AS TIME GOES BY

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

Morango com Chocolate

 

 

 

Um dia, a vida brota...

Cada qual, uma nota.

Cada um, uma quota.

Vez a vez, é cambalhota;

vez em vez, é calhambota!

 

 

E, então, a vida bate...

É morango com chocolate.

É a besta-fera que abate.

Nem tudo é sempre quilate;

às vezes, é dolente dislate!

 

 

Súbito a vida se esgota...

Você modificou sua nota?

Você a sua alma já pilota?

Ou vai ser a mesma rota?

 

 

 

Você a sua alma já pilota?
Ou vai ser a mesma rota?

 

 

 

Observação:

Fernão Capelo Gaivota é uma fábula em forma de novela de autoria do escritor estadunidense Richard Bach (23 de junho de 1936) – publicada originariamente nos Estados Unidos sob o título de Jonathan Livingston Seagull – a Story. É uma história sobre a liberdade, a aprendizagem e o amor e uma homilia sobre o auto-aperfeiçoamento e o sacrifício.

 

Fundo musical:

As Time Goes By
Composição: Herman Hupfeld
Interpretação: Tony Bennett

 

 

 

 

A Vida Bate
(Ferreira Gullar)

 

 

 

Ferreira Gullar

 

 


Não se trata do poema e, sim, do homem e sua vida – a mentida, a ferida, a consentida vida já ganha e já perdida e ganha outra vez. Não se trata do poema e, sim, da fome de vida, o sôfrego pulsar entre constelações e embrulhos, entre engulhos. Alguns viajam, vão a Nova York, a Santiago do Chile. Outros ficam mesmo na Rua da Alfândega, detrás de balcões e de guichês. Todos te buscam, facho de vida, escuro e claro, que é mais que a água na grama, que o banho no mar, que o beijo na boca, mais que a paixão na cama. Todos te buscam e só alguns te acham. Alguns te acham e te perdem. Outros te acham e não te reconhecem, e há os que se perdem por te achar, ó desatino, ó verdade, ó fome de vida! O amor é difícil, mas pode luzir em qualquer ponto da cidade. E estamos na cidade sob as nuvens e entre as águas azuis. A cidade. Vista do alto ela é fabril e imaginária, se entrega inteira como se estivesse pronta. Vista do alto, com seus bairros e ruas e avenidas, a cidade é o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém. Mas vista de perto, revela o seu túrbido presente, sua carnadura de pânico: as pessoas que vão e vêm que entram e saem, que passam sem rir, sem falar, entre apitos e gases. Ah!, o escuro sangue urbano movido a juros! São pessoas que passam sem falar e estão cheias de vozes e ruínas. És Antônio? És Francisco? És Mariana? Onde escondeste o verde clarão dos dias? Onde escondeste a vida que em teu olhar se apaga mal se acende? E passamos carregados de flores sufocadas. Mas, dentro, no coração, eu sei, a vida bate. Subterraneamente, a vida bate. Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi, sob as penas da lei, em teu pulso, a vida bate. E é essa clandestina esperança misturada ao sal do mar que me sustenta esta tarde debruçado à janela de meu quarto em Ipanema na América Latina.