CAMINHEI A BARLAVENTO

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

É difícil para a nossa mente ficar livre dos trastes imprestáveis que acumulou [ao longo de milênios]. E por isto e assim, vivemos de memórias e das murmurações de ontem. O fato é que, para ficarmos Sozinhos, teremos de morrer para o passado. [Isto, é mais ou menos como disse Caetano Veloso: Caminhando contra o vento/Sem lenço e sem documento...] Levamos conosco a carga de tudo o que disseram milhares de pessoas, e as lembranças de todos os nossos infortúnios. Entretanto, o ser-humano-aí-no-mundo que aprendeu a estar completamente Só é inocente, juvenil, puro e está Vivo, e essa inocência, juventude, pureza e Vivacidade libertam a mente do sofrimento. Isto é Viver. Só assim poderemos Conhecer e Ver o que é a Verdade, e aquilo que as palavras não podem ensinar nem medir. Apenas nesta Solidão [Iniciática] compreenderemos a necessidade de Vivermos com nós mesmos, tal como de fato somos, e não como pensamos que deveríamos ou gostaríamos de ser ou como [pensamos que] fomos. Só assim poderemos nos olhar sem nenhum estremecimento, sem falsa modéstia, sem medo, sem justificação e sem condenação. [In: Liberte-se do Passado (Freedom From the Known), de autoria de Jiddu Krishnamurti.]

 

 

 

Caminhando a Barlavento

Caminhando a Barlavento

 

 

 

Por milênios, eu caminhei alegrinho,

egolátrico e autocentrado.

Só queria flautear e sair de fininho,

sem dar bola pro Quadrado.

 

 

 

 

Caminhei fissurado tão-só em mim...

E melequei no lodaçal.

Caminhei e troquei o não pelo Sim...

Aí, amainou o vendaval.

 

 

Lodaçal

Lodaçal

 

 

Cabeçudo, caminhei a sotavento...

Só arenga... Apenas deserto...

Então, decidi caminhar a barlavento...

Aí, cheguei um tico mais perto.

 

 

 

 

Idolatrei o esquizofrênico Jim Jones,

e quase pifei em Jonestown.

Tomei tenência, parei de ser arlequim

e deixei de ser um clown.

 

Caminhei de boina, bengala e fraque...

E não saí da contramão.

Caminhei sem lenço e sem babilaque...

E mitiguei a tentação.

 

Caminhei, tudo nas mãos, tudo nos bolsos...

Continuei zura e apegado.

Caminhei, bulhufas nas mãos, xongas nos bolsos...1

Tornei-me veraz e elevado.

 

Caminhei com o meu passado de lembranças...

E só vivia abichornado.

Caminhei sem quereres e sem esperanças...

E não vivi mais torturado.

 

Caminhei nas miralusões2 do exterior...

E esquentei o mesmo lugar.

Caminhei ao lado do meu Deus Interior...

E pude Ver um Outro Lugar.

 

Caminhei com meu Deus neste Outro Lugar...

E senti o Amor do Universo.

Ensinei a todos que há este Outro Lugar...

E foi mudando o ambiverso.

 

O fato é que, quando açaimarmos o dragão,

manjaremos que este Outro Lugar

sempre esteve-está-estará em nosso Coração,

e que foi-é-será nosso Lídimo Lar!

 

Todavia, quem não Lutar o Bom Combate

jamais O poderá encontrar.

Sem Luta, não terá fim o bate-que-bate:

(re)voltar até se ilustrar!

 

 

 

Cantando

 

 

 

______

Notas:

1. Na obra autobiográfica Les Mots (As Palavras), o filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como um dos representantes do Existencialismo, Jean-Paul Charles Aymard Sartre (Paris, 21 de junho de 1905 – Paris, 15 de abril de 1980) escreveu: O que eu amo em minha loucura é que ela me protegeu, desde o primeiro dia, contra as seduções da elite. Nunca me julguei feliz proprietário de um talento: minha única preocupação era me salvarnada nas mãos, nada nos bolsospelo trabalho e pela fé. Claro, fé, aqui, não é fé religiosa, acachapante e dogmática, que nunca salvou, não salva e jamais salvará alguém nem ninguém de necas de pitibiribas, até porque salvação fideísta nunca existiu, não existe e jamais existirá. O que existe é Transcompreensão. Enfim, sartrianamente, fé é a convicção na dignidade dos pensamentos, das palavras e das ações, pois, para Sartre, o Existencialismo é um Humanismo, baseado nas potencialidades e nas faculdades do ser-humano-aí-no-mundo, sublinhando sua capacidade para a criação efetiva e a transformação concertada das realidades natural e social. Coerente com esta linha de ação-pensamento, Sartre viria a recusar, em 1964, o Prêmio Nobel de Literatura. O filósofo Søren Kierkegaard (Copenhague, 5 de maio de 1813 – Copenhague, 11 de novembro de 1855), geralmente, considerado o Pai do Existencialismo, sustentava a idéia de que o indivíduo é o único responsável em dar significado à sua vida e em vivê-la de maneira sincera, coerente e apaixonada, apesar da existência de muitos obstáculos, empecilhos e distrações, como, por exemplo, as perdas, as decepções, o desespero, a ansiedade, o absurdo, a alienação [desejos, cobiças, paixões, manias, TOCs (obsessões e compulsões), coisismos, achismos etc.] e o tédio, coisas que só a Transcompreensão explicará e libertará.

 

Existencialistas

Alguns Existencialistas Históricos

 

 

Manuscrito

Manuscrito da Carta de Sartre à Academia Sueca
Recusando o Prêmio Nobel de Literatura de 1964

 

Eu não quero o Nobel
de vento, como pastel.
Peço
LLuz, mais LLuz,
para permutar de Cruz.

Eu não quero galardão,
que apatiza o Coração.
Quero tão-só ShOPhIa,
a Generatriz da Alforria.

 

2. Miralusões = Miragens + Ilusões.

 

Música de fundo:

Alegria, Alegria
Composição e interpretação: Caetano Veloso

Fonte:

https://ycapi.org/button/?v=WL8l8olaMmI

 

Páginas da Internet consultadas:

http://diendisrogers.blogspot.com/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Barlavento_e_sotavento

http://www.blogletras.com/2015/01/
sartre-e-recusa-do-premio-nobel-de.html

https://revistaforum.com.br/sartre-resiste-ao-seculo/

https://giphy.com/

https://giphy.com/explore/wind

https://www.canstockphoto.ca/

https://br.freepik.com/

https://dribbble.com/shots/3654334-Banana

https://www.presentermedia.com/index.php?
target=closeup&maincat=animsp&id=7124

 

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