Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

 

Enquanto persistir a necessidade

por que se subordinar à castidade?1

Não tem mesmo qualquer cabimento

transformar essa coisa em tormento.2

 

Nada poderá ter qualquer valor

se causar desconforto ou dissabor.

Logo, restrição derivada do medo

só produzirá angústia. Jamais ledo.

 

Amordaçar, suprimir e restringir

impactam, abalam e atormentam.

Privar-se3 só faz cair. Nunca subir.

 

Sujeitar e coagir um adolescente

a extravagâncias que não arrobustam

 

 

 

 

 

 

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Nota:

1. A que tipo de castidade? Aquela, em geral, determinada pelas religiões? Com qual finalidade?

2. O tormento deriva do medo; o medo faz adoecer; a doença alimenta o medo; o medo retroalimenta o tormento; o tormento catalisa e produz mais medo...

3. A privação e o apoucamento por vassalagem a um dogma ou a uma irracionalidade subalterna e pérfida que contrariem a clareza mental, o bom senso ou o julgamento preclaro podem se transformar em patologias incontroláveis. No limite, uma dessas patologias é a que apresentam os serial killers (50% deles evidenciam personalidade esquizóide), com possibilidade, até, de praticarem necrofilia e antropofagia. Um assassino em série é um doente que exibe um transtorno de personalidade, apresentando um perfil psicopatológico que o obriga a cometer crimes medonhos com uma certa freqüência ou regularidade, geralmente seguindo um modus operandi preestabelecido, e, às vezes, deixando sua 'assinatura'. Mike DeBardeleben, um dos mais conhecidos serial killers, certa vez, escreveu: o impulso central é ter completo comando sobre a outra pessoa, fazer dela o objeto desamparado de nosso desejo... fazer com ela o que se quer para o prazer... e o objetivo mais radical é fazê-la sofrer.

Castidade e celibato são espirituais, místico-alquímicos; não têm qualquer valimento se suas origens forem primária e exclusivamente objetivas ou, o que é pior, se forem impositivas e hipotéticas.

Definitivamente, só se e só quando se manifestarem a castidade e o celibato místico-espirituais, é que os seus reflexos, naturalmente, se darão no Plano Físico. Inverter esta ordem é se afastar da normalidade, afastamento esse que poderá gerar imprevisíveis deformações.

Que não se esqueça que um dogma é um ponto fundamental de uma doutrina religiosa, apresentado como certo e indiscutível, cuja verdade se espera que as pessoas aceitem sem questionar, doa ou faça cócegas, chova ou faça sol, produza ou não produza um sofrente serial killer. Seria interessante e ilustrativo fazer uma rápida pesquisa sobre a vida de César Bórgia, Duque de Valentino (1475 - 1507).

Que não se esqueça também que, nesta Dimensão, um ser humano só se tornará quadrangulado, se vier a se tornar, mais ou menos aos 28 (vinte e oito) anos.

Logo, não é salubre nem razoável substituir o conjunto de excitações e atividades naturais, presentes desde a infância, conjunto salutar e natural que está ligado à sexualidade, por superstições ou crendeirices apocópicas e transtornantes. Isso é um sei lá o quê que não leva a absolutamente nada de útil ou de positivo. Se levar a alguma coisa, serão sofrimento e isolamento. Quando chegar a Santa Hora e se chegar a Santa Hora... Lembro uma vez mais as palavras de Santo Agostinho (354 - 430): Amanhã. Amanhã? Por que não há de ser agora? Porque o termo das minhas torpezas não há de vir já, nesta hora? Mas, antes, havia pedido: Dai-me a castidade e a continência; mas não ma deis já. Quando chegar a Santa Hora e se chegar a Santa Hora... Por que insistir em colocar a carroça na frente dos bois?

Portanto, como está ajuizado no soneto, amordaçar, suprimir e restringir [sem quê nem pra quê] impactam, abalam e atormentam.

O verdadeiro pecado é educar uma criança metendo em sua cabeça que a sexualidade é um pecado. De ejaculação involuntária em ejaculação involuntária está sendo fabricada uma personalidade-alma solitária, de restrição em restrição está sendo fabricado um ser-no-mundo quebralhão.

Quero resumir tudo isso em um conceito: é necessário e salutífero não amedrontar o adolescente e não meter caraminholas em suas cabecinhas. Para escândalo de alguns (ou de muitos), digo mais uma vez: meus dois filhos não foram batizados, não fizeram a primeira comunhão, nunca se confessaram etc., e, portanto, nunca amarguraram as limitações derivadas da crença em pecados e do medo do inferno, nem esperaram prêmios divinos por bom comportamento. Foram educados com a mais absoluta liberdade, com a mais ampla independência e com a mais integral responsabilidade, inteiramente desvinculados das idéias de deuses e de demônios, de céus e de infernos. Quando o calor sexual se manifestou em cada um, tudo foi muito natural. Minha filha, particularmente, recebe seus namorados em sua casa. Nunca precisou se esconder, tergiversar ou mentir. Logo, as escabrosas animações em flash que abrem e fecham este soneto jamais fizeram parte de sua personalidade. O mesmo vale para o meu filho.

 

 

 

 

Página da Internet consultada:

http://www.scielo.br/

 

Música de fundo:

That's Life (Dean Kay & Kelly Gordon)

Fonte:

http://midi.fasthost.tv/f.html