DIETRICH BONHOEFFER
(Pensamentos)

 

 

 

Dietrich Bonhoeffer

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo aborda e eventualmente discute (nas notas) o pensamento do teólogo e pastor luterano Dietrich Bonhoeffer, doutor em Teologia pela Universidade de Berlim, e cuja obra é caracterizada por um fazer teológico poético. Uma de suas máxima é: A ação não surge do pensamento, mas de uma disposição para assumir responsabilidades.

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Dietrich Bonhoeffer (Breslau, 4 de fevereiro de 1906 – Berlim, 9 de abril de 1945) foi um teólogo, pastor luterano, membro da resistência alemã anti-nazista e membro fundador da Igreja Confessante, ala da Igreja Evangélica contrária à política nazista, atividade meritória que acabou por lhe custar a vida por enforcamento, em 1945, pouco tempo antes da chegada das tropas americanas que conseguiram libertar a área do país na qual estava preso. Dietrich Bonhoeffer morreu como havia vivido: um herói da Teologia testemunhando a sua fé.

 

Bonhoeffer acreditava que a responsabilidade própria do cristão não consiste no procurar manter uma vida de piedade, mas, sim, no empenho por se demonstra fiel testemunha de Cristo no mundo, através de sua maneira de viver e das atividades que desempenhe. Dizia que o Deus bíblico não é para ser encontrado naquilo que estejamos por conhecer, mas, sim, em tudo quanto já conhecemos. Demonstrou inequivocamente seu desconforto em presença de piedosos. Para ele, Deus está no mundo, e, enquanto aqui nos encontrarmos, deverá ser com este e não outro mundo que teremos de nos preocupar, ou seja, Deus haverá de ser encontrado por nós naquilo que conhecemos e não no que não conhecemos. Baseado nesta convicção, Bonhoeffer disse: Eu descobri, finalmente, e continuo ainda descobrindo, que é tão-somente através do viver completo neste mundo que se aprende a crer.

 

Por sua maneira de pensar e de agir, Bonhoeffer se envolveu na trama da Abwehr (serviço de informação do exército alemão, ativo de 1925 a 1944) para assassinar Hitler. Em março de 1943, foi preso e acabou sendo enforcado, pouco tempo antes de o próprio Hitler cometer suicídio. Em 9 de abril de 1945, três semanas antes de as tropas aliadas libertarem o campo, Bonhoeffer foi enforcado junto com seu irmão Klaus, e os cunhados Hans von Dohnanyi e Rüdiger Schleicher.

 

 

 

Livros de Bonhoeffer
publicados no Brasil

 

 

 

Vida em Comunhão, Editora Sinodal, 1986; Orando com Salmos, Editora Encontro, 1995; Tentação, Editora Sinodal, 2003; Resistência e Submissão: Cartas e Anotações Escritas na Prisão, Editora Sinodal, 2003; Discipulado, Editora Sinodal, 2004 (obra mais famosa escrita no período de ascensão do Nazismo; trata da polêmica acerca da Teologia da Graça); e Ética, Editora Sinodal, 2005.

 

Quando já estava sendo perseguido pelo Nazismo, Bonhoeffer escreveu um tratado considerado por muitos uma das maiores obras-primas do Protestantismo, que denominou simplesmente Ética. É nesta obra que ele justifica, em parte, seu engajamento na resistência alemã antinazista e seu envolvimento na luta contra Adolf Hitler, dizendo: É melhor fazer um mal do que ser mau. Suas cartas escritas na prisão são um exemplo de martírio e também um tesouro para a Teologia Cristã do século XX.

 

 

 

Pensamentos Bonhoefferianos

 

 

 

A graça barata é inimiga mortal de nossa Igreja. Hoje, a nossa luta se trava em torno da graça preciosa, que é um tesouro oculto no campo, por amor do qual o homem sai e vende tudo que tem (...) o chamado de Jesus Cristo, ao ouvir do qual o discípulo larga suas redes e segue (...) o dom pelo qual se tem que orar, a porta a qual se tem que bater.

 

A graça barata é a graça que nos concedemos a nós mesmos. A graça barata é a pregação do perdão sem exigir o batismo do arrependimento, sem a disciplina na igreja, sem comunhão e sem confissão. A graça barata é a graça sem discipulado, é a graça sem a cruz, é a graça sem Jesus Cristo.

 

A graça barata é a inimiga mortal da nossa igreja. Hoje, estamos lutando pela graça cara.

 

A última e a nova lei é graça a baixo custo, que não traz nem ajuda nem liberdade.

 

Jesus Cristo – e não homem algum ou o Estado – é o nosso único Salvador.

 

Certamente, não é verdade que o êxito justifica a ação má e os meios condenáveis, mas tampouco é possível considerarmos o êxito algo eticamente neutro. Não pode haver dúvida quanto ao fato de que o êxito histórico produz o chão sobre o qual se continua a viver, e é muito duvidoso se é eticamente mais responsável querer alguém lutar qual D. Quixote contra uma época nova ou se dispor a servir a esta nova época na confissão da própria derrota e com total voluntariedade. O êxito, afinal, faz a História, e, por cima das cabeças dos homens que fazem a História, o dirigente da história transforma sempre o mal em bem. Não passa de um curto-circuito de certos fanáticos de princípios sem senso histórico algum e, por isto, irresponsáveis em suas idéias, querer ignorar totalmente a importância ética do êxito. É oportuno que, uma vez, sejamos obrigados a discutir seriamente o problema ético do êxito. Enquanto o êxito coincidir com o bem, podemos ter o luxo de considerar o êxito como eticamente irrelevante. No momento, entretanto, em que maus meios levarem ao êxito, surgirá o problema. Diante de tal situação, reconhecemos que nem a crítica teórica do mero observador nem a simples mania de querer ter razão, isto é, a recusa de se adaptar à realidade, nem o oportunismo, isto é, a renúncia de si mesmo, e a capitulação perante o êxito farão justiça à tarefa. Nós não queremos e tampouco devemos ser nem críticos que se julgam ofendidos nem oportunistas. Teremos de nos considerar co-responsáveis na formação histórica, de caso em caso e em cada momento, tanto como vencedores quanto como derrotados. Quem, por nada que acontecer, permitir que lhe seja tirada a co-responsabilidade no decurso da História, porque sabe que esta lhe é outorgada por Deus, este achará, além de toda a crítica estéril assim como de todo o oportunismo improdutivo, uma relação fecunda para os eventos históricos. A fala de um declínio heróico diante da derrota inevitável não apresenta, em princípio, nada de heróico, porque não arrisca um olhar para o futuro. A questão última não é como eu, de modo heróico, posso escapar da situação, mas como a geração vindoura deverá continuar a existir. Soluções produtivas, mesmo que temporariamente humilhantes, só podem resultar desta interrogação historicamente responsável. Em poucas palavras: é muito mais fácil se manter fiel a uma causa por princípio do que por responsabilidade correta. A geração jovem terá o mais seguro instinto para distinguir se a ação está obedecendo a um mero princípio ou a uma responsabilidade viva, pois, nisto está em jogo seu próprio futuro.

 

 

Don Quixa lá da Mancha e seu caballo Rocinante
(Aponte o
mouse para o focinho do Rocinante)

 

Creio que nem mesmo nossas faltas e nossos erros são em vão,1 e que, para Deus, não será mais difícil Se arranjar com eles do que Se arranjar com as nossas supostas obras boas.

 

Creio que o Deus de tudo, mesmo do mal, pode e quer fazer surgir o que é bom. Para isto, Ele precisa de homens que façam o melhor uso de todas as coisas.

 

Creio que Deus não é um mero fato independente de todos os tempos, mas que Ele espera por orações sinceras e ações responsáveis, e as responde.

 

Parvoíce é um inimigo mais perigoso do bem do que a maldade. Contra o mal não se pode simplesmente protestar, ele tem de ser derrotado. Pode-se, em caso de necessidade, impedir o mal com o uso da violência, e o mal sempre traz em si o gérmen da autodestruição, causando, ao menos, um mal-estar no homem. Contra a parvoíce somos indefesos. Nem com protestos nem com violência alcançamos algum resultado! Não há argumentos: fatos que contradizem o próprio preconceito nem sequer merecem fé – em tais casos, o ignorante se torna inclusive crítico – e caso sejam fatos inevitáveis, serão postos de lado como casos isolados. Ademais, o ignorante, muito distinto do malvado, está completamente satisfeito consigo mesmo; sim, ele se torna até perigoso, pois facilmente se sente provocado e passa à agressão. Por esta razão, recomenda-se mais cautela perante o ignorante do que ao enfrentar o malvado. Jamais deveremos tentar persuadir o ignorante com argumentos; é inútil e perigoso. Para sabermos como enfrentar a parvoíce, teremos de procurar entender sua natureza. Tanto é certo que a parvoíce não é essencialmente um defeito intelectual, mas, antes, uma imperfeição humana. Há pessoas intelectualmente muito vivazes que são parvas, e outras intelectualmente muito limitadas, as quais, porém, são tudo menos tolas. Tal descoberta fazemos, para nossa surpresa, em vista de certas situações. Então, fica-se menos com a impressão de que a parvoíce é um defeito nato, do que sob certas circunstâncias os homens são feitos ignorantes, isto é, se deixam fazer parvos e ignorantes. Observamos, ainda, que pessoas retraídas e de vida solitária apresentam tal defeito com menos freqüência do que aquelas que têm inclinações sociais ou são obrigadas a conviver com outros homens ou grupos de homens. Assim sendo, a parvoíce parece constituir mais um problema social do que psicológico. Ela é uma forma peculiar de influência de circunstâncias históricas sobre o homem – um sintoma psicológico de determinadas situações externas. Por um exame mais exato, demonstra-se que qualquer ostentação de poder mais forte e exterior resulta, em boa parte, de pessoas parvas, quer se trate de poder político, quer seja de [vanglorioso] poder religioso. Pois, aparentemente, a coisa toda parece depender de uma espécie de lei psicossociológica: o poder de um precisa da tolice do outro. O processo não é, de maneira alguma, este que determinadas inclinações – como, por exemplo, intelectuais – de repente enfraquecem ou desaparecem no homem, mas que, sob a imponente impressão do desenvolvimento de poder no homem, é roubada sua íntima independência, e, então, ele desiste – mais ou menos inconscientemente – de reagir às situações criadas por seu próprio comportamento. Não nos deixemos iludir com o fato de que o tolo muitas vezes se mostra teimoso, como se fosse independente. Nota-se, particularmente, na conversa com ele, que não é com ele pessoalmente que se fala, mas com 'slogans' e senhas que vieram a dominá-lo. Ele se acha sob um fascínio, ele está obcecado, abusado em seu próprio ser, realmente maltratado. Tendo-se tornado instrumento involuntário, o tolo é capaz de toda a maldade, e, ao mesmo tempo, é incapaz de reconhecê-la como mal. Nisto, está todo o perigo do abuso diabólico. Desta forma, homens podem ser destruídos para sempre. É aqui que se torna bem claro que para vencer a tolice não basta um ato de instrução, mas, é preciso um ato de libertação. Teremos de compreender, então, que para realizar uma libertação interior, na maioria dos casos, será indispensável ter havido, primeiramente, uma libertação exterior; antes disto, teremos de desistir de todas as tentativas de persuadir o tolo. Em tal situação, verifica-se que em vão nos esforçamos sob estas condições em indagar o que o povo pensa, e por que esta pergunta, para a pessoa que pensa e age com responsabilidade, é totalmente dispensável – sempre apenas sob as circunstâncias dadas. A palavra da Bíblia, de que o temor de Deus é o princípio da sabedoria (Salmo CXI: 10), afirma que a libertação interior do homem para uma vida responsável, diante de Deus, é o único meio para superar a tolice. Ademais, há um consolo nestas reflexões sobre a parvoíce, porque, de maneira alguma, permitem que julguemos a maioria dos homens como tolos sob todas as circunstâncias. Será realmente importante se os poderosos esperarem mais da tolice ou mais da independência interior e inteligência benévola dos homens.

 

 

Tudo depende de nós!

 

 

Não somos Cristo, mas, se quisermos ser cristãos, tal importará que participemos, em ação responsável, da amplitude do Coração de Cristo, que, em liberdade, escolhe a hora exata e enfrenta o perigo e se dispõe a um comparecer autêntico, que não é ditado pelo medo, mas brota do amor libertador e redentor de Cristo para com todos os que sofrem.

 

É melhor fazer um mal do que ser mau.

 

O teste de moralidade de uma sociedade é o que ela faz com suas crianças.

 

É a natureza e a vantagem das pessoas fortes levantarem as questões cruciais e formar uma opinião clara sobre elas. Os fracos sempre têm que decidir entre alternativas que não são suas.

 

Se você tomar o trem errado, de nada adiantará andar pelo corredor do trem no sentido contrário.

 

Os bens da justiça, da verdade, da beleza e de todas as grandes realizações necessitam de tempo, constância e memória, senão degeneram. Quem não estiver disposto a assumir a responsabilidade pelo passado e a construir um futuro será esquecido.

 

O primeiro serviço que alguém deve ao outro na comunidade é ouvi-lo. Assim como o amor a Deus começa com o ouvir a sua Palavra, assim também o amor ao irmão começa com aprender a escutá-lo. É prova do amor de Deus para conosco que não apenas nos dá sua Palavra, mas, também, nos empresta o ouvido. Portanto, realizamos a obra de Deus no irmão quando aprendemos a ouvi-lo. Cristãos, e especialmente os pregadores, sempre acham que têm algo a oferecer quando se encontram na companhia de outras pessoas, como se isto fosse o seu único serviço. Esquecem que ouvir pode ser um serviço maior do que falar. Muitas pessoas procuram um ouvido atento, e não o encontram entre os cristãos, porque, geralmente, estes falam quando deveriam ouvir.

 

O Cristianismo [nomeadamente o de confissão católica] costuma dar valor infinito ao que é aparentemente inútil e tem infinita inutilidade.

 

Como poderá haver seriedade sem um traço de humor?

 

 

 

 

É só porque Ele se tornou como nós que nós poderemos nos tornar como Ele.

 

O silêncio em face do mal é o mal em si; Deus não irá nos inocentar. Não falar é falar; não agir é agir.

 

Ficar em silêncio não significa ficar inativo, mas, sim, respirar a Vontade de Deus, escutar com atenção e estar pronto para obedecer.

 

Não é necessário que descubramos novas idéias em nossas meditações. É suficiente, e muito mais importante, se a Palavra penetra e passa a habitar dentro de nós.

 

Quando chegamos a uma estimativa mais clara e sóbria de nossas próprias limitações e responsabilidades, é que se torna possível mais genuinamente amar o nosso próximo.

 

Qualquer tentativa de escapar do mundo, mais cedo ou mais tarde, será paga com uma rendição pecaminosa para o mundo.

 

Você me concedeu muitas bênçãos; todavia, deixe-me também aceitar o que é difícil de Sua Mão.

 

Precisamos nos esforçar para abandonar os anexos deste mundo.

 

As posses terrenas deslumbram os nossos olhos e nos iludem, pois pensamos que elas poderão proporcionar segurança e livramento para as nossas ansiedades. No entanto, o tempo todo, realmente, elas são a fonte de todas as nossas ansiedades.

 

 

 

Se você quiser conquistar a bondade de Deus, sirva o próximo, pois é de onde Deus virá até você.

 

Como cristãos, somos chamados a tratar nossos inimigos como irmãos e a solucionar as hostilidades com amor.

 

A fome sempre surgirá enquanto as pessoas insistirem em manter o próprio pão exclusivamente para si mesmas.

 

Em um mundo no qual o sucesso é a medida e a justificação de todas as coisas, a figura de Aquele que foi condenado e crucificado continuará a ser completamente estranha e esquecida.

 

Na causa de Cristo, nada será adquirido com violência e tumulto. Para que haja paz, deveremos Ousar. E assim, os seguidores de Cristo não foram chamados apenas para ter paz, mas, efetivamente, para fazer a paz e superar o mal com o bem.

 

Ser livre significa ser livre com o outro, porque o outro está em nós e ligado a nós. Apenas em relação com o outro seremos livres.

 

A vida de Jesus na Terra ainda não está consumada. Cristo continua vivendo Sua vida na vida de seus seguidores.

 

O que sabemos a respeito do conteúdo do discipulado? Segue-me! Isto é tudo. Isto, de fato, não constitui um programa de vida, um ideal pelo qual se deve lutar. Por ser Jesus o único conteúdo (do discipulado), é que não pode haver qualquer outro. Ao lado de Jesus, não poderá haver quaisquer conteúdos, pois Ele é o único conteúdo.

 

Quando luta e morte exercem seu selvagem domínio ao nosso redor, então, somos chamados para levar o testemunho do amor e da paz de Deus, não só por palavra e pensamento, mas, também, pelas nossas ações. Leiam Tiago IV: 1! Devemos diariamente perguntar a nós mesmos onde podemos testemunhar e o que podemos fazer para que o reino de paz e do amor triunfem. A grande paz que desejamos só poderá frutificar de novo a partir da paz entre dois ou três. Precisamos pôr um fim a todo ódio, desentendimento, inveja e inquietação, onde nós pudermos.

 

Sentado no jardim do seminário, tive tempo para pensar e orar no que se refere à minha situação e a da minha nação, obtendo algumas luzes sobre a vontade de Deus. Cheguei a conclusão que cometi um erro em vir para os Estados Unidos. Neste período difícil da História da minha pátria, devo viver junto com o meu povo. Não terei o direito de participar da reconstrução da vida cristã na Alemanha depois da guerra, se não tiver compartilhado com meu povo as provas deste período. Os cristãos alemães terão que enfrentar a terrível alternativa de desejarem a derrota de sua pátria para a salvação da civilização cristã ou de desejarem a vitória de sua pátria e, conseqüentemente, a destruição de nossa civilização. Eu sei a escolha que devo fazer, porém, não posso fazê-la e me manter ao mesmo tempo em segurança.

 

Chão debaixo dos pés. Chão debaixo dos pés, para poder viver e para poder morrer.

 

 

 

Caso não recuperemos a coragem de restabelecer o senso pelas humanas distâncias e lutar por elas, pereceremos na anarquia dos valores humanos. A insolência que se evidencia no menosprezo de todas as distâncias humanas, ao mesmo tempo constitui característica da plebe, assim como a insegurança íntima, o regatear e cortejar o favor do insolente, o rebaixar-se aos modos da plebe é caminho à decadência própria. No momento em que já não se sabe mais o que se deve aos outros, quando se apaga o senso de qualidade e a capacidade de manter distância, o caos estará à porta. Lá, onde toleramos por mero comodismo material que a insolência se aproxime, já nos teremos rendido a nós mesmos, e a correnteza da enchente terá rompido o dique onde seria o nosso lugar, de modo que teremos culpa pelo todo ameaçado. Em outros tempos, talvez tenha sido a missão da cristandade dar testemunho da igualdade dos homens; hoje, todavia, exatamente o Cristianismo terá de defender o respeito às distâncias humanas e a qualidade do homem, e isto apaixonadamente. A interpretação errônea, como se o Cristianismo, desta forma, tratasse de causa própria, nos obrigará a agüentar a suspeita de opinião associal. Tais são as censuras permanentes da plebe contra toda a ordem. Quem, nesta hora, se mantiver brando e inseguro não entende o que está em jogo, e, provavelmente, as censuras o atingirão com justiça. Achamo-nos em meio a um processo de degeneração em todas as classes sociais, e, ao mesmo tempo, parece surgir a hora de nascer um novo comportamento nobre que tenda a unir um círculo de homens de todas as camadas sociais tradicionais. Nobreza subsiste e resulta de sacrifício, de coragem e de um conhecimento claro daquilo que se deve a si mesmo e ao outro, por uma exigência natural de respeito, como convém, bem como por uma manutenção do respeito para cima, tanto quanto para baixo. A questão é, em toda linha, conseguir-se a recuperação das experiências de qualidade, tão abaladas; sim, importa restaurar a ordem sobre a base da qualidade. Qualidade é o arquiinimigo de todo o tipo de degeneração das classes sociais. Socialmente, isto significa a renúncia à caça de posições, o rompimento com o culto de estrelas de cinema e de teatro, do esporte e do jornalismo, o olhar livre para o alto e para baixo, especialmente no que diz respeito à escolha das amizades mais chegadas, à alegria, à vida íntima e à coragem para a vida pública. Culturalmente, isto equivale à experiência qualitativa do retorno do jornal e do rádio para o livro, da vida ociosa para a quietude, da distração para a concentração, da sensação para a reflexão, do esnobismo para a modéstia, da intemperança para a sobriedade. Quantidades disputam espaço uma com a outra; entretanto, qualidades se completam.

 

Sobre o sofrimento: Maravilhosa transformação. As mãos fortes e ativas estão amarradas. Impotente e solitário, vês o fim de tua ação. Não obstante, respiras aliviado, e colocas o que é justo, tranqüilo e confiante em mãos mais fortes, e te dás por satisfeito. Só por um momento, tocaste feliz a liberdade, entregando-a, então, a Deus, para gloriosa consumação.

 

Sobre a morte: Pois vem, festa máxima no caminho para a eterna liberdade. A morte destrói as fatigantes correntes e as muralhas do nosso corpo passageiro e da nossa alma cega, para que, finalmente, vislumbremos o que nos é negado ver aqui. Liberdade, procuramos-te longamente em disciplina, ação e sofrimento. Morrendo, te reconhecemos e contemplamos, agora, na face de Deus.

 

É muitíssimo mais fácil sofrer na obediência a alguma ordem humana do que sofrer na liberdade de uma ação responsável. É muitíssimo mais fácil sofrer em comunidade do que na solidão. É muitíssimo mais fácil sofrer em público e sob honras do que às escondidas e em desonra. É muitíssimo mais fácil sofrer pelo sacrifício da vida material do que pelo espírito. Cristo sofreu na solidão, isolado e em vergonha, tanto na carne quanto no Espírito, e, desde então, muitos cristãos sofrem com Ele o mesmo.

 

Deve-se contar com que a maioria dos homens somente fiquem mais prudentes com as experiências que sentem na própria carne. Assim se explica primeiramente a surpreendente incapacidade da maioria para uma ação preventiva de qualquer tipo – pois, geralmente acredita-se na possibilidade de se poder escapar ao perigo, até que seja tarde demais; em segundo lugar, assusta a insensibilidade diante do padecimento alheio. Só em proporção com o crescente medo da proximidade ameaçadora da desgraça cria-se a compaixão. Há muito a eleger para a justificação desta atitude, do ponto de vista ético: não se querer por a mão em assuntos que cabem ao destino resolver; autêntica vocação e força para a ação apenas podem resultar da situação séria que surge na vida de cada um. Afinal, não somos responsáveis por toda a injustiça e todo o sofrimento no mundo, e menos ainda somos juízes do mundo. Do ponto de vista psicológico, a total carência de fantasia, de sensibilidade e do estado interior de constante alerta são compensados por uma sólida indiferença, por uma resistência imperturbável de trabalho e por uma grande capacidade para o sofrimento. Se olharmos tudo isto com o olhar cristão, entretanto, não nos podemos iludir a respeito da fragilidade de todas estas justificativas, pois nos parece que o que realmente falta é a amplitude de um Coração bem formado. Cristo se manteve distante do sofrimento até que chegasse sua hora. Então, Ele o enfrentou com liberdade, atacou-o e venceu-o sem hesitação. Conforme diz a Escritura, Cristo suportou todos os sofrimentos de todos os homens na sua carne como sofrimento próprio – eis uma idéia incrivelmente sublime – e Cristo os suportou na liberdade plena. Não podemos, certamente, nos comparar com Cristo, nem somos vocacionados para salvar o mundo por nossa própria ação ou sofrimento. Não devemos querer nos sobrecarregar com o impossível e com ele nos torturar, já que não o poderemos suportar, pois, não somos senhores, mas apenas instrumentos ou ferramentas na mão do Senhor da História. De fato, só conseguimos sofrer os padecimentos de nosso semelhante em medidas bem limitadas. Não somos Cristo, mas, se quisermos ser verdadeiros cristãos, tal importaria que participássemos da amplitude do Coração de Cristo em ação responsável, que, em liberdade, apanha a hora exata, enfrenta o perigo e se dispõe a um comparecer autêntico, que não é ditado pelo medo, mas brota do amor libertador e redentor de Cristo para com todos os que sofrem. Mera expectativa passiva e assistência indiferente não são atitudes cristãs. O cristão não pode esperar até que seja alertado pelas experiências na própria carne, mas desperta com as experiências do sofrimento dos irmãos, pelos quais Cristo padeceu, e isto o impele à ação e à compaixão.

 

Alguém pode escrever algumas coisas de forma mais natural e vívida em uma carta do que em livros, e nas cartas eu freqüentemente tenho melhores idéias do que quando estou escrevendo para mim mesmo.2

 

Sendo o tempo o bem mais precioso, porque é irrecuperável, entre todos os bens dos quais dispomos, inquieta-nos, ao recordarmos o passado, a idéia de tempo eventualmente perdido. Considera-se perdido o tempo em que não vivemos como homens, tempo em que não obtivemos experiências, que não aprendemos, que não realizamos, que nem desfrutamos nem sofremos nada. Tempo perdido é tempo vazio que não foi preenchido. Bem, tal não se pode dizer dos anos passados, de maneira alguma. Perdemos muito, algo mesmo de valor incomparável, mas o tempo não foi perdido. É verdade que conhecimentos e experiências adquiridas, dos quais só se ganha consciência posteriormente, são abstrações do verdadeiro, da existência vivida mesmo. Mas, assim como o poder esquecer equivale a uma graça, também a memória, a repetição de ensinamentos recebidos, faz parte da vida responsável.

 

A grande mascarada do maligno pôs todos os conceitos éticos em confusão estonteante. É realmente desconcertante que o mal possa tomar a forma da luz, da ação beneficente, da necessidade histórica, da justiça social; para o cristão, que vive da Bíblia, todavia, isto é a confirmação da ilimitada malvadez do maligno.3 Evidentemente, é o falhar dos 'sensatos' que, na melhor intenção e no ingênuo desconhecimento da realidade, pensam poder endireitar o vigamento que cedeu com um pouco de juízo. Na sua fraca capacidade de visão, querem fazer justiça a todos os lados e serão, destarte, esmagados pelo tremendo choque de forças opostas, sem que possam conseguir o mínimo. Decepcionados com a insensatez do mundo, eles se vêem condenados à frustração, e, por fim, se retiram resignados ou ainda caem indefesos nas garras do mais forte. Mais comovente ainda é o fracasso do fanatismo ético. O fanático pretende enfrentar o poderio do mal com a pureza de um princípio. Assim como um touro se lança contra a capa vermelha em vez de atingir o toureiro, ele também cansa e é vencido. Ele se perde no secundário e termina apanhado pela cilada do mais sabido. Desamparado, se debate o homem de consciência diante do dilema da prepotência da situação que lhe exige decisão. A extensão dos conflitos, que o obriga a escolher sem que ache conselho nem amparo, a não ser na própria consciência, o esmaga. Os inúmeros honrados e tentadores disfarces, sob os quais o mal dele se aproxima, trazem à sua consciência medo e insegurança, até que a ele baste afinal, em vez de conservar uma consciência boa, tê-la salva, isto é, até que minta à sua própria consciência a fim de não despertar, pois, jamais pode o homem, cujo único amparo constitui a consciência, entender que uma consciência má possa ser mais salutar e mais forte do que uma consciência enganada. Desta desconcertante quantidade de possíveis decisões, só o caminho seguro do dever parece poder nos guiar a salvo. Aqui se entende o mandado como o mais seguro, e a responsabilidade pela ordem cabe ao mandante e não ao que a executa.4 Na limitação do que é do nosso dever jamais chegamos ao risco da ação resultante da responsabilidade pessoal, a única que pode atingir o mal no centro, e o vencer. O homem do dever, afinal de contas, terá de cumprir sua obrigação até com o diabo. Aquele, todavia, que admite uma ação necessária, mesmo que pese sobre a sua consciência e que prejudique o seu nome, e aquele que está pronto a se sacrificar por um princípio estéril, por uma a uma sabedoria irrelevante e medíocre e por um radicalismo tenebroso, que tenha cuidado para que não o comprometa a sua liberdade. Ele é capaz de ceder ao ruim para impedir o pior, e, assim, perderá a capacidade de reconhecer que exatamente o pior, que ele pretende evitar, poderia ser o melhor. Aqui está a origem das tragédias. Na fuga da discussão pública, este ou aquele alcançam o asilo de uma virtualidade particular. Mas, então, terão de fechar olhos e boca à injustiça ao seu redor. Apenas à custa de uma ilusão podem se conservar puros da maculação por um agir irresponsável. Tudo o que fizerem não os deixarão em paz quanto àquilo que deixaram de fazer e se omitiram. Nesta inquietude, acabarão se arruinando, a não ser que se tornem os mais hipócritas de todos os fariseus. Quem haverá de perseverar? Somente aqueles para quem sua própria razão, seu princípio, sua consciência, sua liberdade e sua virtude não significarem a medida última, estando prontos a sacrificar tudo isto, quando na fé e apenas presos a Deus, e se sabem chamados para a ação obediente e responsável. Sim, responsáveis, cujas vidas nada mais significam do que a resposta à pergunta e ao chamado de Deus. Onde estarão os responsáveis?

 

A essência do otimismo é que não leva em conta o presente, sendo uma fonte da inspiração, da vitalidade e da esperança que os outros abdicaram. O otimismo permite que uma pessoa mantenha sua cabeça erguida, para reivindicar o futuro para si mesma e não abandoná-lo.

 

Como se justifica, afinal, a queixa com respeito à falta de 'civil courage'? Nestes anos, assistimos a muita bravura e abnegação, mas quase em lugar algum achamos 'civil courage', nem em nós mesmos. Seria uma psicologia demasiadamente ingênua querermos atribuir tal carência apenas à covardia pessoal. No fundo, há razões bem diferentes. Nós, alemães, tivemos de aprender em uma história muito longa a necessidade e o poder da obediência. Vimos o sentido da grandeza da nossa vida na subordinação de todos os desejos e pensamentos pessoais, sob os encargos que nos couberam. Nossos olhares eram dirigidos para cima, não em temores de escravos, mas na livre confiança de que no encargo compreendem uma profissão, e, na profissão, uma vocação. Afinal, preferir seguir a ordem de 'cima' a obedecer ao próprio critério, é resultado da voluntariedade que nasce da desconfiança justificável para com o próprio Coração. Quem há que possa negar ao alemão que na obediência, em missão e na profissão sempre realizou o extremo de bravura e risco de morte? Sua liberdade, entretanto, o alemão conservou nisso – e onde se tem falado mais apaixonadamente de liberdade no mundo do que na Alemanha desde Lutero até a Filosofia do Idealismo? – que tentou se libertar da teimosia a serviço do todo. Profissão e liberdade valeram-lhe por dois lados da mesma causa. Mas, com isto, desconheceu o mundo; ele não calculou que sua disposição à subordinação, ao risco da própria vida na missão assumida, pudesse ser motivo de abuso para o mal. Caso tal acontecesse, até o cumprimento da profissão tornar-se-ia duvidoso, e todos os princípios morais fundamentais haveriam de começar a vacilar. Descobriu-se, então, que aos alemães ainda faltava um decisivo reconhecimento de base: o da necessidade da ação livre e responsável, mesmo contra a profissão e contra a missão. Em seu lugar, surgiu, de um lado, a inescrupulosidade irresponsável e, do outro, o torturante escrúpulo que impedia toda ação. 'Civil courage' só pode resultar do livre senso de responsabilidade do homem livre. Somente hoje os alemães começam a descobrir o que quer dizer livre responsabilidade. Ela se baseia sobre um Deus que exige o livre risco da fé em uma ação responsável, e que, aquele, que nisto se torne pecador, garante perdão e conforto.

 

 

 

 

Muito grande é o perigo de nos deixarmos impelir ao desprezo dos homens. Certamente sabemos que não temos direito a isto, e que tal atitude há de criar relações muito estéreis com os nossos semelhantes. Os pensamentos que nos podem prevenir contra esta tentação seriam os seguintes: com o desprezo dos homens, entregamo-nos exatamente ao erro capital de nossos adversários; aquele que despreza outro jamais poderá torná-lo útil e diferente. Aliás, nada daquilo que no outro desprezamos, nos é totalmente estranho. Quantas vezes acontece que do outro esperamos muito mais do que nós mesmos estamos dispostos a executar. Por que será que até aqui temos pensado com tão pouca objetividade sobre a sua sujeição à tentação e à fraqueza? Temos de aprender a olhar os homens menos de acordo com o que fazem ou deixam de fazer, do que em atenção ao que sofrem. A única relação fecunda com os homens – e particularmente com os fracos – é a do amor, isto é, a vontade de viver com eles em comunidade. Deus mesmo não desprezou o homem; ao contrário, por causa do homem, Deus se tornou homem.

 

Conta entre as experiências mais estupendas e ao mesmo tempo irrefutáveis que o mal comprova sua tolice e inutilidade, e isto freqüentemente em prazo surpreendentemente curto. Com isto não se afirma que a toda ação má se segue de imediato o castigo, mas certo é que em princípio a transgressão dos Mandamentos de Deus, no suposto interesse da sobrevivência terrena, resulta exatamente em conseqüências que prejudicam este interesse. Esta nossa experiência pode ser interpretada de maneira diversa. Em todo caso, parece ser certo que o convívio dos homens resultam leis que são mais fortes do que tudo que pretenda se sobrepujar a elas. Por esta razão, não seria apenas injusto, mas também imprudente, desprezar estas leis. Daí se nos torna compreensível porque a ética aristotélico-tomista elevou a prudência à categoria de virtude cardeal. Não procede o que um certo modo de pensar neoprotestante na ética quis insinuar: que prudência e tolice, do ponto de vista ético, sejam indiferentes. O prudente reconhece na plenitude do concreto e nas possibilidades nele contidas ao mesmo tempo os limites intransponíveis, resultantes para toda a ação das leis permanentes ao convívio humano. É neste reconhecimento que o prudente faz o bem, ou seja: o homem bom age prudentemente. Acontece que não há uma ação de importância histórica que não transgrida os limites desta lei. Decisiva é, porém, a diferença entre duas atitudes. Uma que encara tal transgressão das leis estabelecidas, de princípio, como uma anulação, como se fosse um direito de tipo peculiar; a outra que bem conserva a consciência desta transgressão como culpa inevitável e justifica-se apenas com o propósito do imediato restabelecimento e respeito da lei e dos limites. Não seria necessariamente hipocrisia se fosse apresentado como objetivo da ação política o restabelecimento do direito, e não simplesmente a sua sobrevivência. No mundo, o arranjo é que o respeito fundamental das leis últimas e dos direitos da vida ao mesmo tempo é mais útil à sobrevivência, e que estas leis só admitem uma transgressão curta, única e em caso isolado, enquanto elas eliminam, mais cedo ou mais tarde e com violência irresistível, aquele que pretende transformar a necessidade em princípio e, destarte, estabelecer uma lei própria. A justiça imanente da história somente recompensa e pune a ação, enquanto a justiça eterna de Deus prova e julga os Corações.

 

O tempo é a coisa mais valiosa que temos porque é irrevogável.

 

 

O tempo é irrevogável.

 

Não cultuo o herói, mas a intimidade com Cristo.

 

Devemos estar prontos para ser interrompidos por Deus.

 

Dificilmente é poupada a alguma pessoa a experiência da traição. A figura do Judas, que antigamente nos poderia parecer incompreensível, não mais nos é estranha. O ar de tal maneira se acha envenenado pela desconfiança, que quase perecemos sob sua pressão. Onde, entretanto, conseguimos romper a camada da desconfiança, pudemos colher a experiência de uma confiança nunca antes imaginada. Aprendemos lá, onde confiamos, a entregar nossa cabeça nas mãos do outro; contra todas as múltiplas interpretações, as quais nossa vida e nossa ação tiveram de se sujeitar, aprendemos a confiar ilimitadamente. Sabemos, agora, que unicamente com tal confiança, que sem dúvida alguma não deixa de ser um risco – mas um risco alegremente aceito – se vive e se trabalha verdadeiramente. Sabemos que semear ou estimular a desconfiança é uma das atitudes mais irresponsáveis, e que, ao contrário, deveríamos, quanto possível, fortalecer e promover confiança entre os homens. A confiança continuará a ser uma das maiores e mais raras dádivas a trazer felicidade ao convívio humano, e, certamente, só poderá surgir sobre o fundo escuro de uma suspeita necessária. Aprendemos a não nos entregar, por nada, ao ordinário, mas, a nos submetermos incondicionalmente àquele que merece fé.

 

Quem sou? Este ou aquele? Um agora e outro depois? Ou ambos de uma vez? Hipócrita perante os demais e, diante de mim mesmo, um débil acabado? Ou há, dentro de mim, algo como um exército derrotado, que foge desordenadamente da vitória já alcancada?5

 

 

 

A vida é uma oportunidade, aproveite-a…
A vida é beleza, admire-a…
A vida é felicidade, deguste-a…
A vida é um sonho, torne-o realidade…
A vida é um desafio, enfrente-o…
A vida é um dever, cumpra-o…
A vida é um jogo, jogue-o…
A vida é preciosa, cuide dela…
A vida é uma riqueza, conserve-a…
A vida é amor, goze-o…
A vida é um mistério, descubra-o…
A vida é promessa, cumpra-a…
A vida é tristeza, supere-a…
A vida é um hino, cante-o…
A vida é uma luta, aceite-a…
A vida é aventura, arrisque-a…
A vida é alegria, mereça-a…
A vida é Vida, defenda-a…

 

Até aqui, nos parecia constituir um dos direitos inalienáveis da vida humana poder traçar os planos para a existência, tanto na vida profissional quanto na pessoal. Isto acabou. Sob o imperativo das circunstâncias, chegamos a uma situação em que devemos desistir de 'nos inquietar pelo dia de amanhã' (S. Mateus VI: 34), havendo uma grande diferença se isto acontece em virtude da livre resposta da fé, como a caracteriza o Sermão da Montanha ou sob pressão do respectivo momento. Para a maioria dos homens significa a renúncia forçada de todo o planejamento, a submissão resignada, irresponsável e leviana ao momento, enquanto uns poucos ainda continuam sonhando com um futuro mais bonito, tentando assim superar a tristeza do presente. Ambas as reações, para nós, são impossíveis. Só nos resta o caminho estreito que, às vezes, mal se descobre, e teremos de tomá-lo diariamente como se fosse o último. Mesmo assim, devemos viver na fé e responsavelmente, de tal modo como se nos esperasse ainda um glorioso futuro. 'Ainda se comprarão casas, campos e vinhas nesta Terra' (Jeremias XXXII:15) – assim proclamou o Profeta Jeremias, em vivo contraste com seus presságios ameaçadores, na véspera da destruição da Cidade Santa, o que constituíra, diante da situação desesperadora, um sinal divino e a garantia de um grande porvir. Pensar e agir com vistas à nova geração, e nesta atitude estar pronto para prosseguir sem medo nem preocupação, todos os dias, eis o comportamento que se nos impõe. Certamente, não será fácil suportar tudo isto, mas é necessário, e precisamos ter coragem.

 

Na Igreja, temos um único altar, o altar do Altíssimo, diante do qual todas as criaturas devem dobrar os joelhos.

 

Na vida, dificilmente percebemos que mais recebemos do que damos. A vida não pode ser rica sem gratidão. É tão fácil superestimar a importância das nossas próprias realizações em comparação com o que devemos auxiliar os outros.

 

Não há sentido na viagem cujo destino é desconhecido para o viajante.

 

Neste mundo, só vivendo completamente é que se aprende a ter fé. Quero dizer: viver sem reservas os deveres da vida, os problemas, os sucessos e os fracassos.

 

Um deus que tentamos provar sua existência é um ídolo.

 

Não insista nos seus direitos, não culpe os outros, não julgue ou condene os outros, não tente encontrar falhas nos outros, mas aceite os outros como são, e, do fundo do seu Coração, perdoe os outros todos os dias.

 

O Discipulado não é uma oferta que o homem faz a Cristo.

 

Devemos sempre estar de prontidão para a responsabilidade.

 

É mais prudente se mostrar pessimista. Assim as desilusões são esquecidas e não temos de nos envergonhar diante dos homens. Por esta razão, o otimismo é visto com desaprovação pelos prudentes. Otimismo, entretanto, não é essencialmente uma opinião sobre a presente situação, mas representa uma força vital, uma energia esperançosa, onde outros resignam, uma resistência de manter erguida a cabeça, quando tudo parece querer fracassar, uma força que jamais entrega o futuro ao adversário, mas o reclama para si. Sem dúvida alguma, existe um otimismo covarde, estúpido, tolo que não pode colher aprovação de ninguém. O otimismo, entretanto, que equivale a uma vontade para o futuro, ninguém deverá menosprezar, mesmo que erre centenas de vezes. Eis que é a saúde da vida, que o doente não deve contaminar. Homens há que julgam ser condenável – cristãos, inclusive, existem – que consideram ser ímpio esperarmos um futuro terreno melhor e nos prepararmos para ele. Acreditam eles no caos, na desordem e na catástrofe como na falta de sentido dos acontecimentos presentes, e, assim, se recolhem para a resignação e a pia fuga ao mundo, tentando escapar à responsabilidade com a continuação da vida, com a reconstrução e com as gerações a vir. Pode ser que o Dia do Juízo seja amanhã! Pois bem, então será de bom grado que desistamos do trabalho em favor de um futuro melhor, mas, antes não.6

 

Nós vemos a cruz, mas cremos na ressurreição. Nós vemos morte, mas cremos na vida eterna. Nós trilhamos sofrimento e separação, mas cremos na eterna alegria e na comunhão.

 

Devemos aprender a considerar as pessoas menos à luz do que elas fazem ou deixam de fazer, e mais à luz do que elas sofrem.

 

Normalmente, oramos pelas coisas grandes, e esquecemos de dar graças pelas coisas comuns e pequenas sempre presentes.7

 

Quando tudo já estiver dito e tudo já estiver feito, a vida de fé deverá continuara a ser uma luta interminável do espírito, com todas as armas disponíveis, contra a carne.

 

Julgar os outros nos faz cegos; só o amor é esclarecedor. Ao julgar os outros, ficamos cegos para o nosso próprio mal.

 

O próprio Jesus não tentou converter os dois ladrões na cruz; Ele esperou, até que um deles se virou para Ele.

 

O teste final de uma sociedade moral é o tipo de mundo que ela deixará para os seus filhos.

 

Pensar na morte se tornou, nos últimos anos, bem mais familiar. Ficamos mesmo admirados com o sangue frio com o qual recebemos notícias da morte de companheiros de infância. Nem mais conseguimos odiar a morte, pois nela já descobrimos alguns traços de bondade, e quase nos reconciliamos com ela. Dentro de nós sentimos que já lhe pertencemos, e que cada novo dia não passa de um milagre. Não seria direito dizermos que gostamos de morrer – mesmo que a ninguém seja desconhecido aquele cansaço, contra o qual devemos nos defender com todas as forças –para tanto somos curiosos demais ou se o dissermos com mais seriedade: gostaríamos ainda de saber alguma coisa no sentido de nossa vida tão confusa. Nem, tampouco, desejamos dar à morte um ar de heroísmo, pois a vida nos é preciosa demais, e mesmo cara. Tanto mais nos recusamos a ver o sentido da vida no perigo, pois ainda não nos achamos suficientemente desesperados, e conhecemos muito bem as coisas boas da vida. Ao mesmo tempo, sabemos do medo pela vida e os efeitos destruidores de uma constante ameaça à vida. Nós ainda amamos a vida, mas creio que a morte não mais nos possa surpreender. Nem mais temos coragem de admitir o íntimo desejo de que a morte não nos apanhe por acaso, repentinamente, longe do essencial, mas na plenitude da vida e na inteireza de nosso sacrifício, porque as experiências da guerra nos desanimam. Não as circunstâncias externas, mas nós mesmos transformaremos a morte naquilo que ela deve ser: morte por voluntária aquiescência.

 

A música ajuda a dissolver as perplexidades e purifica o caráter e a sensibilidade, e, em todos nós, na inquietação e na e tristeza, mantém a alegria de viver.

 

Ser um cristão é menos cautelosamente evitar o pecado do que, corajosa e ativamente, fazer a Vontade de Deus.

 

Quando Cristo chama um homem, ele deverá ir e Morrer.

 

Nós não devemos ser simplesmente bandagens para as feridas das vítimas sob a roda da injustiça. Devemos lutar contra a roda em si.

 

Temos sido testemunhas mudas de atos criminosos, fomos lavados com muitas águas, aprendemos as artes do disfarce e da oração ambígua, por experiência ficamos desconfiados contra os homens, e, muitas vezes, ficamos lhes devendo a verdade e a palavra franca, cansamos sob os conflitos insuportáveis, e, quiçá, nos tornamos cínicos até – somos ainda aproveitáveis? Verdade é que não necessitaremos de gênios, nem de cínicos, nem de desprezadores dos homens, nem de sabidos táticos, mas, sim, de simples, modestos e retos homens. Será que nossa íntima resistência contra tudo o que nos foi imposto se mostrará forte, e nossa sinceridade contra nós mesmos impiedosa o bastante para que achemos novamente o caminho para a simplicidade e retidão?

 

O maior erro que você pode cometer na vida é estar sempre com medo de cometer um erro.

 

 

 

 

 

 

Não Importa...

 

 

 

Não importa ter uma religião;

importa, muito, ser Religioso.

Não importa uma genuflexão;

importa, sim, não ser aduloso.

 

Não importa se é Verdade;

importa, muito, jamais mentir.

Não importa sentir Saudade;

 

Enfim, não importa nada viver;

geralmente, a vida será mâyâ.

Precisamos aprender a Morrer.

Talvez, um dia, Nirmânâkâya!8

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Nada é em vão; tudo é aprendizado. O que precisamos compreender é que, propriamente, não existe pecado nem condenação eterna. Erramos por ignorância e só por ignorância. Logo, a verdade é que nossas faltas e nossos erros são a base de nossa libertação. Construímos nossa libertação sobre os escombros dos nossos desejos, das nossas cobiças e das nossas paixões.

2. Isto é realmente verdade. Em todos os trabalhos que eu divulguei, sem exceção, sempre aprendi uma coisa nova, recapitulei uma convicção antiga ou reformulei em bases mais concertadas um conceito, digamos assim, mal elaborado. Sabem por quê? Porque todo ato de amor é edificante e iluminante, e, em tudo aquilo que faço, particularmente naquilo que escrevo, meto todo o amor que existe em mim. Não me conformo em fazer qualquer coisa mais ou menos; ou faço direito ou não faço.

3. Na verdade, não existe malvadez do maligno, pois o maligno não existe como querem os teólogos. Somos nós, individual e coletivamente, que somos responsáveis por tudo. E, peculiar e especificamente, todas as desgraças, pequenas ou sesquipedais, são formas de aprendizado e de compensação. O que cabe ao ser-no-mundo? Aprender, compreender e se libertar. Não há arma mais poderosa contra a imperfeição do que a compreensão. E assim, enquanto fideisticamente dependermos de deuses criados por nós mesmos, não nos libertaremos, porque costumamos delegar a eles o que cabe a nós fazer e mudar.

4. Se isto é assim, o que não subscrevo, alguém alegar que estava só cumprindo ordens superiores não abona nem justifica a prática de uma atrocidade que represente uma tragédia. O fato é que mandante e pau-mandado têm a mesma responsabilidade. Aqui, cabe muito bem o Lema do militar e sertanista brasileiro Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, mais conhecido como Marechal Rondon (5 de maio de 1865 – 19 de janeiro de 1958): Morrer se necessário for! Matar nunca!

5. Somos um e somos muitos. Na verdade, mais muitos do que um.

6. Isto só tem cabimento como licença poética, digamos assim. Ora, primeiro, essa coisa de Dia do Juízo é uma fantasia orquestrada autoritariamente que só interessa à manutenção do poder temporal das religiões que o admitem. Segundo, não se desiste nunca, de nada, mesmo que, hipoteticamente, o tal Dia do Juízo fosse amanhã ou daqui a cinco minutos. Terceiro: e se, sei lá porque, o responsável por esse tal Juízo não nos visse? Teríamos desistido por nada, o que é uma tremenda babaquice. Quem desiste perde a vida e come casca de ferida.

7. Quem se lembra, por exemplo, de ser grato pelo ar que respira e pela água que bebe? Quem se lembra, por exemplo, de incluir em suas orações os insetos e os microorganismos?

8. Segundo Helena Petrovna Blavatsky (1831 – 1891), os 'Nirmânâkâyas' não estão mais submetidos nem às contingências da matéria nem do carma. Se, porém, o desejarem, com o objetivo de fazer o bem ao mundo, poderão encarnar na Terra. Estas encarnações voluntárias representam os princípios espirituais que sobrevivem nos homens.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://media.photobucket.com/image/old+man+dancing
+gif+/milorox2/ANIMATIONS/DANCINGOLDMAN.gif

http://www.horses.co.uk/audio/

http://vladmaiakovski.blogspot.com.br/

http://mindmillion.com/MONEY/
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http://lutheran_peace.tripod.com/
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http://jailsonipb.blogspot.com.br/2008/
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http://liveunderconstruction.wordpress.com/
2011/03/18/animated-gif-showcase-free-
download/animated-gif-showcase-davidope24/

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2010/10/saci-x-halloween.html

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http://www.hemmy.net/2007/09/
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http://www.goodreads.com/author/quotes/
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http://www.sociedadebonhoeffer.org.br/
olegado.htm

http://viverepensar.wordpress.com/
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http://upandrunning.bplans.com/2011/04
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http://kdfrases.com/autor/
dietrich-bonhoeffer

http://vondaronaldjesus.com/

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dez_anos_depois.htm

http://www.sociedadebonhoeffer.org.br/
quem_foi.htm

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http://pt.wikiquote.org/
wiki/Dietrich_Bonhoeffer

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Dietrich_Bonhoeffer

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Abwehr

 

Música de fundo:

Trumpet Concerto nº 1 in D Major - Allegro (2)
Compositor: Georg Philipp Telemann

Fonte:

http://www.dilandau.eu/download
-mp3/g.p.telemann-6.html

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.