Rodolfo Domenico
Pizzinga
MAR PORTUGUÊS
(Fernando Pessoa)
Ó
mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas
noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena,
Se a alma não é pequena.
Quem
quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas, nele é que espelhou o céu.
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O Triste Fim de Baltazar
Aloquete
Seu
Baltazar Aloquete
adorava banhos de mar.
Um dia, de um paquete,
pulou e se pôs a
nadar.
Um
tubarão esfaimado
o abocanhou... E nhoc!
Horripilado e penalizado,
miou um velho hadoque.
De
repente, sai do mar
um fantasma branqueado.
Era a alminha do Baltazar
a se pirar pro outro lado!
No
céu,
Simão chiou:
— Estúrdia! Pimba no mar?
Azeite! O tuba te almoçou!
E não dês uma de chorar.
Baltazar
de bate-pronto:
— Tu,
que eras pescador,
pára já
com esse raconto.
Mar é Liberdade!
É Amor!
— Tu inquirirás:
'Pagou?'
Ora, tudinho paga a pena
– como o Poeta meditou –
se a alma não é de hiena!
— Para passar
além da dor,
é preciso ter determinação.
Se for vital, até mudar a cor
do seu esmaecido Coração.
— É
preciso ouvir a Voz,
que canta incessantemente.
E não adianta Mágico de Oz
– que não faz a Voz presente.
Hardy Har Har: —
Oh, céus!
Oh, vida!
Oh, azar! Isto não vai dar certo!