BLAISE PASCAL
(Pensamentos)

 

 

 

Blaise Pascal

Blaise Pascal

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo é uma pequena coleção de pensamentos do matemático, físico, filósofo moralista e teólogo francês Blaise Pascal. Por enquanto, reflita sobre este fragmento: Todas as máximas já foram escritas. Resta apenas pô-las em prática. Agora, recorde: O Coração tem suas Razões que a razão desconhece.

 

 

 

Sintética Biografia de Pascal

 

 

 

Blaise Pascal

Le Coeur a ses Raisons que la raison ne connaît point.

 

 


Blaise Pascal nasceu em 19 de junho de 1623, em Clermont-Ferrand, na França, filho de Étienne Pascal e Antoniette Bejon. Com apenas três anos, Blaise perdeu a mãe e o seu pai encarregou-se diretamente da sua educação. Étienne, seu pai, desenvolveu um método singular na educação do filho, com exercícios de diversos tipos para despertar a razão e o juízo correto. Usou os jogos para ensinar várias disciplinas como Geografia, História e Filosofia. As aulas de Matemática só fizeram parte dos estudos quando este apresentou indícios de estar mais madur
o.

 

Desta forma, o pai mantinha longe do menino os grossos livros de Matemática, mas desde cedo Pascal teve uma curiosidade sobre aqueles estranhos assuntos. De conversas que ouvia ou de obras que passavam pela censura do pai, logo descobriu as maravilhas da ciência dos números. Mesmo sem professor ou livro-texto, sozinho passou a desenvolver seus estudos. Certo dia, seu pai viu o jovem rapaz desenhar a carvão figuras geométricas das várias proposições da Matemática de Euclides. Pascal chegou à 32ª fórmula proposta no livro 1 do velho sábio (a soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é igual a dois ângulos retos, ou seja: 180º; isto permite a determinação da medida do terceiro ângulo, desde que sejam conhecidas as medidas dos outros dois ângulos), e, por esta razão, foi-lhe dada permissão para que avançasse livremente sobre aqueles ramos do conhecimento.

 

 

 

 

Pascal juntou-se aos sábios do Círculo de Mersenne quando tinha apenas 13 anos de idade. Ali, pôde colecionar informações para desenvolver mais rapidamente seus trabalhos. Aos 17 anos, descobriu e publicou uma série de teoremas de Geometria, fundamentais ao desenvolvimento tecnológico futuro, como, por exemplo, o campo da aviação. Mais tarde, para ajudar o pai, sempre ocupado com números, dedicou-se a criar uma máquina de calcular. Para que possamos imaginar a revolução causada no nosso presente, Pascal é o nome de uma importante e famosa linguagem base para computadores, usada em todo mundo. Pascal desenvolveu importantes estudos que tiveram como inspiração as descobertas do italiano Torricelli sobre a pressão atmosférica.

 

A partir de 1647, Pascal, dedicou todos os seus esforços à Aritmética, desenvolvendo cálculos de probabilidades, a fórmula de geometria do acaso, o conhecido Triângulo de Pascal e o tratado sobre as potências numéricas. Pascal contribuiu decisivamente para a criação de dois novos ramos da Matemática: a Geometria Projetiva e a Teoria das Probabilidades. Em Física, estudou a mecânica dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e de vácuo, ampliando o trabalho do físico e matemático italiano Evangelista Torricelli (Faenza, 15 de outubro de 1608 – Florença, 25 de outubro de 1647). Pascal é, ainda, o inventor da primeira máquina de calcular mecânica – a Pascaline – e de estudos sobre o método científico. Todo este esforço aliado à falta de descanso, arruinou a sua saúde, e ele, ainda muito jovem, caiu grave e irremediavelmente enfermo.

 

De repente, após ter tido, segundo ele, uma visão divina, Pascal abandonou as ciências para se dedicar exclusivamente à Teologia. Depois de um ano de estudos particulares, recolheu-se à Abadia de Port-Royal des Champs, centro do Jansenismo – movimento de caráter dogmático, moral e disciplinar, em reação a certas doutrinas e práticas no seio da Igreja Católica, que assumiu também contornos políticos, tendo se desenvolvido, principalmente, na França e na Bélgica, nos séculos XVII e XVIII – só voltando às ciências em 1658. Durante este período, publicou os seus principais livros filosófico-religiosos: Les Provinciales, conjunto de 18 cartas, e Pensées, um tratado sobre a espiritualidade, em que, inspirado em Santo Agostinho, fez a defesa do Cristianismo. É em sua obra Pensées que está a sua frase mais citada: O Coração tem suas Razões que a razão desconhece.

 

Como teólogo e escritor, Pascal destacou-se como um dos mestres do Racionalismo e do Irracionalismo modernos, e sua obra influenciou os ingleses Charles e John Wesley, fundadores da Igreja Metodista. No caso do Irracionalismo, pontualmente escreve o professor João Evangelista, citado por João dos Santos Filho em seu texto Neoliberalismo: Lógica do Irracionalismo (Ensaio Sociológico Sobre o Neoliberalismo): Foi deflagrada uma colossal onda irracionalista, cujo epicentro está em Paris e seus arredores. O Irracionalismo tomou corpo pela desreferencialização do real, pela dessubstancialização do sujeito e pelo descentramento da política.

 

Um dos tratados de Pascal sobre Hidrostática, Traité de L'équilibre des Liqueurs, só foi publicado um ano após sua morte, onde esclareceu os princípios barométricos, da prensa hidráulica e da transmissibilidade de pressões. Foi nesta obra que estabeleceu o Princípio de Pascal que afirma: Em um líquido em repouso ou em equilíbrio, as variações de pressão transmitem-se igualmente e sem perdas para todos os pontos da massa líquida, Princípio usado no presente, no funcionamento do macaco hidráulico.

 

Pascal – que, na Mecânica, é homenageado com a unidade padrão de pressão e tensão do Sistema Internacional de Unidades (Pa), que equivale à força de 1 N aplicada uniformemente sobre uma superfície de 1 m2sempre teve uma saúde frágil, acabando por adoecer gravemente em 1659, e morrendo em 19 de agosto de 1662, dois meses após completar 39 anos.

 

 

 

Pensamentos Pascalianos

 

 

 

Princípio de Pascal: O acréscimo de pressão exercida em um ponto em um líquido ideal em equilíbrio transmite-se integralmente a todos os pontos deste líquido e às paredes do recipiente que o contém.

 

 

 

 

Observação: Sistemas hidráulicos, como o da animação acima, utilizam o Princípio de Pascal – que esclarece consistentemente os princípios barométricos da prensa hidráulica e da transmissibilidade de pressões. É fácil entender isto: uma força pode muito bem ser potencializada, se for aplicada a uma superfície pequena de um sistema hidráulico. O aumento da pressão é, então, transmitido para uma outra parte do fluido confinado, o que permite que uma área maior possa, por exemplo, ser empurrada, no caso, para cima. Viajando: será que, usando esta mesma Lei Física (ou outra semelhante), as pirâmides foram assim construídas? Ou, por outro lado, será que os Antigos Egípcios, herdeiros dos ATLantes (na mitologia asteca, ATL era o deus da água), conheciam certas Leis Universais que, para nós da crosta terrestre, estão (parcialmente) perdidas? Sei lá; mas gostaria muito de saber. As Ilhas Canárias!

 

 

Este flashinho é meramente uma rodolfice pictorial;
eu não estou induzindo à nada nem sugerindo nada.
Mas, porém, todavia, contudo, pode ter sido assim!

 

 

Teorema de Pascal (formulado por Blaise Pascal quando tinha apenas 16 anos de idade): Em um hexágono inscrito em uma cônica, as retas que contiverem os lados opostos se interceptam em pontos colineares,  ou seja,  se os seis vértices de um hexágono estão situados sobre uma circunferência e os três pares de lados opostos se intersecionam, os três pontos de interseção são colineares.

 

 


Os pontos B1, B2 e B3 são colineares,
ou seja, estão sobre a mesma reta.

 

 

Observação: Em 184, o Teorema de Pascal foi generalizado por August Ferdinand Möbius (Schulpforta, 17 de novembro de 1790 – Leipzig, 26 de setembro de 1868) da seguinte forma: Supondo um polígono com 4n + 2 lados inscrito em uma seção cônica e os pares de lados opostos estendidos até se encontrarem em 2n + 1 pontos, então, se 2n de tais pontos forem colineares, o último ponto estará também sobre essa linha.

 

 

O Coração tem suas Razões que a razão desconhece.

 

É mais fácil suportar a morte sem pensar nela do que suportar o pensamento da morte sem morrer.

 

Nunca nos detemos no momento presente. Antecipamos o futuro que nos tarda, como para lhe apressar o curso ou evocamos o passado que nos foge, como para o deter: tão imprudentes, que andamos errando nos tempos que não são nossos, e não pensamos no único que nos pertence, e tão vãos, que pensamos naqueles que não são nada, e deixamos escapar sem reflexão o único que subsiste. É que o presente, em geral, fere-nos. Nós o escondemos à nossa vista porque nos aflige; e se nos é agradável, lamentamos vê-lo fugir. Tentamos segurá-lo pelo futuro, e pensamos em dispor as coisas que não estão na nossa mão, para um tempo a que não temos garantia alguma de chegar. Se você examinar cada um dos seus pensamentos, haverá de os encontrar todos ocupados no passado ou no futuro. Quase não pensamos no presente; e, se pensamos, é apenas para, à luz dele, dispormos o futuro. Nunca o presente é o nosso fim: o passado e o presente são meios, o fim é o futuro. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos sempre para ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos.

 

A Natureza detesta o vazio.

 

 


 

Uma gota de amor é mais que um oceano de intelecto.

 

Bom falador, mau caráter.

 

É muito difícil propor um problema ao entendimento alheio sem corromper esse entendimento pela maneira de propor! Se dizemos: acho isto belo, acho obscuro ou outra coisa semelhante, arrastamos a imaginação para este juízo ou a irritamos, levando-a ao juízo contrário. Mais vale nada dizer. E, então, o outro julgará segundo o que é ou segundo o que é naquele momento, e de acordo com o que as outras circunstâncias, de que não somos responsáveis, lá tiverem posto. Mas, pelo menos, nós não pusemos nada; a não ser que o nosso silêncio tenha também o seu efeito, segundo o sentido e a interpretação que ele estiver disposto a lhe atribuir, ou segundo o que depreende dos movimentos e da expressão do rosto ou do tom de voz, conforme for melhor ou pior fisionomista. Tão difícil é não deslocar um entendimento da sua base natural ou, antes, tão pouco um entendimento tem de firme e estável!

 

A desgraça descobre à alma luzes que a prosperidade não chega a perceber.

 

Aquele que duvida e não pesquisa se torna não só infeliz, mas, também, injusto.

 

Estamos cheios de coisas que nos empurram para fora. O nosso instinto faz-nos sentir que é preciso procurar a nossa felicidade fora de nós. As nossas paixões levam-nos para fora, mesmo quando os objetos se não oferecessem para as excitar. Os objetos de fora tentam-nos por si próprios e chamam-nos, ainda quando não pensamos neles. E assim, mesmo que os filósofos digam «recolhei-vos em vós mesmos; aí encontrareis o vosso bem», não se acredita neles...

 

 

 

 

Fiz esta carta mais longa do que o usual porque não tenho tempo para fazer uma mais curta.

 

Pode haver algo mais ridículo do que a pretensão de um homem me matar porque habita o outro lado do rio, e seu príncipe tem uma diferença com o meu, ainda que eu não tenha qualquer diferença com ele?

 

 

 

Tudo o que sei é que devo morrer em breve; mas o que mais ignoro é essa mesma morte, que não saberei evitar.

 

Eloqüência positiva é aquela que persuade com doçura, não com violência, ou seja, como um rei, não como um tirano.

 

Se sonhássemos todas as noites a mesma coisa, ela nos afetaria tanto quanto os objetos que vemos todos os dias. E, se um artista estivesse seguro de sonhar todas as noites, durante doze horas, que é um rei, creio que seria quase tão feliz como um rei que sonhasse todas as noites, durante doze horas, que é um artista. Se sonhássemos todas as noites que somos perseguidos por inimigos e agitados por esses fantasmas penosos, e se passássemos todos os dias em diversas ocupações, como quando se faz uma viagem, sofreríamos quase tanto como se isso fosse verdadeiro, e apreenderíamos o dormir como se apreende o despertar quando se teme entrar em semelhantes desgraças realmente. E, com efeito, isto faria pouco mais ou menos o mesmo mal que a realidade. Mas, porque os sonhos são todos diferentes, e porque mesmo um se diversifica, o que se vê neles afeta bem menos que o que se vê acordado, por causa da continuidade, que não é, contudo, tão contínua e igual que não mude também, mas menos bruscamente, a não ser raramente, como quando se viaja. E, então, diríamos: «Parece-me que sonho». Pois, a vida é um sonho um pouco menos inconstante.

 

Quem se sente desgraçado por não ser rei, senão um rei destronado?

 

Deixemos um rei sozinho, sem nenhuma satisfação dos sentidos, sem nenhuma preocupação do espírito, sem companhia, a pensar apenas em si mesmo, e ver-se-á que um rei sem divertimentos é um homem muito desgraçado.

 

O rei está rodeado de pessoas que não pensam senão em o divertir e em impedir que pense em si mesmo. Porque, por mais rei que seja, se pensa nisso, é desgraçado.

 

Não nos sustentamos na virtude pela nossa própria força, mas pelo contrapeso de dois vícios opostos, como ficamos de pé em dois ventos contrários; tirai um desses vícios e cairemos no outro.

 

A maior fraqueza do homem é poder tão pouco por aqueles que ama.

 

O mundo está cheio de boas citações; só falta aplicá-las.

 

Quando lemos demasiado depressa ou demasiado devagar, não entendemos nada.

 

Dizem que o hábito é uma segunda natureza. Quem sabe, pergunto, se a natureza não é primeiro um hábito.

 

Sabei que o Homem supera infinitamente o homem.

 

Para quem não anseia senão ver há luz bastante; mais para quem tem oposta disposição, sempre há bastante escuridão.

 

Não é bom ter tudo o que se quer.

 

Quando se quer levar a virtude até seus extremos, de um lado e de outro, surgem vícios que nela se insinuam insensivelmente, em suas rotas insensíveis, do lado pequeno do infinito; e multidões de vícios se apresentam do lado grande do infinito, de modo que nos perdemos nos vícios e não vemos mais a virtude. Caímos na armadilha da própria perfeição.

 

Pessoas comuns não vêem diferenças entre os homens.

 

Quando considero a duração mínima da minha vida, absorvida pela eternidade precedente e pela eternidade seguinte, o espaço diminuto que ocupo, e mesmo o que vejo, abismado na infinita imensidade dos espaços que ignoro e me ignoram, assusto-me e assombro-me de me ver aqui e não lá. Quem me pôs aqui? Por ordem de quem me foram destinados este lugar e este espaço?

 

Duas coisas instruem o homem, qualquer que seja a sua natureza: o instinto e a experiência.

 

Um verdadeiro amigo é uma coisa tão vantajosa, mesmo para os maiores senhores, para dizer bem deles e os defender mesmo na sua ausência, que devem fazer tudo para os ter. Mas que escolham bem, pois, se fizerem todos os seus esforços por estúpidos, isto lhes será inútil, por muito bem que digam deles; e mesmo não dirão bem se se sentirem mais fracos, pois não terão autoridade. E, assim, dirão também mal por companhia.

 

O amor é cego; a amizade fecha os olhos.

 

Há duas espécies de homens: os justos, que se julgam pecadores e os pecadores que se crêem justos.

 

A verdadeira moral zomba da moral.

 

A verdadeira moral não se preocupa com a moral: quer isto dizer que a moral do juízo não se importa nada com a moral do espírito – que não tem regras.

 

Quando a paixão nos domina, esquecemos o dever.

 

Em matéria de amor, silenciar vale mais do que falar.

 

O afeto ou o ódio mudam a face da justiça.

 

A regra das nossas ações deve ser sempre a probidade.

 

A falsa humildade é puro orgulho.

 

O homem é um ponto entre duas extremidades.

 

 

 

Quanto mais inteligente um homem é mais originalidade encontra nos outros. Os medíocres acham toda a gente igual.

 

A única coisa que nos consola das nossas misérias é o divertimento, e, contudo, é a maior das nossas misérias. O divertimento nos impede principalmente de pensar em nós, e nos faz perder insensivelmente. Sem o divertimento estaríamos no tédio, e este tédio nos levaria a procurar um meio mais sólido de sair dele. Mas o divertimento nos distrai e nos faz chegar insensivelmente à morte.

 

Visivelmente, o homem é feito para pensar. Aí reside toda a sua dignidade e todo o seu mérito. Todo o seu dever é pensar com acerto, e a ordem do seu pensamento é começar por si, pelo seu autor e pelo seu fim. Ora, em que pensa o mundo? Nunca nestas coisas; mas em dançar, em tocar alaúde, em cantar, em fazer versos, em jogar o anel., em combater, em chegar a ser rei, sem pensar no que é ser rei e no que é ser homem.

 

O eu [inferior] é odioso.

 

Desde a infância, os homens são sobrecarregados com o cuidado da sua honra, do seu bem, dos seus amigos e, ainda, com o bem e a honra dos seus amigos. Fatigam-se de afazeres, de aprendizagem de línguas e exercícios, e faz-se-lhes sentir que não poderão ser felizes sem que a sua saúde, a sua honra, a sua fortuna e a dos seus amigos estejam em bom estado, e que uma só coisa que faltasse os tornaria desgraçados. Assim, dão-se-lhes cargos e negócios que os fazem afadigar-se desde o amanhecer. Aí está, direis, uma estranha maneira de os tornar felizes! Que poderia ser feito de melhor para os tornar desgraçados? Como! O que se poderia fazer? Bastaria apenas lhes tirar todos estes cuidados; pois, então, ver-se-iam a si mesmos, pensariam no que são, de onde vêm e para onde irão; e, assim, não os podem ocupar demais nem desviá-los. E é por isto que, depois de lhes terem preparado tantos afazeres, se têm algum tempo de descanso, os aconselham a empregá-lo a divertir-se, a jogar e a ocupar-se sempre inteiramente. Como o Coração do homem é oco e cheio de imundície!

 

O tempo amortece as aflições e as desavenças porque mudamos e quase nos tornamos outros homens.

 

A razão, por mais que grite, não pode negar que a imaginação estabeleceu no homem uma segunda natureza.

 

É o Coração que sente Deus, não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível ao Coração.

 

Quanto mais conheço as pessoas, mais gosto do meu cão.

 

É uma doença natural no homem acreditar que possui a verdade.

 

Todos os homens buscam a felicidade. E não há exceção. Independentemente dos diversos meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a se lançar à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora revestido de visões diferentes.

 

Dois excessos: excluir a razão; não admitir nada além da razão.

 

Corremos alegres para o precipício, quando pomos pela frente algo que nos impeça de o ver.

 

Apenas com a força de falar de amor poderemos chegar a nos apaixonar.

 

Há três meios de crer: a razão, o hábito e a inspiração.

 

É indispensável conhecermo-nos a nós próprios; mesmo se isto não bastasse para encontrarmos a verdade, seria útil, ao menos, para regularmos a vida, e nada há de mais justo.1

 

Nem a contradição é sinal de falsidade nem a falta de contradição é sinal de verdade.

 

O último esforço da razão é reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a ultrapassam.

 

A grandeza de um homem está em saber reconhecer sua própria limitação.

 

Porque será que um coxo não nos irrita, e um espírito coxo nos irrita? Porque um coxo reconhece que andamos direito, enquanto um espírito coxo diz que somos nós que coxeamos; se assim não fosse, teríamos pena e não raiva. Epicteto perguntou com muito mais força: «Porque não nos zangamos se se diz que nos dói a cabeça, e nos zangamos se se diz que raciocinamos mal ou que escolhemos mal?». O que origina isto é o estarmos certos de que não nos dói a cabeça e de que não somos coxos; mas não estamos assim tão seguros de que escolhemos a verdade. De maneira que, não estando certos senão porque o vemos com os nossos olhos, quando outro vê com os seus olhos o contrário, pomo-nos em suspenso e espantamo-nos, e ainda mais quando mil outros se riem da nossa escolha; pois é preciso preferir as nossas luzes às de tantos outros, o que é temerário e difícil. Nunca há esta contradição no que concerne a um coxo.

 

A própria moda e os países determinam aquilo a que se chama beleza.

 

A imaginação tem todos os poderes: ela faz a beleza, a justiça e a felicidade, que são os maiores poderes do mundo.

 

Uma indiferença pacífica é a mais sábia das virtudes.

 

Quando não se ama demasiado não se ama o suficiente.

 

Se a nossa condição fosse sermos felizes, não precisaríamos de lutar para sê-lo.

 

Os olhos são os intérpretes do Coração, mas só os interessados entendem esta linguagem.

 

Pluralidade que não se reduz à unidade é confusão; unidade que não depende de pluralidade é tirania.

 

É justo que o que é justo seja seguido, e é necessário que o que é mais forte seja seguido. A justiça sem a força é impotente; a força sem a justiça é tirânica. A justiça sem a força é contestada porque há sempre maus; a força sem a justiça é acusada. É preciso portanto pôr em conjunto a justiça e a força, e, por isto, fazer com que o que é justo seja forte, e o que é forte seja justo. A justiça está sujeita à disputa; a força é muito reconhecível e sem disputa. Assim, não se pode dar a força à justiça, porque a força contradisse a justiça e disse que era injusta, e disse que era ela que era justa. Desta forma, não podendo fazer com que o que é justo fosse forte, fez-se com que o que é forte fosse justo.

 

Normalmente, convencem-nos com mais facilidade as razões que nós próprios encontramos do que as que vieram do espírito dos outros.

 

Oh!, covardia mole e tímida que não deixa nem ver nem seguir a verdade!

 

O homem é apenas um caniço – o mais fraco da Natureza; mas é um caniço pensante. Não é preciso que o Universo inteiro se arme para o aniquilar: um vapor ou uma gota de água bastam para o matar. Mas, se o Universo o aniquilasse, o homem seria ainda mais nobre do que o Universo que o mata, porque sabe que morre; o Universo não sabe nada disso. Toda a nossa dignidade consiste, portanto, no pensamento. Esforcemo-nos, pois, por pensar bem: eis o princípio da moral.

 

Se o nariz de Cleópatra tivesse sido um pouco menor, toda a face da Terra teria mudado.

 

O povo julga bem as coisas porque está na ignorância natural, que é o verdadeiro lugar do homem. A ciência tem duas extremidades que se tocam. A primeira é a pura ignorância natural, na qual se encontram todos os homens ao nascer. A outra extremidade é aquela a que chegam as grandes almas que, tendo percorrido tudo quanto os homens podem saber, acham que nada sabem e voltam a se encontrar nessa mesma ignorância da qual tinham partido; mas é uma ignorância sábia que se conhece. Os do meio – que saíram desta ignorância natural e não puderam chegar à outra têm umas pinceladas desta ciência suficiente, e se armam em entendidos. Estes perturbam o mundo e julgam mal de tudo. O povo e os verdadeiramente sábios compõem a ordem do mundo; estes desprezam-na e são desprezados.

 

As alegrias passageiras encobrem os males eternos que elas próprias causam.

 

Tudo o que é incompreensível nem por isso deixa de existir.

 

Não nos contentamos com a vida que temos em nós e no nosso próprio ser: queremos viver na idéia dos outros uma vida imaginária, e, para isto, esforçamo-nos por manter as aparências. Trabalhamos incessantemente para embelezar e conservar o nosso ser imaginário, e descuramos o verdadeiro. E, se temos tranqüilidade, generosidade ou a felicidade, apressamo-nos a apregoá-lo, a fim de atribuir estas virtudes ao nosso outro ser, e, se fosse preciso, estaríamos prontos a nos despojar delas para as juntar ao outro; de bom grado seríamos covardes para adquirirmos a reputação de valentes. Grande sinal do nada que somos, não nos contentarmos de uma coisa sem a outra, e trocarmos muitas vezes uma pela outra! Pois quem não morresse para conservar a sua honra seria infame.

 

Quando estamos com boa saúde, admiramo-nos de como seria possível estarmos doentes; quando isto acontece, medicamo-nos alegremente.

 

O pensamento é a grandeza do homem.

 

Depois de ter encontrado a causa de todos os nossos males, quis descobrir a razão desta. Achei que há uma bem efetiva, que consiste na natural infelicidade da nossa condição frágil e mortal, e tão miserável que nada nos pode consolar quando nela pensamos a fundo.

 

Quando se é demasiado jovem, não se julga bem; quando se é demasiado velho, o mesmo. Se não se pensa nisso o suficiente, se se pensa demais, teimamos e nos encasquetamos. Se se considera a própria obra logo depois de se ter feito, está-se ainda muito preso à ela, se muito tempo depois, não se entra mais nela. Assim são os quadros vistos de longe demais e de perto demais. Mas há apenas um ponto indivisível que marca o verdadeiro lugar: os outros estão demasiado perto, demasiado longe, demasiado alto, demasiado baixo. Mas, na verdade e na moral, quem marcará o ponto?

 

A arte de persuadir consiste tanto no de agradar como no de convencer, já que os homens se governam mais pelo capricho do que pela razão.

 

Nunca amamos as pessoas. O que amamos são as suas qualidades.

 

Tudo é grande na alma grande.

 

É perigoso mostrar ao homem até que ponto se assemelha aos animais sem lhe mostrar a sua grandeza. Também é perigoso mostrar-lhe muito a grandeza sem a baixeza. É ainda mais perigoso deixá-lo ignorar uma e outra. Mas é muito vantajoso representar-lhe as duas. O homem não é anjo nem besta, e, por desgraça, quem quer ser anjo acaba por ser besta. Se se exalta, humilho-o; se ele se humilha, exalto-o: e contradigo-o sempre, até que ele compreenda que é um monstro incompreensível. Condeno igualmente os que tomam o partido de louvar o homem, e os que tomam de o condenar, e os que tomam o de se divertir; e não posso aprovar senão aqueles que buscam gemendo.

 

De que serve ao homem ganhar o mundo se perde sua alma?

 

É, sem dúvida, um mal estar cheio de defeitos; mas é ainda um mal maior estar cheio deles e não querer reconhecer, porque é adicionar ainda uma ilusão voluntária.

 

O homem tem ilusões como o pássaro tem asas. É isto que o sustenta.

 

 

 

 

Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar; ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender.

 

Benefícios demais irritam: queremos ter com que pagar as nossas dívidas.

 

Nossa imaginação engrandece tanto o nosso tempo presente, que fazemos da eternidade um nada, e do nada uma eternidade.

 

A meditação é um luxo; a ação é necessária.

 

O cosmos pode ser infinitamente maior do que o homem, mas um único ato de amor vale mais do que toda a massa do Universo.

 

A consciência é o melhor livro de moral que temos; e é, certamente, o que mais devemos consultar.

 

A moral é a ciência por excelência; é a arte de viver bem e de ser ditoso.

 

Todas as aflições humanas decorrem da incapacidade de nos sentarmos sozinhos e em silêncio em um aposento.

 

Todas as máximas já foram escritas. Resta apenas pô-las em prática.

 

A última coisa que se nos depara ao fazermos uma obra é saber aquilo que se deve pôr em primeiro lugar.

 

É tão grande a força do costume que, daqueles que a Natureza fez apenas homens, se fazem todas as condições dos homens; pois há regiões onde são todos pedreiros, noutras todos soldados etc. Certamente que a Natureza não é tão uniforme. É, portanto, o costume que faz isto, porque constrange a Natureza. Entretanto, algumas vezes, a Natureza supera-o, e conserva o homem no seu instinto, apesar do costume, bom ou mau.

 

Temos em nós uma parte de sombra; carregamos a fera conosco.

 

A opinião é a rainha do mundo.

 

O prazer dos grandes homens consiste em tornar os outros mais felizes.

 

A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta.

 

Não estarias à minha procura se já me tivesses encontrado.

 

Pesemos o lucro e a perda tomando por coroa2 que Deus existe. Avaliemos estes dois casos: se vencerdes, ganhais tudo; se perderdes, não perdeis nada. Apostai, portanto, sem hesitar, que Ele existe.

 

Nada há de bom nesta vida salvo a esperança de uma outra vida.3

 

Apenas acredito nas histórias cujas testemunhas estivessem dispostas a se deixarem degolar.

 

A grandeza do homem está em ele se reconhecer como miserável. Uma árvore não se dá conta da sua miséria.

 

É falso que sejamos dignos de que os outros nos amem. E é injusto que o queiramos.

 

Não há nada de justo ou de injusto que não mude de qualidade ao mudar de clima.

 

Agrada-nos repousar em sociedade com os nossos semelhantes: miseráveis como nós, impotentes como nós, eles não nos ajudarão; morreremos sozinhos.

 

O silêncio é o maior dos martírios; nunca os santos se calaram.4

 

Uma vez que não podemos ser universais e saber tudo quanto se pode saber acerca de tudo, é preciso saber-se um pouco de tudo, pois é muito melhor saber-se alguma coisa de tudo do que saber-se tudo apenas de uma coisa.5

 

A razão manda em nós muito mais imperiosamente do que um senhor. É que, desobedecendo a um, é-se infeliz, desobedecendo a outro, é-se tolo.

 

Todas as ocupações dos homens tendem à posse de alguma coisa; e eles não têm nem título para a possuir justamente nem força para a possuir com segurança.

 

Aquele que, sem autoridade, mata um criminoso, torna-se tão criminoso como este.6

 

As paixões, quando mandam em nós, são vícios.

 

Os que possuem espírito de discernimento sabem quanta diferença pode mediar entre duas palavras parecidas, segundo os lugares e as circunstâncias que as acompanhem.

 

Os melhores livros são aqueles que quem os lêem crêem que também os poderiam ter escrito.

 

É miserável saber-se miserável; mas é ser grande reconhecer que se é miserável.

 

A última coisa que alguém sabe é por onde começar.

 

Fazer troça da Filosofia, é, na verdade, filosofar.

 

Quando descobrimos um estilo natural, ficamos espantados e satisfeitos, pois esperávamos um autor e encontramos um ser humano.

 

Somos tão presunçosos que desejaríamos ser conhecidos em todo o mundo... E tão vaidosos que a estima de cinco ou seis pessoas que nos rodeiam nos alegra e nos satisfaz.

 

Por mais riquezas que o homem possua e por melhores que sejam a saúde e as comodidades que desfrute, não se sente satisfeito se não conta com a estima dos demais.

 

A maioria dos males acontece aos homens por não ficarem em casa.

 

Eis a condição do homem: inconstância, tédio e inquietação.7

 

Eis a descrição do homem: dependência, desejo de independência, necessidade.

 

O temor saudável provém da fé. O temor errôneo provem da dúvida.8

 

Os incrédulos são os mais crédulos. Crêem nos milagres de Vespasiano para não crer nos de Moisés.

 

A razão faz com lentidão, com tantas miras, sobre tantos princípios, que a cada momento adormece ou se extravia. A paixão faz em um instante.

 

 

 

 

O eterno silêncio desses espaços infinitos me espanta.9

 

Deus fez o homem à sua semelhança, e o homem em retribuição, fez Deus à sua imagem.

 

Toda religião que não afirme que Deus está oculto, não é verdadeira.10

 

Nas religiões, precisamos ser sinceros: verdadeiros pagões, verdadeiros judeus, verdadeiros cristãos.

 

Nossa natureza está em movimento. O repouso absoluto é a morte.11

 

O que é o homem dentro da Natureza? Nada com respeito ao infinito. Tudo com respeito ao nada. Um intermédio entra o nada e o tudo.

 

A última cena é sempre trágica, pouco importando quão felizes tenham sido as outras: um pouco de terra é jogada por cima de nossa cabeça e é o fim para todo o sempre.12

 

É justo que Deus, tão puro, se revele apenas aos que purificaram o seu Coração.

 

Só há duas classes de pessoas coerentes: as que gozam de Deus porque acreditam Nele, e as que sofrem porque não O possuem.

 

Só conheço dois tipos de pessoas razoáveis: as que amam a Deus de todo Coração porque lhe conhecem, e as que O procuram de todo Coração porque não O conhecem.

 

A Natureza tem perfeições para demonstrar que é a imagem de Deus, e imperfeições para provar que só é uma imagem.

 

O que mais me admira ver é como ninguém se admira com a sua fraqueza. Age-se de maneira séria, e cada um segue a sua condição, não porque é bom segui-la, mas porque é moda, como se cada um soubesse de maneira certa onde é que está a razão e a justiça. Encontramo-nos enganados constantemente. E, por uma humildade divertida, julgamos que é por nossa culpa, e não da arte que nos gabamos sempre de ter. Mas é bom que haja tantas pessoas assim no mundo, que não sejam pirrônicas, para glória do Pirronismo,13 para mostrar que o homem é bem capaz das mais extravagantes opiniões, visto que é capaz de crer que não está nesta fraqueza natural e inevitável, e crer que está, pelo contrário, na sabedoria natural. Nada fortifica mais o Pirronismo do que o fato de haver quem não seja nada pirrônico: se todos o fossem, eles não teriam razão.

 

A natureza do amor-próprio e deste eu humano é de só se amar a si e de só se considerar a si. Mas, que se há de fazer? Não saberia impedir que este objeto que ama esteja cheio de defeitos e de misérias: quer ser grande e se vê pequeno; quer ser feliz e se vê miserável; quer ser perfeito e se vê cheio de imperfeições; quer ser objeto do amor e da estima dos homens e vê que os seus defeitos só merecem a sua aversão e o seu desprezo. Este embaraço em que se encontra produz nele a mais injusta e a mais criminosa paixão que é possível imaginar, porque concebe um ódio mortal contra esta verdade que o repreende e que o convence dos seus defeitos. Ele desejaria aniquilá-la, e não a podendo destruir em si mesma, destrói-a, tanto quanto pode, no seu conhecimento e no dos outros, isto é, põe todos os cuidados em encobrir os seus defeitos, aos outros e a si mesmo, e não suporta que lhos façam ver, nem que lhos vejam. É, sem dúvida, um mal estar cheio de defeitos; mas é ainda um mal muito maior estar cheio e não os querer reconhecer, visto que é lhe acrescentar, ainda, uma ilusão voluntária. Não queremos que os outros nos enganem; não achamos justo que queiram ser mais estimados por nós do que o que merecem: não é, portanto, justo também que os enganemos e queiramos que nos estimem mais do que merecemos. Assim, quando só descobrem imperfeições e vícios que nós, com efeito, temos, é visível que não nos prejudicam, visto que não são eles a causa destas imperfeições, e que nos fazem um benefício, por nos ajudarem a nos libertar de um mal – que é a ignorância das imperfeições. Não nos devemos zangar porque as conheçam e porque nos menosprezem: sendo justo que nos conheçam pelo que somos, e que nos desprezem se somos desprezíveis. Eis os sentimentos que nasceriam de um Coração cheio de retidão e de justiça. O que devemos, portanto, dizer do nosso, quando nele encontrarmos uma disposição completamente contrária? Pois, não será verdade que odiamos a verdade e aqueles que a dizem para nós, e que gostamos que se enganem com vantagem para nós, e que queremos ser estimados por eles por sermos diferentes daquilo que, com efeito, somos? A vida humana é apenas uma ilusão perpétua; o que fazemos é nos enganar e nos iludir mutuamente. Ninguém fala de nós na nossa presença como na nossa ausência. A união que existe entre os homens é fundada sobre este mútuo embuste; e poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse o que o seu amigo diz dele quando não está presente, ainda que ele fale sinceramente e sem paixão. O homem é apenas disfarce, engano e hipocrisia em si mesmo e para com os outros. Não quer que lhe digam a verdade e evita dizê-la aos outros; e todas estas disposições tão afastadas da justiça e da razão têm uma raiz natural no seu Coração.

 

Só o combate nos apraz, mas não a vitória.14 Gostamos de ver os combates de animais, não o vencedor a se encarniçar sobre o vencido; que desejamos ver, senão o fim da vitória? E logo que ela é alcançada, ficamos saciados. Assim, no jogo, assim na busca da verdade. Gostamos de ver, nas disputas, a luta de opiniões; mas não de contemplar a verdade encontrada: para a saudarmos gostosamente temos de vê-la nascer da disputa. Do mesmo modo, nas paixões, o que dá prazer é assistir ao combate de duas contrárias; mas, quando uma delas domina, tudo se reduz à brutalidade. Nunca buscamos as coisas, mas, sim, a busca das coisas.

 

Ao ver a cegueira e a miséria do homem, ao contemplar todo o Universo mudo e o homem sem Luz, abandonado a si mesmo e como que perdido nesse recanto do Universo, sem saber quem o depôs ali, o que aí veio fazer, o que será dele ao morrer, incapaz de qualquer conhecimento, sinto-me aterrorizado como um homem que tivessem levado adormecido para uma ilha deserta e aterrorizante, e que despertasse sem saber onde está e sem condições de sair dali.

 

Por mais que ampliemos as nossas concepções e as projetemos além do espaço[-tempo] inimaginável, concebemos tão-somente átomos em comparação com a realidade das coisas.

 

 

 

 

O que pode a virtude de um homem não deve se medir nos momentos de esforço, mas na vida de todos os dias. Não admiro o excesso de uma virtude, como a coragem, se ela não vier, ao mesmo tempo, acompanhada do excesso da virtude oposta, como em Epaminondas,15 que tinha a extrema coragem e a extrema benignidade. Pois, de outro modo, não é subir; é cair. A grandeza não consiste em estar em um extremo, mas em tocar os dois ao mesmo tempo, e em preencher todo o espaço intermédio. Mas, talvez, ela seja apenas um súbito movimento de alma de um extremo ao outro, e, talvez, nunca esteja em mais do que um ponto, como o tição de fogo? Mas, isto indica a agilidade da alma, ou, pelo menos, a sua extensão.


 

 

 

 

Zil
(Não posso deixar
de dar o meu pitaquinho)

 

 

Todos os anexins

já foram [d]escritos.

Zil Nãos e zil Sins

já foram prescritos.

 

Tudo já foi ensinado

e zil vezes repetido.

Ora, viver amoucado?

Um fado sem sentido?

 

Em deslumbramentos,

viajamos a só cobiçar.

Zil atormentamentos!

 

Mas, te[re]mos que ser.

Adianta o quê protrair?

Dormir e roncar é perder;

é hoje, já agora, o Devir!

 

O Devir não está no devir;

está em nosso Coração.

Ouvir... Sentir... Decidir...

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o Universo. [Inscrição no Oráculo de Delfos atribuída aos Sete Sábios (c. 650 aC. – 550 aC.)]. O Oráculo de Delfos influenciou significativamente a colonização grega das costas do sul da Itália e da Sicília. Chegou a ser o centro religioso do mundo helênico. Situado em Delfos, o Oráculo de Delfos era dedicado principalmente a Apolo e centrado em um grande templo, ao qual vinham os antigos gregos para apresentar questões aos deuses. Situado na Grécia, no que foi a antiga cidade chamada Delfos (que hoje já não existe), no sopé do monte Parnaso, nas encostas das montanhas da Fócida, a 700 m sobre o nível do mar e a 9,5 km de distância do Golfo de Corinto.

2. No jogo de cara ou coroa.

3. Sob nenhum aspecto e sob qualquer alegação, eu posso concordar com isto. Por hipótese, só para criar uma celeuma, e se, depois desta, não houver outra vida? Essa coisa besta de considerar esta vida uma bosta e de viver na esperança fideísta de que haja uma vida melhor do lado de lá é paranóia de papa-hóstias e de alimárias (que, neste particular, não era o caso de Pascal) que exageram nas suas convicções interiores e nas suas demonstrações exteriores de suas crenças religiosas sem fundamento em argumentos categóricos e racionais. Isto é simplesmente um cinzento fudelhufas de cagahouse! A vida é necessária, e transformá-la ou considerá-la um circo dos horrores é, no mínimo, uma boçalidade buçal. O pior de tudo é chegar do lado de lá, se houver outra vida, esperando ficar boiando e cantando nas nuvens, e constatar que a coisa não é bem assim. Como é fácil de se notar, este pensamento de Pascal me irritou um poucochinho.

4. Isto está em franca contradição com esta afirmação do próprio Pascal, citada anteriormente: Todas as aflições humanas decorrem da incapacidade de nos sentarmos sozinhos e em silêncio em um aposento.

5. Isto me fez lembrar o rumo que tomou a Medicina contemporânea. Um especialista em calo (aumento da porção queratinizada da epiderme) pouco entende de verruga (hipertrofia das papilas). E, na maioria das vezes, para confirmar se é calo ou se é verruga, o médico manda o paciente fazer trocentos exames de laboratório. Se os exames de laboratório não o convencerem a dar um diagnóstico, em acréscimo, pede uma tomografia computadorizada do calo ou da verruga, que é um exame complementar de diagnóstico por imagem, que consiste em uma imagem que representa uma seção ou fatia do corpo. Haja plano de saúde para bancar isto!

6. E, desde quando, Senhor Pascal, a alguém foi dada autoridade para matar alguém? Eu não disse isto ao Senhor, mas direi agora: todo assassino é um suicida, e todo suicida é um assassino.

7. Em um certo sentido, isto está correto. Todavia, este estado de ignorância – inconstância, tédio e inquietação – geralmente consentido, pode ser mudado pela compreensão. E só a compreensão liberta.

8. Eu, como sou um homem sem fé, não entendi isto. Ora, para que serve a fé? Não é exatamente para certificar e abolir o temor? Deus me livre se eu fosse um fideísta temeroso. Enfim, acho que a coisa toda está em desprezar a razão e preconizar a superioridade da fé. Mas, fé em quê? Em quem?

9. Os espaços infinitos não são tã silenciosos assim: há um Verbum que fala ininterruptamente!

10. Deus est absconditus. In corde nostro!

11. No Universo, não há repouso absoluto; nem no próprio repouso, nem na morte, nem no prâlâya.

12. É difícil entender certas incongruências, até porque incongruência não é para ser entendida mesmo. Enfim, como é possível que uma pessoa, como o Senhor Pascal, fale de Deus, fale de esperança em uma outra vida et cetera e tal, e, de repente, me saia com essa de que a última cena é sempre trágica, pouco importa quão felizes tenham sido as outras: um pouco de terra é jogada por cima de nossa cabeça e é o fim para todo o sempre? Que sempre? Fim de quê? Última cena? Bem, eu só posso creditar estes exageros mórbido-catastrofistas na conta da pouca idade de Pascal ao refletir sobre estes temas. Teologia pode ser estudada em qualquer tempo, com qualquer idade; mas Filosofia não. São necessárias algumas décadas de vida para que alguém possa se aventurar na Senda Filosófica com algum concerto, e, mesmo assim, alguma bagagem pretérita é requerida. Todavia, o pior é quando se mistura Teologia mal-azada com Filosofia malcozinhada, isto é, desrazão com pseudo-razão; o stupidus filius disto só pode ser – e sempre será – um furta-cor pseudológico e fœtidus cagalogikos fudesophicus. Se, porventura, o cagalogikos fudesophicus tiver um irmão formado a partir de um único zigoto original, este gêmeo univitelino será um putridus fudelogikos cagasophicus. Sem pontuação, proponho: ligue agora sua televisão para confirmar isto pelas falações de diversos falantes de múltiplas religiões que se apresentam em vários canais em sortidas horas do dia e da noite sai dia entra dia sai noite entra noite sai ano entra ano sai século entra século. É de encrespar os já encrespados crepúsculos!

13. O Pirronismo, também conhecido como Ceticismo Pirrônico, foi uma tradição da corrente filosófica do Ceticismo fundada por Enesidemo de Cnossos no século I d.C., e registrada por Sexto Empírico no século III. Toma o seu nome do filósofo grego Pirro de Élis (c. 360 a.C. – c. 270 a.C.), embora a relação entre a filosofia da escola e essa figura histórica seja pouco clara. O Pirronismo tornou-se influente há alguns séculos, desde o surgimento da moderna visão científica do mundo. Os céticos pirrônicos negam assentimento a proposições não imediatamente evidentes e permanecem em um estado de inquirição permanente. Por exemplo, os pirrônicos afirmam que uma falta de provas não constitui prova do oposto, e que essa falta de crença é profundamente diferente de uma descrença ativa. Assim, ao invés de descrer em Deus, poderes psíquicos etc., baseados na falta de evidências de tais coisas, os pirrônicos reconhecem que não podemos estar certos de que evidências novas não possam aparecer no futuro, de modo que eles se mantêm abertos em sua pesquisa. Também questionam o saber estabelecido, e vêem o dogmatismo como uma doença da mente.

14. Isto também é mais ou menos assim com quem é viciado em (qualquer) jogo: baralho, cassino, bingo, sinuca, porrinha, par ou ímpar, cara ou coroa etc. Ganhar não importa; importa jogar. E importa jogar por quê? Simplesmente para poder comentar, lero-lerar e se lastimar de ter perdido. Catarse-papo-furado que não transmuta nada, que não acrisola nada, que não liberta de nada. É como disse Pascal: Nunca buscamos as coisas, mas, sim, a busca das coisas. Geralmente é assim!

 

 

 

 

15. Epaminondas (c. 418 a.C. – 362 a.C.) foi um general e político grego do século IV a.C., tendo sido o responsável pela condução de mudanças na cidade-estado de Tebas, transformando-a na nova potência hegemônica da Grécia, substituindo Esparta. Epaminondas redesenhou o mapa político da Grécia, fragmentou antigas alianças, criou novas e supervisionou a construção de cidades inteiras. Também teve grande influência militar, desenvolvendo e implementando diversas e muito importantes táticas de batalha. Antes de seu mandato, Tebas se encontrava sob domínio espartano. Epaminondas conseguiu melhorar a capacidade militar de Tebas, a fim de situá-la em uma posição proeminente no quadro geopolítico do mundo helênico, criando o que se conheceria mais tarde como a hegemonia tebana. No processo, acabou com a supremacia militar espartana na Batalha de Leuctra e libertou os hilotas de Messênia, um grupo de gregos do Peloponeso que tinham sido reduzidos à servidão sob as ordens de Esparta durante cerca de 200 anos. O orador romano Marcus Tullius Cicero (Arpino, 3 de janeiro de 106 a.C. – Formia, 7 de dezembro de 43 a.C.) o chamou de o primeiro homem da Grécia, mesmo tendo Epaminondas caído em uma relativa obscuridade nos tempos modernos. As mudanças que Epaminondas levou à ordem política grega não sobreviveram por muito tempo, dado que o ciclo de hegemonias e alianças ainda não havia se estabilizado. Tão-somente vinte e sete anos depois de sua morte, Tebas foi destruída por Alexandre III da Macedônia, dito o Grande ou Magno (20 de julho de 356 a.C. – 10 de junho de 323 a.C.). Por tudo isso, Epaminondas não é lembrado tanto como um idealista e libertador (como foi visto em seu tempo) senão por uma década de campanhas (desde 371 a 362 a.C.) que deram forma e força aos grandes poderes da Grécia, e que pavimentou o caminho para a posterior conquista da Macedônia.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Tri%C3%A2ngulo

http://www.salvageendeavor.com/
informat.html

http://poundingheartbeat.com/2010/10/28/
blaise-pascal-quotes-about-life/

http://www.espacoacademico.com.br/
006/06joao.htm

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Jansenismo

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Blaise_Pascal

http://pensador.uol.com.br/
autor/Blaise_Pascal/biografia/

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Epaminondas

http://santeewelding.com/

http://www.citador.pt/pensar.php?
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Pirronismo

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frases-autor-b2-blaisepascal.html

http://frases.netsaber.com.br/busca_up.
php?l=&buscapor=Blaise%20Pascal

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halo3ruler/animations.htm

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http://www.frasesfamosas.com.br/
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de/blaise-pascal/pag/7.html

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de/blaise-pascal/pag/6.html

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http://pt.wikiquote.org/
wiki/Blaise_Pascal

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Or%C3%A1culo_de_Delfos

 

Música de fundo:

Aos Pés da Cruz
Composição: Marino Pinto e José Gonçalves
Interpretação: Orlando Silva

Fonte:

http://www.paixaoeromance.com/40decada/
aos_pes_da_cruz/h_aos_pes_da_cruz.htm