Rodolfo Domenico Pizzinga


 

 

 

 

 

 

 

Medo alógico de bicho-papão?

Medo enxofrado de bicho-preto?

Medo alienado de ralã-barrão?1

Medo antilógico de gato-preto?

 

Mas, o mais ruim dos medos

é sentir medo de si próprio.

Há quem, em seus folguedos,

tenha medo de ser impróprio.

 

O medo é uma descontinuação

– inquietadora e involuntária –

que obstaculiza a racionalização.

 

O remédio para perder o medo

é, na madruga, ir à uma funerária,

e, à prazo2, comprar um alfredo.

 

 

 

 

 

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Notas:

1. O ralã-barrão é uma criatura mitológica que supostamente teria a capacidade de perturbar o sono das crianças e dos cagarolas, invadindo os seus sonhos. Segundo a lenda, esse ser possui uma aparência humanóide, porém todo o seu corpo é recoberto por uma densa pelagem de cor marrom escura, se assemelhando muito ao pé-grande (também conhecido pelos seus nomes em inglês de bigfoot ou sasquatch). As suas origens não são bem claras, sendo que para alguns se trata de um ser alienígena perdido no planeta Terra, enquanto em outras versões é um hibrído entre homem e alguma espécie de urso. O ralã-barrão seria capaz de invadir os sonhos das crianças, fazendo com que elas tenham pesadelos no meio da noite e acabem mijando na cama. A principal versão da lenda diz que ele mora no sótão, aguardando sob os telhados das casas até as crianças caírem no sono. Ao notar que a criança está dormindo ele se utiliza de técnicas de telepatia para induzir pesadelos. Agora, acredite se quiser: outra característica peculiar desse peludo mal-ajambrado é o fato de ele ser fanático por chucrute. Fiquei pensando nessa estória maluca e cheguei à conclusão de que o que deve amedrontar mesmo são os efeitos gaseiformes decorrentes do chucrute que esse monstrengo 'sûrkrûtense' come. Caso esse estafermo de meia-tigela resolva aparecer aqui em casa, pois moro no Rio de Janeiro, vou pensar logo em tiroteio. Ainda bem que onde eu moro não há sótão e, seja como for, se ele vier me visitar, terá que esperar, pois eu trabalho noite adentro, entrando pela madrugada! Mas sempre há um cafezinho para visitantes esperados e inesperados.

Editado da fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ral%C3%A3-barr%C3%A3o

2. Essa compra tem que ser à prazo, senão não adianta lhufas nem bulhufas. E tem que ser um alfredo; não pode ser uma lanterna, um holofote ou uma vela. E o melhor é parcelar em trezentas e treze prestações. E as quitações parceladas não podem ser pagas por boleto bancário; têm que ser remitidas pessoalmente, a pé ou de patinete. Isso obriga o cagarolas a ter que ir à casa funerária quitar mensalmente o seu débito até a trecentésima décima terceira prestação. Antes que eu me esqueça: a casa funerária tem que ser bem pertinho de um cemitério horizontal. E o cemitério não pode ser vertical, senão também não adianta bulhufas nem lhufas.

1ª observação importantíssima: se o alfredo se quebrar enquanto a dívida não tiver sido remitida, é preciso começar a inana de novo. Desde o princípio. E comprar outro alfredo na mesma casa funerária. E com o mesmo papa-defunto que vendeu o alfredo que se quebrou. Se porventura o papa-de tiver batido as botas, eu não garanto absolutamente nada.

2ª observação importantíssima: Não adianta argumentar que casa funerária não vende alfredos. Quem quer ficar curado do medo se vira.

3ª observação importantíssima: Não há. Já expliquei tudo direitinho.

 

Fundo musical:

The Pink Panther (Henry Mancini)

Fonte:

http://www.bonzao.com/midi.htm