SAPENGANDO, MAS, APRENDENDO
(Crônica de um Sapo Fura-fila)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

— Lá longe, semifísico e semi-etérico,

– sapo-andrógino-polar – comecei

uma andação sem começo nem fim.

Eu continuava sendo andrógino,

e, já como boreal, fui caminhando.

Lemuriano, no fim da 3ª Raça-raiz,

um sapão, deixei de ser andrógino,

e, devagar, devagarinho, fui perdendo

minhas faculdades espirituais.

Descobri o quanto era gostoso

um beijinho-beijinho-pau-pau

com uma sapinha safadinha,

e botei pra arrepiar às pamparras.

Ainda ecoava I-E-O-U-A-M-S!

Ainda era um tempo de alegria!

Do fundo, foi pintando a Atlântida

– a 4ª Raça-raiz, engendrada da 3ª.

E, assim, continuei 'sapogrinando'.

Mas, a água destruiu a nossa Raça,

e fui um dos poucos sapos supérstites.

E, já como ariano, segui em frente.

Mas, sei que virá um baita fudelhufas!?

Espero seguir avante na 6ª Raça-raiz,

e, se eu não marcar bobeira, chegar à 7ª.

 

— Enquanto isso, como ainda não tenho

dignidade e vergonha na carrancuda,

vou disseminando o negacionismo,

tornando público o antivacinismo

e semeando o hidroxicloroquinismo.

Aprendi tudo isto com o meu Capitão.

Todavia, como qualquer sapo-imitador,

sou um supercagarolas de carteirinha,

e, com medo de morrer antes da hora,

eu acabei topando ser CoronaVaCinado,

e, descarado, me tornei um sapo-fura-fila.

Os outros sapos? São os outros. Danem-se!

Que empacotem de SapoCOVIDmia!

Se eu não furar fila, outros furarão.

Se eu não me adiantar, outros se adiantarão.

Se eu dormir de touca, virarei múmia de sapo.

Já dizia o sapientíssimo Barnabé da Barnabéia:

— Sapo-zorro e pousa-foles não 'bobéia';

se der chance, passa até na frente de véia.

 

 

Múmia de Sapo

 

 

— Dizem que existe reencarnação,

e que, para tudo, há compensação,

pela ação da Lei da Causa e do Efeito.

Se for assim, estou fritinho da silva!

Mas, tenho certeza que Deus é bom

e que Ele haverá de me perdoar.

Alguém já viu Deus não perdoar sapo?

Por isso, sempre ajudo pobrezinho,

e, na igreja, dou um dizimozinho.

Sabe como é, malandrice de sapo.

Mas, devagar, eu vou aprendendo

a ser cada vez menos filho-da-sapa.

Sei que é árdua e longa a caminhada,

mas, um dia, eu serei um Sapo-Deus!

Aí, esperarei e não furarei mais fila.

 

 

 

O Sapo-fura-fila e a Sacolinha do Tim Tones