Mesmo
que se provasse que não existe Deus, tal qual os homens O concebem,
a idéia de Deus continuaria a ser tão necessária,
que seria praticamente impossível a uma sociedade organizada
viver sem ela. Deus representa a suprema aspiração –
a Luz Maior – buscada por todos, mesmo por aqueles que se declaram
ateus.
O
homem é um animal – evolução da ameba primordial
– tendo alcançado um estado de consciência que
lhe permite idealizar Deus. Esta, na realidade, é a única
diferença entre o homem e os demais animais na Terra; ou seja,
a diferença fundamental não está em ser racional
– capaz de raciocinar – pois muitos outros animais raciocinam.
A diferença marcante é que o homem é capaz de
criar mentalmente Deus.
Se
Deus é Uno, Trino, se se desdobra ou não em emanações
hierárquicas (como Semideuses – por exemplo: Brahma,
o criador do Universo visível habitado pelo homem, segundo
os Vedas) nada disso é tão transcendental que justifique
glória para quem proclama esta ou aquela (sua) verdade a respeito.
Tendo criado Deus à sua imagem e semelhança, o homem
também O interpreta e O proclama de várias maneiras,
conforme sua cultura e sua etnia, plasmando egrégoras emanadoras
de leis.
A
grande alavanca para a criação mental de Deus pelo homem
é a morte. A estupefação diante da finitude parou,
como um muro, toda a capacidade de raciocionar, e, ante este muro,
caíram todas as filosofias. O homem não se conforma
em ser um evento como todos os demais eventos; ele não quer
deixar de existir, subitamente, como uma bola de sabão colorida
que se desfaz no ar. Neste momento, inventa Deus, para escapar da
morte, inspirado pelo próprio Deus, que então deixa
de ser abstração e assume formas.
Em
cima daquela necessidade de provar a imortalidade individual –
a perenidade da personalidade – mesmo com transformações
subseqüentes, foram criadas numerosas teorias, como a da reencarnação,
a da ressurreição dos mortos e ida para a Vida Eterna,
a da existência de almas individuais imortais, o espiritismo,
a do duplo etéreo e a da sublimação do ego em
ser angélico, pela renúncia e pela purgação.
A
Morte (a Grande Iniciação) toca tão fundo o homem,
que resultou na construção das pirâmides, na criação
do Taj Mahal, no Livro dos Mortos do Antigo Egito, no Bardo Todol,
na idéia de Céu e de Inferno e na própria Rosacruz.
A idéia central é a da Suprema Alquimia: a transformação
crística, não como metamorfose, mas como salto na evolução,
com o ser menor passando do plano da mortalidade para o plano da Eternidade,
já ali como Ser Maior, diante do Pai Eterno. Uma transfiguração,
pelo crisol da dor Iniciática, a Noite Negra seguida do Áureo
Alvorecer.
Tudo
de bom que o homem conseguiu fazer até hoje foi feito em nome
da idéia de Deus. Paradoxalmente, grande parte de todo o mal
gerado pelo homem até hoje o foi com base nessa mesma idéia.
Assim, a religião tem sido, através das eras, uma ponte
para a ligação com Deus, e, também, o pretexto
para os mais terríveis atos. A religião sempre pretendeu
ser o lado místico do poder temporal; em uns casos, a fórmula
deu certo; em outros, não frutificou, e tudo sempre dependeu
da condução dada ao tema pela alta hierarquia da casta
sacerdotal.
A
Iniciação esotérica, ritualística, foi
introduzida no imaginário místico como fórmula
de propiciar a evolução da consciência por etapas,
segundo um método, e não apenas baseada na fé,
como a iniciação religiosa. Contudo, a certa altura,
as duas se confundem, ao ponto de se fundirem, sem, no entanto, serem
a mesma coisa. Dir-se-ia que a iniciação religiosa dá
olhos para ver e que a Iniciação esotérica abre
esses mesmos olhos, que até então estavam vendados.
Se
não houvesse a idéia de Deus, seria impossível
ao homem almejar a transcendência, e a evolução
de sua consciência se faria unicamente em função
de referênciais materiais. Resultaria daí uma sociedade
empedernida e norteada pela competição entre os seres,
com a adoração e a deificação de valores,
como dinheiro, poder e glória. E egoísmo seria erigido
em Hierofante desse conglomerado de seres destituídos de Ética
(porque a Ética é um atributo direto da idéia
de Deus, como Summum Bonum).
Não
é preciso que se compreenda exatamente o que é Deus,
mesmo porque a tentativa de entendimento nesse sentido lançaria
o homem em um buraco negro de frustração do qual ele
não se reergueria. Neste mesmo buraco, caem aqueles que professam
o ateísmo, e nessa condição criam o inferno no
plano terrestre para todos os seres: animais, vegetais, minerais.
Igualmente, a consagração de uma particular idéia
de Deus como 'única e verdadeira' pode resultar em infernais
tormentos para a Humanidade, como tem resultado.
Por
isso, dizem os místicos: Deus é Amor.
Onde
está o Amor, ali está Deus. Onde não há
Amor, não há Luz. Deus é o Amor e a Luz que mantêm
a Vida Imortal, em contínua evolução, na grande,
infinda, espiral da Manifestação, vestida pela túnica
inconsútil do Conhecimento. E é neste sentido que a
missão das instituições inciáticas esotéricas
é exercida, tecendo a túnica.
Rituais
e religiões cairão, porque a repetição
de fórmulas não será mais necessária,
em certa etapa da evolução. O Amor, porém, permanecerá,
junto com a Luz, mantendo a Vida, que é Eterna. Os seres, estes
sim, são transitórios: a Vida está infundida
neles, mas eles não são a Vida: são os eventos
que ela gera em todos os Planos e que se sucedem, com autopercepção,
como no caso do homem. Mesmo carregando a imensa culpa de ter inventado
o diabo, o homem caminha permanentemente para Deus.
Benedictus
Deus Summum Bonum.
Fonte:
http://maat-order.org/communicator/?p=355