Carta
do Imperator
Como
faz todos os anos, o Imperator da Ordem
Rosacruz - AMORC,
Frater Christian Bernard, no começo de cada ano, manda uma
carta pessoal aos membros dando conta de suas atividades do ano
que passou, e, sempre, acrescenta uma pequena mensagem educativa.
Para uma pequena reflexão, o que está transcrito abaixo
é a parte final desta carta, que recebi recentemente, e,
de certa forma, está de acordo com o poema que virá
depois.
Desde
a noite dos tempos, o ser humano procura se elevar acima das trevas
para ascender à Luz. Esta elevação é
lenta, e se faz, muitas vezes, através de provas que balizam
a vida cotidiana. Mesmo que isto nem sempre se apresente como uma
evidência, estamos, não obstante, no caminho para um
mundo melhor e cheio de esperança. A esperança ultrapassa
aquilo que muitas vezes é chamado de crença. A esperança
é vida, vida graças à qual nossa alma cresce,
aprende e progride. Uma simples crença não pode ser
suficiente para esse desabrochar.
Quando
ela – a crença – está associada à
religião, e mesmo à superstição, retém
o ser humano em dogmas que o prendem e o mantêm prisioneiro,
impedindo-o, muitas vezes, de se adiantar. Por vezes, felizmente,
essas cadeias se rompem e transcendemos o mundo das ilusões
para descobrirmos nosso Eu Interior. Este nos aponta o caminho,
e, então, começa uma longa viagem. Nossa mente se
agita e as famosas e clássicas grandes questões sobre
a existência nos interpelam. Existe o predeterminismo? Está
o destino de cada um traçado de antemão? Qual é
nossa parte de livre-arbítrio nas nossas decisões?
Do nascimento à morte, como podemos agir e mudar nosso destino,
se nosso caminho já está traçado? Para que
serve a existência? Nesta Terra, é
a condição humana invejável?
Assim são as numerosas questões que nos preocupam
como seres humanos, místicos ou ateus, pois mesmo estes últimos
se questionam bastante. As respostas não parecem evidentes
e não é fácil tranqüilizarmos nossa mente.
Aliás, será que existe uma só resposta ou várias?
Nosso Mestre Interior sabe, mas será que somos alunos estudiosos
à sua escuta? Se somos, então nossa mente saberá
transmitir a mensagem ao nosso Coração e ao nosso
espírito, e adquiriremos um pouco da Paz profunda que nos
é tão cara. E se digo um pouco é porque, como
buscadores em via de aprefeiçoamento, estamos e estaremos
sempre em busca de respostas para nossas legítimas e infinitas
interrogações.
Uma
das coisas que aprendi na AMORC, logo que fui admitido e Iniciado,
é que o Rosa+Cruz é um ponto de interrogação
permanente. Concluí, então, que o método cartesiano
da dúvida metódica – ou seja, a filtragem especulativo-dialética
de todas as idéias, eliminando aquelas que não se
afigurassem como verdadeiras e que fossem dúbias (como, por
exemplo, a idéia de Deus), e apenas retendo aquelas que,
relativa e temporariamente, não suscitassem qualquer tipo
de dúvida –
seria
o método que eu aplicaria aos estudos rosacruzes que estava
iniciando, isto lá pelos idos de 1969. Longe de ser um cético,
duas coisas que logo descobri, contrariando um pouco o meu Irmão
Rosa+Cruz René Descartes (31 de março de 1596, La
Haye en Touraine, França –
11 de
fevereiro de 1650, Estocolmo, Suécia), é que não
há efetivamente res cogitans e res extensa;
tudo é um. E não existem verdades absolutas. Tudo
é relativo e depende do referencial. Ora, enquanto um beijo
pode demorar alguns segundos, talvez um pouco mais, esperar por
ele pode levar séculos, zilênios! E o melhor
ainda está por vir!