Barbosa Lima Sobrinho

(Pensamentos e Reflexões)

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

 

Barbosa Lima Sobrinho

 

 

 

As flores, umas caem, outras secam, outras murcham, outras leva o vento; aquelas poucas que se pegam ao tronco e se convertem em fruto, só essas são as venturosas, só essas são as que aproveitam, só essas são as que sustentam o Mundo, escreveu o Padre António Vieira no Sermão da Sexagésima, pregado na Capela Real, no ano de 1655. Barbosa Lima Sobrinho foi uma dessas flores que se pegam ao tronco e se convertem em fruto flor frutificativa que, com seu exemplo de dignidade e honradez, sustentou e sustentará o Brasil. Para sempre!

 

Este estudo, por natureza, incompletíssimo, teve por objetivo garimpar aqui e ali, na Internet, ditos, frases, pensamentos e reflexões do advogado, jornalista, ensaísta, historiador e político brasileiro Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho, que se foi e não se foi, pois o que ele deixou plantado não seca com o enxugo.

 

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

 

Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho nasceu em 22 de janeiro de 1897 na Cidade de Recife, e faleceu, aos 103 anos, em 16 de julho de 2000, na Cidade do Rio de Janeiro. Advogado, jornalista, ensaísta, historiador e político brasileiro, integrou durante anos a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Academia Brasileira de Letras. Barbosa Lima Sobrinho, como era mais conhecido, foi um brasileiro notável, que participou durante todo o século passado, dos mais importantes acontecimentos da vida de nosso País.

 

Filho de Francisco Cintra Lima e de Joana de Jesus Cintra Barbosa Lima, estudou o curso primário em Recife. Na mesma Cidade, iniciou o secundário no Colégio Salesiano, terminando-o no Instituto Ginasial Pernambucano. Em 1913, matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, na qual colou grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1917. Foi adjunto de promotor do Recife, em 1917, e advogado no período imediato ao de sua formatura. Colaborou na imprensa pernambucana, no Diário de Pernambuco, no Jornal Pequeno e, principalmente, no Jornal do Recife, onde escreveu a crônica dos domingos, de outubro de 1919 a abril de 1921. Colaborou ainda na Revista Americana, na Revista de Direito, no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, no Correio do Povo, de Porto Alegre, e na Gazeta, de São Paulo.

 

Mudando-se para o Rio de Janeiro, dedicou-se ao jornalismo. Trabalhou no Jornal do Brasil, a partir de abril de 1921, a princípio como noticiarista, mais tarde como redator político e, a partir de 1924, como redator principal. Escreveu, até a data de sua morte, em julho de 2000, um artigo semanal, nesse jornal.

 

Na Associação Brasileira de Imprensa exerceu a presidência nos períodos de 1926 a 1927; 1930 a 1932; a presidência do Conselho Administrativo de 1974 a 1977; e novamente a presidência de 1978 a 2000. Foi proclamado Jornalista Emérito pelo Sindicato da categoria de São Paulo. Quando assumiu pela primeira vez a Presidência da ABI, Barbosa Lima Sobrinho já revelava seu dinamismo: convocou uma assembléia-geral para reformar os estatutos, regulamentou a concessão da carteira de jornalista e título de sócio e estabeleceu intercâmbio com as associações de imprensa dos Estados, proporcionando a integração dos jornalistas em todo o País.

 

Renunciou à cadeira de deputado em 1948, para assumir, em 14 de fevereiro do mesmo ano, o cargo de Governador do Estado de Pernambuco, exercendo o mandato até 31 de janeiro de 1951.

 

Foi Procurador da Prefeitura do então Distrito Federal (Cidade do Rio de Janeiro) e professor de ensino superior nos cursos de ciências sociais e econômicas. Como professor, regeu a cadeira de Política Financeira e, mais tarde, a de História Econômica, na Faculdade de Ciências Econômicas Amaro Cavalcanti, do antigo Estado da Guanabara. Mais uma vez deputado federal por Pernambuco para a legislatura 1959-1963, integrou a Comissão de Justiça.

 

Foi sócio benemérito do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto dos Advogados do Rio de Janeiro; benemérito da Associação Brasileira de Imprensa e sócio correspondente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano e do Instituto de Advogados de São Paulo; sócio efetivo da Sociedade de Geografia; sócio honorário do Instituto Histórico de Goiana (PE); presidente de honra do XIV Congresso Nacional de Estudantes; professor honorário da Faculdade de Filosofia da Universidade do Recife; presidente do Pen Clube do Brasil em 1954; membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa; membro do Instituto de Direito Público e da Fundação Getúlio Vargas.

 

Recebeu a Medalha Quadragésimo Aniversário da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1981); o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco e o Prêmio Imprensa e Liberdade, conferido pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade (1984); o Prêmio Governo do Estado do Rio de Janeiro e o título de Cidadão Benemérito da Cidade do Rio de Janeiro (1987); o Prêmio Juca Pato, conferido pela União Brasileira de Escritores; o Prêmio San Tiago Dantas (1989); e a Medalha Tiradentes (1992), conferida pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Recebeu também a Medalha Chico Mendes de Resistência do Grupo Tortura Nunca Mais em 1992.

 

Em 1973 candidatou-se a vice-presidente da República na chapa encabeçada por Ulisses Guimarães pelo Movimento Democrático Brasileiro. Participou da Campanha pela anistia ampla, geral e irrestrita, que teve sucesso em 1979 e em 1992 foi o primeiro signatário do pedido de impeachment do Presidente Fernando Collor de Mello. A partir de 1994, participou de manifestações contrárias às privatizações de empresas públicas, política iniciada no governo Collor e ampliada no governo Fernando Henrique Cardoso. Em 1998, foi contrário a revisão constitucional que permitia a reeleição dos ocupantes de cargos executivos, por considerar prejudicial aos interesses do Brasil.

 

 

 

 

Principais Obras Publicadas

Lingüística e Literatura

 

 

Árvore do Bem e do Mal (1926)
O Vendedor de Discursos (1935)
A Questão Ortográfica e os Compromissos do Brasil (1953)
A Língua Portuguesa e a Unidade do Brasil (1958)
Os Precursores do Conto no Brasil (1960)

 

 

Direito, Ensaio, História,
Jornalismo e Política

 

 

O Problema da Imprensa (1923)
Pernambuco e o Rio São Francisco (1929)
A Bahia e o Rio São Francisco (1931)
A Ação da Imprensa na Primeira Constituinte (1934)
O Centenário da Chegada de Nassau e o Sentido das Comemorações Pernambucanas (1936)
A Verdade sobre a Revolução de Outubro (1946)
Interesses e Problemas do Sertão Pernambucano (1937)
O Devassamento do Piauí (1946)
A Revolução Praieira (1949)
A Comarca do Rio São Francisco (1950)
Artur Jaceguai (1955)
Capistrano de Abreu (s.d.)
Sistemas Eleitorais e Partidos Políticos. Estudos Constitucionais (1956)
A Auto-determinação e a Não-intervenção (1963)
Desde Quando Somos Nacionalistas (1963)
Alexandre José Barbosa Lima (1963)
Presença de Alberto Torres (1968)
Oliveira Lima, Obras (1971)
Japão: o Capital se Faz em Casa (1973)
Pernambuco: da Independência à Confederação do Equador (1979)
Antologia do Correio Braziliense (1979)
Estudos Nacionalistas (1981)
Assuntos Pernambucanos (1986)

 

 

 

 

 

Dele Disseram

 

 

 

 

Villas-Bôas Corrêa: Barbosa Lima Sobrinho foi uma das maiores figuras do século que não pôde ver terminar. Mais de 50 anos de relações cordiais e espaçadas, a admiração crescente, a reverência da estima não cabem neste pequeno registro emocionado, um ramo de cravos depositado no caixão do grande brasileiro, do patriota insuperável, a lenda eterna na gratidão nacional.

 

Hélio Silva: Soldado estadista, vencedor na guerra, implacável no combate, magnânimo na paz.

 

Leneide Duarte: A vida do presidente da ABI está de tal forma ligada à história da imprensa e da política do Brasil que é impossível contá-la sem retomar fatos políticos que marcaram a vida nacional... Na sua história de luta pela Democracia, esteve à frente da campanha, em 1984, das Diretas Já e, em 1947, votou contra a cassação do Partido Comunista.

 

Senador Gilvam Borges (PMDB-AP): Foi no Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON) que Barbosa Lima lutou, com garra e afinco, contra as privatizações indiscriminadas, contra as mudanças constitucionais que atingiriam as conquistas sociais e poderiam quebrar os princípios da ordem econômica.

 

Senador Maguito Vilela (PMDB-GO): Além de jornalista e político, Barbosa Lima trabalhou como advogado, muitas vezes gratuitamente, na defesa de pessoas perseguidas pela ditadura militar.

 

Senador Roberto Saturnino (PSB-RJ): Barbosa Lima Sobrinho tinha 103 anos. Era uma morte que o Brasil esperava, mas queria adiar permanentemente. Queríamos ler o que Barbosa Lima Sobrinho publicava aos domingos no Jornal do Brasil. Barbosa Lima Sobrinho era uma referência, um farol para os brasileiros.

 

Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns: Barbosa Lima construiu um monumento à dignidade e à honradez.

 

Fernanda Montenegro: Há peças que não têm reposição e ele foi uma pessoa especial, um homem justo, de posição corajosa e nacionalista no melhor sentido da palavra.

 

Fernando Lyra: Não é difícil perceber que o político e o historiador foram sempre comandados pelo jornalista que ele foi por toda a vida, daí ter sido tão natural que até os últimos dias lêssemos as suas colaborações nos jornais. Nos 200 anos da imprensa, o jornalismo ético e responsável encontra um espelho nítido e indiscutível: no pernambucano Barbosa Lima Sobrinho.

 

Borges Neto: A preocupação que o doutor Barbosa tinha com o físico começou cedo. Adolescente, gostava de jogar futebol, remar e caminhar. No Rio, torcia pelo Fluminense – o clube fundado em 1902, quando Barbosa Lima tinha 5 anos. Em Pernambuco, mantinha fidelidade ao Náutico, do qual foi centroavante. No Corinthians Olindense, chegou a artilheiro. Barbosa Lima freqüentou o Maracanã até os 75 anos.

 

Roberto Marinho: Barbosa Lima não tem apenas a característica singular de ter atravessado um século da História do Brasil, como político e jornalista. Mais do que isso, sua carreira tem a marca de uma permanente defesa do que era, a seu ver, o interesse nacional. O político pernambucano e o jornalista brasileiro deixam como legado um exemplo de coerência, que se expressa como exemplo incansável de sua visão patriótica do que era melhor para o país. Não é preciso concordar com todas as suas atitudes e posições para nelas reconhecer um incansável amor pelo Brasil. Ele enriqueceu, ao longo de décadas, a busca de um futuro melhor para todos nós.

 

Cláudio Weber Abramo: Ao criticar a adesão brasileira ao processo de globalização da Economia (‘a transferência do público para os particulares’, dizia) e a desnacionalização que isso implica, passou a exercer uma oposição que já não era admitida, ou mesmo compreendida, pelo 'establishment': por exemplo, designava a presidência FHC como ‘governo de pigmeus’.

 

Janio de Freitas: Com a ausência de Barbosa Lima Sobrinho, a cultura brasileira perde o mais completo e incontestado representante, entre os nossos contemporâneos, do patriotismo civil, a idéia lúcida e ativa de compromisso com o País – o povo e suas aspirações, costumes, tradições, os bens e a soberania da Nação.

 

Carlos Eduardo (um dos quatro filhos de Barbosa Lima): Ele era um homem lúcido e extremamente dócil, compreensivo e altamente democrático.

 

Arnaldo Niskier: Ele era a maior figura que o Brasil produziu neste século. Um homem íntegro, um verdadeiro patriota, que esteve sempre à frente de grandes causas como as Diretas Já e o 'impeachment' de Collor.

 

Antônio Olinto: Com uma posição nacionalista íntegra, ele queria de fato que o Brasil fosse uma grande nação. Era um modelo de homem público, escritor, para mim, o homem mais importante do século XX.

 

Leonel Brizola: Achávamos que esse dia nunca ia chegar, que iríamos antes dele. Ao longo dessa vida, Barbosa Lima construiu um círculo tão amplo, que fomos nos filiando. Ele se tornou uma espécie de patriarca desta Nação. Todos nós nos sentimos profundamente abalados. Se o País se inspirar nos exemplos de dignidade e, sobretudo, de patriotismo dele, esta Nação não terá o que temer no futuro.

 

Miguel Arraes: Perco um amigo, alguém determinante em minha vida; e o Brasil perde uma das grandes figuras deste século. É difícil encontrar alguém com a firmeza de posição de Barbosa Lima. Com o tempo, suas convicções foram acentuadas, ao contrário de outros que, com o tempo, vão mudando de posição. Era uma pessoa voltada para os interesses sociais.

 

Cícero Sandroni: De toda uma longa vida dedicada ao País, como jornalista, político e advogado, um episódio em especial é lembrado, com orgulho, pelos amigos de Barbosa Lima Sobrinho. Foi em 1992 quando ele, aos 95 anos, tornou-se uma espécie de guardião oficial da legalidade e moral do País, ao ser designado como o primeiro cidadão a assinar o pedido de 'impeachment' do Presidente Fernando Collor de Mello. E, no último grande episódio histórico do qual participou ativamente, mostrou, mais uma vez, sua preocupação democrática com a valorização não de apenas um único homem, mas das instituições.

 

Mário Covas: Há tanto tempo o País convive com a personalidade de Barbosa Lima Sobrinho, que todos nós já o considerávamos eterno. Mas o tempo é o senhor das coisas e tira hoje ao Brasil e aos brasileiros este grande homem, cujas preocupações únicas eram a verdade e a justiça. Sob sua égide, tornou ainda dignos o jornalismo e a política. Atravessou o século com destemor e ousadia, para deixar um legado exemplar. Anticandidato uma vez, será para sempre o vitorioso da liberdade e da Democracia.

 

Nélida Piñon: Para nós brasileiros, Barbosa tem um sentido imortal. Tínhamos nos acostumado com sua imortalidade moral; por isso é uma realidade muito difícil e muito penosa pensar que ele morreu. Ele não era amado porque intimidava, mas porque permitia o diálogo que abraçava as melhores causas humanas.

 

Marcos Vilaça: Barbosa Lima Sobrinho foi um nacionalista lúcido e desenvolvimentista que manteve, até a sua morte, um artigo semanal no Jornal do Brasil, o que comprova o seu engajamento até os últimos dias de sua vida.

 

Com seu jeito reservado, Barbosa Lima Sobrinho viajava na companhia do senador Paulo Guerra e de um caboclo da terra de apelido Curió. Percebendo que o jornalista ficava constrangido quando precisava fazer uma parada de emergência, o Curió sugeriu: — Doutor Barbosa Lima, é só dizer que vai regar o solo pátrio.







Barbosa Lima Sobrinho
(Pensamentos e Reflexões)

 

 

 

Barbosa Lima Sobrinho

Barbosa Lima Sobrinho

 

 

 

Eu não tenho nenhum plano, a não ser ver se eu alcanço o centenário. Se alcançar, será uma surpresa para mim, mesmo porque, depois dos noventa, cada ano representa uma vida...

 

O que é nacionalismo? A pergunta é freqüente, as respostas difíceis e nem sempre concordantes. Nacionalismo pode ser uma atitude de extrema direita, como o Fascismo, o Nazismo e o Integralismo. E há quem o confunda com o próprio Comunismo, cercando-o de aspas, como quem recorre a exorcismos, para afugentar demônios recalcitrantes... O nacionalismo integral inclui o elemento espiritual. Valoriza as manifestações religiosas. Exalta os sentimentos do povo e as tradições, que lhe foram marcando o destino, através do tempo. Já o nacionalismo de fundo econômico se vale das contradições de interesses, aceitando, ou não, as tendências espirituais que podem servir para dar maior ênfase às reivindicações materiais... Uma pesquisa dessa espécie mostrará que o nacionalismo responde a perguntas precisas, a necessidades definidas, a circunstâncias, que podem ser transitórias ou duradouras, obstinadas ou efêmeras. Não é uma tese vaga ou uma aspiração indefinida, uma dessas fórmulas confusas, que servem para tudo, por isso mesmo que não dizem nada. O nacionalismo pode ser um programa sem conteúdo, mas pode ser também um objetivo preciso. Há momentos em que soa como uma palavra quase inútil; e ocasiões, em que vale como uma clarinada de alerta ou uma flâmula de revolução... O nacionalismo não é um conceito estático, não é um letreiro de rodovia marcando o número de quilômetros percorridos ou a percorrer. É, antes, um conceito dinâmico, a soma ou o conhecimento de todos os letreiros, uma doutrina, uma experiência e uma política.

 

O Brasil é o único país do mundo em que ser nacionalista é considerado manifestação de debilidade mental.

 

O maior perigo do Brasil é voltar a ser colônia, desistir de ser metrópole.

 

A convicção fundamental que guiou minha vida é o nacionalismo. O Brasil não deve se dobrar a potências estrangeiras. Enquanto eu tiver capacidade para escrever, esta será minha luta.

 

O povo tem uma liberdade maior do que parece. Tem, também, seus instintos. Sua capacidade de reagir a favor de seus objetivos e ideais é notada logo quando lhe fazem imposições.

 

A política internacional está se desenvolvendo em favor dos EUA. Globalização e outras palavras que inventaram têm o intuito de nos fazer dependentes dos EUA. Chegaram a um nível de poder jamais alcançado por outra nação. É a defesa dos interesses deles através dessa globalização, que é um regime em que só os mais fortes predominam.

 

Se pudesse dar algum conselho, recomendaria que não se quisesse viver além dos 100 anos. É um sofrimento por tudo o que a gente não pode mas que gostaria de fazer.

 

Alguns viajam com os pés, outros com a cabeça.

 

Ainda que pequenos e nem sempre bem acabados, esses jornais e essas revistas prestam relevante serviço ao jornalismo, sem contar que, quem hoje é pequeno, amanhã poderá ser um gigante.

 

Não temas envelhecer, meu jovem amigo, desde que envelheçam contigo as tuas paixões de hoje. A velhice não é má, nem martirizante. Tu poderás descobrir, na tua ancianidade, prazeres que ignoravas e que te declinarão mais que os teus gozos de hoje, porque nesse tempo a tua alma será muito mais sensível e muito mais meiga.

 

Quando me tirarem a capacidade de luta, tiram também a capacidade de viver.

 

Quando fez 100 anos, confessou: — Vejo que todos me tratam com muita deferência, mas só tenho a dizer que é gratificante levar uma vida digna do ideal de quem ama o Brasil.

 

Às vezes, um adversário é mais útil do que um correligionário.

 

Segundo Barbosa Lima Sobrinho, existiriam no Brasil apenas dois partidos: o de Tiradentes e o de Joaquim Silvério Dos Reis.

 

Não há linguagem mais brasileira do que a de Machado de Assis nem escritor que se haja inspirado mais nos modelos clássicos, o que vale dizer na tradição portuguesa.

 

O Brasil tem duas cartas de descobrimento: a primeira é a de Pero Vaz de Caminha; a segunda é Geografia da Fome, de Josué de Castro.

 

Pouco a pouco, a vida se encarrega de atrair os díscolos1 e de reduzir os rebeldes. Não há outra fórmula para a existência que a da renúncia ao heroísmo, ao heroísmo de que fala Carlyle, misto de ideal e de capacidade de sacrifício. Dissimulamos com o título favorável de 'experiência' o que não passa de uma domesticação, a destruição de qualidades magníficas, para que todos vivam dentro de normas comuns, perdidas as arestas, sopitados os ímpetos, aniquiladas as revoltas.

 

Quando Ulysses Guimarães e ele lançaram-se anticandidatos à Presidência da República, disse: — Como dois dom Quixotes sem o Sancho Pança.

 

O Capital se faz em casa. Nacionalismo é a política destinada ao desenvolvimento da Economia do país sob seu controle direto, o que vale dizer sob a influência de seus próprios capitais e do seu próprio empresariado.

 

Quando pediu a mão de Maria José ao sogro, ouviu uma explicação:

— Escute, ela não sabe cozinhar, não sabe lavar e não sabe passar roupa.

Barbosa retrucou:

— Seu Pereira, eu sou diretor do jornal que tem o maior número de classificados no Rio. Se quisesse uma empregada doméstica, botava um anúncio.

 

Ninguém consegue ser subversivo após uma feijoada.

 

Como os donos da casa gostam das palavras sonoras, que disfarcem a servidão, valeram-se do título de `Liberalismo', que tinha a bênção de dois séculos de publicação do livro clássico de Adam Smith. E que, com o tempo, mudaria de rótulo, passando a ser o de Neoliberalismo, para dar a impressão de novidade. Nada mais do que uma troca de cartazes para dar uma idéia de mudança e de novidade, e dissimular a servidão, que continua inalterável.

 

O Liberalismo de dois séculos atrás virou agora o Neoliberalismo; tudo isso para dar a impressão de modernidade, tentando dissimular a servidão, que continua a mesma.

 

O segredo para aliviar o peso do passar dos anos é ter sempre a consciência tranqüila.

 

Quem é o dono efetivo do patrimônio público? É o Estado ou o povo que contribuiu com seus recursos para pagar na forma de impostos?

 

Se nós não confiarmos na mocidade, estamos perdidos porque, de fato, vão depender dela os destinos do Brasil.

 

A igualdade é pressuposto básico da Democracia, que, sem ela, não tem condições de sobreviver.

 

 

 

 

 

A verdade é que não se pode simplesmente esquecer o passado. Desde o golpe de 64, o país vem sofrendo alternâncias de crises, de confiscos e desilusões. Depois de toda a opressão imposta pelo regime militar, os brasileiros sofreram uma série de golpes frustrantes na Economia, desde a crise do México, a moratória, os planos Cruzado, Bresser, Verão, Collor, fechando o ciclo com a desvalorização cambial do ano passado. E tudo isso dentro de duas décadas de atraso, onde o PIB cresceu apenas pouco mais de 0,2% ao ano. Nossa distribuição de renda agravou-se ainda mais, a ponto de ser considerada uma das piores do mundo.

 

A perda do sentimento de nacionalidade tem muito a ver com a desnacionalização da nossa Economia, com a invasão de empresas estrangeiras, numa espécie de demonstração prática de que o brasileiro é incapaz de gerenciar e produzir, devendo se restringir apenas à função de rentista,2 como se dizia no século XIX.

 

Não posso renegar o sacrifício de lutar e defender os ideais de toda a minha vida.

 

A notícia, depois de apurada, tem de se conhecer a sua origem para saber se o fato é real ou se é apenas uma fantasia.

 

Não posso conceber um repórter veiculando uma notícia falsa; e se apurou que é, realmente falsa, o jornalista deve noticiar qual é a verdade.

 

A Ética, antes de tudo, é uma obrigação individual.

 

A pátria é a alma da nação e a finalidade do Estado é garantir o direito sagrado do povo de decidir, soberanamente, o seu destino.

 

Getúlio foi o presidente que mais lutou em defesa do nacionalismo.

 

Eu pratiquei todos os esportes que podia até os 22 anos, inclusive andar a pé. Eu fiz marchas que ficaram assinaladas na época, como uma marcha de um dia de Olinda até Goiânia, numa distância de cerca de 60 km...

 

Quando eu morrer, não me enterrem com o fardão. Senão nem os vermes vão querer me comer.

 

Eu era muito amigo do Múcio Leão e muito amigo do Ribeiro Couto, de forma que eu achei que dentro da Academia era a melhor maneira para a gente envelhecer, formando um grupo de amigos que poderia continuar se vendo ali...

 

Já falei da sacada de palácios e até de altares ecumênicos, mas nunca me senti mais honrado do que quando fui guindado a um estrado de caminhão, quase numa cena de surrealismo, para falar a eleitores que não iam votar, em nome de candidatos que não eram candidatos, mas tão-somente pessoas que protestavam contra a marginalização do povo na escolha do supremo mandatário da nação.

 

A política surgiu em minha vida pelo exercício do jornalismo. Uma atividade me levou à outra.

 

Essa coisa de longevidade é curiosa. Meu pai morreu com 53 anos, minha mãe não passou dos 64 e eu tive uma irmã que chegou aos 97 anos. É um mistério...

 

As águas de nossos rios parecem ameaçadas de correr para os bolsos estrangeiros, indo de encontro à Constituição, que as considera bens da União.

 

A fidelidade é uma virtude que enobrece a própria servidão.

 

Tomei todas as atitudes que deveria tomar em todas as idades.

 

Nunca fui comunista. Mesmo na mocidade, quando aceitava as idéias do Partido Socialista alemão, eu me considerava partidário do Socialismo contra o Comunismo.

 

A liberdade de imprensa não existe sem a liberdade de informação, que não é um direito do jornalista, mas do público.

 

Sou pequeno demais para me pronunciar diante de um problema tão grande como o da existência de Deus.

 

 

 

 

O ÚLTIMO ARTIGO
Barbosa Lima Sobrinho

 

A Exclusão da Classe Média
(copyright Jornal do Brasil, 16/7/00)

 

 

A igualdade é pressuposto básico da Democracia, que, sem ela, não tem condições de sobreviver. Parece primário, mas a tese é ampla e, com oportunidade, pode ser colocada na atualidade do Brasil. Segundo estudo recente do Bird (Banco Mundial), existe entre nós uma espécie de desesperança crônica que prejudica o desenvolvimento sustentável e, de certa forma, enfraquece a Democracia.

 

Na última edição da revista Veja, o colunista Sérgio Abranches, em artigo intitulado 'Pessimismo Econômico', traz números que deveriam contradizer essa desesperança. Mas ele mesmo reconhece que existe um sentimento de mal-estar econômico tão real quanto a queda da inflação. Que esse desconforto vem do medo do desemprego, das dificuldades para saldar compromissos, da frustração de planos de consumo. Seu artigo finaliza com algum otimismo, dizendo que aos poucos os brasileiros voltarão a ter melhores perspectivas. Uma conclusão com a qual não posso concordar integralmente, sobretudo diante de um governo atual tão distante e indiferente à opinião pública. A longo prazo, números podem resolver e apenas parte da questão. Para a reversão de expectativas para um futuro melhor são necessárias algumas mudanças fundamentais na condução da política econômica. A desesperança não é gratuita e remonta a várias turbulências em que se jogou a nação.

 

A verdade é que não se pode simplesmente esquecer o passado. Desde o golpe de 64, o País vem sofrendo alternâncias de crises, de confiscos e desilusões. Depois de toda a opressão imposta pelo regime militar, os brasileiros sofreram uma série de golpes frustrantes na Economia, desde a crise do México, a moratória, os planos Cruzado, Bresser, Verão, Collor, fechando o ciclo com a desvalorização cambial do ano passado. E tudo isso dentro de duas décadas de atraso, onde o PIB cresceu apenas pouco mais de 0,2% ao ano. Nossa distribuição de renda agravou-se ainda mais, a ponto de ser considerada uma das piores do mundo. Serão explicações razoáveis?

 

A meu ver, como já escrevi em artigo do mês passado, ocorreu uma espécie de deterioração do sentimento de nacionalidade. Admito também, agravada por uma ruptura nas regras do jogo cooperativo entre os três parceiros da Economia: os trabalhadores, os empresários e o Governo. É nesse sentido o artigo do deputado Delfim Netto, publicado no jornal Valor (11.07.00), que afirma: ‘É preciso construir instituições que, sem prejudicar a eficiência, garantam aos trabalhadores uma realidade participativa, uma faceta fundamental da aspiração por ‘igualdade’ que persegue o homem. A sobrevivência da Democracia exige que eles se percebam parte integrante e respeitada do processo de crescimento da sociedade, e não seres alienados para os quais o desenvolvimento material e a liberdade são irrelevantes.’ A seguir afirma ser preciso dar ao cidadão perspectivas de cooperação como parceiros, de liberdade criativa e de relativa igualdade. Essas funções seriam das empresas, mas cabe ao Governo criar o ambiente estimulador para esse novo conjunto de regras, o que permitiria a competição sem a perda da perspectiva. E termina seu artigo com um alerta: ‘Crescimento pela competição num regime democrático é o nome do jogo. Mas é preciso cuidado e sensibilidade, porque o fundamentalismo mercadista pode fazer muita coisa, mas não pode garantir a relativa igualdade entre os indivíduos, um valor que eles jamais deixarão de perseguir.’

 

Vou além e acrescento que para essa tarefa de administração do jogo não se pode contar com o atual Governo, não só pela sua falta de sensibilidade, como também pelo fato de ser ele, o Governo, o principal foco de desestabilização econômico-social. O que concorre para tanta desilusão não são só os espetáculos a que estamos assistindo de corrupção, impunidade, irresponsabilidade generalizada. A perda do sentimento de nacionalidade tem muito a ver com a desnacionalização da nossa Economia, com a invasão de empresas estrangeiras, numa espécie de demonstração prática de que o brasileiro é incapaz de gerenciar e produzir, devendo se restringir apenas à função de rentista, como se dizia no século 19.

 

Todo esse processo provocou a exclusão da classe média do debate e do cenário econômico. Mandaram-na deixar suas empresas para mãos mais eficientes e que fosse viver de aluguel. O Governo atual, com essa política, sinalizou com clareza que o Brasil não terá grandes empresas de expressão internacional, não terá suas multinacionais. Não estará aí, justamente nessa política de alienação patrimonial, uma das principais razões da desesperança e do pessimismo atual do brasileiro?

 

Por tudo isso, quando leio ou ouço esses apanágios antigos do Liberalismo como o do Estado fraco, da globalização, da mão invisível, fico imaginando qual será a reação da opinião pública quando, afinal, acordar e perceber que lhe tiraram tudo e sequer restou o aluguel. Será que teremos de esperar e pagar para ver chegar esse momento trágico? Não será melhor que, sobretudo como obrigação da maior parte dos formadores de opinião, se comece logo a reagir e a defender os legítimos interesses nacionais?

 

Fonte:

http://www.observatoriodaimprensa.com.br
/artigos/mem18072000.htm

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Díscolo: que ou quem é mal-educado, sem polidez; que ou quem é agressivo, brigão, desordeiro.

2. Rentista: que ou aquele que vive exclusivamente de rendas, de rendimentos; pessoa que vive de rendimentos; aquele que recebe rendas provenientes de títulos públicos.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Barbosa_Lima_Sobrinho

http://www.portaldoenvelhecimento.net/
acervo/artieop/Geral/artigo35.htm

http://www.pousadadascores.com.br/leitura_
virtual/entrevistas/barbosa_lima_sobrinho.htm

http://academiadosamba.com.br/
passarela/uniaodailha/ficha-1999.htm

http://brasil.iwarp.com/barbosa.html

http://www.fgmconsultoria.com.br/
marialucia/diario.htm

http://www.terra.com.br/
istoe/politica/142417.htm

http://www2.uol.com.br/
JC/_2000/0408/el2807h.htm

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/
artigos/mem18072000.htm

http://www.globoonliners.com.br/icox.php?mdl
=pagina&op=listar&usuario=9668&post=36900

http://www.memorialdobrasil.com.br/
biografias_barbosa_lima_sobrinho.htm

http://www.terra.com.br/istoegente/
15/reportagens/testem_15.htm

http://www.fundaj.gov.br/
docs/tropico/desat/barbosa.html

http://www.almacarioca.com.br/cro34.htm

http://br.geocities.com/
profpito/barbosacomparato.html

http://www.academia.org.br/abl/cgi/
cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=6867&sid=121

http://www.abi.org.br/
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http://www.terra.com.br/istoe/biblioteca/
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http://www.academia.org.br/
abl/outros/rachel/barbosa5.htm

 

Fundo musical:

O Guarani (Antônio Carlos Gomes)

Fonte:

http://portalsaofrancisco.com.br/
alfa/gomes-antonio-carlos/mid-1.php