Quando
vemos um gigante, precisamos primeiro examinar a posição do
Sol e observar, para termos certeza de que não se trata da sombra
de um pigmeu.
O
mundo é um pensamento encadeado. Quando algo se consolida, os pensamentos
se libertam; quando algo se desfaz, os pensamentos se encadeiam-se.
Abracemo-nos
no gozo da convicção de que junto a nós está
a vida como uma bela e genial ilusão, como um soberbo espetáculo
a contemplar, de que aqui já podemos estar em espírito, em
absoluto prazer e em eternidade, e de que, exatamente, a antiga queixa de
que tudo é perecível, pode e deve se tornar o mais jubiloso
de todos os pensamentos.
Na
verdade, Filosofia é nostalgia. É o desejo de se sentir em
casa em qualquer lugar.
Até
mesmo o acaso não é impenetrável; tem suas próprias
regras.1
Todo
objeto amado é o centro de um paraíso.
O
homem é um sol; os seus sentidos são os planetas.
De
entre os seres vivos que têm o dom da sensibilidade haverá
algum que não ame, mais do que todas as aparições feéricas
do extenso espaço que o rodeia, a luz, em que tudo rejubila as suas
cores, os seus raios, as suas vagas; e a suave onipresença do seu
dia que desponta?
Como
se fora a alma mais íntima da vida, respira-o gigantesco orbe dos
astros sem repouso, que flutua dançando no seu fluxo azul –
respira-a a pedra faiscante, que sempiterna paz, as plantas sugadoras e
meditativas, e os animais selvagens e ardentes, de tão várias
figuras – todavia, mais do que todos, respira-a o excelso Estrangeiro,
de olhar pensativo, passos incertos, lábios docemente apertados e
repletos de harmonias. Como um rei da terrestre Natureza, ela convoca todas
as potências para inúmeras transformações, prende
e desprende perenes vínculos e envolve todos os seres terrenos, na
sua celeste imagem. Somente pela sua presença desvela toda maravilha
dos impérios do mundo.
Para
além me volto, para a sacra, a indivisível, a misteriosa noite.
Longínquo o mundo jaz – decaído para uma funda cripta
– e ermo e solitário é o seu lugar. Nas cordas do peito
sopra uma profunda nostalgia. Em gotas de orvalho quero me deixar afundar.
A
vida é o princípio da morte.2
A vida só existe em função da morte. A morte é
acabar e começar ao mesmo tempo, separação e união
mais estreita consigo mesmo.
Só
há um templo no mundo, e este templo
é o corpo humano. Nada é mais sagrado do
que esta forma sublime. Inclinar-se diante de um homem é fazer homenagem
a esta revelação na carne. Toca-se o céu quando se
toca um corpo humano.
Tudo
tem que se converter em céu.
Nunca nos compreendemos completamente,
mas podemos e poderemos fazer muito melhor do que apenas nos compreendermos.
Para
a religião, rezar
é o mesmo que pensar para a
Filosofia. Rezar é criar religião.3
Seja
em que poesia for, o caos deve transparecer sob o véu cerrado da
ordem.
Só
é possível transformar-se na medida em que já se é.
Na
verdade, o pintor pinta com a visão; a sua arte é a de ver
tudo com regularidade e beleza.
A
vida de um homem culto deveria simplesmente se alternar entre música
e não-música, como entre o sono e o despertar.
Para
o verdadeiro religioso, nada é pecado.4
Na
verdade, a Filosofia é nostalgia; é o desejo de se sentir
em casa em qualquer lugar.
A liberdade, como a felicidade, é
nociva para um e útil para outro.
A
propriedade enobrece a posse, assim como o casamento enobrece o prazer físico.
Não existe religião
que não seja Cristianismo.5
Somos
sozinhos com tudo o que amamos.6
Se
a teoria esperasse pela experiência, nunca se realizaria.
O
espaço se mescla com o tempo assim como o corpo se mescla com a alma.
A
criança é o amor feito visível.
O
amor é a meta infinita da história do mundo.
Ao
homem é lícito desejar as coisas sensíveis de maneira
racional, enquanto à mulher é lícito desejar as coisas
racionais de maneira sensível. A natureza secundária do homem
é a principal da mulher.7
Nós
acordamos quando sonhamos que estamos a sonhar.
Seja
em que poesia for, o caos deve transparecer sob o véu cerrado da
ordem.
É
só ter paciência, ele virá, terá que vir, o tempo
sagrado da paz perpétua, em que a Nova Jerusalém será
a capital do mundo. Até lá, companheiros
de minha fé, sejam felizes
e corajosos em meio aos perigos do tempo. Anunciem com a palavra e a ação
o Evangelho Divino, e permaneçam,
até a morte, fiéis
à fé
verdadeira e infinita.
O
caminho misterioso está em nosso interior. Ele está em nós,
onde estão a eternidade dos mundos, o passado e o futuro.
Nada
do que a História escreveu é passageiro. É através
de inúmeras transformações que tudo renasce em formas
cada vez mais ricas.
Toda
descida em nós mesmos é simultaneamente uma ascensão
– uma vista do verdadeiro exterior.
O
seio é o peito elevado à categoria de mistério; é
o peito moralizado.
Todos
os enviados divinos devem ser matemáticos.
Quando
um poeta canta, estamos em suas mãos. É ele quem sabe despertar
em nós aquelas forças secretas, pois as suas palavras descortinam
um mundo maravilhoso que antes desconhecíamos.
As
palavras são a configuração acústica das idéias.
Toda
a linha é eixo de um universo.
O homem primitivo foi o primeiro
vidente espiritual; para ele, tudo
era espírito.
O
sentido moral é o sentido do poder criador absoluto, da liberdade
produtiva, da personalidade infinita, do microcosmo, da Divindade real em
nós.
Tudo
acontece em nós muito antes de ter acontecido.
Onde
há crianças, existe a Idade de Ouro.
A
liberdade é o grande espelho mágico onde
– pura e cristalina
–
toda a criação se reflete;
nela se abismam os espíritos ternos e todas as formas da Natureza.
Todo
contato espiritual pode ser comparado ao toque de uma varinha mágica.
O
autêntico observador contempla
tranqüila e despreocupadamente os novos tempos revolucionários.
Toda
recordação é melancólica; toda esperança
é prazerosa.
Por toda parte,
buscamos
o incondicionado, e só encontramos coisas.
Os
livros devem ser escritos como se compõe uma música.
Evoluções progressivas,
que crescem cada vez mais, são a matéria da História.
Uma
verdadeira anarquia é o elemento gerador da religião.
Amigos, o solo é pobre! Temos
que semear sementes em abundância para podermos obter colheitas modestas.
O
Amor é mágico. É o objetivo final da história
do mundo, o Amém do Universo.
O
verdadeiro poeta é onisciente; é um mundo em miniatura.
O
artista pertence ao seu trabalho e não o trabalho ao artista.
Poesia
cura as feridas provocadas pela razão.
O conhecimento é apenas metade.
A fé é a outra.8
Só
um artista pode interpretar o significado da vida.
Para nos tornarmos devidamente familiarizados
com a verdade devemos, primeiro, não crer nela e, segundo, disputar
contra ela.9
O
aprendizado é agradável, mas, fazer é a altura do prazer.
Caráter
e destino são duas palavras que estão interligadas.
A Natureza é uma cidade mágica
petrificada.
Estamos
mais ligados ao invisível do que ao visível.
Nada é mais indispensável
para a verdadeira religiosidade do que um mediador que nos liga com a Divindade.10
Um
herói é aquele que sabe se pendurar um minuto a mais.
A
personalidade é a vontade completamente formada.11
Muitas
vezes eu sinto, e cada vez mais profundamente eu percebo, que o destino
e o caráter são a mesma concepção.
Apenas
na medida em que um homem estiver casado consigo mesmo estará apto
para a vida conjugal e para a vida familiar em geral.
Quando
não há deuses, os espectros
[obsedantes] são a regra.
A
vida não deve ser um romance que nos é dado, mas um que é
feito por nós.
Filosofar
significa tornar a coisa vívida.
Platão
A
Humanidade, muitas vezes, desempenha um papel
cômico.
A
arte está no ser humano como uma estátua está em um
pedestal.
Não
se pode entender a linguagem porque a linguagem não pode se compreender
a si mesma; ela não quer ser entendida.
Imerso
em deliciosos aromas celestiais, ele adormeceu, pois, somente lhe seria
permitido adentrar o recinto mais sagrado, se fosse guiado pelo sonho.
Quanto
mais poético, tanto mais verdadeiro.
Há uma energia negativa e
destrutiva que brota da doença e da debilidade, e tem um efeito mais
poderoso do que o real, mas, infelizmente, geralmente termina em uma enfermidade
ainda maior.
O
mundo deve ser romantizado. Romantizar nada mais é do que uma potenciação
qualitativa.
Sei
agora quando será a manhã derradeira – quando a luz
não afugentar mais a noite e o Amor – quando o sono for eterno
e um sonho só inesgotável. Sinto em mim uma fadiga celeste
– longa e penosa foi a minha peregrinação ao Sepulcro
Santo, opressiva a minha Cruz. A onda de cristal, imperceptível aos
vulgares sentidos, que jorra no seio obscuro do montículo de cujo
sopé o terrestre caudal irrompe, quem dela alguma vez provou, quem
esteve no cume das montanhas que delimitam o mundo e olhou para além,
para a nova terra, a morada da Noite – em verdade, esse não
regressará jamais aos trabalhos deste mundo, à Terra onde
a Luz habita em eterna agitação. Esse é o que levantará
no alto as Tendas da Paz, o que sente a ânsia e o amor e que olha
para além, até que a hora, entre todas, bendita, o faça
descer ao imo da nascente – por cima, flutua o que é eterno,
reflui ao sabor de tormentas; mas, tudo aquilo que o contato do amor santificou
escorre dissolvido, por ocultas vias, para a região do além,
e aí se mistura, como os aromas, com os seres amados para sempre
adormecidos.
Nossa
vida não é um sonho, mas, talvez,
ela deveria se tornar um.
A
perceptibilidade é um tipo de atenção.12
A
Humanidade é o sentido maior do nosso Planeta, o nervo que se conecta
com o Mundo Superior, o olho que se levanta para o céu.
Toda
doença é um problema musical; cada cura é uma solução
musical.
Toda
enfermidade pode ser entendida como uma enfermidade
da alma.
O
processo da
História é a combustão.13
A
poesia cura as feridas infligidas pela desrazão.
A
fantasia instaura para nós o mundo futuro ou bem na altura, ou bem
na profundidade, ou, ainda, em meio à metempsicose. Nós sonhamos
com viagens através do Universo –
mas, será
que o Universo não está, afinal, em nós? Não
conhecemos as profundezas de nosso espírito – o caminho mais
enigmático conduz para o interior. Em nós e em toda parte,
a eternidade está junto com seus mundos – o passado e o futuro.
O mundo exterior é o mundo de sombras – ele lança suas
sombras no reino da luz. Agora, sem dúvida, tudo nos parece internamente
tão obscuro, tão
solitário,
tão
informe. Mas,
quão diverso tudo se nos mostrará – quando essas trevas
tiverem se dissipado e o corpo de sombras tiver sido deixado para trás?
Nós iremos nos comprazer mais do que nunca, pois nosso espírito
o necessita.
O
entendimento claro e irmanado com a ardente fantasia perfaz o alimento autêntico
e portador de felicidade da alma.
O
preconceito mais arbitrário é o de que é recusado ao
homem a capacidade de estar fora de si, de estar com consciência para
além dos sentidos. O homem está a cada instante em condições
de ser uma essência supra-sensível. Sem isto, ele não
seria cidadão do mundo, mas um animal. Com certeza, a temperança
e o encontrar a si mesmo são muito difíceis neste estado,
uma vez que ele está tão incessante e necessariamente ligado
com a mudança de nossos estados restantes. Quanto mais conseguimos
ter consciência deste estado, tanto mais forte, viva, suficiente é
a convicção que daí emerge – a crença
em revelações autênticas do espírito.
Filosofar
precisa ser um tipo peculiar de pensamento. O que faço quando filosofo?
Eu reflito sobre um fundamento. Na base do filosofar se encontra, portanto,
um anseio pelo pensamento de um fundamento. Todavia, o fundamento não
é causa em sentido próprio – mas constituição
interna – conexão com o todo (portanto, fundamentação/verdade
a partir da coerência). Todo filosofar precisa, com isto, terminar
junto a um fundamento absoluto. O que aconteceria, então, se este
não fosse dado, se este conceito envolvesse uma impossibilidade?
Neste caso, o impulso para o filosofar seria uma atividade infinita e sem
fim, porque estaria presente uma requisição eterna por um
fundamento absoluto que não poderia ser apaziguada senão relativamente,
e por isto nunca cessaria.
Para se produzir o efeito do ideal,
ele não pode se encontrar na esfera da realidade comum.
Um
em tudo e tudo em um, sem reservas...
Melancolia e volúpia, morte
e vida. Aqui, o futuro é do passado um pedaço...
Tudo precisa em tudo penetrar...
Celestiais,
brilhantes como as estrelas, parecem-nos os olhos infinitos que abriram
a noite em nós.
O mundo precisa ser romantizado;
só assim será reencontrado o sentido originário. Romantizar
nada mais é do que uma potenciação qualitativa, assim
como nós mesmos somos uma série potencial qualitativa. Nesta
operação, o si-mesmo inferior é identificado com um
si-mesmo melhor. Esta operação é ainda totalmente desconhecida,
mas, na medida em que dou ao comum um sentido elevado, ao costumeiro um
aspecto misterioso, ao conhecido a dignidade do desconhecido, ao finito
um brilho infinito, eu os romantizo.
O
que devo entender precisa se desenvolver, em mim, organicamente.
O
Eu é a escolha e a realização da esfera
da liberdade individual ou auto-atividade.
Para o mundo, procuramos o projeto,
e este projeto somos nós mesmos. O que somos? Pontos onipotentes
personificados. A execução, enquanto imagem do projeto, tem,
porém, de lhe ser igual na livre-atividade e auto-referência
– e inversamente.
O
momento subjetivo da consciência não é produtivo sem
um momento objetivo. O primeiro passo, assim, deverá ser olhar para
dentro – contemplação isolante do nosso eu. Mas, quem
se detém aqui só logrará a metade. O segundo passo
tem de ser olhar efetivamente para fora – uma observação
auto-ativa, contida, do mundo exterior.14
Sem
auto-entendimento perfeito e acabado nunca aprenderemos a verdadeiramente
entender os outros.
O
verdadeiro espírito da fábula é um amável disfarce
do espírito da virtude, e o objeto verdadeiro da poesia, que lhe
é subordinado, é a mais alta e a mais pessoal atividade do
nosso Eu! Há uma espantosa identidade entre um canto sincero e uma
nobre ação.
É
uma pena que a poesia tenha um nome particular e que os poetas formem uma
corporação à parte. A poesia não é coisa
à parte. Ela é o modo de atividade próprio ao espírito
humano. Todo homem não está a cada minuto de sua vida a fabular
e a inventar?
Quando
examino tudo isto atentamente me parece necessário que um historiador
seja também poeta, pois só os poetas se entendem nessa arte
de encadear os acontecimentos de modo satisfatório. Nas suas narrativas
e fábulas observei com um prazer secreto o sentimento delicado que
têm do misterioso princípio da vida. Há mais verdade
nos seus contos do que nas crônicas eruditas.
Se,
até agora, eu vivi no presente e na esperança da felicidade
terrena, de agora em diante deverei viver inteiramente no verdadeiro porvir,
na fé em Deus e na imortalidade. Será muito duro me separar
deste mundo, que era, para mim, objeto de amoroso estudo; as recaídas
me provocarão não poucos acessos de pânico. Mas, sei
que há no homem uma força que, se for rodeada de cuidados
especiais, poderá frutificar em uma estranha energia.
O
que desejo ver é a flor azul. Sua imagem não me abandona.
Para
onde estamos realmente indo? Para Casa!
Então,
a Palavra Misteriosa destruirá toda essência mentirosa.
Coisa
Horrenda
averá
coisa mais horrenda
do que
disseminar que Deus
e que
comemore a exeqüenda?
averá
coisa mais indistinta
do que
achar que sua religião
seja
o uniquíssimo vinho/pão
para
saciar uma fome faminta?
averá
coisa mais medonha
do que
pré-qualificar, exprobar,
condenar
e mandar incinerar
um travesseirinho
sem fronha?
averá
coisa mais bodosa
do que
se julgar um privilegiado
e admitir
que será arrebatado
por ser
cordeiro e não raposa?
averá
coisa mais farsante
do que
tornar menor o valor,
dizer
que o amarelo é incolor
e, por
fim, arruinar o tirante?
averá
coisa mais fedida
do que
ser juiz e carrasco
de alguém
tido por diasco,
e excluí-lo
da Eterna Vida?