Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Carta do Imperator

 

 

Como faz todos os anos, o Imperator da Ordem Rosacruz - AMORC, Frater Christian Bernard, no começo de cada ano, manda uma carta pessoal aos membros dando conta de suas atividades do ano que passou, e, sempre, acrescenta uma pequena mensagem educativa. Para uma pequena reflexão, o que está transcrito abaixo é a parte final desta carta, que recebi recentemente, e, de certa forma, está de acordo com o poema que virá depois.

 

Desde a noite dos tempos, o ser humano procura se elevar acima das trevas para ascender à Luz. Esta elevação é lenta, e se faz, muitas vezes, através de provas que balizam a vida cotidiana. Mesmo que isto nem sempre se apresente como uma evidência, estamos, não obstante, no caminho para um mundo melhor e cheio de esperança. A esperança ultrapassa aquilo que muitas vezes é chamado de crença. A esperança é vida, vida graças à qual nossa alma cresce, aprende e progride. Uma simples crença não pode ser suficiente para esse desabrochar.

 

Quando ela – a crença – está associada à religião, e mesmo à superstição, retém o ser humano em dogmas que o prendem e o mantêm prisioneiro, impedindo-o, muitas vezes, de se adiantar. Por vezes, felizmente, essas cadeias se rompem e transcendemos o mundo das ilusões para descobrirmos nosso Eu Interior. Este nos aponta o caminho, e, então, começa uma longa viagem. Nossa mente se agita e as famosas e clássicas grandes questões sobre a existência nos interpelam. Existe o predeterminismo? Está o destino de cada um traçado de antemão? Qual é nossa parte de livre-arbítrio nas nossas decisões? Do nascimento à morte, como podemos agir e mudar nosso destino, se nosso caminho já está traçado? Para que serve a existência? Nesta Terra, é a condição humana invejável? Assim são as numerosas questões que nos preocupam como seres humanos, místicos ou ateus, pois mesmo estes últimos se questionam bastante. As respostas não parecem evidentes e não é fácil tranqüilizarmos nossa mente. Aliás, será que existe uma só resposta ou várias? Nosso Mestre Interior sabe, mas será que somos alunos estudiosos à sua escuta? Se somos, então nossa mente saberá transmitir a mensagem ao nosso Coração e ao nosso espírito, e adquiriremos um pouco da Paz profunda que nos é tão cara. E se digo um pouco é porque, como buscadores em via de aprefeiçoamento, estamos e estaremos sempre em busca de respostas para nossas legítimas e infinitas interrogações.

 

Uma das coisas que aprendi na AMORC, logo que fui admitido e Iniciado, é que o Rosa+Cruz é um ponto de interrogação permanente. Concluí, então, que o método cartesiano da dúvida metódica – ou seja, a filtragem especulativo-dialética de todas as idéias, eliminando aquelas que não se afigurassem como verdadeiras e que fossem dúbias (como, por exemplo, a idéia de Deus), e apenas retendo aquelas que, relativa e temporariamente, não suscitassem qualquer tipo de dúvida seria o método que eu aplicaria aos estudos rosacruzes que estava iniciando, isto lá pelos idos de 1969. Longe de ser um cético, duas coisas que logo descobri, contrariando um pouco o meu Irmão Rosa+Cruz René Descartes (31 de março de 1596, La Haye en Touraine, França 11 de fevereiro de 1650, Estocolmo, Suécia), é que não há efetivamente res cogitans e res extensa; tudo é um. E não existem verdades absolutas. Tudo é relativo e depende do referencial. Ora, enquanto um beijo pode demorar alguns segundos, talvez um pouco mais, esperar por ele pode levar séculos, zilênios! E o melhor ainda está por vir!

 



 

 

 

 

 

 

 

Ela gostava de luxo e riqueza;

eu sempre estive atento à pobreza.

Ela foi boîtes e shopping centers;

eu fui saraus e mercadinhos.

Mas, mesmo assim, eu a amei!

 

 

Ela foi uma grandecíssima sacana;

eu me esforcei para ser honestidade.

Ela adorava cherry jubilee;

eu sempre gostei de arroz com feijocas.

Mas, mesmo assim, eu a amei!

 

 

eu fui placidez e quietação.

Ela foi inexatidão e sensualidade;

eu tentei ser conserto e puridade.

Mas, mesmo assim, eu a amei!

 

 

Ela seguiu seu caminho;

eu permaneci firme no meu.

Ela foi uma agnóstica convicta;

eu jamais abandonei a Rosa+Cruz.

Mas, mesmo assim, eu a amei!

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:

The Best Is Yet To Come (Cy Coleman & Carolyn Leigh)

Fonte:

http://www.infinitydirect.co.uk/wg.htm