Rio
de Janeiro – Na manhã desta quarta – 4 de
abril de 2006 – quando o corpo deixava a casa onde vivia, no bairro
Zé Garoto, em São Gonçalo, fãs prestaram a última
homenagem: uma acalorada salva de palmas. Carequinha, o mais popular palhaço
do Brasil, morreu no início do dia. Trabalhou até seus últimos
dias e tinha 'shows' marcados. Será sepultado com o terno que usava
em suas apresentações, no fim da tarde de hoje.
George Savalla Gomes tinha 90 anos.
Sentiu-se mal de madrugada, reclamando de falta de ar e dores no peito.
Foi medicado na própria residência e seria internado para
exames no Hospital das Clínicas, que fica em frente a sua casa.
Mas não resistiu.
A prefeitura de São Gonçalo
decretou luto oficial de três dias na cidade. George Savalla Gomes
nasceu em 18 de julho de 1915 na cidade de Rio Bonito, interior do Estado
do Rio de Janeiro. Era filho do casal de trapezistas Elisa Savalla e Lázaro
Gomes. Sua mãe teve as dores do parto em cena e ele nasceu ali
mesmo no Circo Peruano de propriedade de seu avô, José Rosa
Savalla. O pai morreu quando ele tinha dois anos. Foi o segundo marido
da mãe, Ozório Portilho, que o levou ao picadeiro pela primeira
vez, quando tinha cinco anos, e lhe deu o nome artístico. Colocou
nele uma peruca de careca e lhe disse que, daquele dia em diante, seria
o palhaço Carequinha. Carequinha cresceu nos picadeiros. Esteve
no Circo Peruano e em outros, como o Circo Ocidental, do padrasto, até
chegar ao Circo Alemão Sarrazani, no Rio de Janeiro, em 1951. No
Sarrazani, fazia papel de palhaço na primeira parte do espetáculo
e de galã na segunda parte, quando eram encenadas peças
de teatro. Um dos atores era um alfaiate, Fred ViIlar, que fazia o palhaço
Fred e viria a ser seu companheiro fiel de palco.
Em
busca de outros públicos, Carequinha levou seu 'show' para fora
dos picadeiros, apresentando-se em aniversários e clubes, além
de representar o Brasil quatro vezes no exterior. Ele venceu um concurso
da Itália de palhaço mais moderno do mundo, representando
o Brasil no 1º Festival Internacional de Clowns. E foi o primeiro
palhaço da televisão brasileira, começando na TV
Tupi em 1951, ano seguinte à inauguração da emissora,
a primeira do País. Lá, fez o Circo Bombril, que ficou 16
anos no ar.
Carequinha gravou 26 discos e suas
músicas eram muito populares entre as crianças. Sua primeira
gravação ocorreu em 1957, a marcha de Miguel Gustavo "Fanzoca
do rádio", que fez bastante sucesso. Ele teve grandes êxitos
como "O Bom Menino" ("o bom menino não faz xixi
na cama, o bom menino não faz malcriação..."),
"A Marcha do Carrapato", "Parabéns, Parabéns"
e canções de roda tradicionais como "Escravos de Jó",
"Ciranda Cirandinha", "Carneirinho Carneirão"
e "O Cravo Brigou com a Rosa".
Nos
anos 80, apresentou um programa infantil na TV Manchete até ser
tirado do ar para que entrasse o programa da Xuxa, que começou
naquela emissora sua carreira artística. Ele se apresentou para
vários presidentes brasileiros, entre os quais Getúlio Vargas
e Juscelino Kubistchek, além de ser condecorado pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso. Carequinha estava radicado em São Gonçalo
há mais de 60 anos. Ele teve cinco filhos e sete netos e bisnetos.
Mas a tradição de família acabou com ele. Ninguém
quis seguir a carreira de palhaço.
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OUÇA
LÁ SEU CAREQUINHA
uça,
ó rei dos carequinhas:
todas
as criancinhas
conhecem muito bem o senhor.
Desde
bem pequenininhas
cantam
as suas modinhas
com
prazer e com amor.
aça
uma boa viagem
e aproveite a aprendizagem.
Que
floresça a sua Flor!
Carequinha
de coragem
viveu
sem levar vantagem
—
Palhaço de grande valor.