Excelentíssimo Senhor Xi Jinping,
Digníssimo Presidente da República Popular da China.

Cordiais Saudações:

 

1º) O povo brasileiro está preocupadíssimo.

2º) Eu, que estou com 74 anos, apesar de já ter tomado as duas doses da CoronaVac, também estou preocupadíssimo. Não comigo, mas, com os meus irmãos brasileiros.

3º) O Excelentíssimo Senhor Presidente Jair Messias Bolsonaro é um cidadão brasileiro, e, democraticamente, foi eleito para presidir o meu País. Como o Brasil, hoje, vive um pleno Estado Democrático de Direito, o cidadão Jair Messias Bolsonaro pode falar o que quiser, de quem quiser e quando quiser. Já como Presidente da República, o povo brasileiro e eu entendemos que as agressões verbais do Presidente Bolsonaro ao País de V.Ex.a são, no mínimo, deselegantes e inconcebíveis, independentemente de a China ser o maior parceiro comercial do Brasil. Usei o advérbio independentemente porque não acho que seja cabível um indivíduo ofender outro indivíduo, tanto quanto é desarrazoado uma nação injuriar outra nação. Mas, como a República Federativa do Brasil, como eu disse, hoje, vive um pleno Estado Democrático de Direito, às vezes, algumas pessoas esquecem que duas das condições para que este Estado se mantenha é a permanente dignidade da pessoa humana com as outras pessoas humanas e a imperturbável deferência de uma nação com as outras nações, que devem ser respeitadas, e que, por conseguinte, não se pode confundir soberania-liberdade com falar o que quiser, de quem quiser e quando quiser. Há um tríplice limite, interpessoal, internacional e diplomático, que precisa ser observado. Todos os brasileiros sabem que o cidadão-presidente Jair Messias Bolsonaro, por características pessoais e próprias, de vez em quando, ultrapassa este tríplice limite. Sinceramente, Presidente Xi Jinping, penso que não seja por mal, mas, sim, que seja um traço idiossincrásico do Presidente Bolsonaro dizer e fazer coisas que, em condições normais de temperatura e pressão, ele, certamente, não diria e não faria. E, na atualidade, as condições que o Brasil atravessa longe estão de ser normais. V.Ex.a sabe isto muito bem.

4º) Justifiquei tudo isto para, com humildade, solicitar a V.Ex.a que não se sinta ofendido com as palavras do Presidente Bolsonaro. Como a história do jacaré, verba volant. Em nome do povo brasileiro e em meu próprio nome peço desculpas pelas palavras duras do Presidente Bolsonaro ao País de V.Ex.a, e as tomo para mim. Todavia, mais do que isto, lembro a V.Ex.a que, no Brasil, não existe sinofobia nem qualquer forma de sentimento antichinês. Muito pelo contrário. V.Ex.a também sabe isto muito bem. De longa data, brasileiros e chineses são amigos.

5º) Portanto, Digníssimo Presidente Xi Jinping, requesto a V.Ex.a, também com muita humildade, que autorize o embarque do IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) para o Brasil, para que o Instituto Butantan possa fabricar a CoronaVac e salvar vidas no meu País. E estas vidas estão em suas mãos. Foi exatamente a CoronaVac que impediu que esta PanCOVIDmia mortal ceifasse mais vidas brasileiras. Muito obrigado por isto. Muito obrigado pelas vidas que foram salvas.

6º) Digníssimo Presidente Xi Jinping: na verdade, não existem chineses e brasileiros; há, sim, seres humanos. Somos todos um. Somos todos seres universais. Nossos Dhyan Chohans são os mesmos. Digníssimo Presidente, por favor, siga a recomendação de Confúcio: acenda uma vela na escuridão. Na História do Brasil, nunca houve um momento tão tenebroso como o que estamos vivendo agora. Não nos falte, Senhor Presidente. Confúcio também ensinou: A humildade é a única base sólida de todas as virtudes. Para V.Ex.a, é fácil negar permissão para que o IFA chegue ao Brasil. Mas, é igualmente fácil autorizar. Por amor e por virtude, por favor, autorize.

 

Muito respeitosamente,
Rio de Janeiro, 14 de maio de 2021

Rodolfo Domenico Pizzinga