NOVALIS – (Pensamentos)

 

 

 

Novalis

Novalis (em 1799)
(Retrato da autoria de Franz Gareis, 1775 – 1803)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo resume alguns pensamentos de Georg Philipp Friedrich von Hardenberg (2 de maio de 1772 – 25 de março de 1801), mais conhecido pelo pseudônimo Novalis.

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Georg Philipp Friedrich von Hardenberg (2 de maio de 1772 – 25 de março de 1801), mais conhecido pelo pseudônimo Novalis, foi um dos mais importantes representantes do primeiro romantismo alemão de finais do século XVIII e o criador da Flor Azul, um dos símbolos mais duráveis do movimento romântico.

 

Além de poeta mágico e provavelmente devido aos seus reconhecidos conhecimentos enciclopédicos, Novalis relacionou permanentemente a poesia com a Natureza, com a vida e com a Filosofia. Enquanto estudava na Universidade de Jena, conheceu Friedrich von Schiller, que com Goethe fundou o movimento Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto/ Tempestade e Paixão). Em 1798, surgem os Fragmentos, sob o título Grãos de Pólen – uma tentativa de romantização do mundo. No mesmo ano, trava conhecimento com Goethe em Weimar e fica noivo de Julie von Charpentier, não chegando a casar porque morre de tuberculose, em 1801.


A obra de Novalis encontrava-se praticamente toda inacabada e por publicar na altura da sua morte. De qualquer forma, os seus escritos foram recuperados, encontrando-se entre eles, além de tentativas literárias juvenis de interesse menor, um conjunto muito significativo de textos líricos e narrativos, e mesmo ensaísticos plenos de simbolismo e interesse filosófico. A própria variedade das realizações de Novalis constitui prova de se tratar de uma figura excepcional. As suas obras viriam influenciar uma série de gerações de autores alemães como Joseph von Eichendorff, Rainer Maria Rilke, Herman Hesse e Thomas Mann.

 

No essencial, os seus 29 anos de vida são dominados pelo amor a Sophie von Kühn, cuja morte, em 1797, com apenas 15 anos, influenciará a sua obra, alimentando a densa nostalgia romântica de Os Hinos à Noite.

 

Bem, acredito que se Novalis não tivesse falecido tão cedo, honesto como era, talvez viesse a publicar uma espécie de Retractationes, a exemplo de Santo Agostinho de Hipona (Tagaste, 13 de novembro de 354 – Hipona, 28 de agosto de 430), que, já idoso, realizou uma obra de revisão (retractatio) de toda a sua obra escrita, deixando, assim, um documento literário singular e extremamente precioso, mas, também, um ensinamento de sinceridade espiritual e de humildade intelectual. Fiz questão de acrescentar este parágrafo à biografia de Novalis, porque algumas de suas afirmações, como você irá conferir logo a seguir, são totalmente inoportunas e descabidas, o que, todavia, não o desqualifica como escritor e poeta. Quanto a mim, nos meus 29 anos, eu era mesmo uma besta cúbica; hoje, só sou besta quadrada. Espero, ainda nesta vida, chegar a ser só besta com expoente 1.

 

 

 

Pensamentos Novalianos

 

 

 

Quando vemos um gigante, precisamos primeiro examinar a posição do Sol e observar, para termos certeza de que não se trata da sombra de um pigmeu.

 

O mundo é um pensamento encadeado. Quando algo se consolida, os pensamentos se libertam; quando algo se desfaz, os pensamentos se encadeiam-se.

 

Abracemo-nos no gozo da convicção de que junto a nós está a vida como uma bela e genial ilusão, como um soberbo espetáculo a contemplar, de que aqui já podemos estar em espírito, em absoluto prazer e em eternidade, e de que, exatamente, a antiga queixa de que tudo é perecível, pode e deve se tornar o mais jubiloso de todos os pensamentos.

 

Na verdade, Filosofia é nostalgia. É o desejo de se sentir em casa em qualquer lugar.

 

Até mesmo o acaso não é impenetrável; tem suas próprias regras.1

 

Todo objeto amado é o centro de um paraíso.

 

O homem é um sol; os seus sentidos são os planetas.

 

De entre os seres vivos que têm o dom da sensibilidade haverá algum que não ame, mais do que todas as aparições feéricas do extenso espaço que o rodeia, a luz, em que tudo rejubila as suas cores, os seus raios, as suas vagas; e a suave onipresença do seu dia que desponta?

 

Como se fora a alma mais íntima da vida, respira-o gigantesco orbe dos astros sem repouso, que flutua dançando no seu fluxo azul – respira-a a pedra faiscante, que sempiterna paz, as plantas sugadoras e meditativas, e os animais selvagens e ardentes, de tão várias figuras – todavia, mais do que todos, respira-a o excelso Estrangeiro, de olhar pensativo, passos incertos, lábios docemente apertados e repletos de harmonias. Como um rei da terrestre Natureza, ela convoca todas as potências para inúmeras transformações, prende e desprende perenes vínculos e envolve todos os seres terrenos, na sua celeste imagem. Somente pela sua presença desvela toda maravilha dos impérios do mundo.

 

Para além me volto, para a sacra, a indivisível, a misteriosa noite. Longínquo o mundo jaz – decaído para uma funda cripta – e ermo e solitário é o seu lugar. Nas cordas do peito sopra uma profunda nostalgia. Em gotas de orvalho quero me deixar afundar.

 

A vida é o princípio da morte.2 A vida só existe em função da morte. A morte é acabar e começar ao mesmo tempo, separação e união mais estreita consigo mesmo.

 

Só há um templo no mundo, e este templo é o corpo humano. Nada é mais sagrado do que esta forma sublime. Inclinar-se diante de um homem é fazer homenagem a esta revelação na carne. Toca-se o céu quando se toca um corpo humano.

 

Tudo tem que se converter em céu.

 

Nunca nos compreendemos completamente, mas podemos e poderemos fazer muito melhor do que apenas nos compreendermos.

 

Para a religião, rezar é o mesmo que pensar para a Filosofia. Rezar é criar religião.3

 

Seja em que poesia for, o caos deve transparecer sob o véu cerrado da ordem.

 

Só é possível transformar-se na medida em que já se é.

 

Na verdade, o pintor pinta com a visão; a sua arte é a de ver tudo com regularidade e beleza.

 

 

 

 

A vida de um homem culto deveria simplesmente se alternar entre música e não-música, como entre o sono e o despertar.

 

Para o verdadeiro religioso, nada é pecado.4

 

Na verdade, a Filosofia é nostalgia; é o desejo de se sentir em casa em qualquer lugar.

 

A liberdade, como a felicidade, é nociva para um e útil para outro.

 

A propriedade enobrece a posse, assim como o casamento enobrece o prazer físico.

 

Não existe religião que não seja Cristianismo.5

 

Somos sozinhos com tudo o que amamos.6

 

Se a teoria esperasse pela experiência, nunca se realizaria.

 

O espaço se mescla com o tempo assim como o corpo se mescla com a alma.

 

 

A criança é o amor feito visível.

 

O amor é a meta infinita da história do mundo.

 

Ao homem é lícito desejar as coisas sensíveis de maneira racional, enquanto à mulher é lícito desejar as coisas racionais de maneira sensível. A natureza secundária do homem é a principal da mulher.7

 

Nós acordamos quando sonhamos que estamos a sonhar.

 

Seja em que poesia for, o caos deve transparecer sob o véu cerrado da ordem.

 

É só ter paciência, ele virá, terá que vir, o tempo sagrado da paz perpétua, em que a Nova Jerusalém será a capital do mundo. Até lá, companheiros de minha fé, sejam felizes e corajosos em meio aos perigos do tempo. Anunciem com a palavra e a ação o Evangelho Divino, e permaneçam, até a morte, fiéis à verdadeira e infinita.

 

O caminho misterioso está em nosso interior. Ele está em nós, onde estão a eternidade dos mundos, o passado e o futuro.

 

Nada do que a História escreveu é passageiro. É através de inúmeras transformações que tudo renasce em formas cada vez mais ricas.

 

Toda descida em nós mesmos é simultaneamente uma ascensão – uma vista do verdadeiro exterior.

 

O seio é o peito elevado à categoria de mistério; é o peito moralizado.

 

Todos os enviados divinos devem ser matemáticos.

 

 

 

 

Quando um poeta canta, estamos em suas mãos. É ele quem sabe despertar em nós aquelas forças secretas, pois as suas palavras descortinam um mundo maravilhoso que antes desconhecíamos.

 

As palavras são a configuração acústica das idéias.

 

Toda a linha é eixo de um universo.

 

O homem primitivo foi o primeiro vidente espiritual; para ele, tudo era espírito.

 

O sentido moral é o sentido do poder criador absoluto, da liberdade produtiva, da personalidade infinita, do microcosmo, da Divindade real em nós.

 

Tudo acontece em nós muito antes de ter acontecido.

 

Onde há crianças, existe a Idade de Ouro.

 

A liberdade é o grande espelho mágico onde – pura e cristalina toda a criação se reflete; nela se abismam os espíritos ternos e todas as formas da Natureza.

 

Todo contato espiritual pode ser comparado ao toque de uma varinha mágica.

 

O autêntico observador contempla tranqüila e despreocupadamente os novos tempos revolucionários.

 

Toda recordação é melancólica; toda esperança é prazerosa.

 

Por toda parte, buscamos o incondicionado, e só encontramos coisas.

 

Os livros devem ser escritos como se compõe uma música.

 

Evoluções progressivas, que crescem cada vez mais, são a matéria da História.

 

Uma verdadeira anarquia é o elemento gerador da religião.

 

Amigos, o solo é pobre! Temos que semear sementes em abundância para podermos obter colheitas modestas.

 

O Amor é mágico. É o objetivo final da história do mundo, o Amém do Universo.

 

O verdadeiro poeta é onisciente; é um mundo em miniatura.

 

O artista pertence ao seu trabalho e não o trabalho ao artista.

 

Poesia cura as feridas provocadas pela razão.

 

O conhecimento é apenas metade. A fé é a outra.8

 

Só um artista pode interpretar o significado da vida.

 

Para nos tornarmos devidamente familiarizados com a verdade devemos, primeiro, não crer nela e, segundo, disputar contra ela.9

 

O aprendizado é agradável, mas, fazer é a altura do prazer.

 

Caráter e destino são duas palavras que estão interligadas.

 

A Natureza é uma cidade mágica petrificada.

 

Estamos mais ligados ao invisível do que ao visível.

 

Nada é mais indispensável para a verdadeira religiosidade do que um mediador que nos liga com a Divindade.10

 

Um herói é aquele que sabe se pendurar um minuto a mais.

 

A personalidade é a vontade completamente formada.11

 

Muitas vezes eu sinto, e cada vez mais profundamente eu percebo, que o destino e o caráter são a mesma concepção.

 

Apenas na medida em que um homem estiver casado consigo mesmo estará apto para a vida conjugal e para a vida familiar em geral.

 

Quando não há deuses, os espectros [obsedantes] são a regra.

 

A vida não deve ser um romance que nos é dado, mas um que é feito por nós.

 

Filosofar significa tornar a coisa vívida.

 

 

Platão

 

A Humanidade, muitas vezes, desempenha um papel cômico.

 

A arte está no ser humano como uma estátua está em um pedestal.

 

Não se pode entender a linguagem porque a linguagem não pode se compreender a si mesma; ela não quer ser entendida.

 

Imerso em deliciosos aromas celestiais, ele adormeceu, pois, somente lhe seria permitido adentrar o recinto mais sagrado, se fosse guiado pelo sonho.

 

Quanto mais poético, tanto mais verdadeiro.

 

Há uma energia negativa e destrutiva que brota da doença e da debilidade, e tem um efeito mais poderoso do que o real, mas, infelizmente, geralmente termina em uma enfermidade ainda maior.

 

O mundo deve ser romantizado. Romantizar nada mais é do que uma potenciação qualitativa.

 

Sei agora quando será a manhã derradeira – quando a luz não afugentar mais a noite e o Amor – quando o sono for eterno e um sonho só inesgotável. Sinto em mim uma fadiga celeste – longa e penosa foi a minha peregrinação ao Sepulcro Santo, opressiva a minha Cruz. A onda de cristal, imperceptível aos vulgares sentidos, que jorra no seio obscuro do montículo de cujo sopé o terrestre caudal irrompe, quem dela alguma vez provou, quem esteve no cume das montanhas que delimitam o mundo e olhou para além, para a nova terra, a morada da Noite – em verdade, esse não regressará jamais aos trabalhos deste mundo, à Terra onde a Luz habita em eterna agitação. Esse é o que levantará no alto as Tendas da Paz, o que sente a ânsia e o amor e que olha para além, até que a hora, entre todas, bendita, o faça descer ao imo da nascente – por cima, flutua o que é eterno, reflui ao sabor de tormentas; mas, tudo aquilo que o contato do amor santificou escorre dissolvido, por ocultas vias, para a região do além, e aí se mistura, como os aromas, com os seres amados para sempre adormecidos.

 

Nossa vida não é um sonho, mas, talvez, ela deveria se tornar um.

 

A perceptibilidade é um tipo de atenção.12

 

A Humanidade é o sentido maior do nosso Planeta, o nervo que se conecta com o Mundo Superior, o olho que se levanta para o céu.

 

Toda doença é um problema musical; cada cura é uma solução musical.

 

Toda enfermidade pode ser entendida como uma enfermidade da alma.

 

O processo da História é a combustão.13

 

A poesia cura as feridas infligidas pela desrazão.

 

A fantasia instaura para nós o mundo futuro ou bem na altura, ou bem na profundidade, ou, ainda, em meio à metempsicose. Nós sonhamos com viagens através do Universo mas, será que o Universo não está, afinal, em nós? Não conhecemos as profundezas de nosso espírito – o caminho mais enigmático conduz para o interior. Em nós e em toda parte, a eternidade está junto com seus mundos – o passado e o futuro. O mundo exterior é o mundo de sombras – ele lança suas sombras no reino da luz. Agora, sem dúvida, tudo nos parece internamente tão obscuro, tão solitário, tão informe. Mas, quão diverso tudo se nos mostrará – quando essas trevas tiverem se dissipado e o corpo de sombras tiver sido deixado para trás? Nós iremos nos comprazer mais do que nunca, pois nosso espírito o necessita.

 

O entendimento claro e irmanado com a ardente fantasia perfaz o alimento autêntico e portador de felicidade da alma.

 

O preconceito mais arbitrário é o de que é recusado ao homem a capacidade de estar fora de si, de estar com consciência para além dos sentidos. O homem está a cada instante em condições de ser uma essência supra-sensível. Sem isto, ele não seria cidadão do mundo, mas um animal. Com certeza, a temperança e o encontrar a si mesmo são muito difíceis neste estado, uma vez que ele está tão incessante e necessariamente ligado com a mudança de nossos estados restantes. Quanto mais conseguimos ter consciência deste estado, tanto mais forte, viva, suficiente é a convicção que daí emerge – a crença em revelações autênticas do espírito.

 

Filosofar precisa ser um tipo peculiar de pensamento. O que faço quando filosofo? Eu reflito sobre um fundamento. Na base do filosofar se encontra, portanto, um anseio pelo pensamento de um fundamento. Todavia, o fundamento não é causa em sentido próprio – mas constituição interna – conexão com o todo (portanto, fundamentação/verdade a partir da coerência). Todo filosofar precisa, com isto, terminar junto a um fundamento absoluto. O que aconteceria, então, se este não fosse dado, se este conceito envolvesse uma impossibilidade? Neste caso, o impulso para o filosofar seria uma atividade infinita e sem fim, porque estaria presente uma requisição eterna por um fundamento absoluto que não poderia ser apaziguada senão relativamente, e por isto nunca cessaria.

 

Para se produzir o efeito do ideal, ele não pode se encontrar na esfera da realidade comum.

 

Um em tudo e tudo em um, sem reservas...

 

Melancolia e volúpia, morte e vida. Aqui, o futuro é do passado um pedaço...

 

Tudo precisa em tudo penetrar...

 

Celestiais, brilhantes como as estrelas, parecem-nos os olhos infinitos que abriram a noite em nós.

 

O mundo precisa ser romantizado; só assim será reencontrado o sentido originário. Romantizar nada mais é do que uma potenciação qualitativa, assim como nós mesmos somos uma série potencial qualitativa. Nesta operação, o si-mesmo inferior é identificado com um si-mesmo melhor. Esta operação é ainda totalmente desconhecida, mas, na medida em que dou ao comum um sentido elevado, ao costumeiro um aspecto misterioso, ao conhecido a dignidade do desconhecido, ao finito um brilho infinito, eu os romantizo.

 

O que devo entender precisa se desenvolver, em mim, organicamente.

 

 

 

 

O Eu é a escolha e a realização da esfera da liberdade individual ou auto-atividade.

 

Para o mundo, procuramos o projeto, e este projeto somos nós mesmos. O que somos? Pontos onipotentes personificados. A execução, enquanto imagem do projeto, tem, porém, de lhe ser igual na livre-atividade e auto-referência – e inversamente.

 

O momento subjetivo da consciência não é produtivo sem um momento objetivo. O primeiro passo, assim, deverá ser olhar para dentro – contemplação isolante do nosso eu. Mas, quem se detém aqui só logrará a metade. O segundo passo tem de ser olhar efetivamente para fora – uma observação auto-ativa, contida, do mundo exterior.14

 

Sem auto-entendimento perfeito e acabado nunca aprenderemos a verdadeiramente entender os outros.

 

O verdadeiro espírito da fábula é um amável disfarce do espírito da virtude, e o objeto verdadeiro da poesia, que lhe é subordinado, é a mais alta e a mais pessoal atividade do nosso Eu! Há uma espantosa identidade entre um canto sincero e uma nobre ação.

 

 

 

 

É uma pena que a poesia tenha um nome particular e que os poetas formem uma corporação à parte. A poesia não é coisa à parte. Ela é o modo de atividade próprio ao espírito humano. Todo homem não está a cada minuto de sua vida a fabular e a inventar?

 

Quando examino tudo isto atentamente me parece necessário que um historiador seja também poeta, pois só os poetas se entendem nessa arte de encadear os acontecimentos de modo satisfatório. Nas suas narrativas e fábulas observei com um prazer secreto o sentimento delicado que têm do misterioso princípio da vida. Há mais verdade nos seus contos do que nas crônicas eruditas.

 

Se, até agora, eu vivi no presente e na esperança da felicidade terrena, de agora em diante deverei viver inteiramente no verdadeiro porvir, na fé em Deus e na imortalidade. Será muito duro me separar deste mundo, que era, para mim, objeto de amoroso estudo; as recaídas me provocarão não poucos acessos de pânico. Mas, sei que há no homem uma força que, se for rodeada de cuidados especiais, poderá frutificar em uma estranha energia.

 

O que desejo ver é a flor azul. Sua imagem não me abandona.

 

Para onde estamos realmente indo? Para Casa!

 

Então, a Palavra Misteriosa destruirá toda essência mentirosa.

 

 

 

Coisa Horrenda

 

 

 

averá coisa mais horrenda

do que disseminar que Deus

e que comemore a exeqüenda?

 

averá coisa mais indistinta

do que achar que sua religião

seja o uniquíssimo vinho/pão

para saciar uma fome faminta?

 

averá coisa mais medonha

do que pré-qualificar, exprobar,

condenar e mandar incinerar

um travesseirinho sem fronha?

 

averá coisa mais bodosa

do que se julgar um privilegiado

e admitir que será arrebatado

por ser cordeiro e não raposa?

 

averá coisa mais farsante

do que tornar menor o valor,

dizer que o amarelo é incolor

e, por fim, arruinar o tirante?

 

averá coisa mais fedida

do que ser juiz e carrasco

de alguém tido por diasco,

e excluí-lo da Eterna Vida?

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Já disse mil vezes; direi pela milésima primeira: no Universo, não há acaso, fortuitidade. Além da mudança e do movimento, o Universo é caracterizado por ser um sistema organizado e ordenado. A ancoragem e a estagnação assim como desorganização e a desordenação estão em nós, por sermos e gostarmos de ser ignorantes.

 

 

 

 

2. Sim, a vida é o princípio da morte, pois morremos um pouquinho a cada dia. Mas, por outro lado, a depender de nós, a vida poderá ser o principio da Vida Eterna.

3. Admitindo que rezar é criar religião, como disse Novalis, então, acho que não erraremos se dissermos que filosofar é criar Filosofia.

4. Aí é que está o busílis. Se, ao invés de admitirmos que um pecado é uma violação de um preceito religioso, e admitirmos que o pecado é sempre uma manifestação de ignorância, realmente não existe pecado. Mas, se quisermos admitir que o pecado existe, só pecam efetivamente – quando pecam! – os Grandes Iniciados, os Adeptos e os Hierofantes.

5. Isto é um preconceito sesquipedal. Foi exatamente esta sesquipedalidade que pariu a Inquisição, e que continua a parir, em outras religiões, dores lancinantes, terebrantes e aberrantes. Admitindo que Deus exista, Ele só pode ser um. Então, essa coisa de que o meu Deus é mais melhor do que o Seu é sesquipedalmente um horror. Coisas como essas me deixam assarapantado e abichornado.

6. Não! Não somos nem estamos sozinhos.

7. Se isto é assim, ficou faltando dizer: e vice-versa. Ou seja: a natureza principal da mulher é a secundária do homem. Todos nós temos um pedacinho do outro.

8. Como não concordo com isto, vou refazer esta sentença: O conhecimento objetivo, se tanto, é apenas metade da coisa. O Conhecimento (Sabedoria = ShOPhIa) é a outra. Bem, na verdade a Sabedoria é tudo.

9. Aqui, devo rapidamente comentar o seguinte: primeiro, quanto à verdade, o que é a verdade? O que admitimos, hoje, como verdades, amanhã, poderão ser ou estar substituídas, pois, as verdades que nos sustentam, geralmente, são falsas, e, quando não, são todas relativas. Um exemplo de falsidade bem-intencionada foi a Teoria do Universo Geocêntrico ou Geocentrismo (que não deve ser confundida com a Teoria da Terra Plana), que teve sua expressão máxima na obra Almagesto, um tratado de Astronomia escrito no século II pelo cientista grego Claudius Ptolemæus (90 – 168), cuja formulação final se baseava na hipótese de que a Terra estaria parada no centro do Universo, com os corpos celestes, inclusive o Sol, girando ao seu redor. Já, entre tantos, um exemplo de relatividade das coisas é o pedi e obtereis. Nem sei se é correto pedir, mas, certamente, o obtereis será, no mínimo, sempre relativo ao mérito do requestador. Segundo, toda verdade, quando é uma verdade que está em conformidade com os fatos ou com a realidade, é uma verdade, por um lado, sempre relativa, e, por outro, habitualmente fragmentada. Quase duzentos anos antes de Novalis, o filósofo, físico e matemático francês René Descartes (1596 – 1650) apresentava ao mundo a sua Dúvida Metódica (que se diferencia da da Dúvida Cética por sustentar um caráter ativo e por constituir um ponto de partida para a busca da verdade, representando, por assim dizer, o abalo de todas as nossas certezas). A Dúvida Metódica é um método que consistia da filtragem de todas as idéias, eliminando aquelas que não se afigurassem como verdadeiras e fossem dúbias, e apenas retendo aquelas que não suscitassem qualquer tipo de dúvida. Todavia, pergunto: o que é passível de não suscitar qualquer tipo de dúvida? A dúvida, como uma espécie de irmã gêmea de todos os seres-no-mundo, haverá de nos acompanhar ab æterno usque in æternum (desde a eternidade até a eternidade), porque jamais poderemos afirmar que o mundo objetivo, tal como o conhecemos e o que nele se manifesta para nós, seja absolutamente verdadeiro. Aceitar algo, sem questionamentos, é a maior prisão que pode existir, pois, ao agirmos assim, estamos e nos mantemos presos em nós mesmos, em nossas idiossincrasias, em nossas limitações. Leia o extrato seguinte de Descartes, e medite no que ele escreveu: ... sou obrigado a confessar que, de todas as opiniões que recebi outrora em minha crença como verdadeiras, não há nenhuma da qual não possa duvidar atualmente, não por alguma inconsideração ou leviandade, mas por razões muito fortes e maduramente consideradas. De sorte que é necessário que eu interrompa e suspenda doravante meu juízo sobre tais pensamentos, e que não mais lhes dê crédito, como faria com as coisas que me parecem evidentemente falsas, se desejo encontrar algo de constante e de seguro nas ciências. (Grifo meu). Seja como for, seria interessante que todos procurassem ler o Discurso Sobre o Método, por vezes traduzido como Discurso do Método ou, ainda, Discurso Sobre o Método para bem Cconduzir a Razão na Busca da Verdade Dentro da Ciência, um tratado matemático e filosófico de René Descartes, publicado na França em 1637, base da epistemologia cartesiana, sistema que passou a ser conhecido como Cartesianismo. Em toda a obra permeia a autoridade da razão, pois, para Descartes, o conhecimento significativo só poderá ser atingido pela razão, abstraindo-se a distração dos sentidos. Enfim, uma das mais conhecidas frases do Discurso é: Je pense, donc je suis (citada freqüentemente em latim, Cogito ergo sumPenso, logo sou), isto é, o ato de duvidar como indubitável e as evidências de pensar e de ser estando ligadas. Conclusivamente: A Geometria faz com que possamos adquirir o hábito de raciocinar... (Jacob Bernoulli, 1654 – 1705).

 

 

 

 

10. Não posso admitir isto em nenhuma hipótese. Mas, vá lá, se consentirmos que isto seja verdade, haverá Mediador mais efetivo do que o Deus de nossos Corações?

11. Quem poderá dizer que está completamente formado? Bem, quando encarnarmos compulsoriamente aqui, na Terra, pela última vez, aí, sim, poderemos dizer que estamos completamente formados, mas, apenas no que concerne às experiências necessárias e educativas relacionadas ao Planeta Terra... e nada mais. E quanto à esta questão da vontade, já disse e vou repetir: precisamos aprender a transmutar o fiat voluntas mea em Fiat Voluntas Tua. Eu, como sistematicamente escorrego no fiat voluntas mea, acho que ainda encarnarei por aqui umas sete mil setecentas e setenta e sete vezes. No mínimo!

 

 

 

 

12. Quantos, ao passear por um campo florido, percebem os diversos matizes das flores e as diversas tonalidades do verde?

13. Eu penso que o processo da História seja a eterna transmutação/ascensão. Hoje, certamente, por exemplo, não há mais lugar para um Gaius Julius Cæsar Augustus Germanicus (12 41), também conhecido como Caio César ou Calígula, imperador romano de 16 de março de 37 até o seu assassinato, em 24 de janeiro de 41, ou para a maldita Inquisição. Acho também que um golpe militar, como o que ocorreu em 31 de março de 1964 no Brasil, não acontecerá mais. Enfim, há coisas que foram e que não serão mais, coisas que foram e que voltarão a ser, e coisas que ainda não foram, mas que serão. Seja como for, tudo é transmutação/ascensão; tudo é bom.

14. Por isto, não como regra absoluta, mas, de maneira geral, todas as formas de eremitismo ou de isolamento do convívio social acabam por se tornar estéreis e mórbidas. E, de certa forma, todo isolamento é um mecanismo de defesa típico de neurose obsessiva misturado com covardia. Para Viver, é preciso viver; e, para viver, é preciso trocar (aprender e ensinar). Quem poderá chegar a ser alguém sozinho?

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.catedraltaubate.com.br/
arquivos/catequese/230809.pdf

http://www.sitiodolivro.pt/pt/autor/novalis/16029/

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http://zoedecamaris.blogspot.com.br/2009/03/
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http://www.citador.pt/frases/citacoes/
a/friedrich-von-hardenberg-novalis

http://de.wikipedia.org/wiki/Franz_Gareis

http://gamesdaweb.com.br/
diversos/puzzle

http://pt.wikiquote.org/wiki/Novalis

 

Música de fundo:

La Malagueña (Malagueña Salerosa)
Composição: Elpidio Ramírez & Pedro Galindo
Interpretação: Plácido Domingo

Fonte:

http://www.4shared.com/mp3/zQ1HSw
Zy/plcido_domingo-la_malaguea.html

 

Direitos autorais:

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