Ocorrência
O conhecimento dos efeitos tóxicos
do chumbo sobre o organismo humano remonta aos primórdios
da civilização, encontrando-se na literatura médica
amplas referências sobre este tipo de envenenamento. Face
a isto, os casos graves de intoxicação saturnina,
freqüentes no passado, são hoje relativamente poucos,
tendo-se em vista que aos primeiros sinais e sintomas, procuram-se
aplicar os recursos médicos já conhecidos.
Entretanto,
é de se observar que o paulatino decréscimo de tais
ocorrências (casos fatais e benignos), é devido, principalmente,
à maior atenção que se tem dispensado aos riscos
decorrentes da exposição ao chumbo e aos seus compostos
pela aplicação de métodos preventivos de combate
aos aerodispersóides em geral, e ao chumbo em particular.
Ainda
assim, constata-se a ocorrência de saturnismo em larga escala
entre os operários de:
a) indústrias extrativas de chumbo;
b) fábricas de acumulados elétricos;
c) tipografias (compositores);
d) indústrias de acabamentos de peças metálicas;
e) soldas em geral e soldas elétricas para automóveis;
f) cortadores de estruturas de aço pintadas com tinta à
base de chumbo.
É
de se observar que o maior número de casos de intoxicação
saturnina ocorre entre os trabalhadores da indústria extrativa
e de fábricas de baterias elétricas.
Absorção
do Chumbo e Intoxicação Saturnina
Diz-se que há absorção
de chumbo quando o mesmo, tendo penetrado por quaisquer vias, atinge
os tecidos. Quando o chumbo absorvido provoca sintomas subjetivos
e objetivos, diz-se que ocorre a intoxicação saturnina.
Com relação ao mecanismo das reações
bioquímicas envolvidas na intoxicação, sabe-se,
que ele é bastante diversificado e complexo, variando desde
a substituição do cálcio no tecido, com sua
eliminação posterior por acidose (sem que necessariamente
ocorra a recalcificação), até as complexas
interferências no Ciclo de Krebs, na formação
da heme, no nível de fígado. Tais interferências
se processam nas várias etapas de formação
do sangue, através de inibições enzimáticas
celulares, com freqüentes casos de anemias. Por outro lado,
lesões cancerosas no nível do cérebro, resultantes
da intoxicação pelo chumbo orgânico são
conhecidas.
Diz-se
que o envenenamento pelo chumbo inorgânico tem ação
preferencial pelos ossos. Já o chumbo orgânico, enquanto
em fase de decomposição, tende a provocar lesão
nervosa no cérebro; após a decomposição
total, segue integralmente a trajetória do chumbo inorgânico.
Sinais
e Sintomas
São os seguintes os principais sinais e sintomas do saturnismo
incipiente:
a) náuseas;
b) vômitos;
c) linha gengiva azul (pontilhados de PbS);
d) taxas anormalmente elevadas de reticulócitos (reticulocitose);
e) hemácias com granulações basófilas;
f) policromatofilia;
g) elevada concentração de chumbo no sangue e na urina.
Achados
Clínicos
Os principais achados clínicos do saturnismo são:
a) cólica;
b) anemia;
c) neurite;
d) encefalopatia;
e) tremor (contrações fibrilares);
f) linha gengival azul.
A seguir, daremos um quadro
geralmente aceito como termo de referência para a interpretação
dos laudos químico-analíticos relativos ao sangue
e à urina. Com relação às hemácias
com pontilhados basófilos, considera-se normal o limite de
1.000/1.000.000 (um por um milhão) de eritrócitos.
Toxicologia
A maioria dos casos fatais
é de origem não-ocupacional e resultante de abusos
e derramamento, proporcionando, assim, a absorção
pela pele e a inalação dos vapores tóxicos.
Na indústria, em ordem de importância, as vias de penetração
do chumbo são:
a) pulmonar;
b) digestiva;
c) cutânea (raro).
O
chumbo tetraetila e os compostos orgânicos afins são
importante exceção em relação à
via mais comum de absorção, penetrando através
da pele, seja na forma líquida, seja na de vapor. Nos túneis,
considera-se que a concentração até 0,1% do
tóxico, em geral não produz riscos. Há, porém,
casos de dores de cabeça e musculares, inflamação
nasal, constipação e diarréia. Nos tanques
de estocagem de chumbo orgânico tem havido casos letais em
apenas 30 minutos. Pequenas inalações em dias sucessivos
e até de poucas horas, têm se revelado fatais.
Tratamento
Não há evidência
terapêutica do uso do ácido etilenodiamino tetra-acético
(EDTA) para a cura do saturnismo causado pelo chumbo inorgânico.
Sabe-se, porém, que aplicação intravenosa de
1g de EDTA cálcico para cada 30 kg de indivíduo, reduz
o teor de chumbo na urina, mas não no sangue.
Em
casos de urina rósea (até 2,2 mg/l Pb), após
2 dias, houve redução para 0,26 mg/l. Este fato é
atribuído à reação entre o EDTA e os
metais, inclusive o Pb e o Ca, formando complexos solúveis
estáveis, razão porque se usa o EDTA cálcico
(a fim de se evitar o seqüestro de cálcio do organismo).