BERTRAND RUSSELL
(Pensamentos)

 

 

 

 

Bertrand Russell

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Estou dividindo com vocês mais um estudo que fiz sobre o pensamento de um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram no século XX. O nome do homem: Bertrand Russell.

 

 

 

 

Breve Biografia de Bertrand

 

 

 

Bertrand Russell

Bertrand Russell

 

 

Bertrand Arthur William Russell, III Conde Russell (Ravenscroft, País de Gales, 18 de maio de 1872 – Penrhyndeudraeth, País de Gales, 2 de fevereiro de 1970) foi um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram no século XX. Foi um político liberal, ativista e um popularizador da Filosofia. Inúmeras pessoas respeitaram Russell, e outras tantas continuam respeitando, como uma espécie de profeta da vida racional e da criatividade, ainda que seu posicionamento em alguns temas, como acontece comigo, com você e com todo mundo, tenha sido controverso.

 

Bertrand nasceu em 1872, no auge do poderio econômico e político do Reino Unido, tendo morrido em 1970, vítima de uma gripe, quando o império já havia desmoronado e o seu poder drenado em duas guerras vitoriosas, mas debilitantes. Até sua morte, a sua voz deteve sempre autoridade moral, uma vez que ele foi um crítico influente das armas nucleares e da guerra estadunidense no Vietnã. Bertrand era mesmo um homem inquieto.

 

Recebeu o Nobel de Literatura de 1950, em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais lutou por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento.

 

As cinzas de Bertrand foram dispersas sobre as montanhas galesas.

 

 

 

 

Pensamentos Bertrandianos

 

 

 

Fui bastante cumprimentado, em minha chegada [à prisão], pelo sentinela da entrada, que tinha de tomar meus dados pessoais. Ele perguntou qual era minha religião e eu respondi: — agnóstico. Ele perguntou como se soletra, e comentou com um suspiro: — Bem, existem muitas religiões, mas eu acho que todas adoram o mesmo Deus. Este comentário me manteve animado por cerca de uma semana.

 

O homem é parte da Natureza, não algo que contrasta com a Natureza.

 

 

 

Não possuir algumas das coisas que desejamos é parte indispensável da felicidade.

 

O gênero de aborrecimento de que sofre a população das cidades modernas está intimamente ligado à sua separação da vida da Terra. Esta separação torna o seu viver ardente, poeirento e ansioso, tal como uma peregrinação no deserto. Nos que são suficientemente ricos para escolher o seu gênero de vida, o estigma peculiar de insuportável aborrecimento que os distingue é devido, por muito paradoxal que isto possa parecer, ao seu medo do aborrecimento. Ao fugirem do aborrecimento que é fecundo, são vítimas de outro de natureza pior.

 

A liberdade é algo maravilhoso, mas não quando o preço que se paga por ela tem de ser a solidão.

 

Disseram-me que os chineses me enterrariam próximo ao Lago Ocidental e construiriam um tempo em memória a mim. Tenho um leve arrependimento de que isto não tenha acontecido, pois eu poderia ter me tornado um deus, o que teria sido muito chique para um ateu.

 

A Terra é um pequeníssimo ponto no Universo. É um pequeno fragmento do sistema solar. O sistema solar é um pequeno fragmento da Via Láctea. E a Via Láctea é um pequeno fragmento dos muitos milhões de galáxias reveladas pelos telescópios modernos. Neste insignificante ponto do cosmos há um breve interlúdio entre dois longos períodos estéreis em vida. Neste breve interlúdio, há outro ainda mais curto que contém o homem. Se o homem é realmente o objetivo do Universo, o prefácio parece um pouco longo demais.

 

Superestimar a importância de nosso planeta sempre foi um dos defeitos dos teólogos de todos os tempos.

 

Há um tipo de gente presunçosa que gosta de afirmar que ‘tudo é relativo’. Isto é claramente um absurdo, pois se tudo fosse relativo, seria relativo em relação a quê? É possível, porém, sem incorrer em absurdos metafísicos, sustentar que tudo no mundo físico é relativo a um observador. Mas esta idéia, quer ela seja verdadeira ou não, não é a que a ‘Teoria da Relatividade’ adota. Talvez o nome ‘Teoria da Relatividade’ seja infeliz; não há dúvida de que ele levou filósofos e pessoas pouco instruídas a confusões. Eles imaginam que a nova Teoria prova que tudo no mundo físico é relativo, quando, ao contrário, ela está inteiramente empenhada em excluir o que é relativo e chegar a uma formulação das leis físicas que não dependa de maneira alguma das circunstâncias do observador. É verdade que se descobriu que estas circunstâncias têm mais efeito sobre o que aparece para o observador do que outrora se pensava, mas, ao mesmo tempo, a ‘Teoria da Relatividade’ mostra como desconsiderar esse efeito por completo. Essa é a fonte de quase tudo que ela tem de surpreendente.

 

O objetivo da Física é informar sobre o que realmente acontece no mundo físico, e não apenas sobre as percepções pessoais de observadores distintos. A Física deve, portanto, considerar aquelas características que um processo físico tem para todos os observadores, pois somente estas podem ser consideradas pertencentes à própria ocorrência física. Isto requer que as leis relativas aos fenômenos sejam as mesmas, quer os fenômenos sejam descritos tal como aparecem para um ou para outro observador. Este único princípio é o motivo gerador de toda a ‘Teoria da Relatividade’.

 

 

 

Relatividade da Simultaneidade
Animação editada da fonte:
http://commons.wikimedia.org/

 

 

Para uma mente de capacidade intelectual suficiente, temo que a totalidade da Matemática possa parecer trivial, tão trivial quanto o enunciado de que um animal de quatro patas é um animal.

 

A Matemática, vista corretamente, possui não apenas verdade, mas também uma beleza fria e austera, como a da escultura, sem recurso a qualquer parte da nossa fraca natureza, sem a linda pompa da pintura ou da música, mas sublimemente pura e capaz de uma perfeição rigorosa, como apenas a grande arte pode mostrar.

 

 

 


 

O tempo que você gosta de perder não é tempo perdido.

 

Uma das causas da infelicidade, da fadiga e da tensão nervosa é a incapacidade para tomar interesse por tudo o que não tenha uma importância prática na vida. Daí resulta que o consciente está sempre ocupado com um número restrito de problemas, cada um dos quais comporta certamente algumas inquietações e cuidados. A não ser no sono, o consciente nunca repousa para o subconsciente amadurecer gradualmente os problemas inquietantes. Sobrevém, assim, a excitabilidade, a falta de prudência, a irritabilidade e a perda do sentido das proporções. Tudo isto tanto são causas como efeitos da fadiga. À medida que aumenta a fadiga no homem, diminuem os seus interesses exteriores, e à medida que estes diminuem perde o descanso que eles lhe proporcionavam... e se fatiga ainda mais.

 

Inveja é a base da Democracia.

 

Cristo disse: — Ama a teu próximo como a ti mesmo. E quando é perguntado sobre quem é o seu próximo ensinou a Parábola do Bom Samaritano. Se você deseja entender essa parábola como foi entendida por seus ouvintes, você deve substituir 'alemães e japoneses' por samaritano. Eu temo que os cristãos modernos ficariam irritados com tal substituição, porque isto os incentivaria a refletir quão longe eles ficaram dos ensinamentos do Fundador1 de sua religião.

 

O trabalho é desejável, primeiro e antes de tudo como um preventivo contra o aborrecimento, pois o aborrecimento que um homem sente ao executar um trabalho necessário embora monótono, não se compara ao que sente quando nada tem o que fazer.

 

O Wittgenstein2 tardio... parece ter se tornado cansado do pensamento sério e ter inventado uma doutrina que faria uma tal atividade desnecessária. Eu não acredito por um momento que a doutrina que tem estas conseqüências preguiçosas seja verdade. Compreendo, no entanto, que tenho um preconceito intensamente forte contra ele, pois se é certo, Filosofia é, na melhor das hipóteses, uma pequena ajuda para lexicógrafos e, na pior das hipóteses, um chá ocioso em mesa de diversão.

 

As pessoas dirão que, sem os consolos da religião, elas seriam intoleravelmente infelizes. Tanto quanto este argumento é verdadeiro, também é covarde. Ninguém, senão um covarde, escolheria conscientemente viver no paraíso dos tolos. Quando um homem suspeita da infidelidade de sua esposa, não lhe dizem que é melhor fechar os olhos à evidência. Não consigo ver a razão pela qual ignorar as evidências deveria ser desprezível em um caso e admirável no outro.

 

Afirma-se – não sei com quanta veracidade – que um certo pensador hindu acreditava que a Terra estava apoiada em um elefante. Quando lhe perguntaram no que o elefante se sustentava, respondeu que se sustentava numa tartaruga. Quando lhe perguntaram sobre o que a tartaruga se sustentava, ele disse: — Estou cansado disso. Vamos mudar de assunto. Isso ilustra o caráter insatisfatório do argumento da Causa Primeira.

 

Os nossos pais nos amam porque somos seus filhos – este é um fato inalterável. Nos momentos de sucesso, isto pode parecer irrelevante, mas nas ocasiões de fracasso, oferecem um consolo e uma segurança que não se encontram em qualquer outro lugar.

 

O segredo da felicidade é o seguinte: deixar que os nossos interesses sejam tão amplos quanto possível, e deixar que as nossas reações, em relação às coisas e às pessoas, sejam tão amistosas quanto possam ser.

 

Quantos mais motivos de interesse um homem tem, mais ocasiões tem também de ser feliz, e menos está à mercê do destino, pois se perder um pode recorrer logo a outro.

 

A vida é demasiado curta para nos permitir interessar-nos por todas as coisas; mas é bom que nos interessemos por tantas quantas forem necessárias para preencher os nossos dias.

 

Se a todos nós fosse concedido o poder, como em num passe de mágica, de ler a mente uns dos outros, suponho que o primeiro efeito seria que quase todas as amizades se desfariam. O segundo efeito, entretanto, poderia ser excelente, pois um mundo sem amigos seria sentido como intolerável, e nós teríamos de aprender a gostar uns dos outros sem a necessidade de um véu de ilusão para esconder de nós mesmos que não nos consideramos uns aos outros pessoas absolutamente perfeitas. Sabemos que os nossos amigos têm as suas falhas, e que, apesar disso, são pessoas de um modo geral aprazíveis das quais gostamos. Consideramos intolerável, no entanto, que tenham a mesma atitude conosco. Esperamos que pensem que, ao contrário do resto da Humanidade, nós não temos falhas. Quando somos compelidos a reconhecer que temos falhas, tomamos esse fato óbvio com demasiada seriedade.

 

A Humanidade transformou-se em uma grande família, tanto que não podemos garantir a nossa própria prosperidade se não garantirmos a prosperidade de todos. Se você quer ser feliz, precisa resignar-se a ver os outros também felizes.

 

Se você acha que sua crença é baseada na razão, você a defenderá com argumentos e não pela força, e renunciará a ela se seus argumentos se mostrarem inválidos. Mas se sua crença se baseia na fé, você perceberá que a discussão é inútil e, portanto, recorrerá à força, ou na forma de perseguição ou anestesiando e distorcendo as mentes das crianças no que é chamado 'educação'.

 

Todas as ciências exatas são dominadas pela idéia da aproximação.

 

O espírito é uma máquina estranha que pode realizar as combinações mais extraordinárias com os materiais que lhe são oferecidos, mas sem esses materiais do mundo exterior é impotente; ao contrário da máquina de salsichas, é ele que os tem de colher, pois os acontecimentos só se tornam experiências graças ao interesse que por eles tomamos: se não nos interessam, não nos dão nada deles. Por isto, o homem cuja atenção se desvia para dentro de si nada encontra digno de observação, ao passo que o homem atento a tudo o que o rodeia pode encontrar em si próprio, nos raros momentos em que contempla a sua alma, um conjunto de elementos, os mais variados e interessantes, para serem examinados e reunidos em motivos belos ou instrutivos.

 

O homem não é um animal solitário, e enquanto perdura a vida em sociedade, a realização de si mesmo não pode ser o supremo princípio moral.

 

Temer o amor é temer a vida e os que temem a vida já estão três partes mortos.

 

Uma das formas mais universais de irracionalidade é a atitude tomada por quase toda a gente em relação às conversas maldizentes. Muito poucas pessoas sabem resistir à tentação de dizer mal dos seus conhecimentos e mesmo, se a ocasião se proporciona, dos seus amigos; no entanto, quando sabem que alguma coisa foi dita em seu desabono, enchem-se de espanto e indignação. Certamente nunca lhes ocorreu ao espírito que da mesma forma que dizem mal de não importa quem, alguém possa dizer mal deles. Esta é uma forma atenuada da atitude que, quando exagerada, conduz à mania da perseguição... Quando alguém ouve dizer que alguém disse qualquer coisa desprimorosa a seu respeito, lembra-se logo das noventa e nove vezes que reprimiu o desejo de exprimir, sobre esse alguém, a crítica que considerava justa e merecida, e se esquece da centésima vez em que, em um momento de desatenção, afirmou a respeito dele o que julgava ser a verdade. Esta é a recompensa, perguntará a si próprio, de toda a minha longa indulgência? O problema, visto do lado oposto, apresenta-se de uma forma diferente: ele nada sabe das noventa e nove vezes em que você se calou; conhece apenas a centésima vez em que você falou.

 

Uma vida feliz deve ser, em grande parte, uma vida tranqüila, pois só em uma atmosfera calma pode existir o verdadeiro prazer.3

 

Aquilo que os homens de fato querem não é o conhecimento, mas a certeza.

 

Há a idéia de que quando se concede à razão inteira liberdade ela destrói todas as emoções profundas. Esta opinião me parece devida à uma concepção inteiramente errada da função da razão na vida humana. Não é objetivo da razão gerar emoções, embora possa ser parte da sua função descobrir os meios de impedir que tais emoções sejam um obstáculo ao bem-estar. Descobrir os meios de diminuir o ódio e a inveja é, sem dúvida, parte da função da psicologia racional. Mas é um erro supor que diminuindo essas paixões, diminuiremos ao mesmo tempo a intensidade das paixões que a razão não condena. No amor apaixonado, na afeição dos pais, na amizade, na benevolência, na devoção às ciências ou às artes, nada há que a razão deseje diminuir. O homem racional, quando sente essas emoções, ficará contente por as sentir, e nada deve fazer para diminuir a sua intensidade, pois todas elas fazem parte da verdadeira vida, isto é, da vida cujo objetivo é a felicidade, a própria e a dos outros. Nada há de irracional nas paixões como paixões e muitas pessoas irracionais sentem somente as paixões mais triviais. Ninguém deve recear que ao optar pela razão torne triste a vida. Ao contrário; pois a razão consiste, em geral, na harmonia interior. O homem que a realiza sente-se mais livre na contemplação do mundo e no emprego da sua energia para conseguir os seus propósitos exteriores, do que o homem que é continuamente embaraçado por conflitos íntimos. Nada é tão deprimente como estar fechado em si mesmo, nada é tão consolador como ter a sua atenção e a sua energia dirigidas para o mundo exterior.

 

Mais do que qualquer outra coisa, é a ambição de possuir que impede os homens de viverem de uma maneira livre e nobre.

 

O truque da Filosofia é começar por algo tão simples que ninguém ache digno de nota e terminar por algo tão complexo que ninguém entenda.4

 

Na vida, nunca se deveria cometer duas vezes o mesmo erro. Há bastante por onde escolher.

 

 

 

 

O ódio à razão, tão freqüente nos nossos dias, é devido, em grande parte, ao fato de os movimentos da razão não serem concebidos de uma forma suficientemente fundamental. O homem dividido contra si mesmo procura estímulos e distrações; ama as paixões fortes, não por razões profundas, mas porque, momentaneamente, elas lhe permitem evadir-se de si próprio e afastam dele a dolorosa necessidade de pensar. Toda a paixão é para ele uma forma de intoxicação, e desde que não pode conceber uma felicidade fundamental, a intoxicação parece-lhe o único alívio para o seu sofrimento. Isto, no entanto, é o sintoma de uma doença de raízes profundas. Quando não há tal doença, a felicidade provém da plena posse das suas faculdades. É nos momentos em que o espírito está mais ativo, em que menos coisas são esquecidas que se sentem alegrias mais intensas. Esta é, sem dúvida, uma das melhores pedras de toque da felicidade. A felicidade que exige intoxicação de não importa que espécie, é falsa e não dá qualquer satisfação. A felicidade que satisfaz verdadeiramente é acompanhada pelo completo exercício das nossas faculdades e pela compreensão plena do mundo em que vivemos.

 

A indução propõe, talvez, o mais difícil problema em toda a teoria do conhecimento. Toda lei científica é estabelecida por seu intermédio, e, no entanto, é difícil ver porque a julgaríamos um processo lógico válido. A indução, em seu fundamento, consiste do seguinte argumento: já que A e B têm sido encontrados juntos muitas vezes, e jamais separados, quando A for encontrado outra vez, B provavelmente o será também. Isto ocorre, primeiro, como 'inferência fisiológica', e, como tal, é praticado por animais. Quando começamos a refletir, nós nos descobrimos a fazer induções no sentido fisiológico; por exemplo, à espera de que o alimento que vemos possua um certo gosto. Com freqüência, só nos damos conta desta expectativa quando ela nos desaponta, isto é, se provamos sal julgando ser açúcar.

 

A felicidade solitária não é felicidade.

 

Uma vida demasiado repleta de agitação é uma vida esgotante que continuamente exige estímulos mais fortes para provocar as emoções que acabam por ser consideradas parte essencial do prazer. Uma pessoa habituada a demasiada agitação é comparável à que tem um desejo mórbido de pimenta e acaba por ser incapaz de lhe apreciar o sabor numa quantidade que sufocaria qualquer outra pessoa. Há sempre um certo aborrecimento quando se evita em demasia a agitação, mas, por sua vez, a agitação demasiada não só enfraquece a saúde como embota o gosto para toda a espécie de prazeres, substituindo titilações por profundas satisfações orgânicas, habilidade por inteligência e impressões fugidias por beleza. Não pretendo exagerar os perigos da agitação. Uma certa quantidade talvez seja saudável; mas como em quase todas as outras coisas, o problema é de ordem quantitativa. Uma dose demasiado pequena pode gerar desejos mórbidos e o abuso pode produzir o esgotamento. Certa capacidade para suportar o aborrecimento é, pois, essencial a uma vida feliz, e isso era uma das coisas que deviam ser ensinadas aos jovens.

 

Um dos paradoxos dolorosos do nosso tempo reside no fato de serem os estúpidos os que têm a certeza, enquanto os que possuem imaginação e inteligência se debatem em dúvidas e indecisões.

 

Nada pode ser criado em um lado senão à custa da dissolução no outro.

 

Os interesses comuns do gênero humano são enumeráveis e ponderáveis, porém a maquinaria política existente obscurece-os por causa da luta em torno do poder entre diferentes nações e partidos. Máquina diferente – que não exigisse modificações legislativas ou constitucionais e que não fosse muito difícil de criar – minaria a fortaleza da paixão nacional e partidária e focalizaria a atenção sobre medidas benfazejas a todos, em vez de concentrá-la em prejudicar o inimigo. No meu entender, é por esta diretriz, e não pelo governo nacionalmente partidário, que se encontrará a saída dos perigos que atualmente ameaçam a civilização. O saber e a boa vontade existem; ambos, porém, continuarão impotentes enquanto não possuírem órgãos próprios para se fazerem ouvir.

 

O fato de uma opinião ser amplamente compartilhada não é nenhuma evidência de que não seja completamente absurda; de fato, tendo-se em vista a maioria da Humanidade, é mais provável que uma opinião difundida seja mais tola do que sensata.

 

A maior parte das pessoas prefere morrer a pensar; na verdade, é isso que fazem.

 

A respeitabilidade, a regularidade, a rotina – toda a disciplina de ferro forjada na moderna sociedade industrial – atrofiaram o impulso artístico e aprisionaram o amor de forma tal que não mais pode ser generoso, livre e criador, tendo de ser ou furtivo ou pedante. Aplicou-se controle às coisas que mais deveriam ser livres, enquanto a inveja, a crueldade e o ódio se espraiam à vontade com as bênçãos de quase toda a bisparia. O nosso equipamento instintivo consiste em duas partes – uma que tende a beneficiar a nossa própria vida e a dos nossos descendentes, e outra que tende a atrapalhar a vida dos supostos rivais. Na primeira, incluem-se a alegria de viver, o amor e a arte, que psicologicamente é uma conseqüência do amor. A segunda, inclui competição, patriotismo e guerra. A moral convencional tudo faz para suprimir a primeira e incentivar a segunda. A moral verdadeira faria exatamente o contrário. As nossas relações com os que amamos podem ser perfeitamente confiadas ao instinto; são as nossas relações com aqueles que detestamos que deveriam ser postas sob o controle da razão. No mundo moderno, aqueles que de fato detestamos são grupos distantes, especialmente nações estrangeiras. Concebêmo-las no abstrato e engodamo-nos para crer que os nossos atos (na verdade manifestações de ódio) são cometidos por amor à justiça ou outro motivo elevado. Apenas uma forte dose de cepticismo pode rasgar os véus que nos ocultam essa verdade. Uma vez que o consigamos, poderíamos começar a construir uma nova moral, não baseada na inveja e na restrição, mas no desejo de uma vida pródiga e a percepção de que outros seres humanos são um auxílio e não um obstáculo, uma vez curada a loucura da inveja. Não é uma esperança utópica; foi parcialmente realizada na Inglaterra isabelina. Poderia ser realizada amanhã se os homens aprendessem a procurar a própria felicidade em lugar de provocar a desgraça alheia. Não se trata de moral impossivelmente austera, e, no entanto, a sua adoção transformaria o Planeta em um paraíso.

 

O homem, hoje, para ser salvo, só tem necessidade de uma coisa: abrir o coração à alegria.5

 

As equações não explodem.6

 

A experiência não permite nunca atingir a certeza absoluta. Não devemos procurar obter mais do que uma probabilidade.7

 

O nosso mundo vive demasiado sob a tirania do medo, e insistir em mostrar os perigos que o ameaçam só pode conduzi-lo à apatia da desesperança. O contrário é que é preciso: criar motivos racionais de esperança, razões positivas de viver. Precisamos mais de sentimentos afirmativos do que de negativos. Se os afirmativos tomarem toda a amplitude que justifique um exame estritamente objetivo da nossa situação, os negativos desagregar-se-ão, perdendo a sua razão de ser. Mas se insistirmos em demasia nos negativos, nunca sairemos do desespero.

 

Pedir demasiado é a maneira mais segura de receber ainda menos do que é possível.8

 

As crenças comuns são convencidas, incertas e, em si mesmas, contraditórias.

 

A essência do fanatismo consiste em considerar determinado problema como tão importante que ultrapasse qualquer outro. Os bizantinos, nos dias que precederam a conquista turca, entendiam ser mais importante evitar o uso do pão ázimo na comunhão do que salvar Constantinopla para a cristandade. Muitos habitantes da península indiana estão dispostos a precipitar o seu País na ruína por divergirem numa questão importante: saber se o pecado mais detestável consiste em comer carne de porco ou de vaca. Os reacionários amercianos prefiririam perder a próxima guerra do que empregar nas investigações atômicas qualquer indivíduo cujo primo em segundo grau tivesse encontrado um comunista em alguma região. Durante a Primeira Guerra Mundial, os escoceses sabatários, a despeito da escassez de víveres provocada pela atividade dos submarinos alemães, protestavam contra a plantação de batatas ao domingo e diziam que a cólera divina, devido a este pecado, explicava os nossos malogros militares. Os que opõem objeções teológicas à limitação dos nascimentos, consentem que a fome, a miséria e a guerra persistam até ao fim dos tempos porque não podem esquecer um texto, mal interpretado – o Gênese. Os partidários entusiastas do Comunismo, tal como os seus maiores inimigos, preferem ver a raça humana exterminada pela radioatividade do que chegar a um compromisso com o mal – Capitalismo ou Comunismo, segundo o caso. Tudo isto são exemplos de fanatismo. Em cada comunidade há um certo número de fanáticos por temperamento. Alguns desses fanáticos são essencialmente inofensivos e os outros não fazem mal enquanto os seus partidários forem pouco numerosos ou estiverem afastados do poder. Os «amish» na Pensilvânia pensam que é mau usar botões; isto é completamente inofensivo, salvo na medida em que revela um estado de espírito absurdo. Alguns protestantes extremistas gostariam de ressuscitar a persguição aos católicos; essas pessoas só serão inofensivas enquanto forem em pequeno número. Para que o fanatismo se torne uma ameaça séria é preciso que possua bastantes partidários para pôr a paz em perigo, internamente por meio de uma guerra civil ou externamente por uma cruzada, ou quando, sem guerra civil, estabeleça uma Lei dos Santos que implique na perseguição e na estagnação mental. No passado, o melhor exemplo da história é o reinado da Igreja desde o século IV ao século XVI. Para curar o fanatismo – salvo nas aberrações raras dos indivíduos excêntricos – são necessárias três condições: segurança, prosperidade e educação liberal.

 

Um pensamento e uma percepção não são muito diferentes em sua própria natureza. Se a Física está correta, eles divergem em suas correlações: quando vejo uma cadeira, outros têm percepções mais ou menos idênticas, e acredita-se que estas percepções estão associadas às ondas de luz provenientes da cadeira, enquanto que, quando eu formulo um pensamento, outros talvez não estejam pensando em algo idêntico. Mas isto se aplica também a uma sensação de dor de dente, o que normalmente não seria considerado um caso de introspecção. Em resumo, portanto, parece não haver razão para considerarmos a introspecção um gênero diferente de conhecimento em relação à percepção externa.

 

Para sermos felizes, devemos deixar de lado a certeza da nossa breve existência. Precisamos nos considerar como parte de uma corrente contínua que corre desde o primeiro germe até um futuro remoto e desconhecido.

 

Se a paz não puder ser mantida com honra, deixa de ser paz.

 

O elemento puramente instintivo não constitui senão uma pequena parte do ódio racial, e não é difícil de vencer. O medo do que é estrangeiro, que é a sua principal essência, desaparece com a familiaridade. Se nenhum outro elemento o formasse, toda a perturbação desapareceria logo que pessoas de raças diferentes se habituassem umas às outras. Mas há sempre pretextos para se odiarem os grupos estrangeiros. Os seus hábitos são diferentes dos nossos e portanto (em nossa opinião) piores. Se triunfam, é porque nos roubam as oportunidades; se não triunfam, é porque são miseráveis vagabundos. A atual população do mundo descende dos sobreviventes de longos séculos de guerras e, por instinto, está à espreita de ocasiões de hostilidade coletiva.

 

É importante aprender a não se aborrecer com opiniões diferentes das suas, mas se dispor a trabalhar para entender como elas surgiram. Se depois de entendê-las ainda lhe parecerem falsas, então, poderá combatê-las com mais eficiência do que se você tivesse se mantido simplesmente chocado.

 

Quão frágil e inerme é a razão! No entanto, é nosso único instrumento.

 

Pode se evitar a guerra por algum tempo por meio de paliativos, expedientes ou uma diplomacia sutil, mas tudo isto é precário, e enquanto durar o nosso sistema político atual, pode ser considerado como quase certo de que grandes conflitos haverão de surgir de vez em quando. Isto acontecerá inevitavelmente enquanto houver diferentes Estados soberanos, cada um com as suas forças armadas e juiz supremo dos seus próprios direitos em qualquer disputa. Há somente um meio de o mundo poder se libertar da guerra: é a criação de uma autoridade mundial única, que possua o monopólio de todas as armas mais perigosas. Para que um governo mundial pudesse evitar graves conflitos, seria indispensável possuir um mínimo de poderes. Em primeiro lugar precisava de ter o monopólio de todas as principais armas de guerra e as forças armadas necessárias para o seu emprego. Deveria também tomar as precauções indispensáveis, quaisquer que fossem, para assegurar, em todas as circunstâncias, a lealdade dessas forças ao governo central. O governo mundial teria de formular, portanto, certas regras relativas ao emprego das suas forças armadas. A mais importante determinaria que, em qualquer conflito entre dois Estados, cada um teria de se submeter às decisões da autoridade mundial. Todo o emprego da força, de um Estado contra o outro tornaria o agressor um inimigo público e implicaria o emprego, contra ele, das forças armadas do governo mundial. Estes seriam os poderes essenciais para salvaguardar a paz. Uma vez conseguidos, outros se lhes seguiriam. Haveria necessidade de corpos constituídos para desempenhar as funções legislativas e judiciais; mas tais corpos desenvolver-se-iam naturalmente se as condições militares fossem realizadas. O que é difícil e vital é dotar de uma força irresistível a autoridade central. O governo mundial pode ser democrático ou totalitário; pode ter a sua origem no consentimento ou na conquista; pode ser o governo nacional de um Estado que conseguiu conquistar o mundo ou, pelo contrário, uma autoridade em que cada Estado, ou cada ser humano, tenha iguais direitos. Por minha parte creio que se tal governo se constituir um dia será à base do consentimento nalgumas regiões e à base da conquista noutras. Em uma guerra mundial entre dois grupos de nações, pode suceder que os vencedores desarmem os vencidos e comecem a governar o mundo por meio de instituições unificadoras desenvolvidas durante o conflito. Gradualmente, à medida que se desvaneça a hostilidade provocada pela guerra, as nações vencidas poderão ser admitidas como associadas. Não creio que a espécie humana tenha suficiente habilidade política ou um elevado espírito de tolerância para estabelecer um governo mundial somente à base do consentimento. Por isto, penso que um elemento de força deve ser necessário, tanto para o seu estabelecimento como para a sua proteção durante os primeiros anos.

 

Medo coletivo estimula o instinto de rebanho e tende a produzir ferocidade contra aqueles que não são considerados como membros do rebanho.

 

O maior desafio para qualquer pensador é enunciar o problema de tal modo que possa permitir uma solução.9

 

Há duas épocas na vida – infância e velhice – em que a felicidade está em uma caixa de bombons.

 

Os cientistas se esforçam por fazer possível o imposível; os políticos por fazer o possível impossível.

 

 

 

 

O espírito de competição, considerado como a principal razão da vida, é demasiado inflexível, demasiado tenaz, demasiado composto de músculos tensos e de vontade decidida para servir de base possível à existência durante mais de uma ou duas gerações. Depois desse espaço de tempo, deve produzir-se uma fadiga nervosa, vários fenômenos de evasão, uma procura de prazeres tão tensa e tão penosa como o trabalho (pois o afrouxamento se tornou impossível) e, finalmente, a desaparição da raça devido à esterilidade. Não somente o trabalho é envenenado pela filosofia que exalta o espírito de competição, mas os ócios o são na mesma medida. O gênero de descanso que acalma e restaura os nervos chega a ser aborrecimento. Produz-se fatalmente uma aceleração contínua cujo fim normal são as drogas e a ruína. O remédio consiste na aceitação de uma alegria sã e serena como elemento indispensável ao equilíbrio ideal da vida.

 

Existe um artista aprisionado em cada um de nós. Deixe-o solto para espalhar alegria por toda parte.

 

Os homens nascem ignorantes, não estúpidos. Eles se tornam estúpidos pela [falta de] educação.

 

Muitos indivíduos ortodoxos dão a entender que é papel dos céticos refutar os dogmas apresentados – em vez de os dogmáticos terem de prová-los. Esta idéia, obviamente, é um erro. De minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá chinês girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal pote de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade.10

 

As vantagens do aumento da amplitude das unidades sociais são principalmente evidentes em caso de guerra. De resto, em todos os tempos, a guerra foi a causa principal desse crescimento, da transformação das famílias em tribos, das tribos em nações e das nações em coligações. Mas, muito embora seja grande o interesse das nações poderosas em triunfar, algumas começam a compreender que há qualquer coisa preferível à própria vitória, que é evitar a guerra. No passado, a guerra era às vezes uma empresa proveitosa. A Guerra dos Sete Anos, por exemplo, proporcionou aos ingleses excelente rendimento em relação ao capital nela empregado, e os lucros conseguidos pelos vencedores nas guerras primitivas foram ainda mais evidentes. Mas o mesmo não sucede nos conflitos modernos, por duas razões principais: primeiro, porque os armamentos se tornaram extremamente caros; segundo, porque os grupos sociais envolvidos em uma guerra moderna são muito importantes. É um erro pensar que a guerra moderna é mais destruidora de vidas do que o foram os conflitos menos importantes de outrora. Antigamente, a percentagem das perdas em relação aos efetivos envolvidos na luta era, por vezes, tão elevada como hoje; e além das perdas em combate, as mortes causadas pelas epidemias eram em geral numerosas. Repetidamente se encontra, na história antiga e medieval, notícia de exércitos inteiros praticamente exterminados pela peste. A bomba atômica,11 evidentemente, é mais espetacular; mas mesmo onde ela foi empregada, a taxa de mortalidade não foi tão forte como em muitas outras guerras anteriores. A população do Japão aumentou cerca de cinco milhões durante a Segunda Guerra Mundial, ao passo que se calcula que a população da Alemanha, durante a Guerra dos Trinta Anos, ficou reduzida à metade. De um modo geral, não é verdade que a mortalidade causada pela guerra aumente com o aumento de eficiência das armas empregadas.

 

Se o Universo tivesse um criador, não seria muito razoável supor que estaria especialmente preocupado com o pequeno grão em que vivemos. E, se não estivesse, seus valores deveriam ser diferentes dos nossos, visto que na imensa maioria das regiões a vida é impossível. Há um argumento moral para a crença em Deus, que foi popularizado por William James.11 De acordo com este argumento, devemos crer em Deus porque, caso contrário, não nos comportaríamos bem. A primeira e maior objeção a esse argumento é que, no melhor dos casos, não pode provar que há um Deus, mas apenas que políticos e educadores devem tentar fazer as pessoas pensarem que há um. Se isto deve ser feito ou não, é uma questão política e não teológica. Este argumento é do mesmo gênero daqueles que sustentam que as crianças devem ser ensinadas a respeitar a bandeira nacional. Um homem com um mínimo de religiosidade genuína não ficará satisfeito com a idéia de que a crença em Deus é útil; ele desejará saber se, de fato, existe um Deus. É absurdo pensar que as duas questões são a mesma coisa. Nas escolas infantis, a crença no papai Noel é útil, mas homens adultos não pensam que isto prova a real existência do papai Noel. Visto que não estamos discutindo política, podemos considerar suficiente esta refutação do argumento moral, mas talvez valha a pena ir um pouco mais a fundo. Primeiramente, é muito duvidoso se a crença em Deus implica todos os efeitos morais benéficos que lhe são atribuídos. Muitos dos melhores homens da história foram descrentes; John Stuart Mill talvez sirva como exemplo. E muitos dos piores homens da história foram crentes; disso temos inúmeros exemplos – talvez Henrique VIII sirva como um.

 

Não há fundamentação para a idéia de que as crenças teológicas devem ser sustentadas por sua utilidade, sem consideração à veracidade.

 

A todo o homem, cedo ou tarde, chega a grande renúncia. Para o jovem não existe nada inalcançável. Que algo bom e desejado com toda a força de uma vontade apaixonada seja impossível, não lhe parece crível. Mas, ou por meio da morte ou da doença, da pobreza ou da voz do dever, cada um de nós é forçado a aprender que o mundo não foi feito para nós, e que, não importa quão belas sejam as coisas que almejamos, o destino pode, não obstante, proibi-las. É parte da coragem, quando a adversidade vem, suportá-la sem lamentar a derrocada das nossas esperanças, afastando os nossos pensamentos de vãos arrependimentos. Esse grau de submissão não é somente justo e correto: ele é o Portal da Sabedoria.

 

Devemos apoiar-nos em nossos próprios pés e olhar o mundo honestamente – as coisas boas, as coisas más, suas belezas e suas fealdades; ver o mundo como ele é, e não temê-lo. Conquistar o mundo por meio da inteligência, e não apenas abjetamente, subjugados pelo terror que ele nos desperta. Toda a concepção de Deus é uma concepção derivada dos antigos despotismos orientais. É uma concepção inteiramente indigna de homens livres. Quando vemos na igreja pessoas a depreciar a si próprias e a dizer que são miseráveis pecadores e tudo o mais, tal coisa nos parece desprezível e indigna de criaturas humanas que se respeitem. Devemos levantar-nos e encarar o mundo de frente, honestamente. Devemos fazer do mundo o melhor que nos seja possível, e se o mesmo não é tão bom quanto desejamos, será, afinal de contas, ainda melhor do que esses outros fizeram dele durante todos estes séculos. Um mundo bom necessita de conhecimento, bondade e coragem; não precisa de nenhum anseio saudoso pelo passado, nem do encarceramento das inteligências livres por meio de palavras proferidas há muito tempo por homens ignorantes. Necessita de uma perspectiva intemente e de uma inteligência livre. Necessita de esperança para o futuro, e não passar o tempo todo voltado para trás, para um passado morto, que, assim o confiamos, será ultrapassado de muito pelo futuro que a nossa inteligência pode criar.12

 

 

 

Código de Conduta

Bertrand Russell

 

 

1. Não tenhas certeza absoluta de nada.

2. Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.

3. Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois, com certeza, tu terás sucesso.

4. Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.

5. Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.

6. Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te.

7. Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.

8. Encontres mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizares a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.

9. Sê escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares escondê-la.

10. Não tenhas inveja daqueles que vivem em um paraíso de tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.

 

 

 

 

 


 

 

 

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Notas:

1. Aqui há um equívoco, pois Jesus não fundou religião alguma; Ele não se projetou neste Planeta para isto. Mas, e o Cristianismo, que desembocou no Catolicismo, que desembocou em sei lá quantas religiões, que desembocarão em não sei mais quantas? Bem, e quem fundou? Resposta: Paulo.

2. Ludwig Joseph Johann Wittgenstein (Viena, 26 de Abril de 1889 – Cambridge, 29 de Abril de 1951) foi um filósofo austríaco considerado um dos maiores do século XX, tendo contribuído com diversas inovações nos campos da Lógica, da Filosofia da Linguagem, da Epistemologia, dentre outros. A maior parte de seus escritos foi publicada postumamente, mas seu primeiro livro foi publicado em vida: Tractatus Logico-Philosophicus, em 1921. Os primeiros trabalhos de Wittgenstein foram marcados pelas idéias de Arthur Schopenhauer, assim como pelos novos sistemas de Lógica idealizados por Bertrand Russel e Gottlob Frege. Quando o Tractatus foi publicado, influenciou profundamente o Círculo de Viena e seu Positivismo Lógico (ou Empirismo Lógico).

3. Será que é assim? Em campos opostos, as vidas de Ernesto Guevara de la Serna, mais conhecido por Che Guevara ou El Che (Rosário, 14 de junho de 1928 – La Higuera, 9 de outubro de 1967) e de Harvey Spencer Lewis, famoso Rosacruz, autor, ocultista, místico e fundador, nos Estados Unidos, da Ordem Rosacruz – AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosæ Crucis), sendo seu primeiro Imperator de 1915 à 1939, por exemplo, terão sido sempre tranqüilas, como céu de brigadeiro? Penso que não. Penso, sim, salvo melhor juízo, que, em certos momentos, foram bastante intranqüilas e angustiantes, mas não deixaram de ser muito prazerosas. Cada um construiu aquilo que julgava importante construir. E nada, absolutamente nada, poderá dar mais prazer a um ser humano do que poder sentir que cumpriu sua missão. Eu gostaria de, ao partir, poder dizer: não sei se cumpri minha missão na Terra, mas fiz o melhor que pude.

4. Às vezes, é assim; às vezes, não é. Leia Parmenides, de Platão, ou a Crítica da Razão Pura, de Kant, por exemplo, e veja se são obras fáceis.

5. Não quero discordar de Bertrand, mas vou reformular esta sentença: O homem para ser salvo de si mesmo, precisa, em primeiro lugar, abrir o Coração à Alegria.

6. O que pode explodir é o que nós fazemos delas!

 

 

 

7. Só há, por enquanto, uma certeza absoluta: ninguém haverá de ficar para semente.

8. O que dizer, então, de quem cisma de exigir – que é muito mais do que pedir, ou seja, reclamar em função de direito legítimo ou suposto, presumidamente procedente ou fantasioso – de Deus isto, aquilo e mais não sei o quê?

9. Dizer que Deus existe é igualzinho a dizer que Deus não existe. Agora, dizer que está chovendo ou que está fazendo Sol é completamente diferente.

10. Em seu livro O Capelão do Diabo, lançado em 2003, o zoólogo, etólogo, evolucionista e popular escritor de divulgação científica britânico, natural do Quênia, além de professor da Universidade de Oxford, Richard Dawkins desenvolveu esta interessante analogia do bule de chá celestial: A razão de a religião reagir contra esta idéia, ao contrário da crença no Bule de Chá de Russell, é porque a religião é poderosa, influente, se auto-exime e sistematicamente é passada para crianças que são jovens demais para se defenderem sozinhas. Crianças não são compelidas a passar seus anos de alfabetização lendo livros insanos sobre bules de chá. Escolas públicas não excluem crianças cujos pais preferem formatos diferentes de bule. Os crentes no bule de chá não ameaçam com a morte quem não crê no bule, quem duvida do bule ou quem blasfema contra o bule. Mães não aconselham seus filhos a se casarem com mulheres que crêem no bule de chá celestial, tal como todos os seus parentes se casaram. Pessoas que misturam leite no chá não tem suas pernas quebradas por quem prefere o chá puro.

10. Na realidade, as bombas não são atômicas; são nucleares.

11. Willliam James (11 de janeiro de 1842 – 26 de agosto de 1910) foi um psicólogo e filósofo estadunidense com formação em medicina. Ele escreveu livros influentes sobre a então jovem ciência da Psicologia, incluindo temas como a educação e a psicologia da experiência religiosa. James foi um dos formuladores e defensores da Filosofia do Pragmatismo, perspectiva influente nos Estados Unidos por boa parte do século XX. James interagiu com uma ampla gama de escritores e acadêmicos ao longo de sua vida, incluindo seu padrinho Ralph Waldo Emerson, seu afilhado William James Sidis, e outros como Bertrand Russell, Charles Peirce, George Santayana, John Dewey, Mark Twain e Carl Jung. Sua obra foi uma das grandes influências que embasam o movimento neo-pragmático de Nelson Goodman, Richard Rorty e Hilary Putnam.

12. Conheci materialistas e agnósticos que eram místicos até as entranhas. Claro, não conheci Bertrand Russell, mas, com certeza, era um desses.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.ecsbdefesa.com.br/
fts/MATEM%C1TICA.pdf

http://www.ojardim.net/2009/
03/sera-que-tudo-e-relativo.html

http://www.cityofbath.com/recreation/image/

http://www.myspace.com/lewistalli

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Bertrand_Russell

http://osopher.wordpress.com/2009/10/

http://www.citador.pt/pensar.
php?op=7&author=68

http://www.ronaud.com/frases-pensamentos-
citacoes-de/bertrand-russell

http://quiosque.aeiou.pt/gen.pl?p=stories
&op=view&fokey=ae.stories/19073

http://www.frasesnaweb.com.br/
bertrand-russell/

http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/
russell2.htm

http://worldhistory.phillipmartin.info/
worldhistory_atomic_bomb.htm

http://www.pensador.info/
autor/Bertrand_Russell/

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ludwig_Wittgenstein

http://pt.wikiquote.org/
wiki/Bertrand_Russell

http://ateus.net/ebooks/

 

Fundo musical:

Hen Wlad Fy Nhadau

Fonte:

http://home.eunet.no/~aharries/landof.htm