EPIDEMIA DE DESAMOR

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Belíndia

 

 

 

Esta história do arco-da-velha

que vou contar para vocês

 muito indigesta de comer,

porém, muito pior de descomer

aconteceu lá na Belíndia,1

uma ilha mal-aventurada e chulé,

situada no mar Belicoso Medíocre,

perto do Colosso de Phodes,

há mais de um milhão de anos.

Chegou o tempo das eleições,

e o Partido no poder perdeu,

assumindo o reinado da Belíndia

o candidato da oposição,

o senhor Waldir Elias Ignaro,

um alferes reformado prometedor,

que nunca cumpriu bulhufas

do que prometera na campanha.

Como rei, foi um desastre,

mas, como amigo do povo, pior ainda.

Deu muito azar o senhor Ignaro,

pois, nesta ilha mal-aventurada,

pintou uma epidemia de desamor.

Parecia que os belindienses

haviam aloucado terminantemente.

Nomeia ministro da doença,

destitui ministro da doença,

nomeia de novo, destitui de novo,

e o senhor rei Waldir Ignaro

acabou nomeando interinamente

para o ministério da doença

o marechal-do-ar Ednardo Pizzaiolo,

teólogo e expert em patrística,

mas, um zero à esquerda em Medicina.

A coisa tinha que acabar dando

em águas de bacalhau. E deu mesmo.

Bem-intencionado, mas, inapto,

para acabar com a epidesamormia,

o ministro-marechal-do-ar Pizzaiolo

divulgou um protocolo liberando

todas as casas de doença,

tanto públicas quanto privadas,

para administrar aos epidesamormizados

chá gelado de Conium maculatum,

na verdade, um desejo do rei Ignaro,

defensor do chá no tratamento da epid.

E assim, o chá foi dado a bangu,

e a epidemia de desamor

acabou zerando em dois tempos:

quem tomou o chá morreu.

Nem a perereca da vizinha escapou.

No limbo, Sócrates chorou de pena!

 

 

 

RIP

 

 

 

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Nota:

1. Belíndia é um país fictício, ambíguo e contraditório, que resultaria da conjunção da Bélgica com a Índia, com leis e impostos do primeiro, pequeno e rico, e com a realidade social do segundo, imenso e pobre. Este termo foi popularizado em 1974 pelo economista brasileiro Edmar Lisboa Bacha (Lambari, MG, 14 de fevereiro de 1942), em sua fábula O Rei da Belíndia, na qual criticava as políticas praticadas pelo regime militar, que, segundo o autor, estavam criando um país dividido entre os que moravam em condições similares à Bélgica e aqueles que tinham o padrão de vida da Índia.

 

Música de fundo:

Fita Amarela
Composição: Noel Rosa
Interpretação: BNegão

Fonte:

https://musio.net.br/bnegao/transmutacao/fita-amarela/

 

Páginas da Internet consultadas:

https://br.123rf.com/

https://giphy.com/explore/ripping

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bel%C3%ADndia

 

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