ATITUDE DESPERTA

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

Todas as coisas excelentes
são tão difíceis quanto raras.

Ética, Benedictus de Spinoza (1632 – 1677).

 

 

 

 

Gary L. Stewart
Imperator da Confraternidade da Rosa+Cruz

 

 

 

Introdução e Objetivo do Trabalho

 

 

 

Atitude Desperta é o título de um livro que apresenta dezenove ensaios místicos de autoria do Imperator da Confraternidade da Rosa+Cruz (CR+C), Gary L. Stewart.

 

Este despretensioso ensaio teve por finalidade selecionar da obra Atitude Desperta os pontos que considerei mais relevantes do entendimento do autor com relação ao Misticismo em geral e particularmente aqueles que estão relacionados com o Misticismo Rosacruz, e fazer uma análise, ainda que sintética, mas metafísica, dos excertos escolhidos, mais no sentido de refletir minha opinião pessoal sobre o tema do que discordar ou criticar o pensamento do autor. Entretanto, estou convicto de que outro pesquisador que se dispusesse a fazer um trabalho como este, talvez escolhesse outros fragmentos, ainda que alguns pudessem ser coincidentes.

 

Como sempre informo, em alguns poucos casos editei as reflexões do autor para adequá-las a este tipo de trabalho, sem, contudo, alterar em absolutamente nada qualquer fragmento garimpado, o que, se tivesse acontecido, seria uma heresia. E as animações em flash inseridas para facilitar a compreensão de alguns fragmentos e de alguns aspectos discutidos são de minha única responsabilidade.

 

Definitivamente, espero que este ensaio – do qual não há, para mim, qualquer mérito, mas que encerra minha pesquisa sobre a CR+C e seu Imperator – possa ser mais um motivo de inspiração para todos os Rosacruzes Iniciados em qualquer Fraternidade ou Ordem Rosacruz, tanto quanto para Místicos não-vinculados ao Movimento Rosacruz. Isto não significa que religiosos e não-religiosos não possam colher também excelentes frutos das reflexões do Imperator Stewart, aqui muito rapidamente sintetizadas, que dedicou e ofereceu seu livro em Amor a todos aqueles que são sinceros, de forma manifesta ou não-manifesta.

 

 

 

Excertos Comentados da Obra
Atitude Desperta

 

 

 

 

Acredito muito fortemente que estamos aqui, manifestos neste plano de existência, não apenas para descobrir, mas para criar. [Se isto é um fato, podemos estabelecer o seguinte triângulo: descobrir, criar, compartilhar (o que puder ser compartilhado).]

 


 

Devemos aprender a aceitar... aquilo que está diante de nós conforme nos é generosamente doado, mas sem tentar possuí-lo. [Aqui cabe muito bem uma reflexão do filósofo espanhol, ativista político e jornalista José Ortega y Gasset (1883 – 1955): Não é tão fácil como se crê ser um egoísta puro, e ninguém, sendo-o, jamais triunfou. E se o egoísmo não pode triunfar jamais, Niceto Alcalá Zamora (1877 – 1949), primeiro Presidente espanhol da Segunda República Espanhola, de 1931 a 1936, estava correto quando afirmou: A sorte do egoísta é viver sem preocupações; seu castigo é morrer sem afetos. Eu acrescento: Se a preguiça é a madrasta de todos os vícios, o egoísmo é o padrasto. Daí deriva o conceito: para alguém lucrar ou ganhar alguém terá que ser espoliado ou perder. Nesse sentido, o lucro capitalista (overhead sobre os custos de produção em termos de salários) recebeu de Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 – Londres, 14 de março de 1883) o conceito de mais-valia, que é a diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador, base da exploração do sistema capitalista. Marx chama a atenção para o fato de que os capitalistas, uma vez pago o salário de mercado pelo uso da força de trabalho, podem lançar mão de duas estratégias para ampliar sua taxa de lucro: estender a duração da jornada de trabalho mantendo o salário inalterado – o que ele denominou de mais-valia absoluta – ou ampliar a produtividade física do trabalho pela via da mecanização – o que ele denominou de mais-valia relativa. Ao estabelecer esta distinção, Marx rompeu com a idéia ricardiana (David Ricardo (Londres, 18 de abril de 1772 – Gatcombe Park, 11 de setembro d 1823) do lucro como 'resíduo' e percebeu a possibilidade de os capitalistas ampliarem autônoma e engenhosamente suas taxas de lucro sem dependerem dos custos de simples reprodução física da mão-de-obra. Exemplo: o crescimento abusivo-excepcional do lucro dos bancos, no Brasil, em 2007. Assim sendo, aprender a aceitar... aquilo que está diante de nós... Em um outro sentido, a coisa não pode ser sempre e linearmente genuflectora e escravocrata. Est modus in rebus!]

 

O Místico sabe que deve somente fazer aquilo que é 'necessário' e nada mais. A Chave para a Sabedoria é aprender a diferença entre necessidades e desejos. [Ao ser alcançado um grau mais elevado daquilo que comumente é denominado de Consciência Cósmica, o desejo praticamente desaparece. Isto porque o Místico começa a perceber que é inútil desejar o que – in potentìa – já existe em seu interior. Isto não significa que ele possa ter acesso a tudo. Não pode. Mas ele tem a inabalável certeza de que, na medida em que se tornar merecedor, na medida em que Trabalhar com sinceridade, poderá, paulatina e progressivamente, escarafunchar seu interior e acrescer conhecimentos em suas ascensionais e ilimitadas Peregrinações.]

 

Se tudo nos fosse dado, o que nos motivaria fazer qualquer coisa além de receber? [Se tudo nos fosse dado, qual seria o sentido místico-educacional-evolutivo das três máximas: 1ª) Ora et Labora; 2ª) Solve et Coagula; e 3ª) Ad Rosam Per Crucem; Ad Crucem Per Rosam? Por isso, quem se genuflecte e espera por sobrenaturalidades, por recebimentos, por soluções, etc. não conquista a Liberdade e nem alcança a Illuminação; é necessário categoricamente meditar, trabalhar, dissolver, coagular e partilhar o que puder ser partilhado para que a Rosa possa se despregar da Cruz, ainda que a Cruz não possa ser definitivamente e ad semper afastada. Hipoteticidades são infrutíferas.]

 

 

Descrucifixão
(responsabilidade exclusivamente nossa)

 

De fato, os inimigos da Luz, de nós mesmos, e a fonte de todos os medos são verdadeiramente produções nossas. Por que sermos proponentes da 'não-produção', quando nosso propósito é criar? [Criar – como escreveu o novelista, biógrafo, músico francês e Nobel de Literatura em 1915 Romain Rolland (1866 – 1944) – é matar a morte. Logo, apenas flatular ao deus-dará e viver por viver é agricultar a morte.]

 

No âmbito do Misticismo, o que poderá ser conseguido? Somente aquilo que você faz, somente aquilo que você experiencia e somente aquilo que você decide. [Mais uma vez cito o duplo enunciado da Lei de Thelema []: 1º) Do what thou wilt shall be the whole of the Law. (Faze o que tu queres e será toda a Lei). A Lei é a apoteose da liberdade; mas é também a mais estrita das injunções. Não há lei fora: Faze o que tu queres. Tu não tens direito senão de fazer a tua vontade. Faze aquilo e nenhum outro te dirá não. 2º) Love is the Law, Love under Will. (Amor é a Lei, Amor sob Vontade). Em uma das suas obras, Aleister Crowley (1875-1947) ensinou: Todo homem e toda mulher são uma estrela, e cada estrela se move em uma órbita determinada, (em princípio) sem interferência. Existe lugar para todos; é apenas a desordem que causa confusão. Cada um de nós é uma estrela para se mover em sua verdadeira órbita como demarcada pela natureza da nossa posição, pela lei do nosso crescimento e pelo impulso das nossas experiências passadas. Todos os eventos são igualmente lícitos, e cada um necessário na longa jornada para todos nós, em teoria; mas, na prática, somente um ato é lícito para cada um de nós em um dado momento. Portanto, o Dever consiste na determinação em experimentar o evento correto de um momento de consciência para outro. Não posso deixar de acrescentar que, entretanto, não devemos jamais nos esquecer de que somos responsáveis por tudo. Sem exceção.]

 

A experiência mística é de natureza transcendente e, freqüentemente, a mente terá uma percepção que a maioria das pessoas não terá palavras para descrevê-la. [Penso que, mais do que isso, a experiência mística é pessoal e intransferível.]

 

O processo de Iluminação nada mais é do que uma percepção expandida. [Esta percepção expandida, ao contrário do que muitos pensam, salvo melhor juízo, não é para fora, mas para dentro. Então, surgem as questões: a) O que é fora? b) O que é dentro? No capítulo O Infinito desta obra que está sendo estudada, o autor afirma: ... todo aprendizado deve necessariamente vir de dentro de cada estudante individual, e, portanto, não pode ser verificado por ele a partir do exterior. Somente, então, pode o verdadeiro aprendizado ocorrer.]

 

 

 

 

A percepção (ou experiência) Mística é freqüentemente de natureza intuitiva, não intelectual. [Entretanto, uma compreensão intelectual poderá ser o catalisador de uma percepção (ou experiência) mística.]

 

 

 

No âmbito do Misticismo, deve-se ser capaz de diferenciar entre os próprios pensamentos e aspirações, desenvolvidos a partir do interior, e aqueles de outras pessoas, adquiridos a partir de discussões e de leituras. [O lado de fora, o que vem de fora, os papos-furados, geralmente, são ilusórios, contraditórios, conspiratórios e alucinatórios. Ilusórios porque tendem a ser inconclusivos, tendem a ser tergiversantes e tendem a causar frustrações; contraditórios porque em tudo em que há discrepância, réplica, tréplica e impugnação não há nem clareza nem verossimilhança; conspiratórios porque usualmente dividem, afastam, causam desarmonias e desavenças; e alucinatórios porque, além de serem prestidigitatórios, pirobológicos, dogmáticos e antidialéticos, poderão produzir impressões fascinantes e deslumbrantes e, pior do que tudo, anestesiantes e desequilibrantes. Espremendo tudo isso e reduzindo a um único conceito, eu diria que, em termos puramente Místicos, o lado de fora, o que vem de fora e os papos-furados comumente, são, no mínimo, pura perda de tempo. In Corde loquitur nostro Vox Dei. Em nosso Coração fala a Voz de Deus. Ora! Isto é difícil? Será tão difícil assim ouvir a Voz do Deus de nossos Corações? Sem blague, eu diria que é mais fácil do que descascar uma laranja sem feri-la. Todavia, primeiro precisamos compreender in extenso o Axioma Zoroastriano: Saber, Querer, Ousar, Calar. Mas, infelizmente, o fato corriqueiro é que, quase sempre, o Homo sapiens tridimensional prefere dar azo aos seus demônios, maisquer os orgasmos fáceis e não tem força interior para transcodificar, enfrentar e subjugar (pela compreensão) suas mazelas. Simbolicamente, o vai-e-vem do giro é sempre o mesmo (horário e monótono); as cores, com algumas exceções, são invariantes. É por isso que realities shows, como o Big Brother Brasil, fazem tanto sucesso. O voyeurismo – particularmente no sentido de curiosidade com relação ao que é privativo, privado ou íntimo – é uma tridimensionalidade retrogressiva acachapante.]

 

 

 

Misticismo é simplesmente uma doutrina que afirma que o conhecimento da Unidade onipotente pode ser adquirido através da experiência direta... A própria fundação da experiência mística está em conhecer... O próprio caminho do Misticismo é o caminho do conhecimento. [Conhecimento relativo, parcelar, ascensionário; jamais definitivo, total, pronto e acabado. Isto deve ficar bem entendido, porque se o presumido e desejado conhecimento da Unidade pudesse se dar in totum – por assim dizer, panteisticamente – nada mais haveria para aprender (ou para apreender), a evolução (ou reintegração) terminaria e o ente cairia em uma espécie de imobilidade derivada de uma completude perfeita e concluída, situações inteiramente contrárias à própria dinâmica universal, que é transformadora, recicladora e ilimitadamente ascensional. Por outro lado, ainda que seja irrefutável a afirmação de que o Misticismo permita a aquisição de conhecimento através da experiência direta, e, em um certo sentido, intransferível, ele não se resume a apenas isto, pois se se resumisse a simplesmente isto, ele se constituiria, no mínimo, de uma atividade ególatra e hipotética. Portanto, como afirma o próprio autor, há uma diferença bem definida entre experiências místicas e experiências psíquicas.]

 

 

Expansão da Consciência

 

O que é importante para um, é irrelevante para outro. [Daí os preconceitos, as dissensões, os conflitos, as guerras e a necessária ação da Lei da Entropia recicladora para ajustar as diferenças (ou desarmonias) e pôr as coisas no devido lugar. Isto – dito desta maneira meio que simplista e aparentemente determinística – pode dar a impressão de que o Universo (ou o Cósmico) seja consciente de suas ações, aja segundo uma finalidade e seja, por uma espécie de interação, afetado pelas e dependente das relevâncias ou das irrelevâncias humanas. Não é, não age e não está. O que ocorre, isto sim, são mudanças cíclicas periódicas ad æternum e independentes da vontade dos seres-no-mundo e dos seres-aí (mudanças cíclicas manvantáricas e pralaicas, ou seja, mudanças cíclicas expiratórias e inspiratórias), que configuram o incessante movimento da Spira Legis (Espiral da Lei), que conforme explica o Frater Vicente Velado, é a Espiral descrita pelo Logos (formada no Espaço) através da expansão multidimensional de um Círculo Sagrado — circunferência que o Ser descreve continuamente em torno de si próprio em seus ininterruptos esforços para existir. Portanto, a Spira Legis descrita pelo Logos não interfere e não sofre interferência com o que possa ser levado em conta como relevante ou com o que possa ser considerado irrelevante para os seres humanos.]

 

Essencialmente, a 'verdadeira' compreensão deve suplantar a intelectual. Isto é: deve ser desenvolvida a partir das qualidades inatas dentro do ser do indivíduo. Ela pode ser' desencadeada' a partir do exterior, mas deve ser compreendida a partir do interior. [Repetirei o que mais acima comentei: uma compreensão intelectual poderá ser o catalisador de uma percepção (ou experiência) mística. Aditarei, entretanto, que, dependendo da compreensão intelectual geradora do insight, a experiência poderá ficar apenas no nível do psiquismo, e não se constituir, efetivamente, em uma percepção (ou experiência) mística ou realmente Iniciática. Mutatis mutandis, isto equivale a não perceber a diferença e comparar o Corpo Etérico com o Corpo Astral ou o Corpo Astral com o Eu.]

 

A filosofia mística afirma que realmente não há nenhum passado ou futuro, mas, sim, mais propriamente, que tudo ocorre no presente, existindo no 'agora' [no sempre]. Se formos um passo além disto e dissermos que também não há nenhum presente, imediatamente atribuímos à existência um estado 'qualitativo' de ser que transcende a noção comum de infinito, de tempo e de espaço. Tais atributos se tornam, então, uma parte do Todo, em vez de uma descrição do Todo. [Apenas lembrarei a tendência trivial de se transferir categorias humanas, emocionais e esperançosas para aquilo que, de um lado, não conhecemos na íntegra, e que, de outro, desejamos que seja da forma que desejamos (ou imaginamos) que seja. Por isto, as pessoas costumam dizer que Deus é fiel, pai, providente, onipoderoso, oniparente, onissapiente, onividente, ubíquo etc., e que o Universo, Sua criação, é infinito.]

 

 

Animação Pictórica do Universo Global

 

 

Nenhum debate filosófico para definir o que é 'bom' ou o que é 'mau' encontrará uma solução definitiva. [O que é bom? O que é mau? O que é o bem? O que é mal? A relatividade de tudo me fez lembrar de uma piada muito interessante e ilustrativa. O otorrinolaringologista atende um velhinho milionário que tinha começado a usar um revolucionário aparelho de audição. Perguntou o médico: — E aí, seu Almeida, está gostando do aparelho? É muito bom — respondeu o velhinho. Sua família gostou? — argüiu o médico. O velhinho sorriu e respondeu: — Ainda não contei para ninguém, mas já mudei meu testamento três vezes. Talvez tenha sido por coisas semelhantes que Eurípedes (485? a. C – 406? a. C) tenha escrito: Aprendemos o bem e o conhecemos, mas não o praticamos por doença ou por preferirmos o prazer.]

 

 

 

 

Deveríamos estar todos cientes de que a causa de nossas frustrações não é o 'objetivo' que aparentemente não pode ser alcançado, mas, sim, o 'processo' necessário para alcançar tal objetivo... Nossos fracassos, então, 'não' são o resultado de nossa incapacidade em atingir o objetivo, mas serão meramente um dificuldade em chegar a uma conclusão a respeito do 'processo', ou um fracasso temporário em 'sentir' o curso adequado da ação a ser tomada. [Na realidade, precisamos compreender que não existem, por assim dizer, nem fracassos nem sucessos definitivos ou determinados de antemão, quer sejam em relação à vida, quer sejam em relação a experiências místicas não conseguidas ou não realizadas de modo satisfatório. Se tudo são experiências educativas, então os presumidos fracassos – quaisquer fracassos – são formas inversas de sucessos que, em princípio, estimulam processos dialéticos, pois o sucesso, em si e de maneira geral, não proporciona qualquer forma de dialética. O pódio emociona ao mesmo tempo em que anestesia e dá a impressão de ponto final. O sucesso é uma síntese, e, habitualmente, acaba aí. Já o fracasso, que também não deixa de ser uma síntese, poderá se tornar uma tese de um novo triângulo. Isto não significa, todavia, que o ser-no-mundo tenha obrigatoriamente que se frustrar ou sofrer para vencer ou compreender. A dor e a derrota derivam de uma vertente comum: a ignorância.]

 

 

 

 

A tradição não é algo em si, mas deve necessariamente estar relacionada a uma fonte de um intento mais profundo. A tradição, então, torna-se uma condição que não é nem restritiva nem criativa, mas, sim, um instrumento ou um meio que assume o atributo da neutralidade. Em outras palavras: ela se tornará somente o que representa. A tradição representa muito adequadamente uma herança cultural. A cultura, em si, não pode jamais ser restritiva ou dogmática, uma vez que a herança cultural é a base e a força de qualquer sociedade em particular. Ou seja: qualquer sociedade que exista hoje, e mesmo a Humanidade em geral, está construída sobre fundações assentadas no passado. Se tais fundações são ou não consideradas limitadoras ou criativas, dependerá de como tais fundações são compreendidas ou interpretadas pelo indivíduo. [Por isso, nem sempre a dita tradição poderá ser útil ou benéfica, porque, como disse o filósofo pré-socrático e cognominado de pai da Dialética Heráclito de Éfeso (540? a. C – 470?, 480? a. C.), muito estudo não ensina compreensão. É, muitas vezes, a malfadada tradição que faz o ser-no-mundo ficar agrilhoado a (pre)conceitos confusos e inconseqüentes, incapacitando-o de ver (ou de poder ver) as coisas sob um novo prisma. E mais: aproveitando-se da ignorância humana, por exemplo, Paul Joseph Goebbels (1897 – 1945), Ministro da Propaganda de Adolf Hitler (1889 – 1945), afirmaria: Mentira mil vezes repetida vira verdade. Se Goebbels também tivesse dito que mentira mil vezes repetida vira tradição, não teria errado. Ora bolas! Por que temos que depender da tradição (ou da Tradição) para, particularmente, Peregrinarmos rumo Àquilo que os Rosacruzes denominam de Luz Maior? Por outro lado, sem humildade e sem sinceridade não há Tradição ou Iniciação que nos auxilie a cruzar a Ponte!]

 

René Descartes [31 de março de 1596, La Haye en Touraine, França 11 de fevereiro de 1650, Estocolmo, Suécia], filósofo do século XVII, alegava [em sua obra Meditações sobre a Primeira Filosofia] que há essencialmente dois tipos de realidade: a realidade formal (em inglês, 'actuality') e a realidade objetiva (em inglês, 'reality'). A realidade formal é definida como a verdadeira natureza do Ser, independentemente de como ela seja compreendida, e é aquilo que não é determinado pela interpretação. A realidade objetiva, por outro lado, é a nossa interpretação consciente de nossa compreensão do Universo à nossa volta – tanto nos aspectos materiais quanto nos imateriais. [Talvez a maior dificuldade enfrentada pelos Místicos na Via Mística que escolheram seja a (concertada) decodificação das realidades formais percebidas intuitivamente em realidades objetivas. Tantas são as possibilidades de erros e de equívocos, que, preliminarmente, só o tempo e a experiência poderão permitir avaliar e avalizar o que de fato possa ser uma experiência mística autêntica e efetiva. Um dos perigos, entre tantos outros, é considerar criações mentais, devaneios e delírios como vivências espirituais ou Sabedoria (ShOPhIa) adquirida misticamente. O fato é que a harmonia do ser singular com o Ser (com o Deus de seu Coração) é impossível enquanto preponderar a antinomia entre doxa (crença ou opinião) e ShOPhIa, melhor, entre uma presumida sabedoria objetiva descaracterizada e Trans–ShOPhIa. A verdadeira ShOPhIa (300 + 6 + 80 + 10 = 396 18 9) só poderá ser percebida transintuitivamente, transnoeticamente. Aí, poderá surgir uma dificuldade adicional: não conseguirmos compreender ou decodificar imediatamente a experiência místico-transnoética pela qual passamos. Talvez possamos até passar pela transição sem entender certas vivências místicas que tenhamos experienciado em vida! Enfim, da epistemologia (teoria do conhecimento) platônica, apresentada em A República, tem-se que o mundo visível (horata ou doxasta) tem dois setores. Em primeiro lugar, uma zona de eikones (imagens, reflexos nas águas, cópias das cópias), conhecidos pela eikasia (ilusão, sensibilidade, crença, aparência). Em um nível mais elevado, acima dos eikones, temos o mundo sensível e todos os seres vivos (zoa) e os objetos do mundo, conhecidos através da pistis (fé e opinião). O mundo inteligível (noeta) tem também dois setores: o primeiro, apreendido através da dianoia (entendimento científico ou razão discursiva); e o segundo, percebido só pela noesis (entendimento filosófico ou razão intuitiva). Segundo minha compreensão, salvo melhor juízo, em termos místicos, nesta epistemologia deveria ser acrescentado um terceiro setor, no qual se dá a Trans–ShOPhIa – que eu denomino de Plano Transnoético, e que, normalmente, mas não exclusivamente, só pode ser acessado pela Iniciação. Por tudo isso, o Rosacrucianismo – particularmente o ensinado pela Ordem Rosacruz AMORC, e que, em parte, é inspirado no Manuscrito de Nodin – distingue realidade ('reality' ou realidade objetiva) de atualidade ('actuality' ou realidade formal), categorias não-equivalentes, tanto quanto pistis e noesis, que são críticas para a perfeita compreensão do sistema Rosacruz.]

 

 

 

Fonte: A República - Platão
(Transnoesis não faz parte da obra.
Este é um conceito que criei indicativo da Illuminação Mística)

 

 

 

A Filosofia Rosa-Cruz estipula que o Cósmico é, de fato, impessoal em sua natureza e funções através de um sistema regular de Leis. Contudo, quando o Cósmico é conscientemente experienciado em algum grau por um indivíduo, esse indivíduo 'pode' interpretá-Lo como se Ele fosse uma experiência 'pessoal'; mas isto não tem qualquer relevância efetiva para o Cósmico propriamente dito. [Isto também pode significar que o Cósmico é inconsciente de si mesmo...]

 

Karma é simplesmente causa e efeito. Ele não é bom nem ruim; mas é meramente neutro. É apenas uma situação criada por um ato produzido por um indivíduo ou por muitos. [Karma (do sânscrito Karmam; em pali, Kamma) significa ação. Historicamente, o termo tem uso religioso no âmbito das doutrinas budista, hinduísta e jainista. Foi posteriormente adotado também pela Teosofia, pelo Espiritismo e por um subgrupo significativo do movimento New Age. Este termo, na Física, é equivalente à 3ª Lei de Newton: Para toda ação haverá sempre uma reação oposta e igual, ou, as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro serão sempre iguais e dirigidas a partes opostas. Isto é: Quando um corpo A age sobre um corpo B, então o corpo B reage sobre o Corpo A, em mesma igualdade de módulo e de direção, porém, em sentido contrário. Seja como for, seja qual for o entendimento que se tenha do Karma, uma coisa é certa: em nenhuma hipótese o Karma pode estar vinculado à lei de talião (lex talionis). Se o Cósmico é impessoal em sua natureza e funções, se é inconsciente de si mesmo, não pode ser talionador, castigador ou premiador; quando muito, como tenho enfatizado, podemos, por aproximação, admitir que o Cósmico seja educativo, ainda que, no domínio de uma metafísica mística mais concertada, nem isto Ele é.]

 

 

 

 

Os fins não justificam os meios. Não é o objetivo que deve ser alcançado; é o processo que deve ser seguido. O objetivo é meramente um resultado. O processo é a ação que cria o objetivo. No Misticismo, a pureza é essencial, a direção clara é uma necessidade, a abnegação é a ação... Qualquer coisa que seja inferior a isso degrada a Humanidade. [E assim, nada pode ser pior do que a mentira. Mentira é escravidão. E, como escreveu o novelista francês, crítico literário e jornalista Marcel Arland (1899 – 1986), a mentira não é odiosa por si mesma, mas porque se acaba por acreditar nela. Portanto, como refletiu o escritor, poeta, músico indiano e Prêmio Nobel da Literatura de 1913, Rabindranath Tagore (1861 – 1941)a mentira não pode se converter em verdade pelo fato de o seu poder crescer. Ah!, se as pessoas soubessem que é impossível mentir para o Eu Interior!]

 

 

 

 

 

 

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Bibliografia:

 

PLATÃO. A república. 5ª edição. Tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987.

STEWART, Gary L. Atitude desperta. [Tradução Arnaldo Theodoro dos Santos]. 1ª edição. São Paulo: Comendadoria Sâr Alden - OMCE - Brasil, 2007.

 

Páginas da Internet consultadas:

 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Epistemologia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mais-valia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mais-valia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_do_tali%C3%A3o

http://pt.wikipedia.org/wiki/Leis_de_Newton

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Descartes

http://www.pensador.info/autor/Rabindranath_Tagore/

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Jos%C3%A9_Ortega_y_Gasset

http://www.crcsite.org/CRCPortug.htm

http://www.confraternitatis.org.br/

http://www.crcsite.org/IntroMonoPortug.htm

 

Fundo musical:

Prelude Nº 12 from Book 2 of the 48 (Johann Sebastian Bach)

Fonte:

http://www.mfiles.co.uk/midi-classical.htm