Nunca
nos detemos no momento presente. Antecipamos o futuro que nos tarda, como
para lhe apressar o curso ou evocamos o passado que nos foge, como para
o deter: tão imprudentes, que andamos errando nos tempos que não
são nossos, e não pensamos no único que nos pertence,
e tão vãos, que pensamos naqueles que não são
nada, e deixamos escapar sem reflexão o único que subsiste.
É que o presente, em geral, fere-nos. Nós o escondemos à
nossa vista porque nos aflige; e se nos é agradável, lamentamos
vê-lo fugir. Tentamos segurá-lo pelo futuro, e pensamos em
dispor as coisas que não estão na nossa mão, para um
tempo a que não temos garantia alguma de chegar. Se você examinar
cada um dos seus pensamentos, haverá de os encontrar todos ocupados
no passado ou no futuro. Quase não pensamos no presente; e, se pensamos,
é apenas para, à luz dele, dispormos o futuro. Nunca o presente
é o nosso fim: o passado e o presente são meios, o fim é
o futuro. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos sempre
para ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos.
A
Natureza detesta o vazio.
Uma
gota de amor é mais que um oceano de intelecto.
Bom falador, mau caráter.
É muito difícil propor
um problema ao entendimento alheio sem corromper esse entendimento pela
maneira de propor! Se dizemos: acho isto belo, acho obscuro ou outra coisa
semelhante, arrastamos a imaginação para este juízo
ou a irritamos, levando-a ao juízo contrário. Mais vale nada
dizer. E, então, o outro julgará segundo o que é ou
segundo o que é naquele momento, e de acordo com o que as outras
circunstâncias, de que não somos responsáveis, lá
tiverem posto. Mas, pelo menos, nós não pusemos nada; a não
ser que o nosso silêncio tenha também o seu efeito, segundo
o sentido e a interpretação que ele estiver disposto a lhe
atribuir, ou segundo o que depreende dos movimentos e da expressão
do rosto ou do tom de voz, conforme for melhor ou pior fisionomista. Tão
difícil é não deslocar um entendimento da sua base
natural ou, antes, tão pouco um entendimento tem de firme e estável!
A
desgraça descobre à alma luzes que a prosperidade não
chega a perceber.
Aquele
que duvida e não pesquisa se torna não só infeliz,
mas, também, injusto.
Estamos
cheios de coisas que nos empurram para fora. O nosso instinto faz-nos sentir
que é preciso procurar a nossa felicidade fora de nós. As
nossas paixões levam-nos para fora, mesmo quando os objetos se não
oferecessem para as excitar. Os objetos de fora tentam-nos por si próprios
e chamam-nos, ainda quando não pensamos neles. E assim, mesmo que
os filósofos digam «recolhei-vos em vós mesmos; aí
encontrareis o vosso bem», não se acredita neles...
Fiz
esta carta mais longa do que o usual porque não tenho tempo para
fazer uma mais curta.
Pode
haver algo mais ridículo do que a pretensão de um homem me
matar porque habita o outro lado do rio, e seu príncipe tem uma diferença
com o meu, ainda que eu não tenha qualquer diferença
com ele?
Tudo
o que sei é que devo morrer em breve; mas o que mais ignoro é
essa mesma morte, que não saberei evitar.
Eloqüência
positiva é aquela que persuade com doçura, não com
violência, ou seja, como um rei, não como um tirano.
Se sonhássemos todas as noites
a mesma coisa, ela nos afetaria tanto quanto os objetos que vemos todos
os dias. E, se um artista estivesse seguro de sonhar todas as noites, durante
doze horas, que é um rei, creio que seria quase tão feliz
como um rei que sonhasse todas as noites, durante doze horas, que é
um artista. Se sonhássemos todas as noites que somos perseguidos
por inimigos e agitados por esses fantasmas penosos, e se passássemos
todos os dias em diversas ocupações, como quando se faz uma
viagem, sofreríamos quase tanto como se isso fosse verdadeiro, e
apreenderíamos o dormir como se apreende o despertar quando se teme
entrar em semelhantes desgraças realmente. E, com efeito, isto faria
pouco mais ou menos o mesmo mal que a realidade. Mas, porque os sonhos são
todos diferentes, e porque mesmo um se diversifica, o que se vê neles
afeta bem menos que o que se vê acordado, por causa da continuidade,
que não é, contudo, tão contínua e igual que
não mude também, mas menos bruscamente, a não ser raramente,
como quando se viaja. E, então, diríamos: «Parece-me
que sonho». Pois, a vida é um sonho um pouco menos inconstante.
Quem
se sente desgraçado por não ser rei, senão um rei destronado?
Deixemos
um rei sozinho, sem nenhuma satisfação dos sentidos, sem nenhuma
preocupação do espírito, sem companhia, a pensar apenas
em si mesmo, e ver-se-á que um rei sem divertimentos é um
homem muito desgraçado.
O rei está rodeado de pessoas
que não pensam senão em o divertir e em impedir que pense
em si mesmo. Porque, por mais rei que seja, se pensa nisso, é
desgraçado.
Não
nos sustentamos na virtude pela nossa própria força, mas pelo
contrapeso de dois vícios opostos, como ficamos de pé em dois
ventos contrários; tirai um desses vícios e cairemos no outro.
A
maior fraqueza do homem é poder tão pouco por aqueles que
ama.
O mundo está cheio de boas
citações; só falta aplicá-las.
Quando lemos demasiado depressa ou
demasiado devagar, não entendemos nada.
Dizem
que o hábito é uma segunda natureza. Quem sabe, pergunto,
se a natureza não é primeiro um hábito.
Sabei que o Homem supera infinitamente
o homem.
Para quem não anseia senão
ver há luz bastante; mais para quem tem oposta disposição,
sempre há bastante escuridão.
Não
é bom ter tudo o que se quer.
Quando
se quer levar a virtude até seus extremos, de um lado e de outro,
surgem vícios que nela se insinuam insensivelmente, em suas rotas
insensíveis, do lado pequeno do infinito; e multidões de vícios
se apresentam do lado grande do infinito, de modo que nos perdemos nos vícios
e não vemos mais a virtude. Caímos na armadilha da própria
perfeição.
Pessoas
comuns não vêem diferenças entre os homens.
Quando
considero a duração mínima da minha vida, absorvida
pela eternidade precedente e pela
eternidade seguinte, o
espaço diminuto que ocupo, e mesmo o que vejo, abismado na infinita
imensidade dos espaços que ignoro e me ignoram, assusto-me e assombro-me
de me ver aqui e não lá. Quem me pôs aqui? Por ordem
de quem me foram destinados este lugar e este espaço?
Duas
coisas instruem o homem, qualquer que seja a sua natureza: o instinto e
a experiência.
Um
verdadeiro amigo é uma coisa tão vantajosa, mesmo para os
maiores senhores, para dizer bem deles e os defender mesmo na sua ausência,
que devem fazer tudo para os ter. Mas que escolham bem, pois, se fizerem
todos os seus esforços por estúpidos, isto
lhes será inútil, por muito bem que
digam deles; e mesmo não dirão bem se se sentirem mais fracos,
pois não terão autoridade. E, assim, dirão também
mal por companhia.
O
amor é cego; a amizade fecha os olhos.
Há
duas espécies de homens: os justos, que se julgam pecadores e os
pecadores que se crêem justos.
A
verdadeira moral zomba da moral.
A
verdadeira moral não se preocupa com a moral: quer isto dizer que
a moral do juízo não se importa nada com a moral do espírito
– que não tem regras.
Quando a paixão nos domina,
esquecemos o dever.
Em
matéria de amor, silenciar vale mais do que falar.
O afeto ou o ódio mudam a
face da justiça.
A regra das nossas ações
deve ser sempre a probidade.
A
falsa humildade é puro orgulho.
O
homem é um ponto entre duas extremidades.
Quanto
mais inteligente um homem é mais originalidade encontra nos outros.
Os medíocres acham toda a gente igual.
A
única coisa que nos consola das nossas misérias é o
divertimento, e, contudo, é a maior das nossas misérias. O
divertimento
nos impede principalmente de pensar em nós,
e nos faz perder insensivelmente. Sem o
divertimento estaríamos no tédio, e este tédio
nos levaria a procurar um meio mais sólido de sair dele. Mas o divertimento
nos distrai e nos faz chegar insensivelmente à morte.
Visivelmente,
o homem é
feito para pensar. Aí
reside toda a sua dignidade e todo o seu mérito. Todo o seu dever
é pensar com acerto, e a ordem do seu pensamento é começar
por si, pelo seu autor e pelo seu fim. Ora, em que pensa o mundo? Nunca
nestas coisas; mas em dançar, em tocar alaúde, em cantar,
em fazer versos, em jogar o anel., em combater, em chegar a ser rei, sem
pensar no que é ser rei e no que é ser homem.
O
eu [inferior]
é odioso.
Desde
a infância,
os homens são sobrecarregados
com o cuidado da sua
honra, do seu bem, dos seus amigos e, ainda, com o bem e a honra dos seus
amigos. Fatigam-se de afazeres, de aprendizagem de línguas e exercícios,
e faz-se-lhes sentir que não poderão ser felizes sem que a
sua saúde, a sua honra, a sua fortuna e a dos seus amigos estejam
em bom estado, e que uma só coisa que faltasse os tornaria desgraçados.
Assim, dão-se-lhes cargos e negócios que os fazem afadigar-se
desde o amanhecer. Aí está, direis, uma estranha maneira de
os tornar felizes! Que poderia ser feito de melhor para os tornar desgraçados?
Como! O que se poderia fazer? Bastaria apenas lhes tirar todos estes cuidados;
pois, então, ver-se-iam a si mesmos, pensariam no que são,
de onde vêm e para onde irão; e, assim, não os podem
ocupar demais nem desviá-los. E é por isto que, depois de
lhes terem preparado tantos afazeres, se têm algum tempo de descanso,
os aconselham a empregá-lo a divertir-se, a jogar e a ocupar-se sempre
inteiramente. Como o Coração do homem é oco e cheio
de imundície!
O
tempo amortece as aflições e as desavenças porque mudamos
e quase nos tornamos outros homens.
A
razão, por mais que grite, não pode negar que a imaginação
estabeleceu no homem uma segunda natureza.
É
o Coração que sente Deus, não a razão. Eis o
que é a fé: Deus sensível ao Coração.
Quanto mais conheço as pessoas,
mais gosto do meu cão.
É
uma doença natural no homem acreditar que possui a verdade.
Todos os homens buscam a felicidade.
E não há exceção. Independentemente dos diversos
meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a se lançar
à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora
revestido de visões diferentes.
Dois
excessos: excluir a razão; não admitir nada além da
razão.
Corremos
alegres para o precipício, quando pomos pela frente algo que nos
impeça de o ver.
Apenas com a força de falar
de amor poderemos chegar a nos apaixonar.
Há
três meios de crer: a razão, o hábito e a inspiração.
É
indispensável conhecermo-nos a nós próprios; mesmo
se isto não bastasse para encontrarmos a verdade, seria útil,
ao menos, para regularmos a vida, e nada há de mais justo.1
Nem
a contradição é sinal de falsidade nem a falta de contradição
é sinal de verdade.
O
último esforço da razão é reconhecer que existe
uma infinidade de coisas que a ultrapassam.
A
grandeza de um homem está em saber reconhecer sua própria
limitação.
Porque
será que um coxo não nos irrita, e um espírito coxo
nos irrita? Porque um coxo reconhece que andamos direito, enquanto um espírito
coxo diz que somos nós que coxeamos; se assim não fosse, teríamos
pena e não raiva. Epicteto perguntou com muito mais força:
«Porque não nos zangamos se se diz que nos dói a cabeça,
e nos zangamos se se diz que raciocinamos mal ou que escolhemos mal?».
O que origina isto é o estarmos certos de que não nos dói
a cabeça e de que não somos coxos; mas não estamos
assim tão seguros de que escolhemos a verdade. De maneira que, não
estando certos senão porque o vemos com os nossos olhos, quando outro
vê com os seus olhos o contrário, pomo-nos em suspenso e espantamo-nos,
e ainda mais quando mil outros se riem da nossa escolha; pois é preciso
preferir as nossas luzes às de tantos outros, o que é temerário
e difícil. Nunca há esta contradição no que
concerne a um coxo.
A
própria moda e os países determinam aquilo a que se chama
beleza.
A
imaginação tem todos os poderes: ela faz a beleza, a justiça
e a felicidade, que são os maiores poderes do mundo.
Uma
indiferença pacífica é a mais sábia das virtudes.
Quando
não se ama demasiado não se ama o suficiente.
Se
a nossa condição fosse sermos felizes, não precisaríamos
de lutar para sê-lo.
Os
olhos são os intérpretes do Coração, mas só
os interessados entendem esta linguagem.
Pluralidade
que não se reduz à unidade é confusão; unidade
que não depende de pluralidade é tirania.
É
justo que o que é justo seja seguido, e é
necessário que o que é mais forte seja seguido. A justiça
sem a força é impotente; a força sem a justiça
é tirânica. A justiça sem a força é contestada
porque há sempre maus; a força sem a justiça é
acusada. É preciso portanto pôr em conjunto a justiça
e a força, e, por isto, fazer com que o que é justo seja forte,
e o que é forte seja justo. A justiça está sujeita
à disputa; a força é muito reconhecível e sem
disputa. Assim, não se pode dar a força à justiça,
porque a força contradisse a justiça e disse que era injusta,
e disse que era ela que era justa. Desta forma, não podendo fazer
com que o que é justo fosse forte, fez-se com que o que é
forte fosse justo.
Normalmente,
convencem-nos com mais facilidade as razões que nós próprios
encontramos do que as que vieram do espírito dos outros.
Oh!,
covardia mole e tímida que
não deixa nem ver nem seguir a verdade!
O
homem é apenas um caniço – o mais fraco da Natureza;
mas é um caniço pensante. Não é preciso que
o Universo inteiro se arme para o aniquilar: um vapor ou uma gota de água
bastam para o matar. Mas, se o Universo
o aniquilasse, o homem seria ainda mais nobre do que o Universo
que o mata, porque sabe que morre; o Universo
não sabe nada disso. Toda a nossa dignidade consiste, portanto, no
pensamento. Esforcemo-nos, pois, por pensar bem: eis o princípio
da moral.
Se
o nariz de Cleópatra tivesse sido um pouco menor, toda a face da
Terra teria mudado.
O povo julga bem as coisas porque
está na ignorância natural, que é o verdadeiro lugar
do homem. A ciência tem duas extremidades que se tocam. A primeira
é a pura ignorância natural, na qual se encontram todos os
homens ao nascer. A outra extremidade é aquela a que chegam as grandes
almas que, tendo percorrido tudo quanto os homens podem saber, acham que
nada sabem e voltam a se encontrar nessa mesma ignorância da qual
tinham partido; mas é uma ignorância sábia que se conhece.
Os do meio – que saíram desta ignorância natural e não
puderam chegar à outra –
têm umas pinceladas desta ciência
suficiente, e se armam em entendidos. Estes perturbam o mundo e julgam mal
de tudo. O povo e os verdadeiramente sábios compõem a ordem
do mundo; estes desprezam-na e são desprezados.
As
alegrias passageiras encobrem os males eternos que elas próprias
causam.
Tudo
o que é incompreensível nem por isso deixa de existir.
Não nos contentamos com a
vida que temos em nós e no nosso próprio ser: queremos viver
na idéia dos outros uma vida imaginária, e, para isto, esforçamo-nos
por manter as aparências. Trabalhamos incessantemente para embelezar
e conservar o nosso ser imaginário, e descuramos o verdadeiro. E,
se temos tranqüilidade, generosidade ou a felicidade, apressamo-nos
a apregoá-lo, a fim de atribuir estas virtudes ao nosso outro ser,
e, se fosse preciso, estaríamos prontos a nos despojar delas para
as juntar ao outro; de bom grado seríamos covardes para adquirirmos
a reputação de valentes. Grande sinal do nada que somos, não
nos contentarmos de uma coisa sem a outra, e trocarmos muitas vezes uma
pela outra! Pois quem não morresse para conservar a sua honra seria
infame.
Quando
estamos com boa saúde, admiramo-nos de como seria possível
estarmos doentes; quando isto acontece, medicamo-nos alegremente.
O
pensamento é a grandeza do homem.
Depois
de ter encontrado a causa de todos os nossos males, quis descobrir a razão
desta. Achei que há uma bem efetiva, que consiste na natural infelicidade
da nossa condição frágil e mortal, e tão miserável
que nada nos pode consolar quando nela pensamos a fundo.
Quando
se é demasiado jovem, não se julga bem; quando
se é demasiado velho, o mesmo. Se não se pensa
nisso o suficiente, se se pensa demais, teimamos e nos encasquetamos. Se
se considera a própria obra logo depois de se ter feito, está-se
ainda muito preso à ela, se muito tempo depois, não se entra
mais nela. Assim são os quadros vistos de longe demais e de perto
demais. Mas há apenas um ponto indivisível que marca o verdadeiro
lugar: os outros estão demasiado perto, demasiado longe, demasiado
alto, demasiado baixo. Mas, na verdade e na moral, quem marcará o
ponto?
A
arte de persuadir consiste tanto no de agradar como no de convencer, já
que os homens se governam mais pelo capricho do que pela razão.
Nunca
amamos as pessoas. O que amamos são as suas qualidades.
Tudo
é grande na alma grande.
É
perigoso mostrar ao homem até que ponto se assemelha aos animais
sem lhe mostrar a sua grandeza. Também é perigoso mostrar-lhe
muito a grandeza sem a baixeza. É ainda mais perigoso deixá-lo
ignorar uma e outra. Mas é muito vantajoso representar-lhe as duas.
O homem não é anjo nem besta, e, por desgraça, quem
quer ser anjo acaba por ser besta. Se se exalta, humilho-o; se ele se humilha,
exalto-o: e contradigo-o sempre, até que ele compreenda que é
um monstro incompreensível. Condeno igualmente os que tomam o partido
de louvar o homem, e os que tomam de o condenar, e os que tomam o de se
divertir; e não posso aprovar senão aqueles que buscam gemendo.
De
que serve ao homem ganhar o mundo se perde sua alma?
É,
sem dúvida, um mal estar cheio de defeitos; mas é ainda um
mal maior estar cheio deles e não querer reconhecer, porque é
adicionar ainda uma ilusão voluntária.
O homem tem ilusões como o
pássaro tem asas. É isto que o sustenta.
Ninguém é tão
ignorante que não tenha algo a ensinar; ninguém é tão
sábio que não tenha algo a aprender.
Benefícios
demais irritam: queremos ter com que pagar as nossas dívidas.
Nossa
imaginação engrandece tanto o nosso tempo presente, que fazemos
da eternidade um nada, e do nada uma eternidade.
A
meditação é um luxo; a ação é
necessária.
O
cosmos pode ser infinitamente maior do que o homem, mas um único
ato de amor vale mais do que toda a massa do Universo.
A
consciência é o melhor livro de moral que temos; e é,
certamente, o que mais devemos consultar.
A
moral é a ciência por excelência; é a arte de
viver bem e de ser ditoso.
Todas
as aflições humanas decorrem da incapacidade de nos sentarmos
sozinhos e em silêncio em um aposento.
Todas
as máximas já foram escritas. Resta apenas pô-las em
prática.
A
última coisa que se nos depara ao fazermos uma obra é saber
aquilo que se deve pôr em primeiro lugar.
É
tão grande a força do costume que, daqueles que a Natureza
fez apenas homens, se fazem todas as condições dos homens;
pois há regiões onde são todos pedreiros, noutras todos
soldados etc. Certamente que a Natureza não é tão uniforme.
É, portanto, o costume que faz isto, porque constrange a Natureza.
Entretanto, algumas vezes, a Natureza supera-o, e conserva o homem no seu
instinto, apesar do costume, bom ou mau.
Temos
em nós uma parte de sombra; carregamos a fera conosco.
A
opinião é a rainha do mundo.
O
prazer dos grandes homens consiste em tornar os outros mais felizes.
A
consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta.
Não
estarias à minha procura se já me tivesses encontrado.
Pesemos
o lucro e a perda tomando por coroa2
que Deus existe. Avaliemos estes dois casos: se vencerdes, ganhais tudo;
se perderdes, não perdeis nada. Apostai, portanto,
sem hesitar, que
Ele existe.
Nada há de bom nesta vida
salvo a esperança de uma outra vida.3
Apenas
acredito nas histórias cujas testemunhas estivessem dispostas a se
deixarem degolar.
A
grandeza do homem está em ele se reconhecer como miserável.
Uma árvore não se dá conta da sua miséria.
É
falso que sejamos dignos de que os outros nos amem. E é injusto que
o queiramos.
Não
há nada de justo ou de injusto que não mude de qualidade ao
mudar de clima.
Agrada-nos
repousar em sociedade com os nossos semelhantes: miseráveis como
nós, impotentes como nós, eles não nos ajudarão;
morreremos sozinhos.
O
silêncio é o maior dos martírios; nunca os santos se
calaram.4
Uma
vez que não podemos ser universais e saber tudo quanto se pode saber
acerca de tudo, é preciso saber-se um pouco de tudo, pois é
muito melhor saber-se alguma coisa de tudo do que saber-se tudo apenas de
uma coisa.5
A
razão manda em nós muito mais imperiosamente
do que um senhor. É que, desobedecendo a um, é-se infeliz,
desobedecendo a outro, é-se tolo.
Todas
as ocupações dos homens tendem à posse de alguma coisa;
e eles não têm nem título para a possuir justamente
nem força para a possuir com segurança.
Aquele
que, sem autoridade, mata um criminoso, torna-se tão criminoso como
este.6
As
paixões, quando mandam em nós, são vícios.
Os
que possuem espírito de discernimento sabem quanta diferença
pode mediar entre duas palavras parecidas, segundo os lugares e as circunstâncias
que as acompanhem.
Os melhores livros são aqueles
que quem os lêem crêem que também os poderiam ter escrito.
É
miserável saber-se miserável; mas é ser grande reconhecer
que se é miserável.
A
última coisa que alguém sabe é por onde começar.
Fazer
troça da Filosofia, é, na verdade, filosofar.
Quando
descobrimos um estilo natural, ficamos espantados e satisfeitos, pois esperávamos
um autor e encontramos um ser humano.
Somos
tão presunçosos que desejaríamos ser conhecidos em
todo o mundo... E tão vaidosos que a estima de cinco ou seis pessoas
que nos rodeiam nos alegra e nos satisfaz.
Por
mais riquezas que o homem possua e por melhores que sejam a saúde
e as comodidades que desfrute, não se sente satisfeito se não
conta com a estima dos demais.
A maioria dos males acontece aos
homens por não ficarem em casa.
Eis a condição do homem:
inconstância, tédio e inquietação.7
Eis
a descrição do homem: dependência, desejo de independência,
necessidade.
O
temor saudável provém da fé. O temor errôneo
provem da dúvida.8
Os
incrédulos são os mais crédulos. Crêem nos milagres
de Vespasiano para não crer nos de Moisés.
A
razão faz com lentidão, com tantas miras, sobre tantos princípios,
que a cada momento adormece ou se extravia. A paixão faz em um instante.
O eterno silêncio desses espaços
infinitos me espanta.9
Deus
fez o homem à sua semelhança, e o homem em retribuição,
fez Deus à sua imagem.
Toda
religião que não afirme que Deus está oculto, não
é verdadeira.10
Nas
religiões, precisamos ser sinceros: verdadeiros pagões, verdadeiros
judeus, verdadeiros cristãos.
Nossa
natureza está em movimento. O repouso absoluto é a morte.11
O
que é o homem dentro da Natureza? Nada com respeito
ao infinito. Tudo com respeito ao nada. Um intermédio entra o nada
e o tudo.
A
última cena é sempre trágica, pouco importando quão
felizes tenham sido as outras: um pouco de terra é jogada por cima
de nossa cabeça e é o fim para todo o sempre.12
É
justo que Deus, tão
puro, se revele apenas aos que purificaram o seu Coração.
Só há duas classes
de pessoas coerentes: as que gozam de Deus porque acreditam Nele, e as que
sofrem porque não O possuem.
Só
conheço dois tipos de pessoas razoáveis: as que amam a Deus
de todo Coração porque lhe conhecem, e as que O procuram de
todo Coração porque não O conhecem.
A
Natureza tem perfeições para demonstrar que
é a imagem de Deus, e imperfeições para provar que
só é uma imagem.
O
que mais me admira ver é como ninguém se admira com a sua
fraqueza. Age-se de maneira séria, e cada um segue a sua condição,
não porque é bom segui-la, mas porque é moda, como
se cada um soubesse de maneira certa onde é que está a razão
e a justiça. Encontramo-nos enganados constantemente. E, por uma
humildade divertida, julgamos que é por nossa culpa, e não
da arte que nos gabamos sempre de ter. Mas é bom que haja tantas
pessoas assim no mundo, que não sejam pirrônicas, para glória
do Pirronismo,13
para mostrar que o homem é bem capaz das mais extravagantes opiniões,
visto que é capaz de crer que não está nesta fraqueza
natural e inevitável, e crer que está, pelo contrário,
na sabedoria natural. Nada fortifica mais o Pirronismo do que o fato de
haver quem não seja nada pirrônico: se todos o fossem, eles
não teriam razão.
A
natureza do amor-próprio e deste eu humano é de só
se amar a si e de só se considerar a si. Mas, que se há de
fazer? Não saberia impedir que este objeto que ama esteja cheio de
defeitos e de misérias: quer ser grande e se vê pequeno; quer
ser feliz e se vê miserável; quer ser perfeito e se vê
cheio de imperfeições; quer ser objeto do amor e da estima
dos homens e vê que os seus defeitos só merecem a sua aversão
e o seu desprezo. Este embaraço em que se encontra produz nele a
mais injusta e a mais criminosa paixão que é possível
imaginar, porque concebe um ódio mortal contra esta verdade que o
repreende e que o convence dos seus defeitos. Ele desejaria aniquilá-la,
e não a podendo destruir em si mesma, destrói-a, tanto quanto
pode, no seu conhecimento e no dos outros, isto é, põe todos
os cuidados em encobrir os seus defeitos, aos outros e a si mesmo, e não
suporta que lhos façam ver, nem que lhos vejam. É,
sem dúvida, um mal estar cheio de defeitos; mas é ainda um
mal muito maior estar cheio e não os querer reconhecer, visto que
é lhe acrescentar, ainda, uma ilusão voluntária. Não
queremos que os outros nos enganem; não achamos justo que queiram
ser mais estimados por nós do que o que merecem: não é,
portanto, justo também que os enganemos e queiramos que nos estimem
mais do que merecemos. Assim, quando só descobrem imperfeições
e vícios que nós, com efeito, temos, é visível
que não nos prejudicam, visto que não são eles a causa
destas imperfeições, e que nos fazem um benefício,
por nos ajudarem a nos libertar de um mal – que é a ignorância
das imperfeições. Não nos devemos zangar porque as
conheçam e porque nos menosprezem: sendo justo que nos conheçam
pelo que somos, e que nos desprezem se somos desprezíveis. Eis os
sentimentos que nasceriam de um Coração cheio de retidão
e de justiça. O que devemos, portanto, dizer do nosso, quando nele
encontrarmos uma disposição completamente contrária?
Pois, não será verdade que odiamos a verdade e aqueles que
a dizem para nós, e que gostamos que se enganem com vantagem para
nós, e que queremos ser estimados por eles por sermos diferentes
daquilo que, com efeito, somos?
A vida humana é apenas uma ilusão perpétua; o que fazemos
é nos enganar e nos iludir mutuamente. Ninguém fala de nós
na nossa presença como na nossa ausência. A união que
existe entre os homens é fundada sobre este mútuo embuste;
e poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse o que o seu amigo diz
dele quando não está presente, ainda que ele fale sinceramente
e sem paixão. O homem é apenas disfarce, engano e hipocrisia
em si mesmo e para com os outros. Não quer que lhe digam a verdade
e evita dizê-la aos outros; e todas estas disposições
tão afastadas da justiça e da razão têm uma raiz
natural no seu Coração.
Só
o combate nos apraz, mas não a vitória.14
Gostamos
de ver os combates de animais, não o vencedor a se encarniçar
sobre o vencido; que desejamos ver, senão o fim da vitória?
E logo que ela é alcançada, ficamos saciados. Assim, no jogo,
assim na busca da verdade. Gostamos de ver, nas disputas, a luta de opiniões;
mas não de contemplar a verdade encontrada: para a saudarmos gostosamente
temos de vê-la nascer da disputa. Do mesmo modo, nas paixões,
o que dá prazer é assistir ao combate de duas contrárias;
mas, quando uma delas domina, tudo se reduz à brutalidade. Nunca
buscamos as coisas, mas, sim, a busca das coisas.
Ao
ver a cegueira e a miséria do homem, ao contemplar todo o Universo
mudo e o homem sem Luz, abandonado a si mesmo e como que perdido nesse recanto
do Universo, sem saber quem o depôs ali, o que aí veio fazer,
o que será dele ao morrer, incapaz de qualquer conhecimento, sinto-me
aterrorizado como um homem que tivessem levado adormecido para uma ilha
deserta e aterrorizante, e que despertasse sem saber onde está e
sem condições de sair dali.
Por
mais que ampliemos as nossas concepções e as projetemos além
do espaço[-tempo]
inimaginável, concebemos tão-somente átomos em comparação
com a realidade das coisas.
O
que pode a virtude de um homem não deve se medir nos momentos de
esforço, mas na vida de todos os dias. Não admiro o excesso
de uma virtude, como a coragem, se ela não vier, ao mesmo tempo,
acompanhada do excesso da virtude oposta, como em Epaminondas,15
que tinha a extrema coragem e a extrema benignidade. Pois, de outro modo,
não é subir; é cair. A grandeza não consiste
em estar em um extremo, mas em tocar os dois ao mesmo tempo, e em preencher
todo o espaço intermédio. Mas, talvez, ela seja apenas um
súbito movimento de alma de um extremo ao outro, e, talvez, nunca
esteja em mais do que um ponto, como o tição de fogo? Mas,
isto indica a agilidade da alma, ou, pelo menos, a sua extensão.
Zil
(Não posso deixar
de dar o meu pitaquinho)
Todos
os anexins
já foram [d]escritos.
Zil
Nãos e zil
Sins
já
foram prescritos.
Tudo
já foi ensinado
e
zil
vezes repetido.
Ora,
viver amoucado?
Um
fado sem sentido?
Em
deslumbramentos,
viajamos a só cobiçar.
Zil
atormentamentos!
Mas,
te[re]mos que ser.
Adianta
o quê protrair?
Dormir
e roncar é perder;
é
hoje, já agora, o Devir!
O
Devir não está no devir;
está
em nosso Coração.
Ouvir... Sentir... Decidir...
______
Notas:
1.
Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses
e o Universo. [Inscrição
no Oráculo de Delfos atribuída aos Sete Sábios (c.
650 aC. – 550 aC.)]. O Oráculo de Delfos influenciou significativamente
a colonização grega das costas do sul da Itália e da
Sicília. Chegou a ser o centro religioso do mundo helênico.
Situado em Delfos, o Oráculo de Delfos era dedicado principalmente
a Apolo e centrado em um grande templo, ao qual vinham os antigos gregos
para apresentar questões aos deuses. Situado na Grécia, no
que foi a antiga cidade chamada Delfos (que hoje já não existe),
no sopé do monte Parnaso, nas encostas das montanhas da Fócida,
a 700 m sobre o nível do mar e a 9,5 km de distância do Golfo
de Corinto.
2. No
jogo de cara ou coroa.
3. Sob
nenhum aspecto e sob qualquer alegação, eu posso concordar
com isto. Por hipótese, só para criar uma celeuma, e se, depois
desta, não houver outra vida? Essa coisa besta de considerar esta
vida uma bosta e de viver na esperança fideísta de que haja
uma vida melhor do lado de lá é paranóia de papa-hóstias
e de alimárias (que, neste particular, não era o caso de Pascal)
que exageram nas suas convicções interiores e nas suas demonstrações
exteriores de suas crenças religiosas sem fundamento em argumentos
categóricos e racionais. Isto é simplesmente um cinzento fudelhufas
de cagahouse!
A vida é necessária, e transformá-la ou considerá-la
um circo dos horrores é, no mínimo, uma boçalidade
buçal. O pior de tudo é chegar do lado de lá, se houver
outra vida, esperando ficar boiando e cantando nas nuvens, e constatar que
a coisa não é bem assim. Como é fácil de se
notar, este pensamento de Pascal me irritou um poucochinho.
4. Isto
está em franca contradição com esta afirmação
do próprio Pascal, citada anteriormente: Todas
as aflições humanas decorrem da incapacidade de nos sentarmos
sozinhos e em silêncio em um aposento.
5. Isto
me fez lembrar o rumo que tomou a Medicina contemporânea. Um especialista
em calo (aumento da porção queratinizada da epiderme) pouco
entende de verruga (hipertrofia das papilas). E, na maioria das vezes, para
confirmar se é calo ou se é verruga, o médico manda
o paciente fazer trocentos exames de laboratório. Se os exames de
laboratório não o convencerem a dar um diagnóstico,
em acréscimo, pede uma tomografia computadorizada do calo ou da verruga,
que é um exame complementar de diagnóstico por imagem, que
consiste em uma imagem que representa uma seção ou fatia
do corpo. Haja plano de saúde para bancar isto!
6. E,
desde quando, Senhor Pascal, a alguém foi dada autoridade para matar
alguém? Eu não disse isto ao Senhor, mas direi agora: todo
assassino é um suicida, e todo suicida é um assassino.
7. Em
um certo sentido, isto está correto. Todavia, este estado de ignorância
– inconstância,
tédio e inquietação –
geralmente consentido, pode ser mudado pela compreensão. E só
a compreensão liberta.
8. Eu,
como sou um homem sem fé, não entendi isto. Ora, para que
serve a fé? Não é exatamente para certificar e abolir
o temor? Deus me livre se eu fosse um fideísta temeroso. Enfim, acho
que a coisa toda está em desprezar a razão e preconizar a
superioridade da fé. Mas, fé em quê? Em quem?
9. Os
espaços
infinitos não são tã silenciosos assim:
há um Verbum
que fala ininterruptamente!
10.
Deus est absconditus.
In corde nostro!
11.
No Universo, não há repouso absoluto; nem no próprio
repouso, nem na morte, nem no
prâlâya.
12.
É difícil entender certas incongruências, até
porque incongruência não é para ser entendida mesmo.
Enfim, como é possível que uma pessoa, como o Senhor Pascal,
fale de Deus, fale de esperança em uma outra vida et
cetera e tal, e, de repente, me saia com essa de que a
última cena é sempre trágica, pouco importa quão
felizes tenham sido as outras: um pouco de terra é jogada por cima
de nossa cabeça e é o fim para todo o sempre? Que
sempre? Fim de quê? Última
cena? Bem, eu só posso creditar estes exageros mórbido-catastrofistas
na conta da pouca idade de Pascal ao refletir sobre estes temas. Teologia
pode ser estudada em qualquer tempo, com qualquer idade; mas Filosofia não.
São necessárias algumas décadas de vida para que alguém
possa se aventurar na Senda Filosófica com algum concerto, e, mesmo
assim, alguma bagagem pretérita é requerida. Todavia, o pior
é quando se mistura Teologia mal-azada com Filosofia malcozinhada,
isto é, desrazão com pseudo-razão; o stupidus
filius
disto só pode ser – e sempre será – um furta-cor
pseudológico e fœtidus
cagalogikos fudesophicus. Se, porventura, o cagalogikos
fudesophicus tiver um irmão formado a partir de um único
zigoto original, este gêmeo univitelino será um putridus
fudelogikos
cagasophicus. Sem pontuação, proponho: ligue agora
sua televisão para confirmar isto pelas falações de
diversos falantes de múltiplas religiões que se apresentam
em vários canais em sortidas horas do dia e da noite sai dia entra
dia sai noite entra noite sai ano entra ano sai século entra século.
É de encrespar os já encrespados crepúsculos!
13.
O Pirronismo, também conhecido como Ceticismo Pirrônico, foi
uma tradição da corrente filosófica do Ceticismo fundada
por Enesidemo de Cnossos no século I d.C., e registrada por Sexto
Empírico no século III. Toma o seu nome do filósofo
grego Pirro de Élis (c. 360 a.C. – c. 270 a.C.), embora a relação
entre a filosofia da escola e essa figura histórica seja pouco clara.
O Pirronismo tornou-se influente há alguns séculos, desde
o surgimento da moderna visão científica do mundo. Os céticos
pirrônicos negam assentimento a proposições não
imediatamente evidentes e permanecem em um estado de inquirição
permanente. Por exemplo, os pirrônicos afirmam que uma falta de provas
não constitui prova do oposto, e que essa falta de crença
é profundamente diferente de uma descrença ativa. Assim, ao
invés de descrer em Deus, poderes psíquicos etc., baseados
na falta de evidências de tais coisas, os pirrônicos reconhecem
que não podemos estar certos de que evidências novas não
possam aparecer no futuro, de modo que eles se mantêm abertos em sua
pesquisa. Também questionam o saber estabelecido, e vêem o
dogmatismo como uma doença da mente.
14.
Isto também é mais ou menos assim com quem é viciado
em (qualquer) jogo: baralho, cassino, bingo, sinuca, porrinha, par ou ímpar,
cara ou coroa etc. Ganhar não importa; importa jogar. E importa jogar
por quê? Simplesmente para poder comentar, lero-lerar e se lastimar
de ter perdido. Catarse-papo-furado que não transmuta nada, que não
acrisola nada, que não liberta de nada. É como disse Pascal:
Nunca buscamos as
coisas, mas, sim, a busca das coisas. Geralmente é assim!
15.
Epaminondas (c. 418 a.C. – 362 a.C.) foi um general e político
grego do século IV a.C., tendo sido o responsável pela condução
de mudanças na cidade-estado de Tebas, transformando-a na nova potência
hegemônica da Grécia, substituindo Esparta. Epaminondas redesenhou
o mapa político da Grécia, fragmentou antigas alianças,
criou novas e supervisionou a construção de cidades inteiras.
Também teve grande influência militar, desenvolvendo e implementando
diversas e muito importantes táticas de batalha. Antes de seu mandato,
Tebas se encontrava sob domínio espartano. Epaminondas conseguiu
melhorar a capacidade militar de Tebas, a fim de situá-la em uma
posição proeminente no quadro geopolítico do mundo
helênico, criando o que se conheceria mais tarde como a hegemonia
tebana. No processo, acabou com a supremacia militar espartana na Batalha
de Leuctra e libertou os hilotas de Messênia, um grupo de gregos do
Peloponeso que tinham sido reduzidos à servidão sob as ordens
de Esparta durante cerca de 200 anos. O orador romano Marcus Tullius Cicero
(Arpino, 3 de janeiro de 106 a.C. – Formia, 7 de dezembro de 43 a.C.)
o chamou de o primeiro
homem da Grécia, mesmo tendo Epaminondas caído
em uma relativa obscuridade nos tempos modernos. As mudanças que
Epaminondas levou à ordem política grega não sobreviveram
por muito tempo, dado que o ciclo de hegemonias e alianças ainda
não havia se estabilizado. Tão-somente vinte e sete anos depois
de sua morte, Tebas foi destruída por Alexandre III da Macedônia,
dito o Grande ou Magno (20 de julho de 356 a.C. – 10 de junho de 323
a.C.). Por tudo isso, Epaminondas não é lembrado tanto como
um idealista e libertador (como foi visto em seu tempo) senão por
uma década de campanhas (desde 371 a 362 a.C.) que deram forma e
força aos grandes poderes da Grécia, e que pavimentou o caminho
para a posterior conquista da Macedônia.