido bastante genérico, é uma oposição ou um conflito originado pela contradição entre princípios teóricos ou fenômenos empíricos. Na Grécia Antiga, a Dialética era a arte do diálogo, da contraposição e contradição de idéias que levam a outras idéias presumidamente compossíveis. No platonismo, é o processo de diálogo ou de debate entre interlocutores comprometidos profundamente com a busca da verdade, através do qual a alma se eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou idéias. Em outras palavras: para Platão, Dialética é sinônimo de Filosofia, o método mais eficaz de aproximação entre as idéias particulares e as idéias universais ou puras. É a técnica de perguntar, responder e refutar que ele teria aprendido com Sócrates. Platão considerava que apenas através do diálogo o filósofo deve procurar atingir o verdadeiro conhecimento, partindo do mundo sensível e chegando ao Mundo das Idéias. Pela decomposição e investigação racional de um conceito, chega-se a uma síntese, que também deve ser examinada, em um processo ilimitado de busca da verdade, pois a verdade mesma é inalcançável. No aristotelismo, a Dialética é o raciocínio lógico que, embora coerente em seu encadeamento interno, está fundamentado em idéias apenas prováveis, e, por esta razão, traz sempre em seu âmago a possibilidade de sofrer uma refutação. Avançando sobre o óbvio, isto é muito mais do que uma simples possibilidade; é uma necessidade necessária. No kantismo, a Dialética (definida por Kant como lógica da aparência, pois se baseia em princípios que são subjetivos) é o raciocínio fundado em uma ilusão natural e inevitável da razão, que, por isto, permanece no pensamento, mesmo quando envolvido em contradições ou submetido à refutação. No hegelianismo, a Dialética é idealista, sendo, neste sentido, a lei que caracteriza a realidade como um movimento incessante e contraditório, condensável em três momentos sucessivos (tese, antítese e síntese), que se manifestam simultaneamente em todos os pensamentos humanos e em todos os fenômenos do mundo material. A tese, assim, é uma afirmação ou situação inicialmente dada. A antítese é uma oposição à tese. Do conflito – necessário porque é evolucional – entre tese e antítese, surge a síntese, que é uma situação nova que carrega dentro de si elementos resultantes deste inevitável embate. A síntese, então, torna-se uma nova tese, que, contrastando com uma nova antítese, gerará uma nova síntese, em um processo em cadeia ilimitado. No Marxismo, surge a versão materialista da Dialética hegeliana aplicada ao movimento e às contradições de origem econômica na história da Humanidade. A Dialética Ascendente, no platonismo, é o processo de elevação da alma que parte da realidade concreta em direção ao mundo inteligível e, finalmente, à idéia do Bem. Já a Dialética Descendente é o movimento característico do filósofo verdadeiro que, após haver contemplado o mundo inteligível e a idéia do Bem, retorna à realidade cotidiana com um intuito didático-auxiliador. A Dialética Transcendental, no kantismo, é a crítica da ilusão natural e inevitável através da qual a razão julga poder ultrapassar a experiência sensível, determinando, a priori, as idéias de alma, de mundo e de Deus. Misticamente, dialetizar é enfrentar o delírio e corajosamente buscar dar coerência às contradições, às ilusões e às descensões. Isto tem início à medida que o ser-no-mundo começa a tomar vergonha na cara, permitindo que o Eu Interno rasgue o açaimo, pois, de maneira geral, agimos e reagimos prisioneiros do Corpo Astral, chutando para escanteio nossa Voz Interior. Enfim, quando chegarmos a compreender, com Heráclito de Éfeso (540 a.C. – 470 a.C.), que foi o pensador dialético mais radical da Grécia Antiga, que a estabilidade é uma ilusão, que o ficar/estar/obrigar e o fazer ficar/estar/obrigar são ambigüidades de percepção, pois um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio e não respira o mesmo ar, porque nem o homem nem o rio nem o ar s[er]ão os mesmos, é bem possível que joguemos no lixo nossas vaidades e, meio envergonhados, peçamos à nossa sempre presente – desde sempre! – Voz Interior para falar. Nem que seja só de vez em quando; nem que seja só um pouquinho! (Esta nota foi ampliada e editada de diversas páginas da Internet).

 

 

Dialetizando!

 

 

Fundo musical:

Greenfields
Compositores: Terry Gilkyson, Richard Dehr & Frank Miller
Interpretação: The Brothers Four

Fonte:

http://www.pcdon.com/
MitchMiller-BrothersFour.html