BRASIL SEM PÓLVORA

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

— Meu querido Presidente!

Meu querido Presidente!

Meu querido Presidente!

Disseram-me que o Ataulfo Alves está morando lá no céu,

mas, se ainda estivesse chilreando por aqui,

acho que, dadas as circunstâncias

impostas pelo Governo Federal nesta PanCOVIDmia,

ele cantaria: 'tenha a santa paciência,

ponha a mão na consciência,

deixe-nos viver em paz!'

E o Tom, que também está no céu, cantaria:

'É o mistério profundo,

é o queira ou não queira',

é a dor, é a morte,

é sem-fim a canseira,

cada casa uma tristeza,

cada casa uma caveira.

E o Noel, por sua vez, modularia:

não quero morrer,

não quero choro,

não quero vela;

quero, sim, me vacinar,

para deste Coronavírus

livre e imunizado ficar.

E o Exército Brancaleone entoaria:

'Branca, branca, branca...

Leone, leone, leone...'

Fique em casa...

Passe a tranca...

Esse Coronavírus

é pior do que ciclone!

 

 

Brancaleone da Norcia
(L'armata Brancaleone)

 

 

— E a Hiena Hardy,

se fosse brasileira, regougaria assim:

'Oh! céus! Oh! vida! Oh! azar!

Isso não vai dar certo!'

As UTIs estão apinhadas!

Dona Morte está por perto!

É cadáver por todo lado!

Oh! Amanhã tão incerto!

Irmão Lippy, abre teu olho!

Don Corona está por perto!

Que saudades do Mandetta!

Sinto-me perdida num deserto!

Oh! General! Oh! Pazuello!

Por que foste tão inexperto?

Este foi teu triste legado:

um campo-santo referto!

Valeu a pena obedecer?

Ou o fim findou inaperto?

Tudo fica registrado;

cada-todo-ato é inserto!

Sou Hiena, mas, advirto:

abre o olho, fica experto.

 

 

Hiena Hardy

 

 

— Ora, meu querido Presidente:

o Brasil nunca teve, não tem

e jamais terá vocação

para ser um barril de pólvora.

O Brasil é, sim, um Patropi abençoado por Deus,

como muito bem o descreveu o Jorge Ben Jor,

só que, em termos de PanCOVIDmia,

não fez o dever de casa,

e ficou em segunda época em todas as matérias.

O pior é que não dá bola para os especialistas,

continua cabulando as aulas

e permanece sem estudar,

saracoteando buliçoso na porta da Colombo.

Para mim, isto é um assombro!

Então, vocação para gabiru e mulherengo,

isto, sim, ele tem e de sobra.

Isso até dá samba-enredo, para puxar

o desfile de uma escola de samba durante o Carnaval!

Quem sabe, até poderia começar assim:

 

 

— Por isto, hoje, muitíssimo infelizmente,

lamentavelmente, infelizmente às pamparras,

o Brasil se transformou em um grande cemitério

de cadáveres, de múmias e de fantasmas.

 

 

 

 

— A coisa está mais ou menos assim:

se correr, o Corona pega,

se cansar, o Corona esfola,

se ficar, o Corona come.

Quem bobeia dança,

e não há Frei Serapião, nem Frei Balalão,

nem tratamento precoce que dêem jeito.

A coisa está mais preta do que telefone antigo,

do que cortina de velório,

do que sola de pé de sem-teto

e do que a ponta do nariz da Hiena Hardy.

Como disse Anna Katrin Cavazzini

– eurodeputada pelo Partido Verde

e vice-presidente da delegação

do Parlamento Europeu

para assuntos relacionados ao Brasil –

a crise sanitária desencadeada pela PanCOVIDmia,

no Brasil, é um verdadeiro desastre.

Desastre anunciado, meu querido Presidente,

porque, aqui, tropicalisticamente, tudo ficou atrasado,

meio getulisticamente na base do

deixar como está, para ver como é que fica,

à espera de uma imunidade de rebanho que não veio.

E, sem dó nem piedade, esta brasileirice deu no que deu,

que nem os especialistas sabem como será a catástase

desta tragédia tropical desentoada,

que já passou por uma prótase dolorosa

e está vivenciando uma desditosa epítase.

 

 

 

 

— Todas as medidas sanitárias

para combater efetivamente a PanCOVIDmia

vieram muito tarde e atabalhoadas,

e, logisticamente, foram pazuellisticamente atrapalhadas.

Como todo mundo sabe, Vossa Excelência mesmo

é contra todas as intervenções não-farmacêuticas,

é contra o isolamento social,

é contra o distanciamento social,

é contra a restrição na mobilidade urbana,

é contra o necessário 'lockdown',

é contra o uso de máscara,

e, declarada e negacionisticamente, é antivac(h)inista.

Como poderia haver redução no número de infecções,

como aconteceu, por exemplo, na Nova Zelândia?

Como se poderia evitar o alastramento da doença?

Como se poderia evitar a superlotação das UTIs?

Como se poderia evitar a festa de arromba do Coronavírus?

Como se poderia evitar a mortandade crescente?

Como qualquer medida sanitária poderia dar certo?

Como qualquer plano de ação poderia dar certo?

Como o que quer que seja poderia dar certo?

É por isto que, hoje, o Brasil enfrenta

o maior colapso sanitário-hospitalar

da História do País,

e a Organização Mundial de Saúde

vê o Brasil como risco para todo o mundo.

Em janeiro passado, o Brasil testemunhou

cenas de derrocada hospitalar em Manaus,

com pacientes morrendo por falta de oxigênio.

Tudo o que se refere à PanCOVIDmia

tem sido sem método, desorientado, desordenado.

É por isto que, no Senado, foi formalizada a criação da

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID-19,

que, entre outras coisas, investigará

questões como a responsabilidade da União

na falta de oxigênio no Estado do Amazonas,

o atraso na compra de vacinas antiCOVID

e o uso de dinheiro público para a compra

de medicamentos sem nenhuma comprovação científica

(como foi o caso, por exemplo, da Hidroxicloroquina).

Vossa Excelência chegou a afirmar:

— Quem é de direita toma Cloroquina;

quem é de esquerda toma Tubaína.

E há muita gente que acha que, se se vacinar,

acabará virando jacaré-de-papo-amarelo!

Meu querido Presidente, prepare-se:

a cobra vai fumar!

Mas, não entenda esta CPI como

sendo contra Vossa Excelência ou contra o Governo Federal.

Não é; ela é a favor do Brasil e do povo brasileiro.

Todavia, independentemente de qualquer CPI,

ainda há tempo, digamos assim, de 'salvar' o Brasil,

e de, novamente, torná-Lo respeitado internacionalmente.

Tudo depende de Vossa Excelência,

que é o nosso querido Presidente.

O Brasil precisa de Vossa Excelência. Presidencie-nos!

Reconhecer que agiu incorretamente é uma virtude.

Todos os que reconheceram seus equívocos

acabaram se dando bem.

Dois mil e vinte dois está chegando,

e o Lula recuperou seus direitos políticos

e voltou a ser elegível!

Querendo ou não, Vossa Excelência terá que enfrentá-lo.

 

 

 

 

— Meu querido Presidente:

eu acho que Vossa Excelência

tem olhado com o binóculo ao contrário

ou o seu binóculo está sujo ou embaçado.

O sofrido povão brasileiro

não quer um Brasil com pólvora;

o sofrido povão brasileiro

quer um Brasil sem pólvora.

O sofrido povão brasileiro

não quer saber de 'gabinete do ódio';

o sofrido povão brasileiro

quer, sim, um gabinete de solidariedade.

O sofrido povão brasileiro

não pode nem ouvir falar de advocacia administrativa;

o sofrido povão brasileiro

quer, sim, lisura e legalidade no trato da coisa pública.

O sofrido povão brasileiro

não quer ser sistematicamente ameaçado;

o sofrido povão brasileiro

quer viver e se sentir desintimidado.

O sofrido povão brasileiro

não quer ouvir 'fake news';

o sofrido povão brasileiro

quer ter notícias legítimas e fidedignas.

 

 

Fakenewsômetro

 

 

— O sofrido povão brasileiro

não quer estado de emergência;

o sofrido povão brasileiro

quer estado de previsibilidade e de pertinência.

O sofrido povão brasileiro

não quer estado de sítio;

o sofrido povão brasileiro

quer estado de confiança e de esperança.

O sofrido povão brasileiro

não quer nenhuma medida de exceção constitucional;

o sofrido povão brasileiro

quer tudo de acordo com a lei e com a ordem.

O sofrido povão brasileiro

não quer uma intervenção militar;

o sofrido povão brasileiro

quer exercer plenamente a sua cidadania.

O sofrido povão brasileiro

não quer a reencarnação da ditadura;

o sofrido povão brasileiro

quer Estado Democrático de Direito.

O sofrido povão brasileiro

não quer a volta da censura;

o sofrido povão brasileiro

quer liberdade para as artes e de imprensa.

O sofrido povão brasileiro

não quer ver a volta dos porões e da tortura;

o sofrido povão brasileiro

quer ver tudo acontecendo às claras.

O sofrido povão brasileiro

não quer mais a Casa da Morte, em Petrópolis;

o sofrido povão brasileiro

quer, para todos, dignas Casas da Vida.

 

 

Casa da Morte
[Município de Petrópolis – Estado do Rio de Janeiro:
local de tortura e de assassinato de presos políticos,
durante a vigência da Ditadura Militar (1964 – 1985)]

 

— O sofrido povão brasileiro

não quer ver mais pau-de-arara fazendo taramelar de dor;

o sofrido povão brasileiro

quer ver todas as aves psitaciformes vivas em a Natureza.

O sofrido povão brasileiro

não quer ver mais nenhum doutor Tibiriçá e S.A.;

o sofrido povão brasileiro

quer ver muitos Doutores Luiz Henrique Mandetta.

O sofrido povão brasileiro

não quer ver mais gente desaparecendo para sempre;

o sofrido povão brasileiro

quer ir e vir com segurança e estabilidade.

O sofrido povão brasileiro

não quer a reedição do AI-5;

o sofrido povão brasileiro

quer, para sempre, AI-ZERO.

O sofrido povão brasileiro

não quer o fechamento do Congresso Nacional;

o sofrido povão brasileiro

quer ver o Congresso funcionando a todo vapor.

O sofrido povão brasileiro

não quer ver desrespeito ao Supremo Tribunal Federal;

o sofrido povão brasileiro

quer ver o STF funcionando a pleno vapor.

O sofrido povão brasileiro

não quer ouvir ofensas aos Ministros do STF;

o sofrido povão brasileiro

quer ver os Ministros do STF dignificados.

O sofrido povão brasileiro

não quer ver as instituições democráticas aviltadas;

o sofrido povão brasileiro

quer, sim, carinho com as instituições democráticas.

O sofrido povão brasileiro

não quer ver a ordem constitucional desprezada;

o sofrido povão brasileiro

quer, sim, consideração com a ordem constitucional.

O sofrido povão brasileiro

não quer ver cada poder da República fazendo o que quer;

o sofrido povão brasileiro

quer, sim, paz e harmonia entre os poderes da República.

O sofrido povão brasileiro

não quer ser jantado pelo SARS-CoV-2;

o sofrido povão brasileiro

quer, sim, contra a PanCOVIDmia.

O sofrido povão brasileiro

não quer viver macambúzio e mal-humorado;

o sofrido povão brasileiro

quer, sim, poder voltar a ser bem-humorado e sorrir.

O sofrido povão brasileiro

não quer tomar banho de cuia no lamedo;

o sofrido povão brasileiro

quer, sim, poder voltar a ir à praia e tomar banho de mar.

O sofrido povão brasileiro

não quer prantear em velório e ficar enterrando cadáveres;

o sofrido povão brasileiro

quer, sim, poder voltar a brincar no carnaval.

O sofrido povão brasileiro

está saturado de ora 'fudelhufas de cagahouse',

ora 'fudehouse de cagalhufas';

o sofrido povão brasileiro

quer, sim, ver cumprido o lema da Bandeira do Brasil:

Ordem e Progresso, que foi inspirado

no lema do Positivismo de Auguste Comte:

o Amor por princípio

e a Ordem por base;

o Progresso por fim.

Qualquer coisa diferente disto gerará o caos,

e é extamente o que, hoje, está a acontecer no Brasil.

 

 

Chega disto!

 

 

— Eu, quietinho, aqui no meu canto,

diariamente, invoco

misericórdia, proteção e ajuda

para toda a Humanidade sofrente,

e, nesta hora tão dramática,

auxílio para o povão desesperado do Brasil.

E, para Vossa Excelência, meu querido Presidente,

invoco o que Johann Wolfgang von Goethe

pediu ao morrer: — Lich, mehr licht! Luz, mais luz!

 

 

Eu sonho com um desarmamento mundial total.

 

 

 

 

— Luz para Harmonizar, não para causar dano.

Luz para Tranqüilizar, não para meter medo.

Luz para Proteger, não para escorraçar.

Luz para Desobstruir, não para obstaculizar.

Luz para Pacificar, não para hostilizar.

Luz para Fazer Avançar, não para fazer recuar.

Luz para Equanimizar, não para desigualar.

Luz para Curar, não para adoentar.

Luz para Orientar, não para desnortear.

Luz para Ser a Ponte, não para ser o abismo.

Luz para Amar, não para odiar.

Luz para clarear a escuridão, não para aumentar a negridão.

Luz para Servir, não para objetivos pessoais egoístas.

Luz sempre Categórica; jamais hipotética.

 

 

 

O Amor por princípio
e a Ordem por base;
o Progresso por fim.