CAOS 3

Rodolfo Domenico Pizzinga

Música de fundo: Water
Fonte:
http://www.partnersinrhyme.com/midi/Misc/index.shtml

 

 

Este não é propriamente mais um ensaio que eu tenha escrito como fruto de algum insight místico (ato ou resultado de perceber a natureza interior de alguma coisa ou de ver intuitivamente) ou de alguma especulação filosófica sobre algo. É o resultado de um aturado estudo que estou fazendo ao acompanhar as reflexões que meu Irmão +Vicente Velado, Illuminatus FRC, 7 PhD e Abade Especial para o Terceiro Mundo da Ordo Svmmvm Bonvm está seqüencialmente divulgando na Web — produto de uma tarefa gigantesca e ímpar que ele misticamente se impôs (com o auxílio de alguns Irmãos e colaboradores) no sentido de iluminar mentes e corações nesta Nova Era (Aquarius) que já está em curso. Com ele tenho aprendido muitas coisas, mais talvez do que ele próprio saiba. Por isso, sou grato a ele. Por tudo. E assim, para mim, a melhor maneira de estudar esses textos é produzindo alguma coisa oriunda da compreensão que tive do tema. Na verdade, ler um texto como este não adianta realmente nada; é preciso estudá-lo.

Para esta colaboração, farei apenas um verso com base no que estudei no ensaio que será reproduzido autorizadamente abaixo, e adicionarei algumas animações (não há animações no texto original do Autor). Quando as animações não forem produzidas por mim, citarei as fontes. De qualquer forma, sempre consulto o Google, pois não tenho lá muita habilidade para desenhar. Mal e porcamente, (acho que) sei apenas pensar e digitar (isso eu sei) com dois dedos. Ao final, apresentarei alguns rápidos comentários do meu entendimento sobre esta matéria. Estas são as modestas colaborações que estou dando, mais como professor do que como místico, ao pensamento de +Vicente Velado sobre o Caos. Faço isso com muita alegria no coração. Só mais um acréscimo: gostei muito desta mid que garimpei no Google. Acho que ela se adéqua ao tema como uma luva.

 

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DUAS REALIDADES

 

 

 

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TERCEIRO ESTUDO
SOBRE O CAOS

pelo Frater Velado, 7Ph.D. (*)



Venerável Fundador de Khem
Hierofante da
Ordo Svmmvm Bonvm (OS+B)

 


Eis-me aqui diante de vocês, ó seres iguais a mim, que viveis no espelho tal como ora também vivo, como reflexos do Ser, apenas reflexos... e o espelho é o Plano físico, sob a injunção da Dualidade e da Entropia. Eis-me aqui, não como Profeta do Caos, mas como Profeta da Nova Era Mental, emergindo do Caos e sobre ele andando, para fazer as anunciações que me cabem por livre escolha. Eis-me aqui, no exercício do eterno provisoriado, porque nada é seguro e nada permanece imutável e tudo é possível. Estou nu como um novo Adão, porém estou sozinho. Caminho sobre o Caos e navego dentro dele e por ele, imune à sua condição, da qual sou o narrador, um interpretador apenas. Desde 1995CE, quando me tornei eremita, sendo eu mesmo meu próprio Abade, entendi que era preciso estudar o Caos e penetrar seu significado mais recôndito, para que pudesse entender as razões da dor e da transformação que perpassam continuamente criaturas e mundos, galáxias e universos inteiros, sob o beneplácito (?) do Grande Sol Central, do qual sou um dos vários Profetas. Bem antes do raiar deste novo Milênio Cristão, que leva o número 3 como símbolo, escrevi "Teoria da Transformação", que examina o Caos e nega a Teoria do Big-Bang.

 

Esta animação representativa do Big Bang
(que segundo meu entendimento também nunca houve
nem poderá haver) foi inteiramente
modificada por mim e transformada em flash.
A animação original encontra-se em:
http://perso.wanadoo.fr/oncle.dom/art/animations/fantaisies/big_bang.htm

 

Este livro foi escrito em 1997, em função de meditações realizadas sobre ilustrações que especialmente produzi para ele (uma série de quadros intitulados "Elementos", cada um dos quais numerado, de 1 a 11), nas quais foi exposta a visão gradativamente transformada do Universo em contínuo processo de criação e que constitui o cerne da "Teoria da Transformação". Essa Teoria - que é secretamente estudada na Ordo Svmmvm Bonvm e da qual sou um dos Abades (temporariamente) - trata do exercício pleno do Domínio da Vida pelo homem e nos seres-acima, nos quais se transforma na progressão pelos Planos de Manifestação.

Na verdade, este livro é apenas a fachada, a face exterior da "Teoria da Transformação", o apanhado geral que pode ser trazido a público, e no qual se destaca a contestação taxativa do Big-Bang. Foi escrito em pouco mais de um dia, em um PC com sistema operacional OS/2 Warp (ah! eu me recordo que esse OS tinha alma e em volta dela florescia toda uma comunidade, que depois foi friamente deixada na orfandade), ilustrado com Corel Draw, produzido com Aldus Page Maker e impresso em uma máquina HP. Não fiz aqui um comercial, apenas expressei minha gratidão a essas máquinas e aos seus inventores (eles merecem). Com minhas próprias mãos encadernei dezenas e dezenas de exemplares desse livro e os expedi para várias partes do mundo. Apenas uns poucos místicos que o receberam me enviaram cartas-resposta e recordo-me que um deles disse "... esse livro é muito perigoso, mostra a falência de Deus...sob a ação do Caos...").

O Discurso que apresento abaixo tenta examinar essa questão da Transformação, mas antes de proferi-lo apresentarei esta minha Mensagem-Poema para vocês, terráqueos e extraterrestres, senhores e senhoras...


Eis-me aqui, no pedestal do Caos
Anunciando a Grande Boa Nova,
A Era Mental totalmente abstrata
Na qual cada um há de ser o seu próprio Mestre.

Todos os rituais perdem o sentido,
Já não cabem iniciações
E nada mais pode ser secreto.
Agora os pensamentos são públicos.

O planeta está morrendo.
É preciso elevar seu summum bonum.
Resgatar sua alma múltipla
Para uma nova vida, em nova morada.

Todos os seres, como uma só alma,
Subirão agora uma espiral
Na gradação da Spira Legis.
Ficarão assim uma volta acima.

Oh, a evolução mais uma vez se processou,
Por obra do Caos
Que tudo destruiu e deixou plano e vazio
Para que esta Nova Era pudesse nascer!

Aqui há realmente uma aurora dourada,
Diante de um novo Sol,
Muito mais real
E muito mais eterno.

 

Muito bem, passemos agora ao exame de algumas questões básicas para a compreensão do tema aqui enfocado, incluindo a conceituação de Misticismo.


O NADA, O SER, A CRIAÇÃO

 

O Nada, o Ser, a Criação. Estas são as três pontas da Lei que se sustenta a Si própria, que sempre foi, sempre é e sempre será. No Absoluto Imanifesto, estas três condições são apenas uma. No Absoluto Manifesto são as três em separado. O Nada é o Pai. O Ser é o Espírito Santo. A Criação é o Filho. O Nada não deu origem ao Ser. E nem o Nada nem o Ser deram origem à Criação. Na Verdade, nunca houve princípio. O Tempo, criado pela consciência do homem, é que se constituiu em parâmetro de observação, do ponto de vista humano. Do ponto de vista inumano não existe Tempo, apenas Transformação.

 

 

A Transformação é a mutação do Nada em Ser e exatamente isto se constitui na Criação, um processo permanente, eterno, que desconhece o Tempo. O Nada está constantemente se transmutando em Ser e o Ser reverte ao Nada incessantemente, e é esse processo que gera o Movimento. (Grifo meu). Na verdade, o Movimento é a própria Criação, vista por si mesma. Eis porque existe a consciência, a autopercepção. A Terra não é o centro da Criação, não é sequer o centro do universo visível pelo homem, nem ao menos o centro da galáxia em que se situa; nem o Sol é a mais importante estrela entre os sistemas estelares existentes na galáxia em que se situa o Sistema Solar. Nem ao menos no próprio Sistema Solar a Terra é o ponto mais importante. Hoje em dia, praticamente todos os civilizados sabem disso, mas é preciso enfatizar, para que não perca essa noção fundamental. O homem não pode, pois, presumir-se em peça-chave do universo. O homem é apenas e tão-somente um detalhe insignificante em um oceano imensurável de manifestações. É deste ponto que vou partir para expor algumas observações sobre a Lei do Triângulo, Lei-Chave para compreensão do Cósmico.


O HOMEM E SUAS CONCEPÇÕES

 

O homem existe não como detalhe em um esquema evolutivo, não como acidente de percurso em um processo, não como estágio ou degrau em uma escala, mas como manifestação intencional do Absoluto, em cumprimento de desdobramentos da Lei do Triângulo. Paradoxalmente, no contexto da Criação o homem é um detalhe e não o leitmotiv. Para que se possa compreender o significado desta enunciação, aparentemente controversa, e sua ligação com propósitos capazes de serem percebidos pela mente humana, é necessário saber, antes, o que é uma Lei, pois no Absoluto parâmetros como "coerência" nada significam. Lei é um parâmetro enunciado pelo Absoluto, como manifestação da Vontade: "Isto é assim", por exemplo, é uma lei, e seu único fundamento é a Vontade que a enunciou, independendo de noções de coerência, ética, moral, justiça, bem, mal, certo, errado (todos esses valores são meramente humanos e, portanto, relativos ao homem e ao Plano em que ele existe, de uma forma tal que, exemplificando, o que se constitui em injustiça para um homem, pode se constituir em justiça para outro). As Leis em que se desdobra a Lei do Triângulo descem a detalhes de funcionamento do Plano em que atuam. Por exemplo: no Plano Objetivo, isto é, a dimensão que o homem é capaz de perceber com seus sentidos e na qual está inserido o Universo que o homem conhece, com seus milhões de galáxias, buracos negros e toda sorte de manifestações siderais, e que o homem considera que seja a totalidade da Criação, há Leis que definem a força de atração e repulsão entre corpos celestes e partículas atômicas; Leis que dispõem sobre ciclos de manifestações; sobre vida e morte; sobre gradação de vibrações, como velocidade da luz etc.; sobre relatividade e assim por diante. No caso do Plano Objetivo, muitas leis se relacionam com a existência do Eu. No Absoluto só há uma Lei, que é a Lei do Triângulo. No Plano Objetivo existem a Lei do Carma, a Lei da Finitude, a Lei da Gravidade, a Lei da Replicação, a Lei da Dissolução, a Lei da Conjunção, a Lei da Dominação, a Lei da Dualidade, a Lei da Evolução, a Lei da Queda, a Lei da Libertação, a Lei dos Elementos, a Lei da Quintaessência, a Lei da Alquimia, a Lei da Regência, a Lei da Fluência, a Lei da Prosperidade, a Lei da Interpenetração, a Lei dos Ciclos, a Lei do Pulsar, a Lei do Quantum, a Lei da Relatividade, a Lei da Propagação, a Lei dos Humores, a Lei dos Anátemas, a Lei da Irradiação, a Lei do Plasma, a Lei do Hept, a Lei da Invocação, a Lei das Escalas, a Lei da Rotação, a Lei do Desdobramento, a Lei da Superposição e mais outras tantas, num total de 48 Leis para os homens vivos, 96 nos mundos subterrâneos e 192 nos mundos abissais e assim por diante, até os Infernos Materiais, onde os seres existem sob as injunções de 666 Leis controversas. O Plano em que o homem se manifesta é o sexto Plano em uma figuração esquemática meramente humana, enquanto os Infernos se situam no vigésimo primeiro Plano. Cada um desses Planos constitui, na verdade, um Planeta imaterial, o qual contém uma réplica material, a qual pode ser vista por olhos humanos (os eventos ocorrem simultaneamente nessas duas seções de cada Plano, mas em cada uma de uma maneira peculiar). A ligação entre a versão material e a versão imaterial de um Plano é feita pela música das esferas. A principal diferença entre um Plano material e um Plano imaterial está nos parâmetros que regem cada um; assim, um homem pode ser injustiçado em um plano e concomitantemente ser justiçado no outro, tudo isso simultaneamente, pois é assim que a Criação se manifesta pelo processo da Transformação, que é propiciada pelo Caos. Desta forma, ao mesmo tempo em que um homem morre ele está nascendo. (Grifo meu).

 

 

Pela Lei da Superposição as duas realidades de um Plano se somam quando se afastam uma da outra e se subtraem quando se aproximam, o que dá a ilusão da reencarnação. (Grifo meu). Para romper o ritmo cíclico impresso por essa Lei a um Plano e penetrar na Vida Eterna é preciso romper com um deles, o que se constitui em um processo extremamente doloroso. Se o postulante não conseguir suportar as provações, pode ser alijado do Plano e cair em um Mundo Inferior, passando a existir, autoconscientemente, em forma animada imanifesta, como uma pedra, por exemplo. Em determinados planetas materiais esse tipo de coisa pode ocorrer coletivamente, por injunção de Lei violada.

O Plano Objetivo não tem um número dentro de uma ordem hierárquica, porque a Criação é simultânea em todos os níveis. A hierarquização é uma concepção meramente humana e o homem a concebeu por observação do seu meio-ambiente. O homem viu que havia animais que superavam outros e, portanto, sobre eles detinham certo poder: o poder de matá-los ou não, de constrangê-los ou não, de absorvê-los ou não. Surgiu daí a idéia de superiores e inferiores, de chefes e subordinados, de seres que mandam e outros que obedecem, de poderosos e submissos. Essa é uma concepção meramente humana e não é a realidade do Absoluto. Assim, a hierarquia que existe em termos humanos é um parâmetro humano. Para Deus, o Absoluto, não há hierarquia. Deus é tudo e ao mesmo tempo é nada. Está em tudo, mas nada do que o contém é Ele. Eis porque Jesus Cristo disse que os humildes serão exaltados e os que se exaltam serão humilhados. Tal como o apresentam as religiões, Deus é tão-somente uma criação mental, que existe continuamente alimentada pelas mentes; é uma concepção, uma interpretação em termos humanos, um referencial místico.

Aliás, dentre todas as enunciações feitas no Plano Objetivo, as de Jesus Cristo resplandecem de uma forma tal que demonstram ser a Verdade. É impressionante verificar que após as palavras de Jesus Cristo nem uma única pessoa, até hoje, passados dois mil anos, conseguiu enunciar algum pensamento que lhes acrescesse algo. Das palavras de Jesus nada pode ser extirpado que não faça imediatamente falta e nada pode ser acrescentando sem que seja redundância ou excrescência. Não se pode dizer o mesmo de outros avatares. Ora, mesmo sendo perfeito, Jesus era um homem, tanto assim que morreu na cruz. Contudo, mesmo sendo homem era Deus, tanto assim que ressuscitou dentre os mortos. Esse paradoxo do homem-Deus, na verdade de Deus feito homem, criou em muitas mentes a falsa idéia do panteísmo: se Jesus era Deus, mesmo sendo homem, pensava-se, então todo homem era Deus, bastando para isso querer sê-lo. O problema é que todos esses homens que pretendiam ser Deus acabaram morrendo e não ressucitaram da forma literal pela qual Jesus o fez, muito menos se tornaram Deus somente por tê-lo desejado. O mito de Jesus parece ter suplantado os de Horus e de Mythra, mas a Lei da Entropia é inexorável para todos os mitos, e este, também, já está abalado. Contudo, seu simbolismo é o que importa e não pode ser simplesmente abolido: passará pelo Caos, indo renascer como um novo valor mitológico, em uma Nova Era, transparente.

Tudo o que podia ser feito em matéria de tentar ser Deus ou chegar perto disso já foi feito e não houve resultado algum, a não ser o fracasso, a frustração e a morte. Tudo isso porque o homem tenta equacionar problemas que só existem para ele, com parâmetros humanos, quando no Plano do Absoluto esses problemas não são problemas: são condições resultantes do desdobramento de Leis. Quando uma Lei estabelece uma condição e essa condição resulta na criação de algo, essa criação passa a ser regida por Leis próprias, clonificadas da Lei que originou o processo, mas adequadas às peculiaridades do evento. Seria como se uma lei em um caleidoscópio estabelecesse que todas as imagens devem girar e crescer concentricamente, se desdobrando em outras. E que essa enunciação se desdobrasse em leis peculiares para cada situação particular de imagem. Por exemplo: o círculo vermelho fica verde, depois azul, depois amarelo, depois preto, depois some. É dentro desse processo que o homem existe e é por isso que o homem existe. O homem existe em decorrência do desdobramento da Lei do Triângulo no Plano Objetivo, que é sempre renovado pelo Caos.

 

 

Como todas as Leis são desdobramento da Lei do Triângulo, a Vontade do Absoluto se faz no mais recôndito do íntimo mais secreto do mais aparentemente oculto Plano. Desta forma a Criação não é como um relógio que tenha sido construído e largado ao léu pelo relojoeiro. Esse relojoeiro, que é a verdadeira natureza disso que chamam de "Deus", conhece o que se passa no menor elétron do mais ínfimo átomo da mais insignificante partícula que componha qualquer das engrenagens da máquina e tem o controle total de tudo. Assim, o homem não é dono da sua vontade, porque, na realidade o homem é uma expressão da Vontade do Absoluto. Quando o homem julga que está exercendo a sua vontade própria, na verdade o Absoluto é que está exercendo Sua vontade através do homem. [Para assistir a uma animação da Lei do Triângulo, Clique abaixo em PLAY. Para ler um ensaio sobre a Lei do Triângulo, visite:

http://svmmvmbonvm.org/leitri.htm]

 

 

Eis porque existe a Vida Eterna, tal qual a promete Jesus Cristo, quer queiram, quer não queiram. A Vida Eterna consiste na perpetuação da Vontade do Absoluto em um fractal do Absoluto. E eis o que é a individualidade, no que se refere ao homem. O Alto Iniciado sabe que pode atravessar a morte e se instalar na Eternidade, como ente autoconsciente e que não necessita de corpo ou mesmo de forma conhecida ou imaginada pelos atuais viventes neste Plano, na Terra.

Vários métodos e processos foram tentados ao longo das eras para tentar abrir as portas da percepção para outras realidades, outros planos, outras dimensões, passando pelo ascetismo, pelas drogas, pela meditação, pela (suposta) magia sexual etc., etc. Tudo isso na vã tentativa de encontrar a Chave da Eternidade, que permitisse ao homem se tornar imortal. Ora, a imortalidade, em tais condições, seria nada mais nada menos do que a estagnação do processo da Criação, pois algo se plasmaria em inércia, sendo tal qual é por toda a Eternidade. (Grifo meu). Como a Criação em si, como já foi dito, é um processo de Transformação contínuo, não poderia ser assim. Todas as realidades têm de ser recicladas, revistas, reformadas, revolucionadas, e, entre elas, está a realidade que é proporcionada ao homem por sua consciência. E é por isso que o Caos existe e se exerce a si mesmo como Lei, como estado-situação, como presença palpável pela metafísica.

É preciso compreender, ainda, que a Transformação não é uma necessidade, uma finalidade em si, mas um exercício de Vontade do Absoluto, que cria para poder existir, que existe para criar, e que se sustém a partir do Nada autogerando-se e produzindo todas as Leis, Forças e Estados de Manifestação, que são simultâneos, inumeráveis e equivalentes.

Dentro do torvelinho da Transformação o homem também participa do processo da Criação, como Criador. Essa condição tem levado a muita confusão. Por exemplo: o homem vê que no reino da Dualidade os seres manifestamente animados, como ele próprio, são gerados por conjunção sexual e infere que esta é a chave da Criação. Passa a acreditar que os parâmetros do Plano Objetivo são os mesmos do Absoluto e chega a pensar que através de certos procedimentos mágicos pode-se usar a energia sexual para a criação de corpos astrais superiores, capazes de conter e perpetuar a individualidade na Eternidade. Ora, isso que é visto como individualidade, dessa forma, é apenas e tão-somente o Eu ilusório que essa mesma corrente de pensamento prega destruir para poder ascender. O sexo não é a chave, mas apenas um instrumento, dentre os muitos no contexto da Criação. Sua finalidade é a perpetuação das espécies dentro da Transformação. Isso que se convencionou chamar de energia sexual é o apelo contido no instrumento para que se o use, em cumprimento da Vontade do Absoluto. Os instrumentos da individualidade para a imortalidade são outros, entre eles a metamorfose, que é a mutação interna e externa pela circunscrição de uma dada realidade em novos parâmetros, totalmente outros.

O homem existe porque faz parte da Criação, como um detalhe, e a consciência que ele possui lhe permite ter conhecimento da Criação e de parte do processo da Transformação; visão de parte dos Planos de Manifestação e compreensão de parte dos eventos, isto porque, como já foi dito, o homem é um detalhe na Criação, e não o seu ponto central. (Grifo meu). A felicidade, condição necessária para que a vida terrena não se constitua em um inferno, consiste em se ter a compreensão de que o homem é só um detalhe na Criação, e a partir daí procurar, com sinceridade, adquirir humildade suficiente para compreender que sem Deus nada é possível. Aqui estou me referindo ao Deus totalmente abstrato e presente também em cada criatura. Esta é uma condição que abre perspectivas de evolução e essa evolução, que conduz à Vida Eterna, passa pela transformação do impulso sexual em amor de Cristo, como Cristo Cósmico, como Logos Solar. Essa alquimia, que é feita pelos monges e anacoretas, pode, em um primeiro estágio e ainda nesta vida, propiciar uma visão mais ampla e clara do que vem a ser a Criação como um todo e qual a relação do homem para com o Absoluto. Na verdade, quando o homem parte para a consecução desse propósito, ele está cumprindo em si mesmo a Lei do Triângulo, tal e qual ela se cumpre na Criação e na Unidade do Absoluto.


POR QUE EXISTE A DOR NO UNIVERSO

 

Para que se possa entender a existência da dor no Universo em que vive o homem, o porque de existir o sofrimento em todas as suas formas - perdas, degeneração, declínio, agonia e, finalmente, o mais terrível dos suplícios, o desespero - é necessário que se entenda antes a Manifestação da Lei do Triângulo como Criação e a existência aparente de entes individuais compreensíveis por parâmetro inumano e por parâmetro humano. Este entendimento fica mais fácil de ser mostrado/visto por meio dos três desenhos que ilustram este capítulo. Eu já escrevi um certo opúsculo no qual descrevi resumidamente o que seria a Criação(1).

A Manifestação, ou seja, esse ato intemporal pelo qual algo sai do Nada absoluto e passa a existir em termos de finitude, absolutamente não resulta de ininterruptos esforços para existir, mas, sim, simplesmente acontece, como desdobramento natural de uma condição estática, que subitamente se torna compreensível. Quando digo compreensível, estou me referindo a uma descrição em termos humanos, porque o parâmetro humano principal é a compreensão. Na relação homem para homem, é preciso entender, compreender, demonstrar, comprovar. Na relação do homem para com o Absoluto, o parâmetro é outro: a crença.

Assim, em termos humanos o homem compreende, e em termos inumanos, divinos, o homem crê. É justamente isso que torna possível atos como a oração. E é então, neste instante da crença, que Deus vem em socorro do homem, para livrá-lo de suas tribulações. Essas tribulações, que constituem a dor, o sofrimento, são resultado não de uma punição a alguma infração, mas sim a decorrência natural de um processo de Transformação em que o Eu ilusório que se julga ter, passa a ser o Eu verdadeiro, que mora na Vida Eterna. Deus é, então, uma experiência pessoal, uma compreensão particular de cada um para o que seja a Suprema Instância de tudo – o Altíssimo, Criação mental do homem e ao mesmo tempo seu Criador, no grande mistério da Vida.

Para que se compreenda perfeitamente a mensagem do Cristo, no que ela condensa na Paixão, Morte e Ressurreição, é preciso entender o principal postulado da Doutrina Cristã, sobre o qual se fundamenta tudo: o contrário do pecado não é a virtude; o contrário do pecado é a fé. E o pecado consiste não nas infrações do homem às Leis em que se desdobra a Lei do Triângulo, mas, sim, no consentimento do espírito a essas infrações, pois o homem é espírito, essencialmente. (Grifo meu).

Uma vida humana, a vida de um sistema estelar, a vida de um universo inteiro, são apenas instantes dentro do processo de Transformação em que se assenta o funcionamento da Lei do Triângulo. A Transformação existe porque o próprio ato de sair do Nada para Ser é uma transformação, uma transfiguração, uma metamorfose e, portanto, todo o demais segue essa tendência, nas várias esferas a gradações em que a Criação se torna compreensível.

Muito antes de o homem existir na face da Terra a Terra já existia no espaço e continha vida. A Terra não foi criada com a finalidade principal de servir de habitat ao homem, porque o homem é apenas e tão-somente um fragmento nessa teia de manifestações visíveis e invisíveis de que se constitui a vida, como um processo giratório que gira sobre si mesmo e ao mesmo tempo ascende em um espaço multidimensional, como uma espiral de Leis que se entrelaçam, sendo momentaneamente várias, centenas, milhares, incontáveis, como está dito pelo salmista 'Sapientiae ejus non est numerus'(2), para, em outro momento, ser apenas uma única Lei, a Lei do Triângulo, que se manifesta por existir e existe por se manifestar. [Nos comentários que faço ao final deste ensaio apresento uma animação deste conceito (processo giratório que gira sobre si mesmo) com aquilo que se conhece como movimento de precessão.].

Dentro da Transformação, todos os processos encerram a dor – o sofrimento – pois esta é a condição que opera a mutação de que todo o sistema carece para existir. Exemplificando de forma grosseira, poderia dizer que se um homem vivesse a vida inteira usufruindo benesses e vivenciando indefinidamente a felicidade, esse homem se situaria em uma posição estática em relação à Criação e, portanto, não poderia existir, ficando reduzido ao Nada individual. Essa condição, que pode ser alcançada pelo homem, é precisamente a meta pregada pelo Buda, e que consiste em se entrar no Nirvana, no Nada Absoluto e Imanifesto, onde não existe sofrimento. Já a meta que nos propõe o Cristianismo é que através da aceitação do sofrimento - do aceitar carregar uma cruz - se opere uma transfiguração do Eu, que de ilusório passaria a ser verdadeiro, porque existindo na Eternidade, diferenciado do Nada.

Quando o homem se apercebe do peso da cruz que lhe foi destinada e se revolta, julgando-se injustiçado, o homem pode desesperar. Desesperar é o pior e mais grave pecado, porque é descrer, é apartar-se do Deus do seu coração, é negar o Absoluto, é querer existir na Criação por vontade própria, sem se sujeitar às Leis que a regem, fazendo suas próprias leis, em benefício próprio. Tudo isso acontece por força das pressões do Eu sobre a individualidade do espírito. O Eu confunde, por exemplo, compreensão com crença. O crente, aquele que projeta o Eu na Eternidade, através do sofrimento e para longe de todo o sofrimento, definitivamente, por um processo de transformação incisivo, não é aquele que compreende, mas aquele que acredita. Assim, aquele que acredita será salvo, pois que para ser salvo não é preciso compreender, basta acreditar.

Do que já se disse infere-se que não há qualquer sentido em se questionar um dogma ou tentar torná-lo compreensível mediante linguagem humana, pois seu parâmetro de existência não é humano, antes é divino. Todas as tentativas feitas no sentido de questionar pela compreensão da mente humana são infrutíferas perante Deus, e é aí que não só a Ciência como toda a Filosofia Moderna falham, principalmente porque suas concepções se baseiam em um sofisma: 'Cogito, ergo sum', quando a premissa correta seria 'Credo, ergo sum'. Tudo isso decorre da concepção socrática de pecado (para Sócrates, o pecado é ignorar). Esse postulado levou à falsa idéia de que somente da ignorância deve o homem ser redimido e salvo, quando, na verdade, o homem deve ser salvo e redimido do desespero, que é exatamente a falta de fé.

A salvação consiste justamente em o homem se aperceber de que é espírito e, portanto, deve colocar essa condição acima dos momentâneos sofrimentos da matéria corruptível, quais sejam dor, doença, degeneração física, infortúnio, velhice e morte do corpo, para que possa validar na eternidade um Eu que de outro modo não sobreviveria, pois que sendo ilusão da matéria, com ela pereceria, sendo reciclado no contínuo processo de Transformação do Existir.

Como já foi declarado pelo Buda, o sofrimento provém do apego. Assim, uma das formas de eliminar o sofrimento é praticar o desapego. (Grifo meu). O conceito de desapego é muito mais amplo do que se possa pensar a uma primeira vista. Desapego, dito assim, secamente, de início pareceria alguém abrir mão de posses, de bens materiais e, indo um pouco mais longe, da presença de seres caros a esse alguém. Na verdade, o desapego a que se refere o Buda consiste em abrir mão do próprio Eu, com o que se elimina todo o sofrimento. Isso, porém, significa também o fim da individualidade dentro da Manifestação, e essa não é, de forma alguma, a finalidade última do Abosluto em seu propósito incognoscível, se é que se possa chamar de propósito a uma ação que é em si mesma, não tendo meta, por estar autocontida, não confinada a tempo ou a espaço dimensional.

Desta forma, penetrar no Nirvana não constitui a verdadeira salvação, embora signifique a salvação do sofrimento, pela abstração da individualidade. Assim, é uma salvação relativa a uma dada condição indesejável, que no entanto é apenas e tão-somente momentânea. É por isso que eu digo: a verdadeira salvação, tal qual a mostra Jesus Cristo, não está em negar a individualidade para fugir do sofrimento carnal, mas reside em se aceitar o sofrimento carnal para superá-lo sem desesperar. (Grifo meu). Com isso se elimina o verdadeiro sofrimento do Eu, que é o desespero, pois o Eu desespera por não conseguir ser o que deseja ser e, depois, por ser o que é. Quando o desespero é superado como condição inerente a uma criatura, essa criatura cria seu verdadeiro Eu, na Vida Eterna.

Tamanha é a arrogância do homem, que ele insiste na falsa idéia de ser o centro da Criação, e mais: em ter sido investido de supremacia no Plano em que se manifesta como entidade autoconsciente. Assim, o homem comete o equívoco de se julgar melhor do que um inseto, pelo simples fato de ter o poder de pisar nesse inseto e matá-lo, se o quiser. Ora, em assim pensando, um símples vírus de uma doença letal ou uma única nuvem carregada de eletricidade seriam superiores ao homem dentro da criação, pois que tanto um pode matá-lo pela doença incurável como a outra pode destruí-lo com um raio. Por isso, eu digo que Deus vive não só no homem como vive em um cão, em um inseto, em uma pedra e na poeira cósmica. Cada um desses seres, aparentemente animado ou não, possui um grau específico e peculiar de compreensão da realidade, que é não apenas a sua realidade, como a própria realidade do Absoluto naquele momento da Criação em movimento, um momento intemporal e fixado dentro da própria Eternidade, pois não é senão o movimento da Transformação que causa a ilusão da existência do Tempo na consciência do homem.

 

 

Todas essas ilusões são fontes de sofrimento, porque contém em si mesmas a idéia de finitude, de perecibilidade, de degeneração, de obsolescência. Da observação desses estados indesejados pelo Eu ilusório advém a idéia da morte, do fim inapelável de tudo, que em uma primeira análise, superficial, se afigura uma injustiça, do ponto-de-vista do observador humano. Como o homem tem a tendência de agregar ao seu ego tudo o que julga possuir e quantos entes com os quais se compraz em conviver, vê-se que tanto maior é o sofrimento quanto mais volumosa seja a relação de agregações. (Grifo meu).

De forma que, se um ente individual se apega ao Eu ilusório sofre por não poder ser o que na realidade deseja: imortal. E se, por outro lado, se abstrai de tudo e entra no vazio, para escapar de todo o sofrimento, pura e simplesmente deixa de existir, porque se apega ao Nada, quando o Nada é um dos três pontos da Lei que se faz em si mesma, autogerando-se continuamente e para existir são precisos os três. Assim, o grande avanço do Cristianismo em relação ao Budismo está em que o Eu se despoja da ilusão sem deixar de existir, pois morrendo nesta vida de sofrimento nasce na Verdadeira Vida, a Vida Eterna. No opúsculo a que já me referi neste capítulo, tracei um superficial paralelo entre Vida Eterna e Nirvana, que poderia levar o leitor a pensar que considero iguais esses dois estados, o que absolutamente não é verdade. O que ocorre é que deixei, propositadamente, a explicação mais detalhada para o presente opúsculo, por entender que era chegado o momento de fazê-lo.

Em verdade, somente depois de ter me tornado eremita é que eu, Vicente Velado, como irmão da Ordem de São Bento, consegui me aperceber com maior clareza de certas nuances que envolvem a concepção do que seja a Vida Eterna. Essa percepção, que remonta ao Egito Antigo, se constitui em um grau de visão muito mais claro do que o grau de visão panteísta, porque, uma vez nesse grau, pode-se crer com certeza inabalável nas seguintes verdades:

1. A salvação consiste em um homem se tornar imortal e atingir a ataraxia [completa ausência de perturbações ou inquietações da mente], na Vida Eterna, o que é um processo extremamente doloroso.

2. O sofrimento é uma decorrência do processo de salvação, um subproduto do mesmo, quer se o queira, quer não se o queira, com fruto ou sem fruto.

3. A imortalidade não consiste na extinção da individualidade mas, sim, na extinção de todo e qualquer tipo de parâmetro de compreensão relativo a um determinado Plano e, portanto, setorial (ou seja, a imortalidade não comporta a existência de qualquer forma ou tipo de personalidade, porque toda personalidade é intrinsecamente mortal). (Grifo meu).

4. O pecado pelo qual o homem morre e se junta ao diabo é o desespero. O diabo, como já pude expor em trabalhos anteriores, é um ente formado pela soma das mentes voltadas para a perversidade e que nela se regozijam; a estas se juntam as dos desesperados, aqueles que não estão prontos para encarar o Caos de frente e entendê-lo como um instante necessário, um momento fundamental, sem o qual não há avanços na evolução.

 

 


A NEGAÇÃO DO BIG-BANG

 

Não só a evolução mística e a perfeita compreensão metafísica são restritas a certos parâmetros de compreensão. Também o avanço da Ciência é extremamente limitado, por estar circunscrito àquilo que o homem consegue compreender objetivamente. Na compreensão objetiva, tudo é aferido por parâmetros humanos, dentro de sistemas de exemplos, comparações, organização metódica e existência de hierarquias. Desta forma, quando o homem pensa no Absoluto, nomeando-o Deus ou seja lá o que for, faz isso em termos antropomórficos. Assim, infere que Deus é tudo o que de bom existe e atribui a si mesmo tudo o que há de ruim. Nesse caso, tanto o bom como o ruim são conceituações humanas acerca de estados, fatos e eventos, que, na realidade, estão à parte do Absoluto. Negar a existência de Deus, aceitar Deus em visão antropomórfico-religiosa (vendo-O como um velho temperamental, por exemplo) ou tentar explicar a Criação por cálculos matemáticos, estabelecendo esquemas de compreensão humana, tudo isto está absolutamente no mesmo nível: todas essas formas de descrição são apenas variações de uma única maneira de entendimento, a humana. Eis porquê a Ciência, já tendo conseguido mandar robôs a outros planetas, não consegue encontrar sequer a cura da gripe, por não saber lidar com um simples organismo elementar do Universo visível, devido ao fato muito particular e interessante de ele ser mutante.

Do que acabei de expor percebe-se claramente que a mente humana não consegue lidar com parâmetros móveis. Seria como se em um cálculo matemático um dos números automodificasse continuamente sua natureza, randomicamente. Imagine-se, agora, o complexo da Criação, baseada em movimento constante, um desencadear de eventos no qual não apenas um mas todos os componentes mudam incessantemente de natureza, de forma, de essência, de vibração, de manifestação, de consciência, de objetivo, de compreensão, de poder e de peso no conjunto, tudo isso dentro de uma ordem que absolutamente não é coerente em termos humanos e tampouco obedece a algum tipo de evolução. Como poderia o homem, em termos científicos, racionais, tecnológicos, compreender essa ação? Na tentativa de explicar o que não consegue conceber, o homem corre o perigo de cair naquilo que Kierkegaard chamou de 'a doença mortal' e que é o desespero.

 

 

Aquilo que a psicologia chama de Eu é um estado meramente artificial de autoconcepção, no qual a consciência, tal qual se a conhece na Terra, se autopercebe momentaneamente fora do movimento da Criação. Isso cria a ilusão de uma existência individual, com começo e fim, e leva o ser assim criado a se perguntar: Quem sou eu? De onde vim? Para onde estou indo? Antes de existir nesta vida eu já existia em alguma outra forma? Após minha morte continuarei existindo? Se penso, logo existo, e se existo é porquê fui criado; assim, quem me criou? Para que fui criado? Serei eu mesmo Deus? Como poderei transcender minhas próprias limitações e me perpetuar na Eternidade? Todas essas perguntas, que um homem normal cedo ou tarde acaba se fazendo, formam um conjunto de premissas sob um denominador comum: o parâmetro humano de compreensão. Sobre essas premissas são tecidas e edificadas as mais diversas teorias, que encontram seguidores ou não, dependendo das circunstâncias, resultando em sistemas filosóficos, religiões, organizações de estudo e toda uma longa série de subdivisões resultantes de dissidências e interpretações.

A própria Ciência, que pretende ser absolutamente isenta, não foge à aceitação de dogmas e qualquer teoria supostamente comprovada passa a ser um deles. A teoria do Big Bang, por exemplo, aceita como um fato, não é verdadeira no todo, embora o seja em parte. De acordo com essa teoria, em um dado momento da Eternidade ocorreu a manifestação inicial, ou seja: houve um começo para a Criação e o Universo se originou, entrando em processo de expansão, ao qual, segundo o raciocínio humano, deve-se seguir um processo de contração, tudo isso em um ciclo que possa ser entendido pelo homem como uma espécie de pulsar. Ora, eu digo que o homem tirou essa idéia, absolutamente falsa, de uma coisa simples e que para ele é real: as batidas do seu próprio coração.

Eu afirmo que jamais houve Big Bang, que a Criação não é um processo mensurável por parâmetros humanos, que tenha tido um início e vá ter, conseqüentemente, um fim, para recomeçar em outra escala, evoluindo, exatamente como um coisa intrinsecamente humana.

O que a Ciência vislumbra como Big Bang na realidade não passa de um momento de compreensão humana dentro da Eternidade. Seria como se alguém pudesse ver o surgir de um Universo inteiro, com um objetivo que ao ser atingido se exaurisse em si mesmo, e gritasse: "Eis aí! Eis aí a Criação ocorrendo!". Na verdade, dentro do processo geral da Criação isso não passa de um fragmento, um ciclo acontecendo.

Dentro de todas as tentativas que a mente humana possa fazer para entender o Absoluto, para procurar interpretá-lo em parâmetros humanos, nem uma única resultará em verdade, mas apenas em uma versão. O grande perigo desse tipo de coisa é que alguém possa estabelecer uma linha de raciocínio coerente em cima de uma premissa falsa, e que faça isso de uma maneira tal que convença outras pessoas, resultando em um núcleo de defesa de uma falsa interpretação. As criaturas que se aglomeram em torno de uma coisa dessas passam a achar que são as donas da verdade e, como vários desses eventos se sucedem, vários núcleos se constituem, e passa a haver o entrechoque, a contenda, e tudo isso costuma resultar em sofrimento. Vemos, pois, que o sofrimento, embora possa ter numerosas causas, resulta basicamente da falsa versão da Verdade.

 

MAS, O QUE É A VERDADE?
ONDE ENCONTRÁ-LA?

 

O que se sabe de concreto é que a Verdade não pode ser conhecida com parâmetros humanos, mas pode ser vislumbrada por depuração, removendo-se mentiras que são apresentadas como verdades. Este é um trabalho altamente subjetivo e que só pode ser feito em nível individual. Se descortinar a Verdade parece ser impossível do ponto de observação em que o homem se situa, pelo menos a mentira pode-se explicá-la racionalmente, de forma compreensível. O que leva os homens a formularem mentiras acerca do Absoluto? A Humanidade divide-se basicamente em três categorias:

1 - Os que estão imersos na massa, nisso se comprazem, mas não se dão conta disso (não sabem porque estão vivos, para que estão vivos e por que hão de morrer). Essa categoria de seres humanos é a mais facilmente manipulável pelos construtores de mentiras. São pessoas que, às vezes, sequer estão conscientizadas de que vão morrer. Simplesmente vão vivendo, se comprazendo na satisfação de prazeres, cumprimento de desejos e consecução de metas. Acham que estão seguradas contra tudo, que infortúnio, doença e morte só ocorrem aos outros. Mesmo voltadas para o egoísmo mais exacerbado que sua pequena compreensão lhes propicia, essas pessoas podem ser boas, sinceras, justas, caridosas, capazes de irradiar amor e felicidade para o próximo e, conseqüentemente, podem viver felizes e realizar uma obra profícua que justifique sua existência em termos de justificativas humanas. Essas pessoas podem, em dado momento de suas vidas, ser conscientizadas da finitude do ser e vivenciar a certeza da morte, quando colocadas diante de algum evento chocante para elas, como uma hecatombe ou a perda de um ente querido. A visão, dentro de um caixão de defunto, do corpo inerte de uma pessoa muito chegada e com quem se conviveu por longo tempo, pode promover essa iniciação, que assume várias tonalidades de compreensão e leva a numerosos tipos de releitura da aparente realidade, segundo a simplicidade ou a complexidade dos espíritos (uso aqui a palavra espíritos para me referir a consciências individuais de seres humanos vivos).

2 - A segunda categoria de pessoas é formada por criaturas que vivem segundo os referenciais descritos na primeira categoria, mas que lutam desesperadamente para afirmar o Eu, procurando a todo custo sair do anonimato. Querem emergir da massa, ser reconhecidas como autoras de uma obra, prendadas em determinada especialização, vistas como eruditas, possuidoras de conhecimentos especiais e dotadas de um grau de consciência superior, que lhes foi concedido por méritos próprios, como uma autenticação do Absoluto aos seus propósitos. Geralmente, as pessoas desse tipo subdividem o Eu em Eu Superior e Eu Inferior e acreditam que a vida se constitui em um propósito evolutivo que consiste em ascender do Eu Inferior ao Eu Superior, para então, a partir da daí, transcender a morte e se perpetuar individualmente na Vida Eterna. Baseadas nessas premissas, elucubram as mais diversas fantasias e se satisfazem acreditando que o Absoluto é uma mente que permeia toda a Criação e, por conseguinte, também as interpenetra, estando, pois, no âmago de cada uma delas. Esse tipo de raciocínio esquizóide chega a levar muitas pessoas à suposição de que são nada menos que o próprio Absoluto microcosmado. Em outras palavras: que são Deus, o que, se ainda não o são fatalmente virão a sê-lo, por seus próprios esforços e com a ajuda de certos processos secretos, que incluem o exercício da vontade, a prática de rituais, o uso de sons, símbolos e pensamentos, além da enunciação de certas palavras e do traçado de gestos mágicos. Em suma, são pessoas que acreditam em mágica e acham que podem fazer o que quiserem. Obviamente, todas essas pessoas encontram o mesmo destino: a morte. E morrem sem poder evitar o infortúnio, a doença, a velhice e outras características da transformação da matéria. No final de suas vidas, olhando no espelho para aquilo em que se tornaram, percebem que não tinham o poder que supunham ter e que pretenderam usar para nortear outros seres. Contudo, muitas dessas pessoas conseguem produzir obras de arte que revelam o belo aos olhos do homem, não o belo convencional, mas o belo absoluto, tal como pode ser visto subjetivamente por cada um. Nessa categoria estão muitos pintores, escultores, músicos, poetas e escritores.

3 - A terceira categoria é constituída por criaturas que realmente conseguem emergir da massa, não por desejo de satisfazer o egoísmo, mas, sim, por decorrência de um processo norteado por sinceridade de propósitos. São os que estabelecem escolas filosóficas que se perpetuam século após século; são os que fundam organizações perenes; são os que conseguem chegar mais perto do Absoluto e enunciar a Seu respeito uma interpretação mais clara e mais acessível ao entendimento humano. Essas interpretações invariavelmente são simples e transparentes, destituídas de parafernália metafísica e se refletem em boas obras. O próprio processo da Criação se harmoniza com a ação desses seres em uma escala mais específica do que com os demais. Como resultado disso vemos essas criaturas fundarem religiões e organizações que se tornam naturalmente bem sucedidas e promovem bem-estar e felicidade, prosperidade e paz mental.

É muito comum que as pessoas que estão na segunda categoria tomem para modelo uma das que estão na terceira e desejem ser como ela. Tentam estabelecer sistemas de pensamento, tentam fundar religiões e organizações místicas, mas fracassam em seus propósitos: não conseguem adeptos, ou se conseguem são poucos e por pouco tempo. Tais pessoas fracassam em seus propósitos porque estes não são sinceros, mas apenas dissimulam uma brutal exacerbação do egoísmo. Tudo o que querem é ser reconhecidas como possuidoras de mérito especial, querem ser incensadas, aceitas como mestres, gurus, líderes ou simplesmente como pessoas de muito valor, muito especiais, quando na realidade nada são, justamente por seu egoísmo.

É preciso que cada qual teste sua sinceridade para consigo mesmo fazendo uma autocrítica, a fim de poder dizer para si mesmo em qual dessas três categorias se encontra no momento. Digo no momento, porque qualquer pessoa, independentemente de idade, sexo, raça, grau de instrução ou mesmo nível de compreensão pode, subitamente, por ação do Absoluto, ser transposta de uma categoria a outra, tanto promocionalmente como punitivamente, e a isso se dá o nome de Lei do Carma. [O vocábulo punitivamente usado nesta profunda advertência deve ser entendido como educativamente. Muitas vezes, as lições impostas pela vida são de tal intensidade e dor, que a sensação para aquele que está passando pela experiência educativa é de uma verdadeira punição cósmica. Mas o Cósmico não premia nem pune. Para o ente, tudo é útil, tudo é bom e tudo é educativo, mesmo que essas ações ocorram no âmbito da mais absoluta inconsciência.].

Tudo isto faz parte do processo de Transformação em que se desdobra continuamente a Criação. Eis o porque de existir a Criação, como evento contínuo, contido em si mesmo, e concomitantemente, como evento à parte, circunscrito no Tempo. Tudo resulta da Lei do Triângulo em ação eterna e contínua, por si mesma existente, inefável, terrível, incompreensível por parâmetros humanos.


O AMPLO CONCEITO DE MISTICISMO

 

A grande maioria das ordens e fraternidades esotéricas e iniciáticas costuma definir o que é ser um místico de uma forma muito restrita: uma pessoa que busca a Deus. Este é um resquício religioso do qual essas organizações não conseguiram - e talvez por conveniência nem tentaram - se livrar. Com isso, ficam restritas a um círculo teúrgico - queiram o não - mesmo se tiverem feito expurgo do teurgismo. Esse expurgo se mostra necessário porque a teurgia, em si, é extremamente limitante, mesmo que se aponha elasticidade ao conceito de Deus. Não adianta, por exemplo, se insistir em que há uma diferenciação "fundamental" entre os conceitos religioso de Deus (dogmático e conseqüentemente tabu) e esotérico - Deus como experiência pessoal de cada um - porque, no fundo, o ponto focal é exatamente o mesmo: a suposição (inargüivel) de que existe uma Divindade imaginada, originadora da realidade e disciplinadora da atualidade. O conceito de Misticismo é muito mais amplo do que o meramente circunscrito a esta limitação. Conseqüentemente, há vários tipos de místicos e nem todos necessariamente buscam a Deus.

Fundamentalmente, o místico é perscrutador do Oculto, uma espécie de cientista que trabalha não apenas com comprovações, mas também e principalmente com insights. Tanto o cientista como o místico podem se servir da intuição para estabelecerem uma meta de pesquisa a ser atingida e trabalham com suposições. O cientista coloca de lado tudo o que não for comprovável racionalmente, enquanto o místico prossegue no caminho que a intuição lhe mostrou, mesmo que uma comprovação científica da sua viabilidade não esteja disponível no momento. Ele sabe - é uma certeza interior, inabalável, que não vem de algo como a fé, mas da harmonização real com algo percebido - que, cedo ou tarde, suas constatações por intuição serão referendadas pela ciência, dependendo isto única e tão-somente do avanço científico e do desenvolvimento tecnológico.

Há, assim, muitas e muitas espécies de místico. Um artista - pintor, escultor, poeta, escritor, músico instrumentista, cantor, dançarino ou ator - pode ser um místico em sua atividade e como pessoa, sem com isso estar buscando a Deus exatamente. Seu misticismo consiste em expressar por imagens, formas, sons, palavras, gestos e assunções uma experiência interior na qual se harmoniza com os Planos Superiores do Cósmico, sejam eles lá o que forem e tenham lá a natureza que tiverem, compreensível ou não pela racionalidade ou pela aquisição de conhecimento por osmose. Um religioso que arde em fervor místico, harmonizando-se com a figura de seu avatar ou diretamente com Deus é, evidentemente, também um místico totalmente assumido. Um esoterista que busca pela meditação a ascensão a Planos Superiores também é, evidentemente, um místico na total acepção da palavra. Há místicos que fundem em um produto final suas experiências artísticas e iniciáticas e, para citar um exemplo, mencionarei Mozart, que era Maçom.

De uma forma geral pode-se dizer que o místico é um ser harmonizado com o Cósmico. Ele ascende a Planos Superiores em vários graus de ascensão e também pode descer a Planos Inferiores em várias gradações de penetração na condição abissal. Basicamente, um místico é uma criatura que caminha pelo mundo sob as injunções da Dualidade, mas procura se situar acima das Polaridades. Uma definição clássica do caminho místico, estabelecida por místicos, é que a senda do Misticismo é como a tortuosa estrada que leva ao cume de uma montanha. Conforme se vai subindo, a visão vai-se ampliando. O cenário não muda, mas agora pode ser apreciado de maneira mais ampla, mais total. Existe, porém, um grande problema: quando se atinge o cume dessa montanha imaginária constata-se que se está sozinho, com nuvens abaixo toldando a visão do mundo, mas que ao mesmo tempo pode-se ver melhor o Disco Solar. Os místicos inseridos em um contexto religioso percorrem esse caminho intuitivamente, guiados pelo fervor; os místicos não religiosos fazem tal ascensão guiados igualmente pela intuição, mas com uma grande diferença: eles estão - ou pelo menos deveriam estar - no total controle do processo.

É de praxe fazer-se distinção entre místicos e ocultistas quando se aborda o assunto. Na verdade, misticismo e ocultismo são funções complementares que devem estar apostas a um estudante sincero de esoterismo. A Metafísica, que faz parte da Filosofia, é ao mesmo tempo o cerne e o casulo de que os místicos e ocultistas se servem para construir um contexto que sirva para algo. De que adiantariam, em um mundo baseado na interação dos seres, as experiências místicas, iniciáticas e magickas se não houvesse uma forma de apresentá-las como insumo para outras coisas? Seria um processo de finalidade estacionária, isto é: natimorto. De que adianta, por exemplo, você se tornar eremita se isso não servir para a descrição de métodos que possam ser adotados por outras criaturas? Toda vez que alguém faz isto está ajudando os outros a queimarem etapas em um caminhada que é sempre difícil e cheia de percalços e armadilhas. Nesse contexto, o místico segue uma intuição e o ocultista vasculha o Oculto, às vezes sem intuições e utilizando métodos já consagrados. Ambos, místico e ocultista, podem, a qualquer momento, adotar novos métodos e declarar obsoletos os que vinham sendo utilizados. É a isso que se chama evolução espiritual.

Na junção do conhecimento adquirido com o saber intuído o místico pode se tornar um ocultista, tanto no sentido de perscrutar o oculto como no de manipular forças da Natureza. Da mesma forma pode o ocultista assumir uma vertente mística e produzir, digamos, um ritual mais propício à consecução dos fins a que se propõe.

Todas essas possibilidades podem se materializar como caminho, com Deus ou sem Deus. Para quem tem a mente aberta não há uma verdade absoluta, mesmo porque a verdade, como já tive ocasião de expor em outro ensaio, é meramente um consenso sobre vários pontos. Assim temos que a concepção religiosa de que "sem Deus nada é possível" deve ser respeitada, bem como a sua antítese, que seria um slogan para o místico-ateu, deve igualmente merecer todo o respeito. Ambas são aspectos de uma mesma verdade em um Universo sob a égide da Dualidade. O que é preciso ter em mente - e isto se aplica tanto ao místico como ao ocultista - é que torna-se necessária, como coisa fundamental, uma revisão periódica de posições assumidas e de conceitos adotados e/ou externados. Cada um deve fazer o que quiser com isto, destruindo e reciclando crenças, mas o que não se deve fazer é considerar etapas e produções do passado como rejeito metafísico. Eu, por exemplo - e aí só posso falar de mim mesmo - costumo rever periodicamente minhas posições e tento extrair dos mitos o símbolo místico que ele contenha (ou possa conter) e uso, então, o ocultismo, para que esse símbolo não venha a se transformar em um mero signo. Em etapas anteriores da minha vida mística, por exemplo, produzi peças que hoje certamente não produziria, mas não as descarto como rejeito por considerar que são de utilidade para compreensão em outros níveis de entendimento. Desses níveis não se pode dizer com segurança que estejam abaixo ou estejam acima, porque o referencial seria sempre o ponto no qual quem julga se encontra (no momento). Portanto, todos os níveis de compreensão, na prática, se equivalem, e o importante é que propiciem Paz, Luz, Vida, Amor, Justiça, Equilíbrio, Harmonia e Liberdade para todos os seres.

Cada místico, cada ocultista, cada criatura (viva ou morta neste Plano) é o centro de um círculo de poder com capacidade de interagir com as Leis Cósmicas. Dessa interação, da maneira como ela é feita, é que pode nascer algum tipo de poder que seja benéfico para todos. É por esse processo que os avatares, por exemplo, se constituem a si próprios sem que algo possa destruí-los. Um avatar pode ser assassinado, como Spitman Zaratustra (Zoroastro), por exemplo, mas o seu legado é praticamente imune à Lei da Entropia, por estar harmonizado com uma Legislação Cósmica de natureza superior àquela. Existem conceitos-chave como, por exemplo, o de que qualquer ser humano pode ser um Buda. São contribuições como esta à História da Humanidade que tornam tão amplos o conceito de Misticismo e a descrição do que vem a ser exatamente um místico. Um místico pode ser versátil e interagir em vários níveis de compreensão produzindo simultaneamente peças para cada um desses níveis, como pode considerar que está em uma escalada na qual as etapas transpostas devem ser descartadas. Isso varia de pessoa para pessoa, conforme a natureza de cada uma. Não se pode traçar uma definição-mestra, como se se estivesse lidando com um mero verbete e enunciar "um místico deve ser assim e assado". Realmente não se pode fazer isso. O misticismo é que é uma experiência individual e não apenas Deus é que a é. Deus é um detalhe em um contexto muito amplo. Um ponto focal, para um determinado nível-geral de compreensão. O místico - e por extensão o ocultista - transcendem tal limitação e é exatamente para isso que servem as iniciações.

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(*) O Illuminatus Frater Vicente Velado é Abade da Ordo Svmmvm Bonvm para o Terceiro Mundo e Irmão Leigo da Ordem Rosacruz Verdadeira, Eterna e Invisível. Foi instruído pela Loja da Grande Fraternidade Branca para construir a Interface Web do Rosacrucianismo na Nova Era. Filósofo, pintor místico, músico e experimentador científico o Frater Velado, como é conhecido, foi eremita Beneditino durante oito anos. Um livro digital contendo sua biografia oficial, pela Ordo Svmmvm Bonvm, está disponível online e para download na Biblioteca Digital OS+B:

http://svmmvmbonvm.org/livrariaos+b/

Seu website oficial é o Prophet Jehosu:

http://svmmvmbonvm.org/jehosu/

A Galeria de Arte do Frater Velado, que expõe fotos de cerca de 750 de suas telas, criados pelo processo de sua invenção denominado Digital-Matrix, pode ser visitada através de Digital-Matrix R+C:

http://digital-matrix.org/

(1) O autor se refere ao livreto intitulado Opus Dei.

(2) Salmo 146.

Reprodução permitida, citando-se a fonte: Discursos dos Iluminados de Khem.

http://svmmvmbonvm.org/aum_muh.html

 

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COMENTÁRIOS
(Sintéticos)

 

Preliminarmente, gostaria de, rapidamente, examinar a questão do Big Bang. Para que houvesse, em alguma época, acontecido um Big Bang, ou algo que o valha, seria obviamente necessário que houvesse algo do qual esse estouro cósmico pudesse ter sido gerado. Mas, por que apenas um Big Bang? Por que não – seqüencialmente – ilimitados Big Bangs? Ora, os místicos admitem que o nada (não o Nada) não pode gerar uma ou muitas coisas. Por outro lado, haveria uma Vontade Superior que, sem mais aquela, resolvesse que havia chegado a hora de criar um ou muitos Universos? Ou ainda, deixando de lado essa Vontade Superior, esse algo do qual esse estouro cósmico foi (presumidamente) gerado, teria tomado essa decisão de estourar por si mesmo com base em quê? Enfim, toda essa coisa teoteleescatológica e/ou científica não resiste a cinco minutos de reflexão. Nem uma suposta Divindade nem todas as leis científicas disponíveis poderão oferecer uma explicação razoável para o processo dual existir/não-existir(?!) do(s) Universo(s). Mais racional é admitir que o Todo Cósmico (e/ou porções desse Todo) se manifeste por ciclos, que se repetem... repetem... repetem... Ad semper. Daí o conceito esposado por +Velado de ciclos que se alternam (Caos/Ordem), que, por exemplo, a Teosofia (tomando por empréstimo vocábulos muito antigos), denomina de Mânvântâra e de Prâlâya (grandes e pequenos). Se quisermos matematizar este conceito, poderíamos escrever:

 

 

Mas, se admitirmos que o processo unitário Caos‹–›Ordem (que se repete ad semper) não é caótico ou desordenado, mas, sim, respeitador de Leis Cósmicas irredutíveis, a expressão acima está completamente errada. Só serve para visualizar a dualidade do processo de maneira terminativa, o que não é um fato, pois tudo no(s) Universo(s) se passa de forma gradual, cíclica, ordenada... e repetitiva. É como diz +Velado: ... não existe Tempo, apenas Transformação.

Um outro aspecto muito interessante deste estudo, é a questão: ao mesmo tempo em que um homem morre ele está nascendo. Não há um começo; não há um fim; não há para um fim. O incessnte criar e recriar é uma inerência decomponível (desdobrável) mas irredutível da Existência. No momento em que algo nasce em um Plano, começa a morrer nesse mesmo Plano, e a, de certa forma, nascer em outro. Assim, a máxima de +Velado poderia com justeza ser escrita: ao mesmo tempo em que um homem nasce ele está morrendo. Nascer em um Plano é morrer naquele anterior ou de origem; e vice-versa. Penso que esse tema seja rigorosamente assim e muito simples de ser compreendido. Agora, para os materialistas... isso deve ser muito difícil ou mesmo impossível de ser digerido.

 

 

Outra questão que merece um rápido comentário é a Lei da Reencarnação. Podemos, no que concerne à esta matéria, dividir a Humanidade em dois grupos antagônicos: os que admitem e os que não admitem a Lei da Reencarnação. Se ela funciona ou não conforme pensam os que admitem a sua validade, isso não está em pauta agora. Penso que o Frater +Velado já examinou exaustivamente essa vertente pensamental em diversos ensaios, como o fez novamente neste e que deu origem ao verso que abre este estudo. O que eu gostaria de acrescentar e discutir agora é, mais uma vez, a questão dos imperativos hipotéticos. Sei que, sem confessar abertamente, muitos daqueles que admitem a Lei da Reencarnação embutem nessa admissibilidade o pensamento: – O que eu não resolver nesta encarnação resolverei na próxima. Meu 'karma' não permite que eu avance mais do que já avancei nesta vida. É exatamente isso (ou algo equivalente) o que pensam muitos dos adeptos ou simpatizantes dessa Lei. O postergar, o deixar para depois, o relaxar, na crença benevolente de que já se fez muito nesta vida e o resto pode ficar para uma próxima vida, é o maior logro que a (in)compreensão da Lei da Reencarnação pode impor a uma mente despreparada ou indolente. Mutatis mutandis, é semelhante a acreditar que completadas as nove primeiras sextas-feiras o céu estará garantido após a morte. Precisamos definitivamente, nesta Era que se inicia, meter no crânio (nem que para isso seja necessário arrombá-lo com uma britadeira) que, em qualquer Plano do Cósmico, não há atalho, prêmio, punição ou reconhecimento por boas ações praticadas ou paradinhas para descansar. Não descansamos nem quando dormimos. Tudo é movimento e o movimento não descansa (...eppur si muove.). Por isso, autocomiserações e garantias a priori refletem tão-só pensamentos e atitudes augurantes de que a coisa seja como se deseja que ela seja, não como ela realmente é. Essa babaquice de céu e de inferno é também muito cômoda: vou me comportar direitinho para ir para o céu, porque o inferno é quente e eu não quero aquele chifrudo espetando o meu rabo com aquele tridente. Ora, ora. Metaforicamente, o calor somos nós que produzimos e o tridente somos nós que fabricamos. Sentiremos calor e seremos espetados pelas misérias que provocarmos e pelas omissões que endossarmos. Aditivamente, solidariedade ou apoio a qualquer sacanagem é como se a sacanagem fosse praticada por quem endossa ou apóia a sacanagem. Corolário: Reencarnação ou indulgência plenária (remissão absoluta das penas temporais, tanto em vida quanto na morte) não abonam quaisquer safadezas. Mas o que eu vejo de pior nisso tudo, é que essas mesmas pessoas sabem, lá no seu íntimo, que as coisas não podem ser dessa maneira — não encontram apoio nem na razão nem na intuição — mas continuam a viver exatamente como sempre viveram: acomodadas a estruturas mentais aconchegantes e baseadas na perdoabilidade. Se não mudarem, vão tomar um baita susto!

Um outro, dentre muitos, aspecto deste texto extremamente importante é a compreensão exata que devemos ter a respeito do Caos — um instante necessário, como diz +Velado. Queiramos ou não, tudo haverá de passar por uma transformação. Até o ouro, no tempo que não é tempo, passará por uma mudança, deixando de ser ouro para ser algo mais refinado, por assim dizer, do que o próprio ouro. A coisa, então, no que se refere a cada um de nós, é a seguinte: seremos reciclados em nossa mudança de Plano para voltarmos à origem da qual proviemos com ou sem consciência desta volta — na Volta? Isto é o que cada um deve meditar profundamente, e essa é justamente a faina a que meu Irmão tem se dedicado: alertar as consciências para o fato de que a Grande Alquimia não acontecerá depois — deverá ser operada aqui e agora, por nós. Nós somos os Alquimistas e a Pedra Filosofal está dentro de cada um de nós. Não há milagre nem há Deus (ou Deuses) que possam fazer isso por nós. Estou rouco de digitar esse princípio e vou digitá-lo até ficar maneta, porque o que tenho assistido é uma crescente venda de ilusões, quer seja via Web, quer seja via telinha – a máquina anestesiante e demolidora da Dialética. O Movimento de Precessão tem muito a ensinar a todos nós.

 



Movimento de Precessão
Fonte: http://www.blacklightpower.com