Importante
é o que nós somos; não o que éramos.
Eu
não estava sequer preparado para fazer as mudanças na minha
vida que a minha associação com Don Juan requisitou.
Se
você pesquisar a história da conquista espanhola, no México,
encontrará que os inquisidores católicos tentaram acabar com
a feitiçaria porque a consideraram como uma coisa do demônio.
Ela tem estado por aí há muitos milhares de anos. A maioria
das técnicas que Don Juan me ensinou é muito antiga.
Existe
muito mais no Universo do que normalmente confessamos conhecer. Nossas expectativas
usuais acerca da realidade são criadas por um consenso social. Nos
ensinam como ver e perceber o mundo. O truque da socialização
consiste em nos convencer de que as descrições que estamos
de acordo definem os limites do mundo real. O que chamamos de realidade
é apenas um modo de ver o mundo; um modo que é sustentado
pelo consenso social.
Nós
temos que aprender a caminhar; mas, uma vez que aprendemos, ficamos sujeitos
à sintaxe da linguagem e ao modo de percepção que ela
contém.
Para quebrar a certeza do mundo que
sempre lhe foi ensinado, você deve aprender uma nova descrição
do mundo – feitiçaria –
e,
então, manter a velha e a nova juntas. Então, você percebe
que nenhuma das duas é final. No momento que você desliza entre
as descrições, você pára o mundo e vê.
Você sente o assombro, o verdadeiro
Eu nunca tomei LSD, mas o que entendi
dos ensinamentos de Don Juan é que os psicotrópicos são
usados para interromper o fluxo das interpretações ordinárias,
para aumentar as contradições dentro das interpretações
e para romper as certezas. Mas somente as drogas não possibilitam
você parar o mundo. Por isto, Don Juan teve de me ensinar feitiçaria.
Na
sociedade européia, o mundo é construído em grande
parte pelo que os olhos informam à mente. Na feitiçaria, o
corpo todo é usado como percepiente (sic).
Como europeus, vemos o mundo ao redor de nós e falamos sobre ele.
Nós estamos aqui e o mundo está lá. Os nossos olhos
alimentam a razão e não temos conhecimento direto das coisas.
De acordo com a feitiçaria, esta sobrecarga dos olhos é desnecessária.
A
feitiçaria tem uma teoria diferente de personificação.
O problema da feitiçaria é o de harmonizar e arrumar seu corpo
para ser um bom receptor. Os europeus lidam com seus corpos como se eles
fossem um objeto. Nós os enchemos de álcool, comida ruim e
inquietações. Se alguma coisa está errada, nós
pensamos que germes de fora invadiram o corpo, e, então, importamos
algum medicamento para curá-lo. A doença não é
parte de nós. Don Juan não acreditava nisto. Para ele, a doença
é a desarmonia entre um homem e seu mundo. O corpo é consciente
e deve ser tratado impecavelmente.
Nós
sempre vemos o desconhecido nos termos do conhecido.
Nós podemos nos tornar capazes
de falar com qualquer animal.
Uma
noite, sonhei que havia uma cobra no sótão da casa onde eu
vivia quando era criança. Peguei um pau e tentei matá-la.
De manhã, falei sobre o sonho a um amigo e ele me disse que não
era uma coisa boa matar cobras, mesmo se elas estivessem no sótão
em um sonho. Ele me sugeriu que na próxima vez que aparecesse uma
cobra em um sonho, eu deveria alimentá-la ou fazer alguma coisa para
atrair sua amizade. Cerca de uma hora depois, eu estava dirigindo meu patinete
motorizado em uma estrada pouco usada, e lá, esperando por mim, estava
uma cobra de quatro pés, estirada no seu banho de Sol. Eu a contornei
e ela não se mexeu. Depois de nos olharmos por um tempo, eu pensei
que deveria fazer algum gesto para mostrar que estava arrependido de ter
matado seu irmão, em meu sonho. Eu cheguei perto e toquei sua cauda.
Ela se enrolou mostrando que eu havia invadido sua intimidade. Então,
eu voltei e fiquei apenas olhando. Cinco minutos depois, lá se foi
ela para trás dos arbustos... Um homem pode aprender a chamar as
serpentes. Mas você precisa estar em excelente forma, calmo, controlado,
com um humor amigável, sem nenhuma dúvida ou assuntos pendentes.
O truque, nos sonhos, é sustentar
as imagens tempo o bastante para que possamos examiná-las cuidadosamente.
Para adquirir este controle, você deve escolher uma coisa antes e
aprender a encontrá-la nos seus sonhos. Don Juan sugeriu que eu usasse
minhas mãos como ponto fixo, e alternasse entre elas e as imagens.
Após alguns meses, eu aprendi a usar minhas mãos e parar o
sonho. Fiquei tão fascinado com esta técnica que espero ansioso
pela hora de dormir.
Um homem de conhecimento deve acumular
poder pessoal. Mas isto não é suficiente para parar o mundo.
É necessário algum abandono. Você precisa parar a conversa
que está ocorrendo internamente e se render ao mundo exterior.
No
momento, minha
maior técnica está em romper as rotinas. Eu sempre fui uma
pessoa muito rotineira. Eu comia e dormia sempre nos mesmos horários.
Em 1965, comecei a mudar meus hábitos. Eu escrevia nas horas quietas
da noite e dormia quando sentia necessidade. Agora, eu desmantelei tanto
meus hábitos usuais que posso me tornar imprevisível e surpreendente
até mesmo para mim... É um desafio viver sem rotinas em um
mundo rotineiro. Mas é possível.
Não
há necessidade de transcender o mundo. Tudo o que você precisa
saber está aqui defronte nós, se prestarmos atenção.
Se você entrar em um estado de realidade extraordinária, como
faz quando usa plantas psicotrópicas, está apenas usando a
força que precisa para ver o caráter milagroso da realidade
ordinária. Para mim, o modo se viver, o caminho do Coração,
não é introspectivo ou de transcendência mística,
mas a presença no mundo. Este mundo é o campo de caçada
do Guerreiro.
As
plantas, assim como os animais, sempre afetam você. Don
Juan dizia que se você não pedisse desculpas
para as plantas por colhê-las, você provavelmente ficaria doente
ou sofreria um acidente.
Nós
temos uma associação com toda forma de vida. Alguma coisa
se altera toda vez que machucamos a vida vegetal ou animal. Nós tiramos
a vida para sobreviver, mas devemos querer abrir mão de nossa própria
vida sem ressentimentos quando chegar nossa vez. Nós somos tão
importantes e nos levamos tão a sério que esquecemos que o
mundo é um grande mistério que pode nos ensinar, se escutarmos.
Don
Juan
vive em um tempo mágico e ocasionalmente volta para o tempo normal.
Eu vivo no tempo normal e ocasionalmente entro no tempo mágico.
Don
Juan usou plantas psicotrópicas no período intermediário
do meu aprendizado porque eu era muito estúpido, sofisticado e arrogante.
Eu me agarrava à minha descrição do mundo como se ela
fosse a única verdade. Os psicotrópicos criaram um vácuo
no meu sistema de interpretações. Eles destruíram minha
certeza dogmática. Mas eu paguei um enorme preço. Quando a
cola que segurava meu mundo unido foi dissolvida, meu corpo estava fraco
e eu demorei meses para me recuperar. Eu fiquei ansioso e funcionava em
um nível muito baixo.
Para escapulir dentro e fora de diferentes
mundos você deve permanecer discreto. Quanto mais você for conhecido
e identificado, mais sua liberdade vai ser reduzida. Quando as pessoas tiverem
idéias definitivas sobre quem é você e como você
vai agir, você não poderá mais se mexer. Uma das primeiras
coisas que Don Juan me ensinou foi que eu tinha que apagar minha história
pessoal. Se, aos poucos, você criar uma névoa em torno de si,
então, você não vai ser tomado como garantia e você
tem mais espaço para se mexer. É por causa disso que eu impeço
gravações de áudio e fotografias quando dou palestras.
Para
mim, as idéias de ser um Guerreiro e um homem de conhecimento, com
a esperança de eventualmente parar o mundo e ver, têm sido
as mais adequadas. Elas têm me dado paz e confiança na minha
capacidade de controlar minha vida. Na época que encontrei Don Juan,
eu tinha muito pouco poder pessoal. Minha vida havia sido muito errática.
Eu percorri um longo caminho desde o local do meu nascimento, no Brasil.
Exteriormente, eu era agressivo e arrogante, mas interiormente era indeciso
e incerto acerca de mim. Estava sempre forjando desculpas para mim mesmo.
Don Juan uma vez me acusou de ser uma criança profissional porque
eu estava cheio de auto-piedade. Eu me sentia como uma folha ao vento. Como
acontece com a maioria dos intelectuais, minhas costas estavam contra o
muro. Eu não tinha lugar para ir. Eu não podia perceber nenhuma
forma de vida que realmente me excitasse. Eu pensei que tudo o que poderia
fazer era uma acomodação amadurecida para uma vida de tédio
ou encontrar formas mais complexas de entretenimento como usar drogas psicodélicas,
maconha e ter aventuras sexuais. Tudo isto era aumentado pelo meu hábito
de ser introspectivo. Eu estava sempre olhando para dentro de mim e falando
comigo mesmo. O diálogo interno raramente parava.
Uma das interpretações
da feitiçaria é: a morte está à sua esquerda.
A morte é um juiz imparcial que lhe dirá a verdade e lhe dará
conselhos precisos. Afinal, a morte não está com pressa. Ela
lhe pegará em um dia, em uma semana ou em 50 anos. Não faz
diferença para ela. No momento que você pensa que eventualmente
deve morrer está reduzindo o lado direito... Quando seu corpo está
adequadamente sintonizado com o mundo e você vira os olhos para a
esquerda, você pode testemunhar um evento extraordinário: a
presença sombria da morte... Quando a morte permanece à sua
esquerda, você deve criar o mundo a partir de uma série de
decisões.
Se
não há como saber se eu tenho apenas mais minuto de vida,
devo agir como se cada instante fosse o último. Cada ato é
a última batalha do Guerreiro. Então, tudo deve ser feito
impecavelmente. Nada pode ser deixado pendente. Esta idéia foi muito
libertadora para mim. Eu estou aqui falando com você e talvez nunca
volte para Los Angeles. Mas não importa, porque eu cuidei de tudo
antes de vir para cá.
Não
existem decisões grandes ou pequenas, apenas decisões que
devem ser tomadas agora. E não há tempo para dúvidas
ou remorsos. Se eu passar o meu tempo lamentando o que fiz ontem, eu evito
as decisões que tenho de tomar hoje.
O
caminho do Guerreiro é um modo de vida poderoso e vigoroso.
Um gesto é um ato deliberado
que é responsável pelo poder que advém de tomar uma
decisão. Por exemplo: se um Guerreiro encontra uma cobra que está
dormente e fria, ele pode se esforçar por levar a cobra para um lugar
quente sem ser mordido. O Guerreiro pode decidir fazer um gesto sem nenhum
motivo. Mas ele vai fazê-lo perfeitamente.
O
que eu quero fazer, e talvez consiga executar, é superar o controle
da minha razão. Minha mente tem estado no controle a minha vida toda,
e ela preferiria me matar a abandonar este controle. Em um dado ponto de
meu aprendizado, eu fiquei profundamente deprimido. Eu estava cheio de medo,
obscuridade e pensamentos sobre suicídio. Então, Don Juan
me alertou que este é um dos truques da razão para manter
o controle. Ele disse que minha razão estava fazendo meu corpo sentir
o que eu não havia sentido na vida. Uma vez que minha mente travou
esta última batalha e perdeu, a razão começou a assumir
o local apropriado de ser apenas uma ferramenta.
Aprendi
que
as duas realidades poderiam ser dividas no que Don Juan denominava 'tonal'
(consciente) e 'nagual' (que não se fala). Na realidade do consenso
social, o bruxo, o homem de conhecimento, é um perfeito 'tonal' –
um homem do seu tempo, atual, que usa o mundo da melhor forma possível.
Nós usamos história como uma forma de recapturar o mundo passado
e planejar para o futuro. Para o bruxo, passado é passado e não
existe história pessoal nem coletiva... Como Don Juan, procuro viver
como feiticeiro.
Não
dou ênfase na importância de minha pessoa. Este é um
ponto crucial dos ensinamentos que recebi de Don Juan. Raramente converso
com alguém, e quando converso é face a face. Nada de gravadores
ou de fotografias, que trariam peso sobre a minha pessoa. Além de
ferir uma das premissas básicas da feitiçaria e da bruxaria,
eu estaria tolhendo minha própria liberdade. Quando enfatizo a minha
pessoa, estou me tachando a mim mesmo, estou colocando nas minhas costas
um peso que vai além das minhas possibilidades de carregá-lo.
Colocar tal peso nas costas é dar uma enorme importância à
minha própria pessoa. Durante os ensinamentos, Don Juan fazia esboços
na areia do deserto com o dedão do pé e preenchia os círculos
com verbosidade. Ele dizia que 'cargase a uno mismo' conduz a pessoa a um
senso 'importancia personal' que combinados não permitem 'acciones'
por parte da pessoa. Quanto mais peso as pessoas acumulam, mais importantes
elas se sentem, e menos ações elas executam.
O
bruxo cumpre tarefas que são colocadas em lugar do peso sobre si
mesmo e da importância pessoal... O bruxo cumpre as tarefas que lhe
dão satisfação. Ele as cumpre sem esperar por reconhecimento
da sociedade ou coisa que o valha, o que seria o 'carregar-se a si mesmo'
exercitado pelo erudito, com o objetivo de obter importância pessoal,
o que não é meu caso.
Eu
cumpro minhas tarefas tão fluidamente que elas não me afetam
em termos de auto-importância, mas, sim, em termos de como vivo minha
vida. Conheço dúzias de 'professores' que se colocam em uma
torre de marfim de conhecimento. Eles sabem tudo, e comandam o espetáculo
para as galerias; quanto mais aclamados ou quanto mais reconhecimento eles
recebem, mais auto-importantes se sentem. Mas esta mesma auto-importância
se torna peso, a cruz a ser carregada, e eles, como pessoas, não
são nada. O trabalho as afeta em termos de auto-importância,
mas não em termos de vida pessoal. A mim o trabalho afeta em termos
de vida pessoal, mas não de auto-importância. Don Juan me alertou
e aconselhou que nunca me tornasse um pavão, que é o resultado
à ênfase da importância pessoal. Quanto menos a pessoa
pensa e 'pseudo-age' em termos de auto-importância ela se torna mais
completa. E quanto mais auto-importante se sente, mais incompleta se torna.
O ser incompleto nasce da incessante procura por reconhecimento social.
O
bruxo vive a vida por si e para si e não para as galerias. Ele não
se deixa influenciar pelas reações de consenso social, pois
não age em termos de auto-importância. Ele sabe 'parar o mundo',
ou melhor, ele tem a capacidade de 'não fazer'.
O
objetivo final do bruxo é se tornar um 'homem de conhecimento', mas
antes ele tem que aprender a viver como um Guerreiro-pirata. Ele tem que
ser um impecável caçador à procura de coragem e de
disciplina. O Guerreiro-pirata age por si mesmo, e assume a responsabilidade
por suas ações. No processo de me tornar Guerreiro-pirata,
eu encontrei poder pessoal, isto é, o poder da coragem e da disciplina.
Don Juan me ensinou a enxergar, a ver o mundo ao invés de simplesmente
olhar. Ele me ensinou a interpretar o mundo não pelo que se apresenta
na superfície, mas pela essência. Entretanto, antes poder enxergar
e interpretar o mundo como um Guerreiro-pirata, como um bruxo, tive que
aprender como 'não fazer', tive
que aprender como
'parar o mundo'. Como você pode notar, é quase que uma taxinomia
de tarefas. Para se ter o entendimento de 'não fazer' é necessário
explicar o significado de 'fazer'. 'Fazer' é o consenso que torna
o mundo existente. O mundo da nossa realidade é realidade porque
estamos envolvidos no 'fazer' desta realidade. As pessoas nascem com uma
auréola de força, poder, que se desenvolve e se entrelaça
com o consenso dominante. As pessoas olham o mundo da forma como lhe foi
ditada, com os olhos do consenso dominante. Por outro lado, 'não
fazer' é possível quando uma auréola extra de poder
se desenvolve para formar a existência da realidade de um outro mundo.
O Guerreiro-pirata não escapa do 'fazer' do mundo, mas luta dentro
desta realidade – a realidade do consenso dominante, o que o auxilia
na criação da auréola extra de poder. O ato de 'não
fazer' conduz ao 'parar o mundo', que é o primeiro passo para 'enxergar'.
O mundo da realidade ordinária, do dia-a-dia, nos parece do jeito
que é por causa do consenso social. 'Parar o mundo' significa interromper
a corrente comum de interpretação do mundo, do consenso dominante
ou, em outras palavras, parar o consenso é enxergar o mundo como
bruxo, em uma realidade não-ordinária. 'Parar o mundo' é
viver em um espaço temporal mágico, enquanto que viver na
realidade do consenso é viver em um espaço temporal ordinário.
Eu
cheguei a fumar quatro maços de cigarros por dia, até que
Don Juan sugeriu que eu usasse a minha compulsão para parar de fumar.
Eu deveria ficar envolvido no 'não fazer' de fumar. Para isso, eu
teria que observar o fazer de fumar. Comecei então a observar o 'fazer'
de levantar pela manhã e procurar imediatamente meus cigarros; o
'fazer' de colocá-los no bolso; o 'fazer' de apalpar o bolso da minha
camisa com minha mão esquerda para ter certeza de que os cigarros
lá estavam. O lugar do cigarro, o fumar de dois deles no caminho
da universidade, e assim por diante, constituíam o meu 'fazer' de
fumar. Como eu, você pode observar o que constitui o seu 'fazer' de
fumar. Uma medida sistemática de fazer leva a pessoa a não
executar os detalhes do ato de fumar. Para 'parar o mundo' de fumar a pessoa
tem que aprender a compulsivamente dizer não para o 'fazer' de fumar.
Este exemplo é grosseiramente uma aplicação dos ensinamentos,
pois eu parei de fumar logo nos primeiros contatos com Don Juan, mas somente
consegui 'parar o mundo' da realidade ordinária depois de dez anos.
A partir deste ponto, Don Juan deixou de usar plantas alucinógenas
como parte dos ensinamentos.
Don Juan usou psicotrópicos
e plantas alucinógenas como um auxílio aos ensinamentos. Uma
vez atingido o objetivo, estes veículos se tornaram desnecessários.
As drogas são maléficas para o corpo, e não têm
nenhum defeito além de uma certa qualidade que o bruxo necessita.
O
mundo, como nós o vemos, é apenas uma descrição,
e cada item da descrição é uma unidade, o que eu chamo
de 'gloss' (aparência externa). Uma árvore é um 'gloss',
um quarto ou uma sala são 'glosses'. Nós colocamos significado
ao 'gloss'-quarto como sento a reunião de pequenos 'glosses' –
cama, cadeira, camiseira, armário. A realidade do consenso é
formada por uma corrente infinita de 'glosses', os quais, por sua vez, são
formados e interligados por pequenos 'glosses'. Esta corrente forma, na
nossa realidade, um sentido comum, isto é, esta corrente de 'glosses'
tem que fluir em uma direção preconcebida que nós chamamos
consenso ou sentido comum. Para quebrar ou interromper a corrente, o bruxo
usa drogas que criam um espaço vazio na corrente, implantando uma
nova direção, a direção do sentido comum ou
do bom senso da realidade não-ordinária (realidade da bruxaria).
Sentido comum e bom senso estão diretamente ligados ao nosso corpo.
Com o uso de drogas, há uma interrupção no bom senso
e abertura de uma nova direção, e essa nova direção
só pode ser encontrada com um guia (bruxo), pois, de outra forma,
o uso de tais drogas é sem valor. O homem, geralmente, tem a idéia
de gozar a vida através dos vícios. Um viciado é uma
criança profissional. Interromper a corrente de 'glosses', parar
o mundo, com o uso de drogas só pelo prazer de interromper, só
pode causar dano, além de ser uma brincadeira cujo preço é
caro. Uma vez que o corpo aprendeu a interromper a corrente, não
há mais necessidade de auxílio para tal interrupção.
A pessoa interrompe pela própria vontade.
O
sucesso de Don Juan como psicoterapeuta é impressionante. Ele me
fez cônscio de que eu era uma criança profissional, que eu
estava colocando muito peso sobre mim mesmo, enfatizando minha importância
de pessoa, e não transformando em ações minhas fantasias.
Ele me ensinou a viver para o agora, a encarar a minha morte como um fato
inevitável e existente em minha vida. O conceito de morte deve ser
encarado como uma realidade. Don Juan me ensinou que, se eu me considerasse
como morto, nenhuma das minhas ações teria importância
pessoal, e, com isso, eu poderia mudar, ou mudanças poderiam ser
feitas e tarefas seriam cumpridas. O fato inevitável da morte é
muito mórbido para o homem ocidental, e, em conseqüência,
o Ocidente procura interação social com o objetivo de ajustamento
ao 'bom senso'.
O
bruxo quebra a corrente do bom senso por vontade própria. Não
é uma coisa acidental. Nas primeiras experiências, tenho quase
certeza que sem um guia teria perdido o contato com a realidade do consenso;
em outras palavras, eu não seria capaz de encontrar o caminho de
volta à essa realidade. O guia orienta o aprendiz a sair da realidade
do consenso e a entrar na estranha realidade da bruxaria, bem como sair
daquela estranha realidade e voltar à realidade do consenso. Este
exercício é repetido até que o aprendiz adquira o domínio
da sua própria vontade. Para o psicótico, o exercício
sobre a direção de um psicólogo clínico ou de
um psiquiatra se resume a retornar à realidade do consenso e a permanecer
conformado. O bruxo, além de guia, é o modelo de 'homem do
conhecimento'. Para Don Juan, qualquer mudança somente é possível
se a pessoa praticar seus próprios ensinamentos. Novamente a filosofia
'eu faço o que eu digo' prevalece.
Os
sonhos, para um bruxo, não são simbólicos, mas frutos
do controle que adquire através dos ensinamentos. Ele dorme sonhando
sonhos produtivos, como que uma continuação do dia-a-dia,
ao invés de sonhar sonhos ordinários comuns e sem controle.
Aos poucos, uma pessoa consegue se disciplinar, a ponto de, sonhando, ser
capaz de ver a sua própria imagem dormindo a sonhar. O caso extremo
deste controle pode ser exemplificado pelo que Don Genaro afirma ser capaz:
materialização de uma duplicada da sua própria pessoa.
Com o controle dos sonhos, a pessoa pode aumentar a sua capacidade de ação.
Todas estas realidades não-exploráveis da realidade do consenso
formam um todo – o 'homem de conhecimento'.
A
educação (formal e informal) do homem ocidental não
dá margem a nada estranho ou diferente do consenso social. O que
é fora da norma do nosso bom senso é considerado anormalidade.
Também falta ênfase na noção de responsabilidade
para consigo mesmo: não falamos suficientemente da responsabilidade
para as nossas crianças, e por esta razão, poucos deixam de
ser crianças, e vivem a vida como crianças-profissionais.
Explicando melhor: a criança profissional é a pessoa que precisa
de carinho e é recompensada por meio de atenção dispensada
à sua pessoa. Ela é auto-importante, um eterno 'infant terible'.
Queria deixar de uma vez por todas de ser criança, mas eu era muito
querido por mim mesmo, e sempre tinha uma desculpa para que continuasse
alimentando minha auto-importância. Não fazia nada, não
produzia nada; as ações eram abafadas pelos meus planos, pelas
minhas decisões e pelo meu senso de importância pessoal. Até
que aprendi com Don Juan a deixar de ser criança profissional e me
tornei Guerreiro-pirata. Ficar sentado, esperando que me dessem tudo ou
sonhando acordado com a glória da minha auto-importância, não
me trouxe nada. Eu tive que ir procurar coragem e disciplina.
Faço
aquilo que digo, pratico aquilo que prego. E uma vez que sou honesto comigo
mesmo, não me importa o quê e como a galeria pensa ou reage.
Desta forma, sou livre dos altos e baixos. Veja o exemplo de Tinothy Leary,
o guru do ácido lisérgico. Ele é um exemplo típico
de excesso de auto-importância. Lá pelas tantas, o peso se
tornou demasiado, e ele teve que pagar o preço extremo. Muitos são
os escritores que pregam, mas não seguem a própria pregação;
muitas são as pessoas que promovem um corpo forte e uma mente sadia,
mas acabam destruindo gradativamente o próprio corpo e a própria
mente. Don Juan era o modelo que fazia e praticava tudo aquilo que era colocado
como tarefa para mim, durante todos os anos da aprendizagem.
Quando
a pessoa tira o senso de auto-importância do seu caminho e toma a
consciência de que o homem que puxa a corda e trama os pauzinhos é
tão humano quanto eu ou você, ela pode atingir aquilo que quiser.
A pessoa pode ser ultra-inteligente e cheia de recursos, mas se somente
espera que as coisas lhe venham às mãos, quando não
é atendida pelo mundo cai em um estado de ódio, de remorso
e de medo. O Guerreiro-pirata não tem medo, ele não espera
que as coisas venham até ele. Ele age, cumpre suas tarefas e, ao
mesmo tempo, não se preocupa com as conseqüências.
Na
verdade, o barulho pode ser usado. Você pode usar o barulho da buzina
para treinar a si mesmo para ouvir o mundo exterior. Quando paramos o mundo,
o mundo que paramos geralmente é o que é mantido pelo diálogo
interno. Uma vez que você pára o blá-blá-blá
interno você pára de manter este mundo. A descrição
entra em colapso. É quando começa nossa mudança de
personalidade. Quando você se concentra nos sons, percebe que é
difícil para o cérebro categorizar todos os sons, e, em pouco
tempo, você pára de tentar. Não é como a percepção
visual que nos mantém formando categorias e pensando. É tão
revigorante quando você consegue parar de falar, categorizar e julgar.
A
revolução não mudou muita coisa. Requer pouca coragem
bombardear um prédio. Mas para desistir de cigarros, parar de ser
ansioso ou parar a tagarelice interna, você tem que se reconstruir.
É aí que começa a verdadeira reforma. Don Juan e eu
estávamos em Tucson, não muito tempo atrás, quando
estava acontecendo a Semana da Terra. Alguns homens estavam palestrando
sobre Ecologia e os males da guerra do Vietnã. Enquanto isto, eles
fumavam. Don Juan disse: — Não posso imaginar como eles podem
se preocupar com os outros se eles não se gostam de si. Nossa primeira
preocupação deve ser com nós mesmos. Eu posso gostar
dos meus semelhantes apenas quando estiver no auge do meu vigor e sem depressão.
Para estar nesta condição, devo manter meu corpo preparado.
Toda revolução deve começar aqui, neste corpo. Eu posso
mudar minha cultura, mas apenas através de um corpo impecavelmente
sintonizado com este mundo estranho. Para mim, a verdadeira realização
é a arte de ser um Guerreiro, a qual, como diz Don Juan, 'é
o único meio de balancear o terror de ser um homem com a maravilha
de ser um homem'.
A divindade contida no peiote [Lophophora
williamsii] é
um protetor, acessível, portanto, para todos os homens.
Peiote
Trecho
do livro O Segundo Círculo do Poder:
— O que mais você sentiu, Gorda, quando perdeu a sua forma,
além de não ter bastante energia?
— O Nagual me disse que um Guerreiro sem força começa
a ver um olho. Eu via um olho na minha frente sempre que fechava os olhos.
A coisa chegou a um ponto que eu não podia mais descansar: o olho
me acompanhava por onde eu fosse. Quase enlouqueci. Por fim, imagino que
me tenha acostumado. Agora eu nem noto, pois se tornou parte de mim.
— O Guerreiro sem forma usa aquele olho para começar a sonhar.
Se você não tiver uma forma, não tem de adormecer para
sonhar. O olho na sua frente o puxa toda vez que você quiser ir.
— Onde exatamente fica esse olho, Gorda?
Ela fechou os olhos e mexeu a mão de um lado para outro, bem em frente
do rosto, abrangendo o espaço do rosto dela.
— Às vezes o olho é muito pequeno e às vezes
é enorme — continuou ela. — Quando é pequeno,
o seu sonhar é preciso. Quando é grande o seu sonhar é
como voar sobre as montanhas e não ver grande coisa. Ainda não
sonhei muito, mas o Nagual me disse que aquele olho é o meu trunfo.
Um dia, quando eu realmente me tornar sem forma, não verei mais esse
olho; o olho se tornará igual a mim, nada, e, no entanto estará
ali, como os aliados. O Nagual disse que tudo tem de ser peneirado através
de nossa forma humana, Quando não tivermos forma, então, nada
tem forma, e, no entanto, tudo está presente. Eu não podia
compreender o que ele queria dizer com isso, mas hoje vejo que ele tinha
toda a razão. Os aliados são apenas uma presença, e
o olho também será. Mas, a essa altura, o olho é tudo
para mim. Aliás, tendo esse olho, eu não devia precisar de
mais nada a fim de provocar o meu sonho, mesmo quando estou desperta. Ainda
não consegui isso. Talvez eu seja como você, um pouco obstinada
e preguiçosa.
Tudo
o que é necessário é a impecabilidade, energia, e isto
se inicia com um ato singular, que deve ser deliberado, preciso e constante.
Se este ato é repetido por tempo suficiente, a pessoa adquire um
sentido de intenção inflexível que pode ser aplicado
a qualquer outra coisa. Se isto é realizado, o caminho está
aberto. Uma coisa leva a outra até que o Guerreiro descubra seu potencial
completo.
Os Guerreiros não se ajudam,
não têm compaixão por ninguém. Para um Guerreiro,
ter compaixão significa que você desejava que o outro fosse
como você, e você o ajuda só por isso. A coisa mais difícil
do mundo é um Guerreiro deixar os outros em paz. A impecabilidade
do Guerreiro é deixar os outros como são, e apoiá-los
no que forem. Isto significa, naturalmente, que você confia que também
eles sejam Guerreiros impecáveis.
Não despreze o mistério
do homem em você sentindo pena de si mesmo ou tentando racionalizá-lo.
Despreze a estupidez do homem em você, compreendendo-a. Mas não
se desculpe por nenhum dos dois; ambos são necessários.
Você
deve cultivar a idéia de que um Guerreiro não precisa de nada.
Ajuda para quê? Você tem tudo o que é preciso para a
viagem extravagante que é a sua vida.
Você
deve agir sem acreditar, sem esperar recompensas; agir só por agir.
Esteja alerta a cada segundo. Não
permita que nada nem ninguém decidam por você.
A
autoconfiança do Guerreiro não é a autoconfiança
do homem comum. O homem comum procura certeza aos olhos do observador e
chama a isso autoconfiança. O Guerreiro procura impecabilidade aos
próprios olhos e chama a isto humildade. O homem comum está
preso aos seus semelhantes, enquanto o Guerreiro só está preso
ao infinito.
Um
Guerreiro não é uma folha, mercê do vento. Ninguém
pode empurrá-lo; ninguém pode obrigá-lo a fazer coisas
contra si mesmo ou contra o que ele acha certo. Um Guerreiro está
preparado para sobreviver, e ele sobrevive da melhor maneira possível.
O
importante
é que saibas exatamente por que queres te comprometer.
A
diferença básica entre um homem comum e um Guerreiro é
que um Guerreiro toma tudo como desafio, enquanto um homem comum toma tudo
como bênção ou como maldição.
É um expediente tolo para
fazer com que pessoas preguiçosas acreditem que estão fazendo
algo muito inteligente, quando estão apenas perdendo tempo.
Muita
luz é como muita sombra: não deixa ver.
Don
Juan dizia que o silêncio interior era o estado buscado com maior
avidez pelos Xamãs do México Antigo. Ele o definia como um
estado natural da percepção humana, no qual os pensamentos
são bloqueados e todas as faculdades do homem operam de um nível
de consciência que não requer a utilização do
nosso sistema cognitivo diário. Para
os Xamãs da linhagem de Don Juan, o silêncio interior sempre
tem sido associado à escuridão, talvez porque a percepção
humana, privada do seu companheiro habitual, o diálogo interno, caia
em algo que se assemelha a um buraco escuro. Ele dizia que o corpo funciona
normalmente, mas a percepção se torna mais aguda. As decisões
são instantâneas e parecem provir de um tipo especial de conhecimento
que é destituído de verbalizações mentais. De
acordo com Don Juan, a percepção humana, funcionando em uma
condição de silêncio interior, é capaz de atingir
níveis indescritíveis. Alguns daqueles níveis de percepção
são mundos em si, e de modo algum são como os mundos alcançados
através do sonhar. Eles são indescritíveis e inexplicáveis
em termos dos paradigmas lineares que o estado habitual emprega para explicar
o Universo. No
entendimento de Don Juan, o silêncio interior é a matriz para
um passo gigantesco de evolução: o conhecimento silencioso
ou o nível da consciência humana no qual o saber é automático
e instantâneo.
Os seres humanos são percebidos
pelos Xamãs da linhagem de Don Juan como conglomerados de campos
de energia com a aparência de bolas luminosas, e cada uma delas está
individualmente conectada a uma massa energética de proporções
inconcebíveis que existe no Universo, chamada mar escuro de consciência.
Não
sentia que estava caminhando; também não estava voando. Sem
dúvida, era transportado com extrema facilidade. Meus movimentos
tornavam-se convulsivos e desgraciosos apenas quando tentava pensar a seu
respeito. Quando desfrutava deles sem pensamentos, entrava em um estado
único de relaxação física sem precedentes. Se
já tive momentos de felicidade física como aquele em minha
vida, devem ter sido tão curtos que nem deixaram lembrança.
No entanto, quando experimentava aquele êxtase, sentia uma vaga recognição,
como se alguma vez a tivesse conhecido, mas esquecido. A
exaltação de me mover através do chaparral era tão
intensa que tudo o mais cessou. A única coisa que existia eram aqueles
momentos de movimento e paradas. Contudo, ainda mais inexplicável
foi a sensação corporal total de pairar acima dos arbustos.
Em dado instante, vi com nitidez a figura de um jaguar à minha frente.
Estava se afastando tão rapidamente quanto podia. Senti que ele tentava
evitar os espinhos dos cactos. Era extremamente cuidadoso quanto ao lugar
onde pisava. Tive a subjugante necessidade de correr atrás do jaguar
e assustá-lo para que perdesse sua precaução. Sabia
que ele precisaria ser ferido pelos espinhos. Um pensamento, então,
irrompeu em minha mente silenciosa — pensei que o jaguar seria um
animal mais perigoso pelos espinhos. Aquele pensamento produziu o mesmo
efeito que alguém me acordando de um sonho. Quando percebi que meus
processos de pensamento funcionavam outra vez, descobri que chegara na base
de uma cadeia baixa de morros rochosos. Olhei ao redor. Don Juan estava
a poucos metros atrás.
O
caminho do Guerreiro é tudo. É o resumo da saúde mental
e física. Não posso explicar de outro modo. O fato de os Xamãs
do México antigo terem criado tal estrutura significa, para mim,
que eles estavam no auge de seu poder, no cume de sua felicidade, no ápice
de sua alegria.
Recordar
não é o mesmo que relembrar. Relembrar é ditado pelo
tipo de pensamento cotidiano, enquanto recordar é ditado pelo movimento
do ponto de aglutinação. Uma recapitulação de
suas vidas, que os feiticeiros fazem, é a chave para mover seus pontos
de aglutinação. Os feiticeiros começam sua recapitulação
pensando, relembrando os atos mais importantes de suas vidas. Após
apenas pensar a respeito deles, movem-se, então, para estar realmente
no local do evento. Quando conseguem fazer isso – estar no local do
evento – foi porque moveram com sucesso seu ponto de aglutinação
ao lugar preciso onde estava quando o evento teve lugar. Trazer de volta
o evento total por meio do ponto de aglutinação é conhecido
como a recordação dos feiticeiros.
A recapitulação de
nossa vida não termina nunca, não importa que tenhamos recapitulado
direito. O motivo de as pessoas comuns não terem vontade própria
nos sonhos é nunca terem recapitulado, e suas vidas ficam cheias
até a borda de emoções ,como lembranças, esperanças,
medos etc. Os feiticeiros são relativamente livres de emoções
pesadas e opressivas, por causa da recapitulação. E se alguma
coisa faz com que eles fiquem bloqueados, a suposição é
que ainda existe alguma coisa neles que não está suficientemente
clara. Recapitular e sonhar andam lado a lado. À medida que regurgitamos
nossas vidas nós ficamos mais e mais leves.
A
recapitulação liberta a energia aprisionada dentro de nós,
e sem essa energia liberada o sonhar não é possível.
Os feiticeiros da Antigüidade,
os inventores da recapitulação, viam a respiração
como um ato mágico, vivificante, e usavam-na como um veículo
de magia; a expiração era usada para ejetar a energia estranha
deixada neles enquanto a interação era recapitulada, e a inalação
servia para recuperar a energia que eles tinham deixado para trás
durante a interação.
Don
Juan afirmava que o raciocínio dos feiticeiros antigos, para explicar
a recapitulação, era sua convicção de que existe
uma inconcebível força de dissolução no Universo,
que faz os organismos viverem emprestando-lhes consciência. A mesma
força também faz os organismos morrerem, para extrair deles
a mesma consciência emprestada, que os organismos aprimoraram através
de suas experiências de vida. Don Juan explicou o raciocínio
dos feiticeiros antigos, dizendo que eles acreditavam que, como essa força
estava atrás de nossa experiência de vida, era de super importância
o fato de que ela poderia se satisfazer com uma espécie de fac-símile
de nossa experiência de vida: a recapitulação. Ao receber
o que deseja, a força de dissolução deixa os feiticeiros
livres para expandir sua capacidade de perceber e de chegar com ela aos
confins do tempo e do espaço.
O
sonhar exige toda a energia disponível. Se houver uma preocupação
profunda em sua vida, não existe possibilidade de sonhar.
O
uso da consciência como um elemento energético
do Universo era a essência da feitiçaria. Em termos práticos,
a trajetória da feitiçaria era, primeiro, libertar a energia
existente em nós (através da recapitulação)
seguindo implacavelmente o caminho dos feiticeiros. Segundo, usar essa energia
para desenvolver o corpo energético através do sonhar. Terceiro,
usar a consciência como um elemento do ambiente para entrar com o
corpo energético e toda a nossa fisicalidade em outros mundos.
O poder está no tipo de conhecimento
que se tem. De que adianta saber coisas inúteis? Elas não
vão nos preparar para o encontro inevitável com o desconhecido.
Um
Guerreiro pode se preocupar e pensar antes de tomar uma decisão,
mas uma vez que a tomou, segue seu caminho, livre de preocupações
ou pensamentos; haverá mil outras decisões ainda à
sua espera. Esta é a maneira do Guerreiro.
Consciência
é o ato de estar deliberadamente consciente de todas as possibilidades
perceptivas, e não apenas das possibilidades perceptivas ditadas
por qualquer determinada cultura, cujo papel parece ser o de restringir
a capacidade perceptiva de seus membros.
O ser incompleto nasce da incessante
procura por reconhecimento social.
Cada
nuance do Cosmos é uma expressão de energia. O Cosmos inteiro
é composto de forças gêmeas que são, ao mesmo
tempo, opostas e complementares: energia animada e inanimada.
Nossas
vidas terminam exatamente onde se originaram: no infinito... A verdadeira
luta do homem não é a disputa com seus semelhantes, mas com
o infinito, o que não chega a ser luta, mas aquiescência.
Nós não nos damos conta
de que podemos cortar qualquer coisa de nossas vidas, a qualquer momento,
em um piscar de olhos.
Há muitas coisas que um Guerreiro
pode fazer, em determinado momento, que não poderia ter feito anos
antes. Essas coisas não mudaram; o que mudou foi a idéia do
Guerreiro sobre si mesmo.
O
caminho do Guerreiro oferece ao homem uma nova vida, e esta vida tem de
ser completamente nova. Ele não pode trazer para esta nova vida seus
velhos e horríveis hábitos.
Todas as faculdades, possibilidades
e realizações do Xamanismo – das mais simples às
mais espantosas – estão no próprio corpo humano.
Não
há totalidade sem tristeza e sem saudade, pois, sem elas, não
há sobriedade nem bondade. A sabedoria sem bondade e o conhecimento
sem sobriedade são inúteis.
As possibilidades do homem são
tão vastas e misteriosas que os Guerreiros, em vez de pensar sobre
elas, escolhem explorá-las, sem esperança de jamais chegar
a entendê-las.
Pense
por um momento e diga-me como explicaria as contradições entre
a inteligência de um homem engenheiro e a estupidez do seu sistema
de crenças ou a estupidez do seu comportamento contraditório.
Os feiticeiros acreditam que os predadores nos deram os nossos sistemas
de crenças, as nossas ideias do bem e do mal, os nossos hábitos
sociais. Foram eles que programaram as nossas esperanças, as nossas
expectativas e os nossos sonhos de sucesso ou de fracasso. Deram-nos a ambição,
a cobiça e a covardia. São os predadores que nos tornam complacentes,
rotineiros e egomaníacos.
Através
da mente, os predadores injetam nas vidas dos seres humanos o que lhes convém.
E, deste modo, asseguram um nível de segurança que age como
um amortecedor contra os seus medos.
Por
mais aterrador que seja o conhecimento, é mais terrível ainda
pensar no homem sem conhecimento.
Liberdade
total significa consciência total.
A
liberdade é alegria, eficiência e renúncia duante de
qualquer dificuldade.
A
consciência plena só chega quando não há mais
vaidade.
Sem
um amor constante pelo Ser que lhe dá abrigo, estar sozinho é
solidão.
Páginas
da Internet consultadas:
http://braindamage.forumeiros.com/downloads-f5/
carlos-castaneda-todas-as-obras-t87.htm
http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens
/experiencias_de_estranhamento_imprimir.html
http://www.esnips.com/web/
CarlosCastaneda14
http://www.scribd.com/doc/4894356/
Porta-para-o-Infinito-Carlos-Castaneda
http://sabiasque.blogsome.com/
2009/07/26/don-juan-e-carlos-castaneda/
http://erico.soylocoporti.org.br/2007/
11/20/frases-de-carlos-castaneda/
http://br.geocities.com/serambarino/
castanedarecap.htm
http://holosgaia.blogspot.com/2009/02
/silencio-carlos-castaneda.html
http://osereosagrado.blogspot.com/2009/05
/ebook-carlos-castaneda-las-ensenanzas.html
http://www.pensador.info/autor/Carlos_
Castaneda_(frases_de_seu_mestre_Juan_Matus)/
http://es.wikibooks.org/wiki/
Pensamiento_castanediano/Toltequidad
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Carlos_Castaneda
http://www.consciencia.org/castaneda/
castaneda-carta-gordon-wasson.html
http://www.consciencia.org/
castaneda/caspsychology.html
http://www.consciencia.org/
castaneda/casvista.html
Fundo
musical:
Comanche
Peyote Song
Fonte:
http://www.parlorsongs.com/insearch/
amerindian/amerindian0.php