Annie Besant
(Pensamentos e Ensinamentos)

 

 

 

 

Annie Besant

 

 

 

 

 

Não me atrevo a comprar a paz com uma mentira; imperiosa necessidade me induz a dizer a verdade tal como a vejo, agradem ou não as minhas palavras, receba louvor ou vitupério. Devo manter imaculada esta fidelidade ao verdadeiro, mesmo que me custe amizades, mesmo quebrando laços humanos. A verdade poderá conduzir-me a um deserto, poderá privar-me de todo o afeto – mas devo segui-la. Ainda que me tirasse a vida, confiaria nela.

 

Annie Besant

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo – incompleto em latitude e em longitude – tem por objetivo apresentar o resultado enxugado de algumas pesquisas que fiz sobre o pensamento teosófico-esotérico de Annie Besant. Alguns fragmentos tiveram que ser editados para poderem ser acomodados a este tipo de divulgação. Entretanto, como sempre advirto, o pensamento fulcral da autora não foi alterado. Aqueles que tiverem interesse em ler os textos integrais encontrarão os endereços eletrônicos ao final.

 

 

 

 

Breve Biografia
de
Annie Besant

 

 

 

 

Annie Besant

 

 

 

Annie Wood Besant (Londres, Inglaterra, 1º de outubro de 1847 – Adyar, Madras, Índia, 30 de setembro de 1933) foi uma militante socialista, ativista e defendedora dos direitos das mulheres, uma das mais notáveis oradoras da sua época, influente teosofista e autora de inúmeros livros sobre Teosofia. Adotou como filho o jovem indiano Krishnamurti, que era tido pelos teósofos como um grande mestre. Em certa época, manteve contato, na Califórnia, com Harvey Spencer Lewis (Sâr Alden), 1º Imperator para o segundo ciclo de atividades da Ordem Rosacruz, AMORC.

 

 

 


 

Pensamentos e Ensinamentos
de
Annie Besant

 

 

 

 

Annie Besant

 

 

 

 

A comunicação entre os diferentes mundos pode ser estabelecida e mantida normalmente, sem provocar as dificuldades e as desvantagens que problematizam os métodos conhecidos como espíritas. Estes últimos, contudo, continuam a ser os únicos métodos ao alcance imediato da pessoa destreinada, e, por isto, são do maior valor para a destruição dos preconceitos dos cientistas e dos materialistas, e para darem provas físicas e tangíveis, disponíveis para qualquer um, da continuidade da consciência além da morte.

 

É o desconhecido o que pode ser perigoso; é a ignorância a fonte dos pavores... Nossa ignorância é o nosso verdadeiro perigo, e ela só pode ser extinta com a experiência... Para o ignorante, existem perigos em toda parte.

 

No mundo físico, o perigo é muito maior do que nos mundos sutis, pois a matéria física é muito mais resistente ao controle pelo pensamento do que a matéria sutil dos mundos superiores.

 

Cada indivíduo é uma consciência única, uma unidade de consciência.

 

Se compararmos duas unidades de consciência, uma avançada e outra atrasada, a diferença de evolução se verá em cada mundo em que elas funcionarem; mas a manifestação de cada uma será determinada pelas condições materiais da manifestação, e estas introduzirão variações na forma das comunicações, mas não afetarão a unidade da inteligência manifesta.

 

Todas as consciências são fragmentos, partes, de uma consciência onipresente, e, por isto, suas características são fundamentalmente as mesmas, mas variando em grau. Todas possuem os três atributos essenciais de Vontade, Sabedoria e Atividade, embora a Vontade possa ter se manifesto, até então, apenas como o que chamamos de Desejo, embora a Sabedoria possa ser vista apenas como uma forma embriônica de Cognição, e embora a Atividade possa ter-se manifesto só na forma de Agitação. Não há diferenças essenciais nas unidades de consciência que tentam se manifestar nos vários mundos, mas há inumeráveis diferenças em grau, desde a grandiosa e luminosa consciência do mais alto Serafim até a tênue e apagada, tateante mesmo, consciência do mineral. Só há uma Consciência no Universo, e todas as assim ditas consciências separadas são apenas fases Suas.

 

 

 

 

O corpo mental é organizado com matéria mental; o astral com matéria astral; e o físico com matéria física, que é funcionalmente divisível em seus componentes etérico e denso. Estes são os veículos, os instrumentos da unidade de consciência, seus meios de afetar e ser afetada pelos mundos exteriores em que vive; eles podem ser alta ou escassamente organizados, podem se compor de materiais refinados ou grosseiros. Sejam como forem, são os únicos meios de contato da unidade de consciência com os mundos que a rodeiam, e seus únicos meios de auto-expressão.

 

Enquanto uma pessoa está desperta e em seu estado usual de consciência, ela usa os três corpos todo o tempo. Quando ela vai dormir, sai do corpo físico e usa só dois – o astral e o mental. Na morte, a parte densa do corpo físico é abandonada; a parte mais sutil se liga a ela ainda por algum curto período (normalmente), e, por fim, se desprende como a parte densa, e na condição pós-morte ela passa a usar só os corpos astral e mental, por um período de extensão variável. Mais tarde, o corpo astral também é abandonado, e ela permanece envolta no corpo mental durante sua longa vida mental ou celeste que sobrevém depois do estado anterior intermediário e o renascimento no mundo físico. Quando também o corpo mental se desprender, ela estará no limiar da reencarnação, prestes a construir corpos novos para seu próximo período de vida física.

 

O homem vive e atua em três mundos durante seus períodos despertos de sua vida na Terra. Estes três mundos são compostos, sucessivamente, de matéria física, astral e mental – são os mundos de onde são retirados sucessivamente os materiais para seus corpos físico, astral e mental. Estes mundos não estão separados entre si, mas se interpenetram e se misturam, ao mesmo tempo em que permanecem distintos.

 

A Natureza se repete em toda a parte, e podemos entender muito mais do superfísico estudando o físico e raciocinando por analogia; mas devemos sempre lembrar que o superfísico é que é o original, e o físico é sua cópia, e não o contrário.

 

As pessoas estão vivendo em três mundos em todos os momentos de suas vidas despertas, embora, normalmente, só sejam conscientes do mais denso. Durante o sono e depois da morte, vivem em dois, mas, normalmente, só estão cônscias do mundo intermediário (astral), e nem sempre o estarão. Em um período posterior de sua condição pós-morte, elas viverão em apenas um, e estarão conscientes apenas de suas imediações.

 

Em todos os processos de pensamento, há uma série de mudanças de consciência no mundo mental, que são respondidas por uma série correspondente de vibrações no corpo mental. Elas causam uma série de mudanças vibratórias correspondentes no corpo astral, reforçadas pela consciência – a mesma consciência em todos os três corpos e isto ocasiona mudanças vibratórias similares na parte etérica do físico. Estas vibrações etéricas são largamente de caráter elétrico, e afetam as células do cérebro físico, denso, estabelecendo ali mudanças vibratórias. Assim acontecem as comunicações normais entre os mundos, sucedendo-se repetida e continuamente, variando com o processo inverso, no qual a iniciativa vem de fora. Quando algo que acontece no mundo externo, inicia-se uma série similar de mudanças: um dos sentidos recebe um estímulo e envia uma onda nervosa; esta onda passa da matéria densa para a etérica, ou inicia na etérica, que é respondida por uma mudança na consciência, correndo através do astral até o mental, intensificando a mudança, e a consciência recebe e registra a comunicação.

 

Se uma pessoa sente que está enfrentando alguma coisa estranha e desconhecida – algo que ela estaria inclinada a considerar sobrenatural ela, excessivas vezes, perde tanto a faculdade do julgamento como a do raciocínio; mas se ela entende que o fenômeno que está diante de si é só uma repetição mais sutil de um evento familiar, será capaz de observar com precisão e raciocinar com sensibilidade e penetração.

 

A lei da Natureza é desenvolver os centros a partir de cima, e as forças da evolução trabalham de cima para organizar o que está abaixo. A vida é que organiza a matéria, a matéria não produz a vida. A consciência que atua no mundo astral é quem organiza os órgãos sensoriais físicos; a consciência atuando no mundo mental é quem organiza os órgãos sensoriais astrais, e assim por diante. Há um contínuo trabalho da consciência para o melhoramento e refinamento de seus veículos inferiores. À medida que nossa evolução progride do estágio a que já chegou para as pessoas mais intelectualizadas e cultas, se torna possível acelerar o desenvolvimento dos sentidos astrais através de um pensamento diligente e claro, e por uma pureza de desejo e de ação, e, à medida que eles se tornam ativos, as comunicações recebidas através do corpo astral se tornarão mais claras e definidas, exatamente como aquelas recebidas pelo corpo físico. Elas agora são borradas porque o instrumento ainda é imperfeito. (Grifo meu).

 

Na excelsa consciência d'Aqueles a quem chamamos Mestres, todos os mundos são como um só mundo, onde Sua consciência desperta está sempre funcionando, e Eles focalizam Sua atenção em qualquer ponto sem deixar o corpo físico. Os mundos em que Sua atenção não está concentrada ficam fora de foco, mas não invisíveis... Para a Sua consciência todos os Seus corpos funcionam como um único corpo, mas cada um ainda permanece como um instrumento perfeito para ação em qualquer mundo.

 

É a nossa falta de desenvolvimento que força os Seres mais altamente evoluídos a descer ao nosso nível, porque não somos capazes de nos elevar até o d'Eles.

 

Qual é o melhor método de comunicação? Os Antigos respondiam esta pergunta de um modo simples e definido. Eles diziam, com verdade, que o melhor método de comunicação era usar um corpo puro e cuidadosamente treinado e guardado, com o sistema nervoso altamente organizado, de onde o possuidor pudesse facilmente sair, ou ser deslocado, deixando seu corpo como um tabernáculo vazio onde o Mestre – cujo corpo físico estava longe pudesse entrar e usar como se fora Seu. Um corpo destes seria como uma veste bem feita de onde o possuidor pudesse deslizar para fora, deixando-a para ser assumida e usada por outrem. Se um corpo há de ser usado desta forma, é necessário que ele seja guardado com um cuidado escrupuloso. O ambiente deve ser belo e pacífico; não se devem permitir vibrações grosseiras ou excitantes perturbar a atmosfera; não se deve permitir que pessoas grosseiras ou impuras se aproximem dele; sua dieta deve ser não-estimulante, nutritiva e livre de produtos que sofram fermentação ou decomposição, e uma cultura física cuidadosa deve preservá-lo em boa saúde. Nos antigos Templos, governados por pessoas que eram Iniciadas nos Mistérios maiores ou menores, encontrava-se tais corpos os das Virgens Vestais, ou das Sibilas. Estas Virgens eram originalmente meninas criadas com extremo cuidado dentro dos recintos do Templo, e permitia-se que entrassem em contato apenas com pessoas puras e nobres, e tais Virgens eram escolhidas como o instrumento de comunicação. Sentadas em um banco ou em uma cadeira, isolados do magnetismo da Terra, a menina deixava seu corpo se treinada como fazê-lo ou seria lançada em um transe. Então, um Mestre ou um alto Iniciado tomava posse do corpo, e, através dele, ensinava os discípulos reunidos para instrução. Este foi o método favorito de ensino entre os Antigos, e era um bom método, pois ele causa a menor perturbação nas forças físicas normais. Isto meramente fornecia a um Ser superior um veículo que Ele podia usar, enquanto que a Vestal não seria mais perturbada do que ao cair num sono normal. Este foi o meio em que Pitágoras estava acostumado a dar instruções aos seus discípulos em mais de uma vida. Atualmente, fala-se de um organismo como este como sendo de um médium, e a falta de conhecimento tem acarretado uma degradação no ofício. Uma pessoa que nasce sensitiva é ensinada a ser passiva, a permitir que seja lançada em transe, e que seu corpo seja possuído sem conhecimento de qual entidade vai usá-lo, sem critério ou poder de autodefesa. Tais pessoas, usualmente, poluem seus corpos com carne e álcool, encontram-se com todas as pessoas indiscriminadamente, permitem que qualquer um sente junto delas, vivem em ambientes sórdidos. Os resultados são naturalmente triviais ou repulsivos. Mas não se pode culpar os médiuns por isto;é a ignorância que leva a tais condições.

 

O meio de comunicação diametralmente oposto, tão perigoso quanto aquele é seguro, é quando se produz a materialização de um corpo físico. Os Mestres também usaram este método, e nos primeiros tempos, ele foi usado com relativa freqüência. O Mestre vem em Seu mãyãvi rûpã – corpo ilusório [um corpo formado pela vontade do Mestre com materiais dos mundos mental inferior e astral - (nota do tradutor)] e o densifica no local onde Ele deseja aparecer, retirando da atmosfera ou do corpo de alguém presente, as partículas que, incorporadas ao corpo sutil, o tornam visível e, às vezes, tangível.

 

Naturalmente perguntamos: Por que um meio de comunicação tão impressionante e satisfatório deveria ser perigoso? Por causa da universalidade da bem conhecida lei que diz que 'ação e reação são iguais, mas opostas'. Sempre que as forças dos planos superiores são levadas a atuar diretamente nos inferiores, há uma reação comparável àquela ação, e a atuação direta, aqui embaixo, de um Irmão da Loja Branca é seguida por uma ação direta, semelhante também, aqui, por um Irmão da Loja Negra. Em uma de suas primeiras cartas, um Mestre explicou esta perigosa reação aos fenômenos produzidos por Helena Blavatsky e os resultados destrutivos naqueles em seu círculo. Muitos de nós têm visto farta comprovação desta lei. Onde quer que tenham lugar tais manifestações de força oculta há perturbações e problemas, e aqueles que, a princípio, parecem ter sido altamente favorecidos são aqueles em quem recai o peso do refluxo inevitável. Eles sofrem física ou mentalmente; há perda de equilíbrio ou perturbações nervosas. A tensão nervosa a que Helena Blavatsky esteve sujeita pela abundância de fenômenos que ela produziu arruinou sua saúde física e a envelheceu antes do tempo. E é digno de nota que, por causa da tensão envolvida nesta atuação de forças na vida do discipulado, a saúde física tem sido sempre, no Oriente, um pré-requisito para o discipulado.

 

As biografias dos videntes, dos santos, estão cheias de evidências da atuação desta lei ('ação e reação são iguais, mas opostas'), e sem um treinamento definido nenhum corpo físico consegue suportar a tensão das experiências psíquicas. A histeria e a vidência têm sido tão constantemente encontradas juntas, que alguns consideram todas as exibições de vidência como resultado de perturbação do equilíbrio mental, e é verdade que, em muitíssimos casos, a sensitividade psíquica e nervos abalados andam juntos. Magnéticas, elétricas e outras formas de vibrações etéricas se estabelecem no plano físico pela exibição das forças sutis, e a menos que as pessoas, dentro de seu alcance, saibam como se proteger, elas pagam o preço por sua presença sob forma de nervos perturbados e cérebros sobrecarregados.

 

Um Mestre poderia enviar um pensamento para um estudante, e, assim, produzir uma mudança em sua consciência nos níveis superiores do plano mental. Esta mudança de consciência, causada pelo Mestre, produzirá vibrações correspondentes no corpo causal do estudante, e estas seriam reproduzidas do modo normal nos corpos mental e astral, e, sendo assim, levadas até o etérico. Uma pessoa mais facilmente afetada através do nervo auditivo poderia, em tais circunstâncias, ouvir a voz do Mestre, e ouvi-la dentro ou fora de sua cabeça; alguém mais prontamente afetado pelo nervo óptico poderia igualmente ver a forma do Mestre. Cada qual, enfim, poderia crer que ouvira ou vira o próprio Mestre, quando inconscientemente em seu cérebro etérico eles teriam manufaturado a voz ou a forma. Em tais casos, a comunicação teria sido real, mas a forma que ela tomou no plano físico teria sido ilusória.

 

Está escrito nos Atos dos Apóstolos, que quando o Espírito Santo desceu sobre os Doze, cada indivíduo que estava presente na numerosa assembléia podia ouvi-los falar em sua própria língua. Para a pessoa que não entende assuntos como estes tratados neste artigo a história pareceria incrível. Todavia, não o é. O pensamento dos Apóstolos causou em cada ouvinte uma mudança mental, reproduzindo-se na mente de cada um; esta mudança se tornou o pensamento de cada pessoa, e alcançou seu cérebro físico do modo costumeiro. Lá, no cérebro físico, revestiu-se de palavras – as palavras em que cada um estava inconscientemente acostumado a traduzir seus próprios pensamentos. A pessoa pensou que ouvira os Apóstolos falar em sua própria língua, ao passo que eles falaram em pensamento e cada um traduziu isto em seu próprio idioma.1 Similarmente, se um trabalhador no plano astral não consegue se comunicar através da linguagem comum com alguém que deseja auxiliar, ele pode – se tiver aprendido a usar seu corpo mental – transmitir o pensamento à mente de seu amigo, deixando que ele traduza a imagem mental em sua própria língua. É o amigo quem faz a tradução, mas ele pensaria que foi seu auxiliar que lhe falou, porém, ele teria apenas recebido dele uma impressão mental que traduzira, ele mesmo, da forma a que estava acostumado. Esta costumeira interação entre mente e cérebro, a tradução usual de uma imagem mental em palavras, é usada por aqueles que trabalham nos planos superiores como um meio conveniente de comunicação com aqueles que estão nos planos inferiores ao seu. Assim, um Mestre oriental, não conhecendo inglês, falaria 'em inglês' a um discípulo ocidental. Ele pode até escrever, bastando retirar do cérebro do discípulo as palavras de que necessita.

 

Existe ainda uma outra possibilidade que não deve ser omitida: a simulação de um Irmão da Luz por um Irmão da Sombra, ou de um discípulo de um pelo discípulo de outro... Pode acontecer que um Irmão da Sombra possa personificar um Irmão Branco e dar alguma ordem ou orientação nefasta. Em tal caso, tudo depende da intuição daquele que recebe a mensagem... Seja como for, o fogo do tempo prova todas as coisas; ele queima a escória e deixa o ouro purificado e resplendente.

 

A menos que possamos aceitar a boa-fé e a competência das testemunhas, ou tenhamos o poder de investigar por nós mesmos o passado, devemos forçosamente suspender nosso julgamento. A credulidade irracional e a incredulidade irracional são, ambas, sinais de uma mente desequilibrada. E onde falta evidência suficiente para nos satisfazer, é claro que o certo é nos abstermos tanto da afirmação quanto da negação. É claro que em tais assuntos cada um deve decidir por si mesmo; ninguém tem o direito de ditar como o outro deve pensar.

 

As leis da Natureza não mudam porque as desconhecemos. E, se cometemos um erro, mesmo que de boa-fé, devemos sofrer por termos andado contra elas... Mas, não encorajemos negações desencorajando afirmações, pois, senão, cresceremos em direção à sombra em vez de em direção à LLuz.

 

A palavra de ordem da liberdade religiosa do mundo antigo ressoa na esplêndida declaração de Shri Krishna: 'Por quaisquer caminhos que os homens tomem para se aproximar de Mim, ali mesmo Lhes dou as boas-vindas, pois, de todos os lados, todos os caminhos são Meus'.

 

A reivindicação do Cristianismo de ser a única religião verdadeira foi que deu origem às perseguições religiosas, primeiro do Cristianismo, e depois por ele.

 

A necessidade de fraternidade é encarecida pela destruição que resulta da falta de fraternidade. Uma lei da Natureza é provada tanto pela destruição de tudo o que se lhe opõe como pela permanência de tudo o que se harmoniza com ela.

 

A multiplicidade de credos religiosos seria uma vantagem e não um prejuízo para a Religião, se as religiões fossem uma fraternidade em vez de um campo de batalhas, pois, cada religião tem uma peculiaridade própria, algo de especial que as outras não têm para dar ao mundo. Cada religião pronuncia uma letra do Grande Nome de Deus – o Um sem outro; e este Nome só será pronunciado quando todas as religiões emitirem a letra que lhes foi dada para emitir, em melodiosa harmonia junto com o resto. Deus é tão grande, tão ilimitável, que nenhum cérebro humano, por maior que seja, nenhuma religião, por mais perfeita que seja, é capaz de expressar Sua perfeição infinita. É preciso um universo em sua totalidade para espelhá-Lo, ou melhor, universos incontáveis não bastam para esgotá-Lo. Uma estrela pode falar de Sua Radiância, Ele que é o Sol de tudo; um planeta, girando em ritmo constante, pode falar de Sua Ordem. Uma floresta pode sussurrar Sua Beleza; uma montanha, Sua Força; um rio, Sua Vida fertilizadora; um oceano, Sua Mutabilidade imutável. Mas nenhum objeto, nenhuma beleza de forma, nenhum esplendor de cor, nem mesmo o Coração do homem onde Ele habita, pode expressar as múltiplas perfeições deste Ser de riqueza infinita. Em cada objeto, em cada tipo de vida, se vê apenas um fragmento de Sua Glória, e somente a totalidade das coisas, passadas, presentes e futuras, pode representar, com sua infinitude, a Sua Infinitude.2 (Grifo meu).

 

Todas as grandes verdades das religiões são uma propriedade coletiva e não pertencem com exclusividade a nenhuma Fé.

 

Qual religião pode reivindicar um monopólio sobre a Unidade de Deus? Sobre a Trindade da Manifestação Divina? Sobre as Hierarquias Suprafísicas e seus Mundos? Sobre a natureza do Homem? Sobre a evolução do Homem? Sobre as Grandes Leis (Lei do Karma ou de Causa e Efeito e a Lei do Sacrifício ou de Propagação e Manutenção da Vida)?

 

A sempre repetida lenda do Sol – a história anual de nossa Terra é a verdade fundamental, é o mito estruturador da manifestação física de todo Fundador de uma grande religião, e Suas vidas humanas sempre repetem o drama do Sol sobre o palco do mundo. Esta declaração não vale para a religião do Islã, e a razão é evidente. O grande Profeta da Arábia é considerado pelos seus seguidores como sendo puramente humano, e não como uma encarnação do Logos. E eles pensam corretamente. Mas, em todas as religiões nas quais o Fundador é visto como uma encarnação divina reaparece o perfil do grande mito. Este fato tem sido usado como argumento para provar que os Fundadores não possuem existência histórica, mas isso é um equívoco. A vida histórica contém os elementos que reencarnam o mito, e da figura histórica fulgem os raios do Sol divino; não é que seja o Sol o Fundador, mas que ambos, Sol e Ele, são representantes físicos da vida central de um sistema mundial, e aquilo que o Sol é para seu sistema, o Fundador é para Sua religião.

 

Há uma só Religião – o conhecimento de Deus – e todas as religiões são ramos desta mesma árvore – a Árvore da Vida – cujas raízes estão no céu, enquanto seus ramos se esparramam no mundo dos homens. A raiz celeste é a Sabedoria, não a fé, não a crença, não a esperança, mas o conhecimento do Deus que é a Vida Eterna. De qualquer um dos ramos da Árvore da Vida uma pessoa pode colher uma folha para a cura das nações. Que ninguém negue o que para outra pessoa é verdade, pois ela pode ver uma verdade que outros não conseguem ver; que ninguém tente impor sua própria visão sobre outros, pois pode cegá-los ao forçá-los a ver o que não está dentro de seu campo de visão. Só existe um Sol, e cada energia em nossa Terra não passa de alguma forma de Força Solar. E assim, como um só Sol alimenta toda a Terra, um só Eu brilha em todos os Corações. Só existe uma blasfêmia – a negação de Deus no homem. Só existe uma heresia – a heresia da separatividade, que diz: 'sou outro além de ti; nós não somos um só'. Para a redenção do mundo, nós precisamos mais do que altruísmo, por mais nobre que ele seja. Precisamos aprender a anulação do eu individual, o sacrifício, a auto-entrega, mas não estaremos firmes no Um antes de podermos dizer: 'não há outros; é o Eu em tudo. Quando todos os homens disserem isto o mundo conhecerá sua Era Dourada. Quando um homem diz isto através de sua vida, sua presença é uma bênção aonde quer que ele vá. Somos irmãos, mas mais do que irmãos, pois os irmãos têm apenas um mesmo pai; nós temos um Eu comum. Em tudo, à nossa volta, vejamos a Glória do Eu, e lembremos que negar o Eu no mais baixo é negá-lo em nós mesmos e em Deus.

 

 

 

 

A condição da liberdade intelectual para os budistas está contida no sábio conselho do seu Instrutor: 'Não acreditem em uma coisa dita simplesmente porque é dita, nem em tradições porque vêm sendo transmitidas de um para outro desde a Antigüidade; nem em rumores enquanto rumores; nem em escritos de sábios apenas porque foram sábios que os escreveram; nem na mera autoridade de seus próprios instrutores ou mestres. Mas devemos acreditar quando o escrito, a doutrina ou dito, é corroborado pela razão e pela consciência. Por isto, tenho ensinado a vocês a não acreditar apenas por haverem escutado; mas, a acreditar quando a crença ocorre a partir de sua própria consciência, e, então, a agir de acordo com isto e intensamente'. Mesmo a revelação deve ser confrontada com a pedra de toque da razão e da consciência; deve haver uma resposta a ela a partir de dentro – o testemunho interior do Ser – antes que possa ser aceita como verdadeira.

 

Se os pensamentos de alguém estão concentrados em outra pessoa, a forma criada por tais pensamentos dirige-se na direção dessa pessoa. Se os pensamentos de alguém estão concentrados no próprio emitente, então eles ficam à sua volta, sempre prontos a influenciá-lo. O homem viaja pela vida dentro de um invólucro de pensamentos que ele mesmo cria.3

 

Enquanto guardamos a liberdade de pensamento e de expressão e encorajamos a mais ampla discussão das diferenças, não esqueçamos da cortesia e da gentileza, senão a diferença de pensamento decairá em vituperação daqueles que pensam diferentemente de nós. O ataque pessoal e a imputação de maus motivos são armas de ataque usadas pelo inculto e pelo vulgar, e não devem ter lugar na discussão Teosófica. O amor é tão vital como o conhecimento para a construção do futuro, e o conhecimento sem amor é inútil para os Mestres-Construtores da Raça Futura.

 

É meu porque é teu; e é também dele.

 

Eu não sou o meu corpo,
Eu não sou os meus sentimentos,
Eu não sou o meu pensamento,
Contudo, sou mais radiante do que o Sol,
Mais puro do que a neve,
Mais rarefeito do que o éter.
Eu, o Espírito que vive no meu Coração.
Esse 'Eu' sou eu.
Eu sou esse 'Eu'.
Eu sou o que sou!

 

Quando reconhecemos a unidade de todas as coisas vivas, neste momento surgem as perguntas: como podemos manter nossa vida com o menor dano possível às vidas ao nosso redor? Como podemos prevenir que nossa própria vida adicione sofrimento ao mundo em que vivemos? Encontramos entre os animais, como entre os homens, a capacidade de sentir prazer e a capacidade de sentir dor; os vemos mover-se por amor e ódio; os vemos sentindo terror e atração; reconhecemos neles capacidade de sensações muito similares às nossas, e apesar de os superarmos imensamente em intelecto, em meras características passionais, nossa natureza e a dos animais estão muito ligadas. Sabemos que quando eles sentem terror, este terror significa sofrimento. Sabemos que quando são feridos, isso significa dor para eles. Sabemos que as ameaças lhes causam sofrimento; eles se encolhem, sentem medo, sentem a ausência de relações amistosas e, de imediato, começamos a ver que em nossas relações com o reino animal surge um dever que todas as mentes pensantes e compassivas deveriam reconhecer: o dever de ser seus guardiões e de ajudá-los, e não sermos seus tiranos e opressores. Não temos o direito de lhes causar sofrimento e terror só para a gratificação do paladar, só por um luxo a mais em nossa vida. Há outro pensamento ligado a este: o que acontece com nossos deveres para com nossos semelhantes – os homens? E aqui apelo particularmente a meu sexo, porque se supõe que as mulheres, na sociedade, são o modelo do refinamento, da gentileza, da compaixão, da ternura e da pureza. Todavia, ninguém pode comer a carne de um animal massacrado sem ter usado a mão de um homem como assassino. Supondo que tivéssemos que matar nós mesmas as criaturas que colocamos em nossa mesa, será que há uma mulher entre cem que iria ao matadouro para sacrificar uma vaca, um bezerro, um novilho, uma ovelha ou um porco? Mas, se não pudemos fazer isto, nem presenciar, se somos tão refinadas que não podemos permitir contato próximo entre nós e os magarefes que fornecem esta comida, se sentimos que estão tão embrutecidos por seu comércio que seus meros corpos são repulsivos devido ao contato constante de sangue com o qual devem estar continuamente manchados, se reconhecemos a brutalidade física que resulta inevitavelmente de tal contato, como nos atrevemos a chamar-nos, a nós mesmas, de refinadas se compramos nosso refinamento com a brutalidade de outros e se exigimos que alguns devem ser brutos para que nós possamos comer o resultado de sua brutalidade? Não estamos livres dos resultados brutais desse comércio simplesmente porque não tomamos parte direta nele.

 

Conhecer o homem é conhecer Deus. Conhecer Deus é conhecer o homem. Estudar o Universo é instruir-se sobre Deus e sobre o homem, porque o Universo é a expressão do Pensamento Divino e o Universo está refletido no homem. O conhecimento é necessário para que o Eu se torne livre e se conheça unicamente como Si-mesmo.

 

A nota-chave do Universo é variedade, assim como a unidade é a nota do Não-manifesto, do Incondicionado – do Um que não conhece outro além de Si-mesmo.

 

 

 

 

 

 

 

Aprendemos que quando um Universo vai vir à existência, a Causa Primeira, o Inconcebível, o Indiscernível, o Sutil, resplandece por Sua própria Vontade. O que este resplandecer pode significar para Ele mesmo ninguém pode ousar sequer imaginar. O que isto significa para nós, em certa medida podemos compreender. Ishvara se manifesta, mas Ele, se manifestando, surge envolto no véu de Mâyâ. Existem, então, dois lados do Supremo em manifestação. Muitas palavras têm sido usadas para expressar este par de opostos fundamental: Ishvara e Mâyâ, Sat e Asat, Realidade e Irrealidade, Espírito e Matéria, Vida e Forma. Estas são palavras que nós, em nossa linguagem limitada, costumamos empregar para expressar aquilo que está muito além do alcance do pensamento. Tudo o que podemos dizer é: 'assim os Sábios nos ensinaram, e assim, humildes, repetimos. Mas, uma coisa é certa: a imagem de Ishvara em a Natureza jamais será perfeita antes que cada parte seja completa em si mesma e em suas relações com as outras.

 

Há uma só Vida em todas as formas, mas o estágio de desenvolvimento de uma vida particular depende do tempo em que ela passou se desenvolvendo separadamente, ou seja: há uma só Vida – imortal, eterna, infinita – no que tange à sua fonte e sua meta; mas esta Vida se manifesta em diferentes graus de evolução e em diferentes etapas de desenvolvimento, diferentes parcelas de seu poder inerente se expressando de acordo com a idade de cada vida separada.

 

Dharma pode ser definido como a natureza interna de uma coisa em qualquer estágio dado da evolução e a lei do próximo estágio de seu desenvolvimento... Ele é a natureza interna em dado estágio de evolução e a lei do estágio seguinte de seu desenvolvimento... Logo, a perfeição deve ser atingida cumprindo cada um o seu próprio Dharma... Se não reconhecemos o estágio atual, permanecemos ignorantes a respeito do próximo estágio para onde devemos nos dirigir, e, por isto, podemos estar indo contra nosso Dharma, e assim atrasando a evolução.

 

Forçar em direção a um ideal antes do tempo será prejudicial em vez de bom. Todas as coisas devem vir em seu tempo devido.

 

A função está em relação com o poder. Uma função assumida antes de ser desenvolvido o poder correspondente e necessário é extremamente danosa ao organismo.

 

As diferenças são necessárias para nossa consciência condicionada. Pensamos através das diferenças, sentimos através das diferenças, conhecemos através das diferenças. Somente através delas é que sabemos que somos pessoas vivas e pensantes. A Unidade não causa impressão alguma na consciência. As diferenças e as diversidades são as coisas que tornam possível o crescimento da consciência. A Consciência Não-condicionada está além do alcance de nosso pensamento. Só podemos pensar dentro dos limites do separado e do condicionado.

 

A perfeição do Universo é a perfeição na variedade e na harmonia das partes inter-relacionadas.

 

Qualquer experiência é útil.4

 

 

 


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Notas:

1. Então, quando se vê determinados religiosos eletrônicos, derrepentemente, a dar de falar em línguas, línguas que ninguém entende lhufas de bulhufas ou nicas de pitibiribas, que dá na mesma e na mesma dá, isto não passa de mistificação grosseira e interesseira, que, infelizmente, encontra crédulos para genuflectirem, para dizimarem e para, infantilmente, se subservirem. A existência é para apre(e)nder e para servir; jamais para não-ser e para subservir a interesses escusos.

2. Este parágrafo bem poderia ser denominado de o Parágrafo da Tolerância.

3. Einstein admitia: do conceito de que a matéria é um fantasma eletrônico até a idéia de que o pensar é uma imagem-pensamento que se materializa, não existe um grande passo.

4. O que Mâ Ananda Moyî (a impregnada de alegria) mais gostava de ensinar a seus discípulos era: Jo Ho jâye. O que acontece é desejado e bom.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://74.125.47.132/search?q=cache

http://www.lexbueno.hpg.com.br/
frases_esotericas.htm

http://www.ivu.org/portuguese/
people/history/besant.html

http://www.telma.org.br/Downloads/
Formas%20Pensamento.doc

http://www.upasika.com/docs/besant/Annie%20Besant
%20-%20Revelacao%20Inspiracao%20Observacao.pdf

http://mosteirobranco.blogspot.com/
2006/11/meditao-yogui-annie-besant.html

http://www.levir.com.br/libris.php?msg=35

http://pt.wikipedia.org/wiki/Annie_Wood_Besant

http://www.levir.com.br/index.php

http://www.levir.com.br/teosofia129.php

http://www.levir.com.br/libris.php?msg=36

 

Fundo musical:

Kabala

Fonte:

http://www.billwilliams.org/music/