A
comunicação entre os diferentes mundos pode
ser estabelecida e mantida normalmente, sem provocar as dificuldades e as
desvantagens que problematizam os métodos conhecidos como espíritas.
Estes últimos, contudo, continuam a ser os únicos métodos
ao alcance imediato da pessoa destreinada, e, por isto, são do maior
valor para a destruição dos preconceitos dos cientistas e
dos materialistas, e para darem provas físicas e tangíveis,
disponíveis para qualquer um, da continuidade da consciência
além da morte.
É o desconhecido o que pode
ser perigoso; é a ignorância a fonte dos pavores... Nossa ignorância
é o nosso verdadeiro perigo, e ela só pode ser extinta com
a experiência... Para o ignorante, existem perigos em toda parte.
No
mundo físico, o perigo é muito maior do que nos mundos sutis,
pois a matéria física é muito mais resistente ao controle
pelo pensamento do que a matéria sutil dos mundos superiores.
Cada
indivíduo é uma consciência única, uma unidade
de consciência.
Se
compararmos duas unidades de consciência, uma avançada e outra
atrasada, a diferença de evolução se verá em
cada mundo em que elas funcionarem; mas a manifestação de
cada uma será determinada pelas condições materiais
da manifestação, e estas introduzirão variações
na forma das comunicações, mas não afetarão
a unidade da inteligência manifesta.
Todas
as consciências são fragmentos, partes, de uma consciência
onipresente, e, por isto, suas características são fundamentalmente
as mesmas, mas variando em grau. Todas possuem os três atributos essenciais
de Vontade, Sabedoria e Atividade, embora a Vontade possa ter se manifesto,
até então, apenas como o que chamamos de Desejo, embora a
Sabedoria possa ser vista apenas como uma forma embriônica de Cognição,
e embora a Atividade possa ter-se manifesto só na forma de Agitação.
Não há diferenças essenciais nas unidades de consciência
que tentam se manifestar nos vários mundos, mas há inumeráveis
diferenças em grau, desde a grandiosa e luminosa consciência
do mais alto Serafim até a tênue e apagada, tateante mesmo,
consciência do mineral. Só há uma Consciência
no Universo, e todas as assim ditas consciências separadas são
apenas fases Suas.
O
corpo mental é organizado com matéria mental; o astral com
matéria astral; e o físico com matéria física,
que é funcionalmente divisível em seus componentes etérico
e denso. Estes são os veículos, os instrumentos da unidade
de consciência, seus meios de afetar e ser afetada pelos mundos exteriores
em que vive; eles podem ser alta ou escassamente organizados, podem se compor
de materiais refinados ou grosseiros. Sejam como forem, são os únicos
meios de
contato da unidade de consciência
com os mundos que a rodeiam, e seus únicos meios de
auto-expressão.
Enquanto uma pessoa está desperta
e em seu estado usual de consciência, ela usa os três corpos
todo o tempo. Quando ela vai dormir, sai do corpo físico e usa só
dois – o astral e o mental. Na morte, a parte densa do corpo físico
é abandonada; a parte mais sutil se liga a ela ainda por algum curto
período (normalmente), e, por fim, se desprende como a parte densa,
e na condição pós-morte ela passa a usar só
os corpos astral e mental, por um período de extensão variável.
Mais tarde, o corpo astral também é abandonado, e ela permanece
envolta no corpo mental durante sua longa vida mental ou celeste que sobrevém
depois do estado anterior intermediário e o renascimento no mundo
físico. Quando também o corpo mental se desprender, ela estará
no limiar da reencarnação, prestes a construir corpos novos
para seu próximo período de vida física.
O
homem vive e atua em três mundos durante seus períodos despertos
de sua vida na Terra. Estes três mundos são compostos, sucessivamente,
de matéria física, astral e mental – são os mundos
de onde são retirados sucessivamente os materiais para seus corpos
físico, astral e mental. Estes mundos não estão separados
entre si, mas se interpenetram e se misturam, ao mesmo tempo em que permanecem
distintos.
A
Natureza se repete em toda a parte, e podemos entender muito
mais do superfísico estudando o físico e raciocinando por
analogia; mas devemos sempre lembrar que o superfísico é que
é o original, e o físico é sua cópia, e não
o contrário.
As
pessoas estão vivendo em três mundos em todos os momentos de
suas vidas despertas, embora, normalmente, só sejam conscientes do
mais denso. Durante o sono e depois da morte, vivem em dois, mas, normalmente,
só estão cônscias do mundo intermediário (astral),
e nem sempre o estarão. Em um período posterior de sua condição
pós-morte, elas viverão em apenas um, e estarão conscientes
apenas de suas imediações.
Em
todos os processos de pensamento, há uma série de mudanças
de consciência no mundo mental, que são respondidas por uma
série correspondente de vibrações no corpo mental.
Elas causam uma série de mudanças vibratórias correspondentes
no corpo astral, reforçadas pela consciência – a mesma
consciência em todos os três corpos –
e isto ocasiona mudanças vibratórias similares
na parte etérica do físico. Estas vibrações
etéricas são largamente de caráter elétrico,
e afetam as células do cérebro físico, denso, estabelecendo
ali mudanças vibratórias. Assim acontecem as comunicações
normais entre os mundos, sucedendo-se repetida e continuamente, variando
com o processo inverso, no qual a iniciativa vem de fora. Quando algo que
acontece no mundo externo, inicia-se uma série similar de mudanças:
um dos sentidos recebe um estímulo e envia uma onda nervosa; esta
onda
passa da matéria densa para a etérica, ou inicia
na etérica, que é respondida por uma mudança na consciência,
correndo através do astral até o mental, intensificando a
mudança, e a consciência recebe e registra a comunicação.
Se
uma pessoa sente que está enfrentando alguma coisa estranha e desconhecida
– algo que ela estaria inclinada a considerar sobrenatural –
ela, excessivas vezes, perde tanto a faculdade do julgamento
como a do raciocínio; mas se ela entende que o fenômeno que
está diante de si é só uma repetição
mais sutil de um evento familiar, será capaz de observar com precisão
e raciocinar com sensibilidade e penetração.
A
lei da Natureza é desenvolver os centros a partir de cima, e as forças
da evolução trabalham de cima para organizar o que está
abaixo. A vida é que organiza a matéria, a matéria
não produz a vida. A consciência que atua no mundo astral é
quem organiza os órgãos sensoriais físicos; a consciência
atuando no mundo mental é quem organiza os órgãos sensoriais
astrais, e assim por diante. Há um contínuo trabalho da consciência
para o melhoramento e refinamento de seus veículos inferiores. À
medida que nossa evolução progride do estágio a que
já chegou para as pessoas mais intelectualizadas e cultas, se torna
possível acelerar o desenvolvimento dos sentidos astrais através
de um pensamento diligente e claro, e por uma pureza de desejo e de ação,
e, à medida que eles se tornam ativos, as comunicações
recebidas através do corpo astral se tornarão mais claras
e definidas, exatamente como aquelas recebidas pelo corpo físico.
Elas agora são borradas porque o instrumento ainda é imperfeito.
(Grifo
meu).
Na
excelsa consciência d'Aqueles a quem chamamos Mestres, todos os mundos
são como um só mundo, onde Sua consciência desperta
está sempre funcionando, e Eles focalizam Sua atenção
em qualquer ponto sem deixar o corpo físico. Os mundos em que Sua
atenção não está concentrada ficam fora de foco,
mas não invisíveis... Para a Sua consciência todos os
Seus corpos funcionam como um único corpo, mas cada um ainda permanece
como um instrumento perfeito para ação em qualquer mundo.
É
a nossa falta de desenvolvimento que força os Seres mais altamente
evoluídos a descer ao nosso nível, porque não somos
capazes de nos elevar até o d'Eles.
Qual
é o melhor método de comunicação? Os Antigos
respondiam esta pergunta de um modo simples e definido. Eles diziam, com
verdade, que o melhor método de comunicação era usar
um corpo puro e cuidadosamente treinado e guardado, com o sistema nervoso
altamente organizado, de onde o possuidor pudesse facilmente sair, ou ser
deslocado, deixando seu corpo como um tabernáculo vazio onde o Mestre
– cujo corpo físico estava longe –
pudesse entrar e usar como se fora Seu. Um corpo destes seria
como uma veste bem feita de onde o possuidor pudesse deslizar para fora,
deixando-a para ser assumida e usada por outrem. Se um corpo há de
ser usado desta forma, é necessário que ele seja guardado
com um cuidado escrupuloso. O ambiente deve ser belo e pacífico;
não se devem permitir vibrações grosseiras ou excitantes
perturbar a atmosfera; não se deve permitir que pessoas grosseiras
ou impuras se aproximem dele; sua dieta deve ser não-estimulante,
nutritiva e livre de produtos que sofram fermentação ou decomposição,
e uma cultura física cuidadosa deve preservá-lo em boa saúde.
Nos antigos Templos, governados por pessoas que eram Iniciadas nos Mistérios
maiores ou menores, encontrava-se tais corpos –
os das Virgens Vestais, ou das Sibilas. Estas Virgens eram originalmente
meninas criadas com extremo cuidado dentro dos recintos do Templo, e permitia-se
que entrassem em contato apenas com pessoas puras e nobres, e tais Virgens
eram escolhidas como o instrumento de comunicação. Sentadas
em um banco ou em uma cadeira, isolados do magnetismo da Terra, a menina
deixava seu corpo –
se treinada como fazê-lo –
ou seria lançada em um transe. Então, um Mestre
ou um alto Iniciado tomava posse do corpo, e, através dele, ensinava
os discípulos reunidos para instrução. Este foi o método
favorito de ensino entre os Antigos, e era um bom método, pois ele
causa a menor perturbação nas forças físicas
normais. Isto meramente fornecia a um Ser superior um veículo que
Ele podia usar, enquanto que a Vestal não seria mais perturbada do
que ao cair num sono normal. Este foi o meio em que Pitágoras estava
acostumado a dar instruções aos seus discípulos em
mais de uma vida. Atualmente, fala-se de um organismo como este como sendo
de um médium, e a falta de conhecimento tem acarretado uma degradação
no ofício. Uma pessoa que nasce sensitiva é ensinada a ser
passiva, a permitir que seja lançada em transe, e que seu corpo seja
possuído sem conhecimento de qual entidade vai usá-lo, sem
critério ou poder de autodefesa. Tais pessoas, usualmente, poluem
seus corpos com carne e álcool, encontram-se com todas as pessoas
indiscriminadamente, permitem que qualquer um sente junto delas, vivem em
ambientes sórdidos. Os resultados são naturalmente triviais
ou repulsivos. Mas não se pode culpar os médiuns por isto;é
a ignorância que leva a tais condições.
O
meio de comunicação diametralmente oposto, tão perigoso
quanto aquele é seguro, é quando se produz a materialização
de um corpo físico. Os Mestres também usaram este método,
e nos primeiros tempos, ele foi usado com relativa freqüência.
O Mestre vem em Seu mãyãvi rûpã – corpo
ilusório [um
corpo formado pela vontade do Mestre com materiais dos mundos mental inferior
e astral - (nota do tradutor)] –
e o densifica no local onde Ele deseja aparecer, retirando
da atmosfera ou do corpo de alguém presente, as partículas
que, incorporadas ao corpo sutil, o tornam visível e, às vezes,
tangível.
Naturalmente
perguntamos: Por que um meio de comunicação tão impressionante
e satisfatório deveria ser perigoso? Por causa da universalidade
da bem conhecida lei que diz que 'ação e reação
são iguais, mas opostas'. Sempre que as forças dos planos
superiores são levadas a atuar diretamente nos inferiores, há
uma reação comparável àquela ação,
e a atuação direta, aqui embaixo, de um Irmão da Loja
Branca é seguida por uma ação direta, semelhante também,
aqui, por um Irmão da Loja Negra. Em uma de suas primeiras cartas,
um Mestre explicou esta perigosa reação aos fenômenos
produzidos por Helena Blavatsky e os resultados destrutivos naqueles em
seu círculo. Muitos de nós têm visto farta comprovação
desta lei. Onde quer que tenham lugar tais manifestações de
força oculta há perturbações e problemas, e
aqueles que, a princípio, parecem ter sido altamente favorecidos
são aqueles em quem recai o peso do refluxo inevitável. Eles
sofrem física ou mentalmente; há perda de equilíbrio
ou perturbações nervosas. A tensão nervosa a que Helena
Blavatsky esteve sujeita pela abundância de fenômenos que ela
produziu arruinou sua saúde física e a envelheceu antes do
tempo. E é digno de nota que, por causa da tensão envolvida
nesta atuação de forças na vida do discipulado, a saúde
física tem sido sempre, no Oriente, um pré-requisito para
o discipulado.
As
biografias dos videntes, dos santos, estão cheias de evidências
da atuação desta lei ('ação
e reação são iguais, mas opostas'),
e sem um treinamento definido nenhum corpo físico consegue suportar
a tensão das experiências psíquicas. A histeria e a
vidência têm sido tão constantemente encontradas juntas,
que alguns consideram todas as exibições de vidência
como resultado de perturbação do equilíbrio mental,
e é verdade que, em muitíssimos casos, a sensitividade psíquica
e nervos abalados andam juntos. Magnéticas, elétricas e outras
formas de vibrações etéricas se estabelecem no plano
físico pela exibição das forças sutis, e a menos
que as pessoas, dentro de seu alcance, saibam como se proteger, elas pagam
o preço por sua presença sob forma de nervos perturbados e
cérebros sobrecarregados.
Um
Mestre poderia enviar um pensamento para um estudante, e, assim, produzir
uma mudança em sua consciência nos níveis superiores
do plano mental. Esta mudança de consciência, causada pelo
Mestre, produzirá vibrações correspondentes no corpo
causal do estudante, e estas seriam reproduzidas do modo normal nos corpos
mental e astral, e, sendo assim, levadas até o etérico. Uma
pessoa mais facilmente afetada através do nervo auditivo poderia,
em tais circunstâncias, ouvir a voz do Mestre, e ouvi-la dentro ou
fora de sua cabeça; alguém mais prontamente afetado pelo nervo
óptico poderia igualmente ver a forma do Mestre. Cada qual, enfim,
poderia crer que ouvira ou vira o próprio Mestre, quando inconscientemente
em seu cérebro etérico eles teriam manufaturado a voz ou a
forma. Em tais casos, a comunicação teria sido real, mas a
forma que ela tomou no plano físico teria sido ilusória.
Está
escrito nos Atos dos Apóstolos, que quando o Espírito Santo
desceu sobre os Doze, cada indivíduo que estava presente na numerosa
assembléia podia ouvi-los falar em sua própria língua.
Para a pessoa que não entende assuntos como estes tratados neste
artigo a história pareceria incrível. Todavia, não
o é. O pensamento dos Apóstolos causou em cada ouvinte uma
mudança mental, reproduzindo-se na mente de cada um; esta mudança
se tornou o pensamento de cada pessoa, e alcançou seu cérebro
físico do modo costumeiro. Lá, no cérebro físico,
revestiu-se de palavras – as palavras em que cada um estava inconscientemente
acostumado a traduzir seus próprios pensamentos. A pessoa pensou
que ouvira os Apóstolos falar em sua própria língua,
ao passo que eles falaram em pensamento e cada um traduziu isto em seu próprio
idioma.1
Similarmente, se um trabalhador no plano astral não consegue se comunicar
através da linguagem comum com alguém que deseja auxiliar,
ele pode – se tiver aprendido a usar seu corpo mental – transmitir
o pensamento à mente de seu amigo, deixando que ele traduza a imagem
mental em sua própria língua. É o amigo quem faz a
tradução, mas ele pensaria que foi seu auxiliar que lhe falou,
porém, ele teria apenas recebido dele uma impressão mental
que traduzira, ele mesmo, da forma a que estava acostumado. Esta costumeira
interação entre mente e cérebro, a tradução
usual de uma imagem mental em palavras, é usada por aqueles que trabalham
nos planos superiores como um meio conveniente de comunicação
com aqueles que estão nos planos inferiores ao seu. Assim, um Mestre
oriental, não conhecendo inglês, falaria 'em inglês'
a um discípulo ocidental. Ele pode até escrever, bastando
retirar do cérebro do discípulo as palavras de que necessita.
Existe
ainda uma outra possibilidade que não deve ser omitida: a simulação
de um Irmão da Luz por um Irmão da Sombra, ou de um discípulo
de um pelo discípulo de outro... Pode acontecer que um Irmão
da Sombra possa personificar um Irmão Branco e dar alguma ordem ou
orientação nefasta. Em tal caso, tudo depende da intuição
daquele que recebe a mensagem... Seja como for, o fogo do tempo prova todas
as coisas; ele queima a escória e deixa o ouro purificado e resplendente.
A
menos que possamos aceitar a boa-fé e a competência das testemunhas,
ou tenhamos o poder de investigar por nós mesmos o passado, devemos
forçosamente suspender nosso julgamento. A credulidade irracional
e a incredulidade irracional são, ambas, sinais de uma mente desequilibrada.
E onde falta evidência suficiente para nos satisfazer, é claro
que o certo é nos abstermos tanto da afirmação quanto
da negação. É claro que em tais assuntos cada um deve
decidir por si mesmo; ninguém tem o direito de ditar como o outro
deve pensar.
As
leis da Natureza não mudam porque as desconhecemos. E, se cometemos
um erro, mesmo que de boa-fé, devemos sofrer por termos andado contra
elas... Mas, não encorajemos negações desencorajando
afirmações, pois, senão, cresceremos em direção
à sombra em vez de em direção à LLuz.
A
palavra de ordem da liberdade religiosa do mundo antigo ressoa na esplêndida
declaração de Shri Krishna: 'Por quaisquer caminhos que os
homens tomem para se aproximar de Mim, ali mesmo Lhes dou as boas-vindas,
pois, de todos os lados, todos os caminhos são Meus'.
A
reivindicação do Cristianismo de ser a única religião
verdadeira foi que deu origem às perseguições religiosas,
primeiro do
Cristianismo, e depois por
ele.
A
necessidade de fraternidade é encarecida pela destruição
que resulta da falta de fraternidade. Uma lei da Natureza é provada
tanto pela destruição de tudo o que se lhe opõe como
pela permanência de tudo o que se harmoniza com ela.
A
multiplicidade de credos religiosos seria uma vantagem e não um prejuízo
para a Religião, se as religiões fossem uma fraternidade em
vez de um campo de batalhas, pois, cada religião tem uma peculiaridade
própria, algo de especial que as outras não têm para
dar ao mundo. Cada religião pronuncia uma letra do Grande Nome de
Deus – o Um sem outro; e este Nome só será pronunciado
quando todas as religiões emitirem a letra que lhes foi dada para
emitir, em melodiosa harmonia junto com o resto. Deus é tão
grande, tão ilimitável, que nenhum cérebro humano,
por maior que seja, nenhuma religião, por mais perfeita que seja,
é capaz de expressar Sua perfeição infinita. É
preciso um universo em sua totalidade para espelhá-Lo, ou melhor,
universos incontáveis não bastam para esgotá-Lo. Uma
estrela pode falar de Sua Radiância, Ele que é o Sol de tudo;
um planeta, girando em ritmo constante, pode falar de Sua Ordem. Uma floresta
pode sussurrar Sua Beleza; uma montanha, Sua Força; um rio, Sua Vida
fertilizadora; um oceano, Sua Mutabilidade imutável. Mas nenhum objeto,
nenhuma beleza de forma, nenhum esplendor de cor, nem mesmo o Coração
do homem onde Ele habita, pode expressar as múltiplas perfeições
deste Ser de riqueza infinita. Em cada objeto, em cada tipo de vida, se
vê apenas um fragmento de Sua Glória, e somente a totalidade
das coisas, passadas, presentes e futuras, pode representar, com sua infinitude,
a Sua Infinitude.2
(Grifo meu).
Todas
as grandes verdades das religiões são uma propriedade coletiva
e não pertencem com exclusividade a nenhuma Fé.
Qual religião pode reivindicar
um monopólio sobre a Unidade de Deus? Sobre a Trindade da Manifestação
Divina? Sobre as Hierarquias Suprafísicas e seus Mundos? Sobre a
natureza do Homem? Sobre a evolução do Homem?
Sobre as Grandes Leis (Lei do Karma ou de Causa e Efeito e a Lei do
Sacrifício ou de Propagação e Manutenção
da Vida)?
A
sempre repetida lenda do Sol – a história anual
de nossa Terra –
é a verdade
fundamental, é o mito estruturador da manifestação
física de todo Fundador de uma grande religião, e Suas vidas
humanas sempre repetem o drama do Sol sobre o palco do mundo. Esta declaração
não vale para a religião do Islã, e a razão
é evidente. O grande Profeta da Arábia é considerado
pelos seus seguidores como sendo puramente humano, e não como uma
encarnação do Logos. E eles pensam corretamente. Mas, em todas
as religiões nas quais o Fundador é visto como uma encarnação
divina reaparece o perfil do grande mito. Este fato tem sido usado como
argumento para provar que os Fundadores não possuem existência
histórica, mas isso é um equívoco. A vida histórica
contém os elementos que reencarnam o mito, e da figura histórica
fulgem os raios do Sol divino; não é que seja o Sol o Fundador,
mas que ambos, Sol e Ele, são representantes físicos da vida
central de um sistema mundial, e aquilo que o Sol é para seu sistema,
o Fundador é para Sua religião.
Há
uma só Religião – o conhecimento de Deus – e todas
as religiões são ramos desta mesma árvore – a
Árvore da Vida – cujas raízes estão no céu,
enquanto seus ramos se esparramam no mundo dos homens. A raiz celeste é
a Sabedoria, não a fé, não a crença, não
a esperança, mas o conhecimento do Deus que é a Vida Eterna.
De qualquer um dos ramos da Árvore da Vida uma pessoa pode colher
uma folha para a cura das nações. Que ninguém negue
o que para outra pessoa é verdade, pois ela pode ver uma verdade
que outros não conseguem ver; que ninguém tente impor sua
própria visão sobre outros, pois pode cegá-los ao forçá-los
a ver o que não está dentro de seu campo de visão.
Só existe um Sol, e cada energia em nossa Terra não passa
de alguma forma de Força Solar. E assim, como um só Sol alimenta
toda a Terra, um só Eu brilha em todos os Corações.
Só existe uma blasfêmia – a negação de
Deus no homem. Só existe uma heresia – a heresia da separatividade,
que diz: 'sou outro além de ti; nós não somos um só'.
Para a redenção do mundo, nós precisamos mais do que
altruísmo, por mais nobre que ele seja. Precisamos aprender a anulação
do eu individual, o sacrifício, a auto-entrega, mas não estaremos
firmes no Um antes de podermos dizer: 'não há outros; é
o Eu em tudo. Quando todos os homens disserem isto o mundo conhecerá
sua Era Dourada. Quando um homem diz isto através de sua vida, sua
presença é uma bênção aonde quer que ele
vá. Somos irmãos, mas mais do que irmãos, pois os irmãos
têm apenas um mesmo pai; nós temos um Eu comum. Em tudo, à
nossa volta, vejamos a Glória do Eu, e lembremos que negar o Eu no
mais baixo é negá-lo em nós mesmos e em Deus.
A
condição da liberdade intelectual para os budistas está
contida no sábio conselho do seu Instrutor: 'Não acreditem
em uma coisa dita simplesmente porque é dita, nem em tradições
porque vêm sendo transmitidas de um para outro desde a Antigüidade;
nem em rumores enquanto rumores; nem em escritos de sábios apenas
porque foram sábios que os escreveram; nem na mera autoridade de
seus próprios instrutores ou mestres. Mas devemos acreditar quando
o escrito, a doutrina ou dito, é corroborado pela razão e
pela consciência. Por isto, tenho ensinado a vocês a não
acreditar apenas por haverem escutado; mas, a acreditar quando a crença
ocorre a partir de sua própria consciência, e, então,
a agir de acordo com isto e intensamente'. Mesmo a revelação
deve ser confrontada com a pedra de toque da razão e da consciência;
deve haver uma resposta a ela a partir de dentro – o testemunho interior
do Ser – antes que possa ser aceita como verdadeira.
Se
os pensamentos de alguém estão concentrados em outra pessoa,
a forma criada por tais pensamentos dirige-se na direção dessa
pessoa. Se os pensamentos de alguém estão concentrados no
próprio emitente, então eles ficam à sua volta, sempre
prontos a influenciá-lo. O homem viaja pela vida dentro de um invólucro
de pensamentos que ele mesmo cria.3
Enquanto
guardamos a liberdade de pensamento e de expressão e encorajamos
a mais ampla discussão das diferenças, não esqueçamos
da cortesia e da gentileza, senão a diferença de pensamento
decairá em vituperação daqueles que pensam diferentemente
de nós. O ataque pessoal e a imputação de maus motivos
são armas de ataque usadas pelo inculto e pelo vulgar, e não
devem ter lugar na discussão Teosófica. O amor é tão
vital como o conhecimento para a construção do futuro, e o
conhecimento sem amor é inútil para os Mestres-Construtores
da Raça Futura.
É meu porque é teu;
e é também dele.
Eu
não sou o meu corpo,
Eu não sou os meus sentimentos,
Eu não sou o meu pensamento,
Contudo, sou mais radiante do que o Sol,
Mais puro do que a neve,
Mais rarefeito do que o éter.
Eu, o Espírito que vive no meu Coração.
Esse 'Eu' sou eu.
Eu sou esse 'Eu'.
Eu sou o que sou!
Quando
reconhecemos a unidade de todas as coisas vivas, neste momento surgem as
perguntas: como podemos manter nossa vida com o menor dano possível
às vidas ao nosso redor? Como podemos prevenir que nossa própria
vida adicione sofrimento ao mundo em que vivemos? Encontramos
entre os animais, como entre os homens, a capacidade de sentir prazer e
a capacidade de sentir dor; os vemos mover-se por amor e ódio; os
vemos sentindo terror e atração; reconhecemos neles capacidade
de sensações muito similares às nossas, e apesar de
os superarmos imensamente em intelecto, em meras características
passionais, nossa natureza e a dos animais estão muito ligadas. Sabemos
que quando eles sentem terror, este terror significa sofrimento. Sabemos
que quando são feridos, isso significa dor para eles. Sabemos que
as ameaças lhes causam sofrimento; eles se encolhem, sentem medo,
sentem a ausência de relações amistosas e, de imediato,
começamos a ver que em nossas relações com o reino
animal surge um dever que todas as mentes pensantes e compassivas deveriam
reconhecer: o dever de ser seus guardiões e de ajudá-los,
e não sermos seus tiranos e opressores. Não temos o direito
de lhes causar sofrimento e terror só para a gratificação
do paladar, só por um luxo a mais em nossa vida.
Há outro pensamento ligado a este: o que acontece com nossos deveres
para com nossos semelhantes – os homens? E aqui apelo particularmente
a meu sexo, porque se supõe que as mulheres, na sociedade, são
o modelo do refinamento, da gentileza, da compaixão, da ternura e
da pureza. Todavia, ninguém pode comer a carne de um animal massacrado
sem ter usado a mão de um homem como assassino. Supondo que tivéssemos
que matar nós mesmas as criaturas que colocamos em nossa mesa, será
que há uma mulher entre cem que iria ao matadouro para sacrificar
uma vaca, um bezerro, um novilho, uma ovelha ou um porco? Mas, se não
pudemos fazer isto, nem presenciar, se somos tão refinadas que não
podemos permitir contato próximo entre nós e os magarefes
que fornecem esta comida, se sentimos que estão tão embrutecidos
por seu comércio que seus meros corpos são repulsivos devido
ao contato constante de sangue com o qual devem estar continuamente manchados,
se reconhecemos a brutalidade física que resulta inevitavelmente
de tal contato, como nos atrevemos a chamar-nos, a nós mesmas, de
refinadas se compramos nosso refinamento com a brutalidade de outros e se
exigimos que alguns devem ser brutos para que nós possamos comer
o resultado de sua brutalidade? Não estamos livres dos resultados
brutais desse comércio simplesmente porque não tomamos parte
direta nele.
Conhecer
o homem é conhecer Deus. Conhecer Deus é conhecer o homem.
Estudar o Universo é instruir-se sobre Deus e sobre o homem, porque
o Universo é a expressão do Pensamento Divino e o Universo
está refletido no homem. O conhecimento é necessário
para que o Eu se torne livre e se conheça unicamente como Si-mesmo.
A
nota-chave do Universo é variedade, assim como a unidade é
a nota do Não-manifesto, do Incondicionado – do Um que não
conhece outro além de Si-mesmo.
Aprendemos
que quando um Universo vai vir à existência, a Causa Primeira,
o Inconcebível, o Indiscernível, o Sutil, resplandece por
Sua própria Vontade. O que este resplandecer pode significar para
Ele mesmo ninguém pode ousar sequer imaginar. O que isto significa
para nós, em certa medida podemos compreender. Ishvara se manifesta,
mas Ele, se manifestando, surge envolto no véu de Mâyâ.
Existem, então, dois lados do Supremo em manifestação.
Muitas palavras têm sido usadas para expressar este par de opostos
fundamental: Ishvara e Mâyâ, Sat e Asat, Realidade e Irrealidade,
Espírito e Matéria, Vida e Forma. Estas são palavras
que nós, em nossa linguagem limitada, costumamos empregar para expressar
aquilo que está muito além do alcance do pensamento. Tudo
o que podemos dizer é: 'assim os Sábios nos ensinaram, e assim,
humildes, repetimos. Mas, uma coisa é certa: a imagem de Ishvara
em a Natureza jamais será perfeita antes que cada parte seja completa
em si mesma e em suas relações com as outras.
Há uma só Vida em todas
as formas, mas o estágio de desenvolvimento de uma vida particular
depende do tempo em que ela passou se desenvolvendo separadamente, ou seja:
há uma só Vida – imortal, eterna, infinita – no
que tange à sua fonte e sua meta; mas esta Vida se manifesta em diferentes
graus de evolução e em diferentes etapas de desenvolvimento,
diferentes parcelas de seu poder inerente se expressando de acordo com a
idade de cada vida separada.
Dharma
pode ser definido como a natureza interna de uma coisa em qualquer estágio
dado da evolução e a lei do próximo estágio
de seu desenvolvimento... Ele é a natureza interna em dado estágio
de evolução e a lei do estágio seguinte de seu desenvolvimento...
Logo, a perfeição deve ser atingida cumprindo cada um o seu
próprio Dharma... Se não reconhecemos o estágio atual,
permanecemos ignorantes a respeito do próximo estágio para
onde devemos nos dirigir, e, por isto, podemos estar indo contra nosso Dharma,
e assim atrasando a evolução.
Forçar
em direção a um ideal antes do tempo será prejudicial
em vez de bom. Todas as coisas devem vir em seu tempo devido.
A
função está em relação com o poder. Uma
função assumida antes de ser desenvolvido o poder correspondente
e necessário é extremamente danosa ao organismo.
As
diferenças são necessárias para nossa consciência
condicionada. Pensamos através das diferenças, sentimos através
das diferenças, conhecemos através das diferenças.
Somente através delas é que sabemos que somos pessoas vivas
e pensantes. A Unidade não causa impressão alguma na consciência.
As diferenças e as diversidades são as coisas que tornam possível
o crescimento da consciência. A Consciência Não-condicionada
está além do alcance de nosso pensamento. Só podemos
pensar dentro dos limites do separado e do condicionado.
A
perfeição do Universo é a perfeição na
variedade e na harmonia das partes inter-relacionadas.
Qualquer
experiência é útil.4