ANTÔNIO CALLADO
(Pensamentos)

 

 

 

Antônio Callado

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Antônio Callado

 

 

 

Este estudo tem por objetivo apresentar para reflexão alguns pensamentos do romancista e dramaturgo brasileiro Antônio Carlos Callado, um dos escritores mais combativos da ditadura militar brasileira, tendo sido encarcerado três vezes. Em 30 de abril de 1969, o Diário Oficial da União publicava um Ato Institucional que declarou a cassação dos direitos políticos de Antonio Callado. Este foi o texto publicado:

Suspensão de Direitos Políticos:
Pelo prazo de dez (10) anos com a proibição de exercer atividades de jornalismo em empresas de jornalísticas ou estações radiodifusoras de som e imagem, bem assim as de magistério em qualquer nível, do cidadão Antonio Carlos Callado.
Brasília, 29 de abril de 1969; 148º da Independência e 81º da República.
A. Costa e Silva

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Antônio Callado

 

 

 

Antônio Carlos Callado (Niterói, 26 de janeiro de 1917 – Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 1997) foi um jornalista, romancista, biógrafo e dramaturgo brasileiro.

 

Antônio Carlos Callado começou a escrever em jornais, desde a sua juventude. Apesar de formado em Direito (1939), nunca exerceu atividade na área jurídica. Militou na imprensa diária de 1937 a 1941, nos jornais cariocas O Globo e Correio da Manhã. Em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, transferiu-se para Londres, onde trabalhou para a BBC até 1947. Depois da libertação de Paris, trabalhou no Serviço Brasileiro da Radiodiffusion Française.

 

Na Europa, descobriu sua tremenda fome de Brasil. Leu incansavelmente literatura brasileira e alimentou o desejo de, ao voltar, conhecer o interior do País. Na volta, satisfez esse desejo ao fazer grandes reportagens pelo Nordeste, pelo Xingu, sobre Francisco Julião, Miguel Arraes e outras.

 

Atuou como redator-chefe do Correio da Manhã, de 1954 a 1960, quando foi contratado pela Enciclopédia Britânica para chefiar a equipe que elaborou a primeira edição da Enciclopédia Barsa, publicada em 1963. Redator do Jornal do Brasil, cobriu, em 1968, a Guerra do Vietnã. Em 1974, deu aulas nas Universidades de Cambridge, na Grã-Bretanha, e Columbia, nos Estados Unidos. Em 1975, quando trabalhava no Jornal do Brasil, deixou a rotina das redações para se dedicar profissionalmente à literatura.

 

Callado estreou na literatura em 1951, mas, sua produção na década de 1950 consistiu, basicamente em peças teatrais, todas encenadas com enorme sucesso de crítica e de público. Mas, a mais bem-sucedida foi Pedro Mico, dirigida por Paulo Francis, com o arquiteto Oscar Niemeyer, em inusitada incursão pela cenografia, e Milton Moraes criando o papel-título. Foi transformada em filme estrelado por Pelé.

 

A produção de romances tomou impulso nas décadas de 1960 e 1970, período em que surgiram seus trabalhos mais importantes. Alinhado entre os intelectuais que se opunham ao regime militar, tendo por isso sido preso duas vezes, Callado revelou em seus romances seu compromisso político, principalmente naquele que muitos consideram o romance mais engajado daquelas décadas, Quarup.

 

Callado escrevia à mão e mantinha uma rotina de trabalho, com horário rígido para todas as atividades, que incluíam duas caminhadas por dia. Mandou fazer uma mesinha portátil que o acompanhava pela casa toda, permitindo-lhe escrever em qualquer lugar. Não discutia nem comentava seu trabalho com ninguém, até que estivesse finalizado.

 

Recebeu várias condecorações e prêmios, no Brasil e no exterior. Morreu dois dias depois de completar 80 anos. De seu casamento em 1943 com Jean Maxine Watson, inglesa, funcionária da BBC, teve três filhos, entre eles a atriz Tessy Callado. Em 1976, se casou com Ana Arruda, que assim definiu Callado: Dedicou sua obra que se confunde com sua vida aos camponeses, aos negros e aos índios, aos revolucionários e às mulheres. Amou a Natureza e os prazeres da vida, como amou os despossuídos e injustiçados.

 

Enfim, para o psicanalista Hélio Pellegrino, Callado era um doce radical.

 

Antônio Callado foi sepultado no Cemitério São João Batista (RJ), vestindo o fardão da ABL, que ele tanto detestava.

 

 

Pensamentos Calladianos

 

 

 

Quem opta pelo regime autoritário não tem fé nem apreço pela criação artística.

 

A covardia é um defeito humano. O orgulho é o primeiro pecado capital.

 

Qualquer malogro é preferível à inação.

 

Se vais entrar dentro de ti, arma-te até aos dentes.

 

Quando Deus nos encaminha àquilo que temos capacidade de amar com maior verdade, está nos encaminhando a Ele próprio.

 

Há presidentes que duram dois dias. Não satisfazem a pátria, não fecundam o país.

 

Defesa a gente só usa contra amigos e mulher que a gente ama. Só a opinião deles é que pode alegrar ou mortificar, Manuel. A gente só entra franco e de peito aberto nos inimigos.

 

Ah, o bálsamo da desgraça alheia pousando fresco sobre as nossas feridas...

 

O escritor está sempre trabalhando em um livro, mesmo quando não está escrevendo. [Às vezes, até dormindo. Alguns textos que produzi eu os escrevi dormindo.]

 

Faltas expiadas valem mais do que virtudes não praticadas.

 

Saúde, saúde perfeita não é nada, não leva a nada. A gente só sabe que tem aquilo que dói. O brasileiro quer que doa tudo, naturalmente.

 

Com fulminante rapidez, o movimento militar de 1° de abril transmutou em passado a mais viva experiência social já tentada no Brasil.

 

Todo coberto de lírios
de velas, fogos e círios,
o ano estava estendido
das areias de Ipanema
aos rochedos do Leblon.
Diante do ano morto,
lemanjá dá reveillon.

 

Palavra escrita é feito passarinho na gaiola. Se, um dia, eu receber um telegrama, me mato mas não abro.

 

Apenas se voltaram um para o outro, braços abertos, e o breve instante em que se separaram foi para deixarem cair no chão as roupas sobre as quais se deitaram debaixo de orquídeas pálidas, separados do rio por um cortinado de orquídeas coloridas.

 

Eu acho que um intelectual, sobretudo num país como o Brasil, não tem o direito de se eximir como pessoa, e como intelectual, de opinar sobre a situação do País.

 

Quem, como intelectual, se isenta,
a própria liberdade adoenta.
Quem, como pessoa, se exime,
a própria liberdade comprime.
Quem, como ser humano, se desobriga,
a própria liberdade desabriga.

 

O que mais existe no mundo atual é gente na sarjeta e, por isso mesmo, o século que se encerra produziu dois grandes educadores, dois gênios que se derramaram de suas fronteiras e idiomas para inundarem o mundo inteiro: Shaw e Sartre. Por vocação, eram ambos sermonários, pregadores.

 

Inocência também pega. Logo que a gente chega ao Posto Culuene, na Fundação Brasil Central, o choque demasiado bruto paralisa o raciocínio. A gente só sabe que saiu da Cidade de São Paulo, num aparelho monomotor, umas sete horas antes: como é possível que agora, à beira daquele rio, homens e mulheres estranhos, mongolóides, inteiramente nus, cerquem o avião?

 

As pessoas quando querem falar mal dizem: é um jornalista.

 

Quando meu avô morreu eu tinha dois anos, mas, a influência dele foi muito grande na minha formação. Inclusive essa coisa de índios.

 

Esperamos que a Justiça continue apoiando o exemplo que se espera de São Paulo. É aquilo, ou vamos aguardar o Dia da Ira nos campos, o qual, para falar com franqueza, eu não sei como ainda não raiou.

 

O único jeito é derrotá-los no campo de batalha, como fizeram os vietnamitas. [Referência à Ditadura de 64 e ao apoio norteamericano à ela.]

 

Um dia, o Brasil sairá de sua interminável larva, para se transformar na tão adiada borboleta.

 

 

 

Adiada borboleta...
Isso até dá opereta!
Já o negacionismo...
Só leva ao abismo.

Pior é a mentiraria,
que hipoteca a valia,
dá asas à miralusão
e pare a separação.

É só ver essa COVID-19,
que até buliu com o id.
Corrupções... Panamás...
Império dos coisas-más.

Estão à vista as entranhas

O mundo todo enlouqueceu:
o inferno abalroou o céu.

Todos querem se arrumar;
todos querem se locupletar.
Que morram os enfermados!
Que se fodam os mazelados!

Nem o Senhor
bolaria toda essa escrotidão.
Nem o Senhor
premeditaria esse potosi.

Já, aqui no nosso Brasil,
nada é mais abominábil

Querem o Supremo fechar,
querem o Congresso zerar,
querem a ditadura repintar
e querem o AI-5 reeditorar.

Até o Senhor Pinga Ni Mim
para essas injúrias disse sim.
Inclusive, certo Comandante
se carnavalizou de instigante.

Oh! Onde iremos parar?
Onde essa joça irá dar
?
Para cada fiado malfeito:
Lei da Causa e do Efeito.

Não construiremos um país,
sem pormos os pingos nos is.
Não edificaremos uma nação,
sem amor, honradez e união.

Não poderá haver Libertação,
se não houver Compreensão.
Nunca cruzaremos a Alcântara,
se não eliminarmos cada tara.

 

 

O fato de que mais me orgulho como repórter foi o de ter sido eu o único brasileiro que esteve (setembro-outubro de 1968) no Vietnã do Norte em guerra com os Estados Unidos. Aliás, único brasileiro não, único latino-americano, se excetuarmos os comunistas cubanos da Prensa Latina. Fui recebido com flores, quando desembarquei em Hanói engasgado, comovido, me sentindo finalmente aprovado pelo povo mais valente da Terra, mais consciente de representar o valor do homem diante da mais sombria adversidade. A coragem do Vietnã já tinha então esse toque inexplicável de façanha mitológica ou bíblica.

 

Os humildes da Terra, no Vietnã, começaram a ganhar o seu combate milenar. Se outros povos humildes souberem seguir o luminoso exemplo vietnamita, o mundo ainda poderá ser o lugar de paz e de justiça com que têm sonhado os fundadores de religiões e os profetas, de Zaratustra e Jeremias a Karl Marx e Ho Chi Minh.

 

 

Ho Chi Minh

 

 

Fiquei lá [preso pela Ditadura] com Gilberto Gil e Caetano. Gilberto Gil já estava lá há mais de um mês. Também Ferreira Gullar. A gente sofria só algumas humilhações.... Não deixavam a gente fazer a barba, por exemplo. Havia também uns comunistas muito simpáticos. Prudentes, escolados, porque para eles a coisa não era fácil, e eles sabiam. Com intelectual era diferente.

 

Eu participei dessa ilusão da revolução; eu sei que houve pessoas que morreram, a gente conhecia as pessoas.

 

Não acredito em mais nada daquilo. Nada, nada, nada. Outro dia, estava falando isso com o [Antônio] Houaiss. Perdi completamente o interesse em operações políticas no Brasil. Não acredito que elas venham. Não vejo como podemos sair daqui, agora. Acho o mundo muito esculhambado, no momento. Não vejo esperança...

 

O índio (a menos que já tenha sido civilizado) não faz perguntas embaraçosas, pelo simples fato de não conhecer o embaraço. É uma criança. Ainda vive aquém do bem e do mal.

 

Orlando Villas-Bôas, do ponto de vista do seu conforto, tem comido o pão que o diabo amassou, desde o dia em que, empregadinho que era da Standard Oil, deixou o escritório para ser sertanista. No entanto, seus dez ou doze anos de selva têm apenas aumentado seu interesse pelo índio e não pelo conforto.

 

Todos sabemos que seringueiros e castanheiros trucidam índios, e onde temos nossas "fronteiras", no sentido americano de terra que está sendo conquistada, há matanças de selvagens, quando há civilizados que a ambição impele para aquelas bandas. Mas, no que temos de colonização organizada, no que temos criado para o desbravamento e domesticação de índios, estamos agindo como quem faz uma nação, como quem arrebanha irmãos. Podemos exagerar, sem dúvida exageramos, com nosso sentimentalismo e nosso relaxamento, mas, exageramos no rumo certo. Não se faz uma nação envergando um dinner-jacket todas as noites e mantendo os nativos em estado de humildade. Isto é receita pra Império.

 

Francisco Julião, um dia, viu o seu combate entrar-lhe pela casa adentro, no Caxangá, e, hoje, estende a todo o Partido Socialista a bandeira que vieram lhe trazer, que ele chama de Reforma Agrária, mas, que é mais do que isso. É o despertar do lavrador brasileiro, um dos últimos escravos do Ocidente.

 

No Nordeste, agrava-se o máximo o Brazilian Way of Life: quem tem influência tem tudo e os pés-rapados, em meio à maior ignorância e desamparo, vivem da mais cristalina teimosia. Quando digo que o Ceará está contra a irrigação, digo que a maioria dos porta-vozes do pobre povo cearense, tão cantando em verso e tão traído em discursos, morre de medo da Lei de Irrigação e de qualquer coisa que mexa no bem-bom.

 

Ninguém prova a liberdade, como a têm provado durante quatro anos os homens do Galiléia, para retornar depois aos troncos de escravos.

 

Quem prova a liberdade
acha que se alforriou.
Mas, a Vera Liberdade
não tem talvez nem ou.

 

 

 

 

Para muitos brasileiros, a esperança é bem mais escassa do que a água no Nordeste.

 

O mundo das coisas que o homem criou é o da cultura. De debate em debate, os educandos descobrem que a cultura surgiu como uma resposta do homem ao desafio da necessidade. Contra o Sol, fez o chapéu. Ao ter sede, cavou a terra para fazer a cacimba.

 

Devagar, vamos mudando...
Devagar, vamos avançando...
Devagar, vamos atinando...
Devagar, vamos transmutando...
Devagar, vamos nos libertando...
Devagar, vamos ascensionando...
Devagar, vamos nos universalizando...
Devagar, vamos nos Divinizando...

 

O gato também faz cultura, como o homem, porque eu, às vezes, faço feito gato, quer dizer: faço as coisas sem saber por quê.

 

 

 

 

Em nenhuma das várias ocasiões potencialmente dramáticas em que encontrei Arraes, o vi amedrontado, em hora de tempestade, ou arrogante, ao voltar o bom tempo.

 

Uma advertência aos que querem democratizar o Brasil à brasileira: não vai não. A coisa acaba na marra.

 

Não existe Democracia à brasileira.
Não existe Democracia à venezuelana.
Não existe Democracia à chinesa.
Não existe Democracia à americana.
Não existe Democracia à portuguesa.
Só há uma Democracia: à universal.

 

É fácil gostar de americanos, pessoalmente. Mas, eles estão se transformando numa nação abominável.

 

Este é o cerne do crime americano contra o Vietnã no plano mental e espiritual. Vale um estudo muito pormenorizado do que estou apto a fazer, para que todos os ameaçados pelo imperialismo americano (o termo não é vão e nem representa repetição mecânica de propaganda esquerdista) em todos os continentes saibam com quem estão lidando. Trata-se de uma grande potência santarrona, mas, inescrupulosa, pregadora de sermões, mas, sempre pronta a pregar na cruz quem lhe descarne os sermões. Em se tratando de povos sobre os quais tenha desígnios imperialistas como o Vietnã ou o Brasil, por exemplo os Estados Unidos usarão todas as armas, da mentira ao NAPALM, da corrupção à bomba de bilhas, para chegarem ao destino que se propuseram. E o único jeito é derrotá-los no campo de batalha, como fizeram os vietnamitas.

 

Cuba saiu energicamente do indefinível. Por amor ou por temor, todos A conhecem.

 

Ainda é assim: Da interpretação e da prática que dá o Governo Central ao conceito de interesse social depende o sempre adiado futuro do País.

 

Brasil – país do futuro!
Brasil – dentro do muro!
Brasil – hoje, no escuro!
Brasil – negacionismo imaturo!
Brasil – povão inseguro!
Brasil – devenir obscuro!
Brasil – sossego venturo?

 

O analfabeto, ao contrário da criança, tem montada em si uma complexa máquina de pensar. Em grande parte inútil, rodando no escuro, apanhando noções ao acaso. Mas, quando entra ali, pela leitura, o pensamento concatenado, o moinho esta pronto a moer. [Mas, milênios serão necessários para que seja compreendido o que foi moído. E mesmo assim...]

 

Se o próprio Papa já está concordando com Darwin, o que falta? Não falta mais nada.

 

O Brasil é um país curioso. É um país extremamente sem-vergonha; não tem a chamada vergonha na cara.

 

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço uma intervenção militar.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço cadeia para melancias.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço o fim da Democracia.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço a reencarnação da ditadura.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço a reedição do AI-5.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço a volta da censura.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço a volta da tortura.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço a volta dos sumiços.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço o fechamento do Congresso.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço a anulação do Supremo.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, tenho saudades dos anos de Pb.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço o desmatamento da Amazônia.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço a destruição do Pantanal.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, quero ver o povão armado.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, quero que todo mundo vire jacaré.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, eu sou, sim, negacionista.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, eu sou, sim, antivacinista.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, eu sou, sim, terraplanista.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, quero ver o circo incendiar.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, jamais usarei máscara.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, jamais usarei C2H5OH-gel.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, jamais lavarei as mãos.

Eu não tenho vergonha na cara;
por isto, peço: Flexibilização Já.

 

A Literatura é esta vida multiplicada que fornece uma descarga de energia ideológica, que dá um impulso de ação. Que ação? É a vontade de atuar sobre a sociedade que está em volta. Não se faz uma coisa em nome de nada. Esse nadismo eu realmente não entendo, nem o papo de “ah, o mundo é assim mesmo, deixa pra lá”.

 

Pensou, cabisbaixo, vencido, que, mesmo quando atende ao chamado, a coragem dos poltrões chega tarde e desleixada, ajeitando os chinelos, uma coragem relaxada, feito mulher que a gente finge que não conhece quando encontra na rua..

 

É o estado de alma romântico da desilusão que sustenta e apóia essa espécie de lirismo, uma exigência excessiva e superdeterminada do que devia ser em relação à vida, e uma clarividência desesperada quanto à vaidade dessa nostalgia, uma utopia que possui, simultaneamente, má consciência, e que está antecipadamente certa da derrota. E nessa certeza, o elemento decisivo é que ela se conserva inseparável da consciência moral, da evidência de que o fracasso é uma decorrência necessária da sua própria estrutura interna, de que é ela mesma, na sua melhor essência, no seu valor mais elevado, ferida por uma sentença de morte. Outrossim, tanto perante o herói como em face do mundo exterior, a sua atitude mantém-se lírica: amor e lamento, desolação, piedade, sarcasmo...

 

Vamos atravessar juntos a fronteira para o Brasil, para Corumbá, nada mais fácil, afinal de contas, ainda mais que imagino que você está sentindo, tanto quanto eu, a força da voragem, não está? O sopro para dentro que daqui a pouco faz esta cama furar a parede do quarto, o muro da casa, o portão da barreira militar, e nós como numa bandeja, encima do lençol, na nudez, copulantes, presas fáceis, incapazes de qualquer gesto de defesa ou orgulhosos demais por isso, voltando à pátria que nos fodeu, no auge e glória de uma foda.

 

Você não tem que fazer nada, e eu confio na sua falta de imaginação, de vontade de inventar modas, de fazer coisas, porque você não fazendo nada, não vai acontecer nada...

 

A primeira confidência – guarde-a antes que um muro de pedra, alto, suba entre nós...

 

Tudo na vida estava lhe acontecendo feito uma representação, uma imagem de outra coisa.

 

A América Latina não gosta do nome que tem porque não gosta de ser aquilo que é. São países que se consideram, todos e cada um, em eterna formação e em busca de uma identidade. Como já disse não sei quem, todos eles sabem muito bem a identidade que têm, mas, não gostam dela. Preferem, por isso, fingir que ainda não têm nenhuma.

 

O Brasil é uma romanidade tardia, tropical e mestiça. Uma nova Roma, melhor, porque racialmente lavada em sangue índio, em sangue negro. Culturalmente plasmada pela fusão do saber e das emoções de nossas três matrizes; iluminada pela experiência milenar dos índios para a vida no trópico; espiritualizada pelo senso musical e pela religiosidade do negro. [Darcy Ribeiro, apud Antônio Callado]

 

A verdade é que "nuestros países" estão cada vez menos preocupados com aquilo que um dia foram. Talvez, por estarem tentando descobrir aquilo que um dia serão, perspectiva algo aflitiva, se levarmos em conta o que são no momento, por exemplo, a Venezuela e a Colômbia.

 

Considero absolutamente dispensável a exigência do diploma universitário específico para o exercício da profissão de jornalista. A formação e o aperfeiçoamento do jornalista vão se desenvolvendo à medida em que ele trabalha, e a obrigatoriedade impede que pessoas com boa cultura, boa formação e até grande talento, egressas de outras áreas, como a História ou a Filosofia, por exemplo, possam trabalhar no setor. [Eu estou de acordo com isso, mas, desaprovo inteiramente a nomeação de um General, especialista em Logística Militar, para comandar o Ministério da Saúde.]

 

Não se almoça com quem quer nos jantar!

 

Quem escreve, pensa. Porque o Brasil precisa da gente. A verdade é essa.

 

É fundamental a atuação positiva do intelectual num país como o Brasil, vitimado até hoje por um domínio das elites absolutamente fantástico, acima do jogo político da Arena e do MDB. A grande massa, no Brasil, não sabe rigorosamente nada, apenas sente fome. Por isso, não acredito que o sujeito que lê e que por obrigação está ligado a este País possa desconhecer isso, ainda mais se lida com idéias.

 

O Brasil, do ponto de vista político, é muito despovoado.

 

A condição básica para a criação artística em geral é a liberdade... O manto da meia liberdade assusta os tímidos, diminui a audácia dos corajosos e é sempre fatal para o país que a adota.

 

O País não tem conserto.

 

Coronel disse Nando logo após ser torturado aquele seu porão me dá vergonha de ser brasileiro.

 

A missa acabou, o sangue estancou e o sacrifício chegou ao fim.

 

Sobretudo, a intenção é liberar a visão do mundo de quem deseja alterá-lo na medida de suas possibilidades, recusando-os ao conformismo e à resignação.

 

Eu tinha duas preocupações essenciais: a situação geral do País e o problema do índio, que me fascinava.

 

A salvação da América Latina está nesses padres jovens, de cuja atuação é possível nascer uma nova religião, que viva em íntima comunhão com o povo.

 

Vai ser difícil justificar o que se fez no plano democrático ao Governador Miguel Arraes e no plano do progresso do Brasil em geral contra Celso Furtado, superintendente da SUDENE.

 

Meus direitos políticos foram suspensos a partir de 1969. Resolveram, então, que eu não podia votar durante dez anos. De início, resolveram até que eu não podia trabalhar em nenhum jornal, revista, rádio, televisão ou exercer o magistério. Mas, essa grosseria maior durou pouco. Foi revogada. Seja como for, esgotados os dez anos, entendi que, automaticamente, recuperaria os direitos perdidos. Juro ter imaginado que decorridos os dez anos, meus direitos me voltariam às mãos, como volta a liberdade a quem cumpriu sentença num cárcere. Mas não. Para a justiça eleitoral é como seu eu nunca tivesse existido. Meu nome foi extirpado da lista, como se eu tivesse morrido. No dia da eleição, fiz ver ao juiz que eu não tinha estado ausente. O voto é que se ausentara e mim. Não tinha havido descaso de minha parte. O voto é que se ausentara de mim, desdenhoso. E de que enfermidade podiam me acusar, a não ser de uma catalepsia falsamente induzida pela Lei de Segurança Nacional, uma mortezinha civil com data marcada, uma eternidade de meros dez anos? Mas, não há de ser nada, pensei, ao voltar para casa com meu voto no bolso. Afinal de contas, fiquei na boa companhia dos eternamente cassados, dos que são considerados sempre penetras, dos barrados na porta, dos milhões que não votam porque não saber ler nem escrever.

 

O brasileiro vive num ambiente de falsa cultura, de uma cultura extravagante e que desconhece a realidade do País. É preciso alfabetizar as massas e deseducar as elites.

 

Meu inquérito é sobre a alma do Brasil.

 

Nunca me filiei a nenhum Partido. Permaneço fiel, absolutamente fiel, ao que fui e sou: um homem de esquerda, que crê no Socialismo.

 

Tem essa história que há água em Marte... É interessante, é claro, mas, não tem importância...

 

Eu me envolvi em todas as lutas políticas possíveis nos últimos 60 anos, e não deu em nada.

 

Em relação a nós, aqui no Brasil, nós estamos num período em que, talvez, haja uma certa esperança de que este nosso cinismo, essa falta de fé nas coisas, essa descrença, acabe. Eu tenho uma certa esperança que isto seja possível.

 

Para mim, agora, morrer ou não morrer é exatamente a mesma coisa.

 

Fazer 80 anos é um horror! É uma idade para o sujeito morrer, nada mais além disso.

 

 

Como este nosso cinismo
pode acabar,
se postamos fake news
a respeito de tudo e de nada?

Como a nossa falta de fé nas coisas
pode acabar,
se, antidemocraticamente,
queremos fechar o Congresso e o STF?

Como a nossa descrença generalizada
pode acabar,
se desrespeitamos a Ciência
e cagamos e andamos para a PanCOVIDmia?

 

 

 

Música de fundo:

Aquarela
Composição:Vinicius De Moraes, Toquinho, Guido Morra & Maurizio Fabrizio
Interpretação: Toquinho

Fonte:

https://my.mp3ha.org/collection/artist/
vinicius%20de%20moraes%20toquinho

 

Páginas da Internet consultadas:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Zé_do_Caixão

https://dribbble.com/tags/bela_lugosi

http://acervo.avozdaserra.com.br/noticias/
antonio-callado-um-senhor-reporter

https://portalintercom.org.br/anais/sudeste2019/resumos/R68-0220-1.pdf

https://www.uespi.br/mestradoemletras/wp-content/
uploads/2015/07/DISSETACAO-LUCIANA-min.pdf

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/1/26/brasil/14.html

http://www.tirodeletra.com.br/entrevistas/AntonioCallado.htm

https://www.pinterest.es/pin/589267932473074076/

https://www.pinterest.com/pin/335940453445412883/

https://moot.us/lounges/110/boards/25/posts/2002308

https://contobrasileiro.com.br/bar-don-
juan-cronica-de-antonio-callado/

http://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/
22515/3/ImagensLutaResistência.pdf

https://www.pensador.com/autor/antonio_callado/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Antônio_Calado

https://pt.wikiquote.org/wiki/Antônio_Callado

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.