Carlos Drummond de Andrade

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Rascunho

 

 

 

Posso estar dead wrong, mas penso que Carlos Drummond de Andrade é meio como Platão e Aristóteles: todo mundo conhece, sabe direitinho quem é, mas, igualzinho a esses dois gregos das arábias, poucos leram alguma coisa que Drummond escreveu. Ainda mais agora, que ele já foi para a sua Itabira Celestial há quase vinte e quatro anos! Bem, não importa. E eu também não estou criticando ninguém por não ter lido Drummond; há muitos autores importantes que eu já deveria ter lido e não li. Metade por pura preguiça; metade não sei o porquê. A outra metade...

 

Bem, preparei para nós este rascunho com alguns dos melhores pensamentos de Drummond que eu conheço. Dê uma conferida; acho que vai valer a pena. E há uma coisinha que incluí que pouca gente sabe! Quando você ler o nome Maria Thereza Francisca Gomes de Oliveira vai saber o que é.

 

 

 

 

Breve Nota Biográfica

 

 

 

Carlos Drummond de Andrade

Carlos, quietinho, em Copacabana

 

 

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por insubordinação mental. De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.

 

Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto, em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do Modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, Ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.

 

O Modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma Poesia (1930) e Brejo das Almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.

 

Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O Poeta trabalha, sobretudo, com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do Mundo (1940), em José (1942) e, principalmente, em A Rosa do Povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.

 

Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o Poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.

 

Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os Camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons Dangereuses, 1782; As Relações Perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A Fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la Soltera o el Lenguaje de las Flores, 1935; Dona Rosita, a Solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma Gota de Veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).

 

Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro, RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

 

 

 

Pensamentos de Drummond

 

 

 

Eu acredito que a poesia tenha sido uma vocação, embora não tenha sido uma vocação desenvolvida conscientemente ou intencionalmente. Minha motivação foi esta: tentar resolver, através de versos, problemas existenciais internos. São problemas de angústia, incompreensão e inadaptação ao mundo.

 

Quando nasci, um anjo torto, desses que vivem na sombra, disse: — Vai, Carlos! Vai ser 'gauche' na vida!

 

O presente é tão grande; não nos afastemos. Não nos afastemos muito; vamos de mãos dadas.

 

Saudade tem algo de auto-acusação e arrependimento.

 

Os homens não melhoram e matam-se como percevejos. Os percevejos heróicos renascem. Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado. E, se os olhos reaprendessem a chorar, seria um segundo dilúvio.

 

Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor...

 

A melhor medicina contra a saudade é a falta de memória.

 

Sexo... Esse minúsculo ponto feminino em torno do qual gira a máquina do mundo.

 

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos,
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

 

Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

 

Fácil é ditar regras. Difícil é segui-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

 

Fácil é dar um beijo. Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.

 

 

 

Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma, e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci. Hoje, quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite. Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama, te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do teu corpo. Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo filho-da-puta!

 

 

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas, pretas, amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.

Porém, meus olhos
não perguntam nada.

 

As dificuldades são o aço estrutural que entra na construção do caráter.

 

Amor não é completo se não se sabe coisas que só o amor pode inventar.

 

Necessitamos sempre de ambicionar alguma coisa que, alcançada, não nos torna sem ambição.

 

Para se alcançar um ideal é necessário ter ambição, e ter ambição é perder de vista o ideal.

 

Tenho razão de sentir saudade
tenho razão de te recusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

 

A vida se renova na esperança de um dia novo.

 

Quem gosta de escrever cartas para os jornais não deve ter namorada.

 

No adultério há pelo menos três pessoas que se enganam.

 

Há homens e mulheres que fazem do casamento uma oportunidade de adultério.

 

Tudo é simples diante de um copo de água.

 

 

 

 

A amizade é um meio de nos isolarmos da Humanidade cultivando algumas pessoas.

 

As academias coroam com igual zelo o talento e a ausência dele.

 

O otimismo é um cheque em branco a ser preenchido pelo pessimista.

 

Como as plantas, a amizade não deve ser muito nem pouco regada.

 

Cada geração de computadores desmoraliza as antecedentes e seus criadores.

 

Amar sem inquietação é amar sem amor.

 

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

 

Adão, o primeiro espoliado – e no próprio corpo!

 

O breve diálogo abaixo realmente aconteceu. Ele se passou entre Drummond e Maria Thereza Francisca Gomes de Oliveira – que conheço há quase sessenta anos, e me contou – na Rua Conselheiro Lafaiete, na qual ambos moravam, bem na esquina com a Rua Júlio de Castilhos, em Copacabana, no Posto 6, no Rio de Janeiro.

Thereza: Carlos, das pessoas que eu conheço, o Vinicius é quem mais curte a vida.

Drummond: — Pudera, Thereza! Ele não tem qualquer responsabilidade de família!

Thereza: É pau... É pedra...

Drummond: Hum...

 

O amor ensina igualmente a ferir e ser ferido.

 

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

 

É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

 

O progresso dá-nos tanta coisa que não nos sobra nada nem para pedir, nem para desejar, nem para jogar fora.

 

Entre as diversas formas de mendicância, a mais humilhante é a do amor implorado.

 

Há vários motivos para odiar uma pessoa, e um só para amá-la; este prevalece.

 

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. Amor começa tarde.

 

O anônimo tem possibilidades infinitas de ação -– se os famosos o permitirem.

 

Juro nunca mais beber — e fez o sinal-da-cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool. O mais, ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mario Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio. — Curou-se 100% do vício comentavam os amigos. Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de carraspana de pôr-do-sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-alcóolatras anônimos.

 

O cofre do banco contém apenas dinheiro; frustra-se quem pensar que lá encontrará riqueza.

 

O Brasil é um país novo que se imagina velho, e um país velho que se supõe novo.

 

A boca beijada não guarda a marca do êxtase; ele fica na boca de quem a beijou.

 

Não se mate.
Carlos, sossegue o amor.
É isso o que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo.
E segunda-feira ninguém sabe
o que será.

 

Há campeões de tudo, inclusive de perda de campeonatos.

 

O cofre também pode guardar jóias como verdades envergonhadas.

 

A confiança é um ato de fé, e esta dispensa raciocínio.

 

Cantiga de amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens.
O amor, seja como for,
é o amor.

 

E que mais, Vida Eterna, me planejas?
O que se desatou num só momento
não cabe no infinito; é fuga e vento.

 

A vida parou ou foi o automóvel?

 

Vejo beijos que se beijam...
Ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa...
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender…

 

Há muitas razões para duvidar, e uma só para crer.

 

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho, menino, entre mangueiras,
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais...
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

 

Solidão, não te mereço,
pois que te consumo em vão.
Sabendo-te embora o preço
calco teu ouro no chão.

 

Cultivamos nossas dúvidas como rosas do jardim que não possuímos.

 

E cada instante é diferente, e cada homem é diferente, e somos todos iguais.

 

 

Entre a dor e o nada o que você escolhe?

 

E como ficou chato ser moderno. Agora serei eterno.

 

Há duas épocas na vida – infância e velhice em que a felicidade está numa caixa de bombons.

 

Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.

 

Há um certo gosto em pensar sozinho. É ato individual, como nascer e morrer.

 

Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida.

 

Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo.

 

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

 

A Natureza não faz milagres; faz revelações.

 

Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar.

 

O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista,
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
promete ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta,
um verme.

 

Em vão percorremos volumes, viajamos e nos colorimos.

 

Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro,
o amor subiu na árvore,
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui, estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca,
às vezes sara amanhã.

 

O Brasil está dormindo, coitado.

 

O povo bom e simples, suas cores vistosas, pelo campo... Tão Brasil!

 

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

 

A ignorância, a cobiça e a má-fé também elegem seus representantes políticos.

 

João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim, que amava Lili, que não amava ninguém. João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se, e Lili casou com J. Pinto Fernandes, que não tinha entrado na história.

 

O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.

 

É difícil compreender como no vasto mundo falta espaço para os pequenos.

 

Não é fácil ter paciência diante dos que têm excesso de paciência.

 

 

Há países divertidos e países sérios com habitantes correspondentes.

 

Perdoar antes é melhor do que perdoar depois.

 

O que se chama povo é tão abstrato que ele não reconhece a sua imagem.

 

Nem todas as coisas incompreensíveis são religiosas.

 

A rosa não é Rosa; é projeto de Rosa continuamente renovado.

 

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo.

 

São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora.

 

Também temos saudade do que não existiu, e dói bastante.1

 

A educação para o sofrimento evitaria senti-lo em relação a casos que não o merecem.

 

Tempo disso, tempo daquilo; falta o tempo de nada.

 

A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca.

 

Se eu gosto de poesia? Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo.

 

Desejo a vocês
Fruto do mato,
Cheiro de jardim,
Namoro no portão,
Domingo sem chuva,
Segunda sem mau humor,
Sábado com seu amor,
Filme do Carlitos,
Chope com os amigos,
Viver sem inimigos,
Filme na TV,
Ter uma pessoa especial,
– E que ela goste de você

Ouvir uma palavra amável,
Ver a banda passar,
Noite de lua cheia,
Rever uma velha amizade,
Ter fé em Deus,
Não ter que ouvir não,
Nem nunca, nem jamais,
Nem adeus,
Rir como criança,
Ouvir canto de passarinho,
Sarar de resfriado,
Escrever um poema de amor,
Tomar banho de cachoeira,
Aprender uma nova canção,
Esperar alguém na estação,
Queijo com goiabada,
Uma festa,
Um violão,
Uma seresta,
Recordar um amor antigo,
Ter um ombro sempre amigo,
Bater palmas com alegria,
Uma tarde amena,
Calçar um chinelo velho,
Tocar violão para alguém,
Vinho branco,
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

 

Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

 

Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com flores, com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração acelerado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.

 

Eternamente não é o que dura para sempre, mas, sim, o que dura um segundo e é capaz de marcar tão fundo, que se faz impossível de esquecer.

 

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que se diz.

 

O homem vangloria-se de ter imitado o vôo das aves com uma complicação técnica que elas dispensam.

 

Os homens distinguem-se pelo que fazem; as mulheres pelo que levam os homens a fazer.

 

Partido político é um agrupamento de cidadãos para defesa abstrata de princípios e elevação concreta de alguns cidadãos.

 

Perder tempo em aprender coisas que não interessam priva-nos de descobrir coisas interessantes.2

 

 

 

 

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí, entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.

 

Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis.

 

O senhor cultiva epigramas?3
— Não, só a grama do meu jardim.

 

Cem máximas que resumissem a Sabedoria Universal tornariam dispensáveis os livros.

 

As obras-primas devem ter sido geradas por acaso; a produção voluntária não vai além da mediocridade.

 

Para a virtude da discrição – ou, de modo geral, para qualquer virtude aparecer em seu fulgor, é necessário que faltemos à sua prática.

 

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.

 

Um dia desses, eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tenho tido tempo de chorar.

 

Nossa dor não advém das coisas vividas; mas, sempre, das coisas que foram sonhadas e que não se cumpriram.

 

O Chão é a cama para o amor urgente;
o amor não espera ir para a cama.
Sobre o tapete no duro piso,
a gente compõe de corpo a corpo a última trama.
E para repousar do amor, vamos para a cama!

 

Até a cor do arrependimento desbota com o tempo.

 

Não importa onde você parou...
Em que momento da vida você cansou...
O que importa é que sempre é possível recomeçar.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...
É renovar as esperanças na vida e,
o mais importante:
acreditar em você de novo.

 

O povo toma pileques de ilusão com futebol e carnaval. São estas as suas duas fontes de sonho.

 

A mentira iluminada pela inteligência tem um esplendor que a verdade não possui.

 

Acreditar em nossa própria mentira é o primeiro passo para o estabelecimento de uma nova verdade.

 

Nossas alucinações são alegorias da realidade.

 

 

 

 

 

A conquista da liberdade é algo que faz tanta poeira, que, por medo da bagunça, preferimos, normalmente, optar pela arrumação.

 

 

 

Se eu tivesse que fazer isso,
seria bola pra todo lado!

 

 

Clara manhã, obrigado. O essencial é Viver.

 

Cuidado por onde andas, que é sobre os meus sonhos que caminhas.

 

Uns tomam éter4; outros, cocaína. Eu tomo alegria!

 

Eu quero a estrela da manhã.

 

Não dramatizes, não invoques, não indagues. Não percas tempo em mentir. Não te aborreças.

 

A liberdade é defendida com discursos e atacada com metralhadoras.

 

Não basta sentir a chegada dos dias lindos. É necessário proclamar: — Os dias ficaram lindos.

 

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

 

Por isso, preste atenção nos sinais. Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o Amor.

 

Mas se desejarmos fortemente o melhor e,
principalmente, lutarmos pelo melhor...
O melhor vai se instalar em nossa vida.
Porque sou do tamanho daquilo que vejo,
e não do tamanho da minha altura.

 

Não há vivos; há os que morreram e os que esperam a vez.

 

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.

 

Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou Filosofia.

 

Amor nenhum dispensa uma gota de ácido.

 

A bunda, que engraçada. Está sempre sorrindo; nunca é trágica.

 

No mármore de tua bunda gravei o meu epitáfio. Agora que nos separamos, minha morte já não me pertence. Tu a levaste contigo. (Com o som ligado, clique no Play e, enquanto a consulta do cara-de-bunda se desenrola, deixe o mouse apontado para a animação).

 

 

 

O Infeliz Cara-de-bunda

 

 

Onde estivestes de noite
que de manhã regressais
com o ultramundo nas veias,
entre flores abissais?

 

Neste botânico setembro,
que, pelo menos, você plante
com eufórica
emoção ecológica,
num pote de plástico,
uma flor de retórica.

 

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
E agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
E agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

 

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

 

Além da Terra, além do céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
Vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar
– o verbo pluriamar –
razão de ser e de viver.

 

Que século, meu Deus! — exclamaram os ratos. E começaram a roer o edifício.

 

O problema não é inventar.
É ser inventado, hora após hora,
e nunca ficar pronta
nossa edição convincente.

 

Se não erro
ao decifrar a voz dos vegetais,
eis que suspira a muda de pau-ferro
no silêncio do ser:
— Eu sei que fui plantada
com música, discurso e tudo mais,
para alguém, no futuro, oferecer,
sem discurso e sem música, o prazer
da derrubada.

 

Democracia é a forma de Governo em que o povo imagina estar no poder.

 

Uma eleição é feita para corrigir o erro da eleição anterior, mesmo que o agrave.

 

Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo. Se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem.

 

Nossa capacidade de amar é limitada, e o amor é infinito; este é o drama.

 

Namorar é fazer pacto com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar.

 

 

 

Receita de Ano Novo

 


Para você ganhar um belíssimo Ano Novo cor de arco-íris ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido (mal vivido ou talvez sem sentido), para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?).

Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto da esperança, a partir de janeiro, as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo. Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

 

 

 

Meu Deus, por que me abandonaste,
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

 

Mundo, mundo, vasto mundo;
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo, mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

 

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis;
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela,
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
Sua ilusão,
Sua miopia.

 

 

 

 

 

 

 

Para você, bom Carlos,
que está versejando aí,
em sua Itabira Celestial

 

 

 

Escuse o mal-arrumado

deste poemículo meio-à-toa.

É que sou pouco versado,

e minha poesia não é boa.

 

Quero começar dizendo

e quem você viu nhenhendo,

tem lidado pra desatar o nó.

 

Contudo, isto não é geral,

mas muita coisa melhorou.

O Bem está a vencer o mal,

e já há quem diga: — Eu-sou!

 

Carlos: também quero dizer

que você está a fazer falta!

Mas, logo que você revier,

certamente estará em alta.

 

Certamente estará em alta,

todavia, eu não disse o quê.

 

Sim, malta de zés-minhocas,

que têm, em lugar dos talantes,

constrangedoríssimas pirocas!

Oh!, quousque tandem infantes?

 

Mas muita coisa melhorou,

e vai melhorar muito mais.

já não sanfonam mais ais!

 


 

 

 

 

 

Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2011.

 

 

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Notas:

1. Não é que também temos saudade do que não existiu. Não existe o não existiu. O não-existente é só aparente; ele existe e continua a existir. Nós é que esquecemos que existiu, que existe e que continuará a existir. O nome disto é saudade metafísica, e quando ela bate – aí estou com Drummond – dói bastante.

2. Não comentarei esta afirmação. Deixarei para você se questionar se há mesmo o tal do perder tempo e se há coisas que não interessam aprender. Bem, eu quero aprender tudo que puder.

3. Epigrama: Entre os antigos gregos, qualquer inscrição, em prosa ou verso, colocada em monumentos, estátuas, moedas etc., dedicada à lembrança de um evento memorável, uma vida exemplar. Pequena composição em verso sobre qualquer assunto. Composição poética, breve e satírica que expressa, de forma incisiva, um pensamento ou um conceito malicioso.

4. Dele, todos zombavam, faziam chacota... Perambulava pelas ruas de Copacabana, barba crescida, cabelos na altura do ombro... As pernas, sempre trôpegas, exibiam várias feridas, já purulentas... As roupas, simples farrapos... Carregava sempre nas costas um saco de farinha sujo, já preto por falta de lavagem... Cheirava fortemente a éter... Era o que mais chamava a atenção das pessoas... Aquele cheiro característico que dele exalava, ao longe... Era O homem do éter, como o chamavam na Santa Clara e adjacências... E, certamente, Drummond o conheceu. Afinal, quem não conheceu o homem do éter? Dormia nas calçadas, cheirava o seu éter, mas, engraçado, não perturbava ninguém. Não era indelicado; as feições, mesmo maltratadas, indicavam que não deveria ter mais de trinta e cinco anos. E, era sempre respeitoso.

Certa vez, minha mulher comprava cigarros em um botequim da Santa Clara, e eu, no balcão, pedi um chope. Ela pagava a conta no caixa, e o garçom tirava o meu chope. O homem do éter aproximou-se dela, o cheiro do éter dominando o ambiente... Fiquei de sobreaviso. Será que ele estaria armado? Os empregados e os fregueses riram dele, fizeram piadinhas...

Olha o homem do éter; tá mais pra lá que pra cá...

Ele, cambaleando, as pernas inchadas, sangrando as feridas, olhou para a minha mulher, que distraída, de costas para ele, conferia o troco:

A senhora pode me ceder um cigarro?

Ela, surpresa, olhou para ele. Ficou um pouco nervosa, temerosa ao ver sua aparência repugnante. Dirigiu um rápido olhar para mim, que, sentado num tamborete, tomava o meu chope geladinho. Fiz um sinal com a cabeça, concordando. O homem do éter apanhou o cigarro, afastou-se, dizendo apenas:

Muito obrigado...

Olhou para mim e agradeceu, baixando, imperceptível e reverenciosamente, a cabeça, como se dissesse: 'Ele pensa que eu não o vi...'

As pessoas no botequim riram mais uma vez quando ele se afastou. Alguns até disseram:

Vai dormir, cachaça...

O dono disse para minha mulher:

A senhora desculpe o incômodo... Mas, ele anda sempre por aqui... A gente não pode fazer nada.

Um outro freguês, sentado ao meu lado, disse para mim:

Cara folgado... Você não devia ter deixado que sua esposa desse o cigarro.

E, com ar de filósofo de botequim:

É isso que acostuma mal essa gente.

Eu, virando o último gole do meu chope, disse:

Tá tudo bem...

Pois é. Quem mora (ou morou) em Copacabana, no Rio de Janeiro, como Drummond, certamente conheceu o homem do éter. Era de dar dó. Dizem que essa coisa de cheirar éter começou depois que ele teve um problema complicado de família, que não conseguiu superar. O revoltante em tudo isto é a insensibilidade, a boçalidade e a desfraternidade das pessoas. Também, quando eu era garoto – coisa que não me lembro de ter feito – era comum, ao passar um homossexual, as pessoas, ofensivamente, gritarem, debochativa e paronimamente, como loucas: — Viado... Viado... Com baixinho, careca, gordinho etc. era a mesma coisa. E olha que, naquela época, mais ou menos antes de a Capital da República ser transferida para Brasília que aconteceu oficialmente em 21 de abril de 1960, com o fechamento solene dos portões do Palácio do Catete, então transformado em Museu da República, às 9 da manhã, por Juscelino Kubitschek de Oliveira (Diamantina, 12 de setembro de 1902 – Resende, 22 de agosto de 1976) o Brasil, pode-se dizer sem exagero, se resumia ao seguinte: Brasil —› Rio de Janeiro —› Copacabana —› Posto 6 e Ipanema. O fato é que o que acontecia neste perímetro repercutia mesmo Brasil afora. É como Garota de Ipanema, uma das mais conhecidas canções de Bossa Nova e da MPB, composta em 1962 por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim, que ricocheteou mundo afora, tendo sido gravada até pelo Sinatra. A versão original da música, com o nome de Menina que Passa, era diferente e continha a seguinte letra, composta por Vinicius:

Vinha cansado de tudo,
De tantos caminhos,
Tão sem poesia,
Tão sem passarinhos,
Com medo da vida,
Com medo de amar.
Quando, na tarde vazia,
Tão linda no espaço,
Eu vi a menina
Que vinha num passo,
Cheio de balanço
Caminho do mar.

Todavia, nem Tom nem Vinicius gostaram da letra da canção. Então, mais tarde, a versão definitiva foi refeita por Vinicius, inspirado em Helô Pinheiro – de fato, que coisa mais linda, mais cheia de graça – que eu conheci na Rede dos Cobras*, no Posto 6, que passava freqüentemente em frente ao Bar Veloso (hoje Garota de Ipanema), em Ipanema.

* A Rede dos Cobras era um ponto sui generis de reunião, no Posto 6, na Praia de Copacabana, em frente à Rua Joaquim Nabuco, no Rio de Janeiro, no qual um grupo de amigos se reunia para jogar vôlei de praia, em uma rede administrada com mão-de-ferro pelo macróbio 'Seu' Tomaz, que não tremeluzia as pestanas para suspender alguém por mau comportamento. O Pinto (Molhado), por exemplo, vira-e-mexe era suspenso por, em um ataque de fúria, isolar a bola. A Rede dos Cobras recebeu esse apelido carinhoso porque lá jogavam muitos cobras da Seleção Brasileira de Vôlei (e outros tantos – uns assíduos; outros, mais ou menos – que não eram da Seleção, mas que jogavam vôlei, do muito péssimo ao muito bem), como Feitosa, Vitinho, Flavinho, Lúcio (que, certa vez, quase matou o velho Frazão com sua cortada cavalar), Roque (que, um dia, perdeu um apartamento em um jogo de poker, mas ninguém cobrou... e o jogo melou), Nuzman, Xandoca, Lúcia, Jairzinho (ex-futebolista brasileiro que, quando aparecia por lá, preferia jogar futevôlei), Coqueiro pai e Coqueiro filho, Pinto (Molhado), Marcos Cobra (que não tinha nada de cobra, muito pelo contrário), Corrente (ou Cara de Rei de Baralho Velho), Pé-de-valsa (em quem eu, certa vez, quebrei a barraca da Tia Leah em sua cabeçorra porque ele estava me sacaneando, e eu não agüentei; no mesmo dia, fizemos as pazes e ficamos de bem, mas, depois, tive que dar uma barraca nova para a Tia Leah), Danilo (que vi recentemente e continua novinho em folha), Cardeal (que não era cardeal, nem arcebispo, nem monsenhor, nem padre), Tenente (que já era quase coronel, mas que continuava a ser chamado de tenente), Tião (que não tinha nada de medonho), Everest (e seu indefectível chapéu de palha), Hilda Lassen, Paulo Milhões (que, com a inflação, foi promovido a Paulo Bilhões), Helô Pinheiro e seu marido (na época, namorado) Fernando Abel, Lagartixa, Ministro (que não era ministro de nada), Tia Leah (que não era tia de ninguém, mas era tia de todo mundo), 'Seu' Veloso pai (que adorava jogar biriba no Bridge Clube Rio de Janeiro – Copacabana) e Veloso filho, Dona Vera (irmã do ministro que não era ministro de nada), os três irmãos Estácio, Léa e Thereza (a minha amiga que comentou com o Drummond que o Vinicius é quem mais curte a vida), Paulo Borges, Bob, Bianco (filho do Gino Bianco), Bernard (o inventor do saque viagem nas estrelas), Bernardinho (técnico da Seleção), Bebeto (ex-treinador de voleibol), Paulo Amaral (ex-preparador físico da Seleção Brasileira de Futebol – que não jogava nada; mas quem tinha peito para dizer isto a ele? –), Carlos, Vitor, Montenegro (um dos sujeitos mais desagradáveis que eu conheci – que Deus o tenha colocado em bom lugar!), Átila (o melhor jogador de vôlei de praia de todos os tempos), Paulão, Celinho, Carlson Gracie, Borboleta (que era levantador, mas, quando cortava, só cortava de gancho), Jorginho, Quaresma (o homem mais educado que conheci), Gil, Parker (que sempre foi Gilbert, mas, que eu saiba, nunca foi sócio da The Parker Pen Company) e bota gente nisso, inclusive eu, que tinha o apelido (sacanocrática e carinhosamente dado pelo Feitosa) de Pincel (às vezes, me chamavam de Pincel de Barba ou de Pincelito) por causa de meus esvoaçantes e já protestativos cabelos nazarenos! Até o simpático Jô Soares andou por lá, uma certa época. Não jogava; sentado embaixo de uma barraca, só olhava. Comportadíssimo! Que eu tivesse visto, nunca deu uma paquerada. Pelo menos, ostensivamente não; de soslaio, não sei. Este é o resumo de alguns freqüentadores da Rede dos Cobras, no Posto 6. Freqüentadores, da minha época (década de sessenta e mais ou menos um pouco), claro, porque a maioria já bateu o trinta-e-um e botou o bloco na rua. Os que já desocuparam o beco devem estar jogando vôlei de nuvem, lá no céu; os que não estão todos na idade do condor – condor aqui, condor ali, nem saber de onde vem tanta dor! O jeito, eu recomendo, é fazer acupuntura com o Dr. Paulo Takaoka (que estudou Shiatsuterapia e Terapia Oriental no Japão por cinco anos), que tem um consultório na Rua Santa Clara nº 50, sala 717, em Copacabana. Seus telefones são:

3208 - 5017

9746 - 0740.

 

Nota editada das fontes:

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Garota_de_Ipanema

http://calfilho.blogspot.com/
2007/09/o-homem-do-ter.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://top-topics.thefullwiki.org/
Juggling_patterns_and_tricks

http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/

https://amadeudeprado.wordpress.com/category/
poesia/carlos-drummond-de-andrade/page/2/

http://no-preach.blogspot.com/
2010/06/alucinante.html

http://www.ronaud.com/frases-pensamentos
-citacoes-de/carlos-drummond-de-andrade

http://pensador.uol.com.br/
textos_diversos_carlos_drummond/4/

http://pensador.uol.com.br/
textos_diversos_carlos_drummond/3/

http://pensador.uol.com.br/
textos_diversos_carlos_drummond/2/

http://pensador.uol.com.br/
textos_diversos_carlos_drummond/

http://cloviscunha.blogspot.com
/2010/07/o-cara-de-bunda.html

http://ucometa.blogspot.com/
2008_03_01_archive.html

http://www.releituras.com/
drummond_bio.asp

http://www.aindamelhor.com/poesia/
poesias04-carlos-drummond.php

http://www.releituras.com/
drummond_dezembro.asp

http://frases.netsaber.com.br/

http://pensador.uol.com.br/
frases_de_carlos_drummond_de_andrade/7/

http://pensador.uol.com.br/
frases_de_carlos_drummond_de_andrade/6/

http://pensador.uol.com.br/
frases_de_carlos_drummond_de_andrade/5/

http://pensador.uol.com.br/
frases_de_carlos_drummond_de_andrade/4/

http://pensador.uol.com.br/
frases_de_carlos_drummond_de_andrade/3/

http://pensador.uol.com.br/
frases_de_carlos_drummond_de_andrade/2/

http://pensador.uol.com.br/
frases_de_carlos_drummond_de_andrade/

http://construtor.host.uol.com.br/websites/
mafiadofunk1/funk_rep_neurotico_5.html

http://pt.wikiquote.org/wiki/
Carlos_Drummond_de_Andrade

 

Música de fundo:

Lígia
Composição: Tom Jobim
Intérprete: Lúcio Alves

Fonte:

http://mp3skull.com/mp3/lucio_alves.html