Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Hoje, estou divulgando alguns fragmentos (editados, como sempre, aqui e ali) da obra Cármides (que, junto com Teages, Laques e Lísis, faz parte da Quinta Tetralogia platônica). Basicamente, este diálogo platônico se ocupa com o tema da Ética, mediante discussão da idéia de sofrósina (sóphrosúné) – conceito grego que significa comedimento, sanidade moral, autodomínio e moderação, guiados pelo autoconhecimento. Mais tarde, o conceito de sofrósina foi ampliado para incluir a noção de prudência, e era associado à doutrina apolínea do nada em excesso e do conhece-te a ti mesmo, podendo tudo isto, talvez, se resumir em um conceito: busca da sensatez. Enfim, ligado ao conceito pitagórico de harmonia, Platão empregava o termo em seus escritos com o sentido de moderação.

 

 

 

Fragmentos Escolhidos

 

 

 

É belo por fora e por dentro.1

 

Não se deve tentar curar os olhos sem curar a cabeça, nem tentar curar a cabeça sem curar o resto do corpo, nem tentar curar o corpo sem curar a alma. Enfim, se o conjunto não vai bem, é impossível que as partes possam ir bem.

 

É da alma que advêm todos os males e todos bens para o corpo e para a pessoa como um todo. É, portanto, a alma que deve receber nossos primeiros e principais cuidados, se quisermos ter harmonia mental e corporal.

 

A alma deve ser tratada com certos encantamentos, e estes encantamentos são os bons discursos, pois destes bons discursos nasce a sensatez. E, uma vez que a sensatez tenha nascido, se permanecer, proporcionará saúde e harmonia à mente e ao corpo.2

 

 

 

 

Os homens se equivocam ao tentar, separadamente, ser médicos da alma e do corpo.3

 

Sensatez é fazer as coisas ordenadamente, tranqüilamente e em silêncio.

 

Nem sempre a vida tranqüila é mais sensata do que a intranqüila.

 

Não é sensato aquele que se ocupa com coisas más como se fossem boas.

 

Os homens sensatos também são bons. Logo, não é sensato nem é bom o homem que faz mal aos homens.

 

 

Marlon Brando (Don Corleone)

 

 

Nenhum trabalho é desonroso. (Hesíodo4, apud Platão).

 

Sensatez é ocupar-se com boas obras.

 

Jamais um homem é sensato sem o saber. Neste sentido, ser sensato é se conhecer a si-mesmo.

 

A fórmula «saúde» não está completamente correta nem é desejável como exortação de uns a outros, sendo preferível «sê sensato».

 

Conhece-te a ti mesmo Sê sensato.

 

Nada demasiado.

 

Aquele que se fia se arruína.

 

É indiferente que tenha sido você ou que tenha sido eu que tenhamos dito ou feito algo justo; importa, sim, tão-somente que a justiça seja feita.

 

Todas os conhecimentos são de alguma coisa, mas não de si-mesmos, enquanto a sensatez é a única forma de conhecimento que, além de conhecer todos os outros conhecimentos, se conhece a si-mesma.

 

Só o sensato se conhece a si-mesmo e é capaz de, realmente, discernir o que sabe e o que não sabe. Da mesma forma, o sensato está apto a investigar o que o outro sabe, quando o outro sabe algo, ou o que o outro crê saber, quando, na verdade, não sabe.

 

O saber é, igualmente, saber o que se sabe e reconhecer o que não se sabe.

 

A sensatez é um saber do saber e da ignorância.

 

Debe haver um Saber do saber.

 

É um grande bem se ter consciência do que não se sabe.

 

Ser feliz é viver com conhecimento.

 

Quando alguém se empenha em fazer alguma coisa, forçando-se se for preciso, não haverá ninguém capaz de se opor.

 

Efetivamente, seria um grande bem para a sociedade, se cada cidadão se ocupasse apenas das coisas que sabe, e se, com relação às que não sabe, deixasse para os que sabem.5

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Kalòs te kaì agathós: modelo superior da educação grega consubstanciada no ideal de perfeição da alma, com base no bem, no bom e no belo.

2. Aqui, aproveito para lembrar: mens sana in corpore sano (uma mente sã em um corpo são) – famosa citação latina de autoria do poeta e retórico romano Decimus Iunius Iuvenalis (entre 55 e 60 – depois de 127). Orandum est ut sit mens sana in corpore sano... Deve-se pedir em oração que a mente seja sã em um corpo são.

3. Também é preciso considerar, como holisticamente ensinou Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), na sua Metafísica, que o todo é maior do que a simples soma das suas partes.

4. Hesíodo (século VIII a.C.) foi um poeta da Grécia Antiga. Uma de suas obras mais importantes é a Teogonia, também conhecida por Genealogia dos Deuses – um poema mitológico em 1022 versos hexâmetros.

5. Quando leio afirmações deste tipo, às vezes, me lembro do Brasil. No nosso Patropi, o Poder Executivo é atualmente composto por vinte e quatro ministérios, nove secretarias da presidência com status de ministério e seis órgãos, também com status de ministério. A continha é esta: 24 + 9 + 6 = 39! O pior, na minha opinião, não é a desnecessária montanha de titulações de primeiro escalão, mas a reiterada nomeação de figurões e figurinhas para comandar estes ministérios, secretarias e órgãos, que, normalmente, não sabem lhufas de lhufas do métier para o qual estão sendo nomeados. Isto é meio que nomear um padre para chefiar uma casa de tolerância ou designar um ceguinho para ser guarda de trânsito. O padre até que poderá ter algum sucesso na sua investidura, mas o pobre do ceguinho irá criar o maior bulício no tráfego. O fato é que tudo isto, mais do que um horror anti-racional e anti-republicano, é uma (falta de) vergonha. Falta de vergonha na fuça de quem nomeia e falta de vergonha na carantonha de quem aceita a nomeação e assume. E quem paga este desregramento somos nós. Bem, já que são trinta e nove os órgãos de primeiro escalão, não custaria nada criar o quadragésimo: o Ministério do Sem-vergonhismo – que investigaria todas as sem-vergonhices políticas praticadas nos âmbitos federal, estadual e municipal, fosse no(s) executivo(s), fosse no(s) legislativo(s), fosse no(s) judiciário(s). Mas, para que esta providência pudesse ser tomada, seria preciso construir zilhões e zilhões de cadeias Brasil afora, porque as que existem, há muito tempo, não dão conta sequer dos graciosos inquilinos já existentes. Só para registro: estes inquilinos são graciosos não porque sejam engraçados, jocosos, joviais, divertidos, delicados ou gráceis, mas porque nós pagamos para eles morarem de graça.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Hes%C3%ADodo

http://www.myweku.com/2011/07/the-
beyonce-and-tofo-tofo-animated-gif/

http://avatars.postiton.net/avatar/
Yin-yang-animated/9172/avatar.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Holismo

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Mens_sana_in_corpore_sano

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Sofr%C3%B3sina

http://pt.wikipedia.org/wiki/
C%C3%A1rmides

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/Pesquisa
ObraForm.do?select_action=&co_autor=173

 

Música de fundo:

País Tropical
Composição: Jorge Ben Jor
Interpretação: Wilson Simonal

Fonte:

http://www.4shared.com/get/PE-peEwA/
05_-_Wilson_Simonal_-_Pas_Trop.html