Arthur
Edward Waite (1857 – 1942) foi um ocultista co-criador do Tarô
Rider-Waite junto com o livro que o acompanha intitulado Chave Pictográfica
Para o Tarô (que foi considerado um dos mais notáveis
e de fácil inspiração dos videntes que ainda o usam,
sendo o primeiro baralho a ser criado no qual as 78 cartas estão
diferentemente ilustradas, para além dos 22 arcanos maiores). Até
a data da criação do Tarô Rider-Waite, todos os baralhos
tinham ilustrações somente nos Grandes Arcanos, tendo os Pequenos
Arcanos figuras como as das existentes nos baralhos de cartas normais. A
inovação de Waite foi criar, para cada uma das cartas de Ás
a Dez dos quatro naipes, uma ilustração diferente que mostrasse
o significado da carta. A autora destas ilustrações foi Pamela
Colman-Smith, uma artista prodigiosa que transformou as indicações
de Waite em obras de arte inspiradoras que revolucionaram o mundo do Tarô.
Com estas novas ilustrações carregadas de simbolismo, já
não era necessário funcionar somente com os significados decorados;
o leitor podia, agora, deixar-se levar pela imaginação e inspirar-se
nas cartas para fazer as suas leituras. Algumas mudanças introduzidas
por Waite foram: a) no caso do Arcano I, O Mago, Waite vestiu o saltimbanco
como sacerdote e limpou sua mesa, deixando sobre ela, de modo bem
claro, somente os símbolos dos quatro naipes das séries menores;
b) quanto ao Arcano II, A Papisa, Waite retirou-lhe a conotação
católica, denominando-a A Grande Sacerdotisa; c) O Papa, Arcano V,
também perdeu sua vinculação católica e foi
denominado de O Hierofante; d) em O Carro, Arcano VII, a alteração
mais perceptível é a substituição dos cavalos
por esfinges; e e) o arcano X, A Roda da Fortuna, foi substancialmente modificado:
ao centro, pairando entre nuvens, vê-se a roda de Ezequiel, tal como
foi desenhada por Éliphas Lèvi.
Waite
nasceu na América, mas foi criado na Inglaterra, tendo ingressado
na Hermetic Order of the Golden Dawn, em 1891, e em 1902, na Societas
Rosicruciana in Anglia. Quando se tornou Grande Mestre da Hermetic
Order of the Golden Dawn, em 1903, mudou seu nome para Holy Order
the Golden Dawn (Sagrada Ordem da Aurora Dourada) ou, possivelmente,
o Rito Independente e Retificado da Golden Dawn. Muitos membros
rejeitaram seu foco no misticismo sobre a magia, e o grupo rival, Stella
Matutina (Estrela da Manhã) separou-se sob a incitação
do poeta William Butler Yeats. A Golden Dawn foi rachada pelas
rixas internas até a partida de Waite em 1914, um ano depois de ele
ter formado a Fellowship of the Rosy Cross.
Waite
foi um prolífico escritor de textos ocultistas sobre assuntos tais
como divinação, Rosacrucianismo, Maçonaria, magia negra
e cerimonial, KaBaLa e Alquimia. Ele também traduziu e republicou
muitos trabalhos místicos e alquímicos importantes. Suas obras
sobre o Santo Graal foram particularmente notáveis; elas foram influenciadas
por sua amizade com Arthur Machen. Alguns de seus livros ainda se mantêm
em catálogo, como: Book of Ceremonial Magic, The Holy
Kabbalah (considerada a sua obra mais importante) e New Encyclopedia
of Freemasonry.
Quando
Aleister Crowley ficou interessado no Ocultismo, seu primeiro livro estudado
foi o Book of Black Magic and Pacts (Livro da Magia Negra e dos
Pactos), de Waite. Crowley escreveu para o autor pedindo conselhos sobre
o que estudar, e Waite sugeriu que ele lesse A Nuvem Sobre o Santuário,
de Karl Von Eckartshausen, obra que marcou Crowley profundamente e fez com
que decidisse abandonar os estudos em Cambridge, bem antes de sua graduação,
para dedicar a vida ao estudo do Ocultismo e da Magia. Assim, Crowley se
determinou a encontrar os Mestres Secretos e a Grande Fraternidade Branca
mencionados no livro de Eckhartshausen. Começou, assim, a carreira
Mágika de Aleister Crowley. As divergências posteriores
havidas entre Crowley e Waite não vêm ao caso.
Gary
L. Stewart, Imperator da Confraternidade da Rosa+Cruz, na monografia introdutória
da Confraternidade, afirma: No
final do século dezenove, o termo Cruz Rosada tinha se tornado bastante
popular entre escritores e historiadores do Rosacrucianismo, e a maioria
daqueles que usavam esse termo teve sucesso somente em se identificar como
alguém fora do Movimento. O mais notável nessa categoria é
o autor Arthur Edward Waite. Não obstante, seus livros sobre o assunto,
embora difíceis de ser lidos em função de seu estilo,
são em geral corretos e valem a pena ser lidos por aqueles que se
interessam por nossa história.
Esse
produtivo Rosacruz e Martinista fez sua transição em 19 de
maio de 1942, deixando uma vasta herança espiritual impressa e, como
escreveu o Frater Rosæ Crucis, OS+B, Arthur Edward Waite
ensinou uma lição eterna: É
preciso questionar sempre. Uma outra grande lição
deixou Thomas Woodrow Wilson (Staunton, Virgínia, 28 de dezembro
de 1856 – Washington, DC, 3 de fevereiro de 1924), Presidente dos
Estados Unidos da América por duas vezes seguidas, ficando no cargo
de 1912 a 1921: Existe,
em algum lugar, um Poder tão organizado, tão sutil, tão
atento, tão interconectado, tão completo, tão disseminado
e tão abrangente, que é melhor sempre abaixar muito bem a
voz ao dizer qualquer coisa em condenação a Ele.
Pensamentos
e Reflexões
de
Arthur Edward Waite
O
Louco de Amor
(O Arcano Zero do Tarô)
O
ocultismo não se assemelha a uma faculdade mística, e muito
raras vezes atua em harmonia, quer com as aptidões de desempenho
na vida prática comum, quer com o conhecimento dos critérios
de prova em sua própria esfera.
O
verdadeiro
Tarô é simbolismo: não fala outra linguagem e não
oferece outros sinais.
Há uma Tradição
Secreta a respeito do Tarô assim como uma Doutrina Secreta
nele contida.
Segundo
o Martinismo, 8 é o número do Cristo.1
O
Tarô engloba apresentações simbólicas e idéias
universais, atrás das quais ficam todos os subentendidos da mente
humana, e é, neste sentido, que o Tarô contém a Doutrina
Secreta, que é a compreensão, por parte de poucos, de verdades
engastadas na consciência de todos, embora não reconhecidas
expressamente pelos homens comuns. A teoria é que esta Doutrina tenha
sempre existido, isto é, que tenha sempre se manifestado na consciência
de uma minoria de eleitos, que tem sido perpetuada em segredo, passando
de um a outro, e registrada em literaturas secretas, como as de Alquimia
e de KaBaLa. Também está contida nos Mistérios Instituídos,
dos quais a Rosa-Cruz oferece um exemplo próximo de nós no
passado e a Maçonaria um sumário vivo ou um memorial generalizado,
para aqueles capazes de interpretar sua significação real.
Por trás da Doutrina Secreta afirma-se haver uma experiência
ou uma prática que justifica a Doutrina.
A
Doutrina
Secreta
é apresentada nos emblemas pictóricos da Alquimia, de modo
que o alegado Livro de Toth não é, de modo algum, um instrumento
isolado desta espécie emblemática.
Por
baixo das grandes ondas da história humana, flui a corrente subterrânea
e furtiva das sociedades secretas, que, freqüentemente, determinam,
nas profundezas, as mudanças que serão feitas na superfície.
É
do
conhecimento geral, desde os tempos mais remotos, que os quatro elementos
eram supostamente habitados por um enxame de vários tipos de inteligências,
quase todas subumanas, classificadas em quatro grandes espécies.
O ar é habitado pela amável raça dos Silfos, o mar
pelas belas e encantadoras Ondinas, a terra pela raça laboriosa dos
escuros Gnomos, e o fogo pela gloriosa e sublime nação das
Salamandras.
O
Teorema de Pitágoras usa os números três, quatro e cinco
para criar um esquadro. Diz-se que os egípcios chamavam a isto de
o truque do fio. Essencialmente, eles usavam uma corda e a amarravam, respectivamente,
a três, a quatro e a cinco comprimentos. Enfiando uma vara
no chão, eles
marcavam três comprimentos em qualquer direção. Então,
marcando quatro comprimentos, eles colocavam a segunda vara. Finalmente,
eles alinhavam a terceira vara de forma que esta se ajustasse à quinta
marca e o resultado era um ângulo de 90 graus.
Não
sou especialista em história dos jogos de azar e odeio o 'profanum
vulgus' dos recursos divinatórios; aventuro-me, porém, a observar,
com toda reserva, que se as recentes pesquisas justificam tal concepção
– exceto para a velha arte de ler a sorte e adulterar o chamado destino
–
será muito melhor para os Arcanos Maiores.
O
Mago (Arcano
I) representa
a motivação divina no homem, refletindo Deus, a vontade na
liberação de sua união com o que está acima.2
É a unidade do ser individual em todos os Planos.
A
Alta Sacerdotisa (Arcano II),
de certo modo, é também a própria Mãe Suprema,
quer dizer: é o reflexo brilhante. É neste sentido que o seu
mais verdadeiro e mais alto nome, no simbolismo Iniciático, é
'Shekinah' – a Glória que coabita. Segundo a KaBaLa, existe
uma 'Shekinah' tanto acima como abaixo. Misticamente a 'Shekinah'
é a Noiva Espiritual do homem justo, e quando ele lê
a Lei ela lhe dá o sentido Divino.
A
Imperatriz
(Arcano
III)
é
o 'refugium peccatorum' – a Mãe fecunda de milhares. É
a 'Gloria Mundi' e o véu do 'Sanctum Sanctorum'. Mas, acima de
todas as coisas, é a fecundidade universal e o senso exterior do
sentido externo da Palavra.3
O
Imperador
(Arcano
IV)
é
o executor e a realização –
o poder deste mundo.
O
Hierofante (Arcano
V)
representa
o poder governante da religião externa. É o poder das chaves,
a Doutrina Ortodoxa Esotérica e o lado externo da vida que conduz
à Doutrina. É a 'summa totius theologiæ', quando transposto
para a mais completa rigidez de expressão; mas simboliza também
todas as coisas que são corretas e sagradas no lado manifesto. Ele
não é, como se tem pensado, a Filosofia – exceto no
lado teológico; não é a inspiração; e
não é, enfim, a religião, embora seja um modo de sua
expressão.
Os
Amantes (Arcano
VI)
representam
o Mistério da Aliança e do Sabá e sugerem juventude,
virgindade, inocência e o amor antes de ser contaminado pelo grosseiro
desejo material. Esta Carta, em toda a sua simplicidade, simboliza o amor
humano como parte da Verdade e da Vida.
O
Carro (Arcano
VII)
representa
a vitória sobre a escravidão, pois venceu em todos os Planos
– no Espírito, na Ciência, no progresso e em certas provas
Iniciáticas, que devem ser entendidas tanto física e quanto
racionalmente. Acima de tudo, o Carro é o triunfo da mente.
A
Força ou a Fortaleza (Arcano
VIII)
está
relacionada com o Divino Mistério da União. Também
está relacionada com a 'Innocentia Inviolata' e com a Força
que reside na Contemplação. Enfim, constitui a mais elevada
natureza em sua libertação.
O
Ermitão (Arcano
IX)
é
um homem sábio em busca da verdade e da justiça. Seu fanal,
sua luz intelectual, indica que 'onde eu estiver, também tu podes
estar'. Esta carta indica também a verdade que os Mistérios
Divinos asseguram sua própria proteção contra aqueles
que não estão preparados.
A
Roda da Fortuna (Arcano
X)
indica
que a Providência está impregnada em tudo. Isto está
patente na transliteração de TARÔ em ROTA, intercalada
com as letras do Nome Divino. A idéia essencial é de estabilidade
em meio ao movimento.
Detalhe
da Roda da Fortuna
A
Justiça (Arcano
XI)
indica
que a Justiça espiritual está envolta na idéia de preferência
– que pertence a uma misteriosa ordem da Providência –
em virtude da qual é
possível, para certos entes, conceber a idéia de dedicação
às coisas mais elevadas. A maneira com que isto opera assemelha-se
à exalação do Espírito onde se faz sentir...
O
Enforcado (Arcano
XII)
expressa
a relação, em um de seus aspectos, entre a Divindade e o Universo.
Aquele que compreender que a história de sua Natureza Superior [Eu
Interno] está
imersa neste simbolismo receberá sugestões concernentes a
um grande despertar que é possível, e irá saber que
depois do Sagrado Mistério da Morte há um Glorioso Mistério
da Ressurreição. Observe que, nesta Carta, a forca da qual
está suspenso o Enforcado forma uma cruz Tau, ao passo que o próprio
Enforcado, pela posição das pernas, forma uma Cruz Gamada.
A
Morte (Arcano
XIII)
manifesta
– pelo lento movimento do seu cavaleiro misterioso, que traz uma bandeira
negra com o brasão da Rosa Mística –
a própria Vida.
A natural passagem do homem para o próximo estágio do seu
ser é ou poderá ser uma forma de progresso; mas a estranha
e quase desconhecida admissão, enquanto ainda nesta vida, no estado
de Morte Mística, constitui uma mudança na forma de consciência.
No que concerne à esta mudança, a morte ordinária não
é o caminho nem a porta.4
A
Temperança (Arcano
XIV)
– um anjo alado, nem masculino nem feminino! Quando a norma da Temperança
penetra em nossa consciência, ela suaviza, combina e harmoniza nossas
duas naturezas: a psíquica e a material. Sob tal norma, conhecemos,
em nossa parte racional, algo a respeito de onde viemos e para onde estamos
indo.
O
Diabo (Arcano
XV)
ou Bode Chifrudo de Mendés [Baphomet]5
é, segundo Éliphas Lèvi, a Ciência
Oculta e a Magia. Para
Arthur Edward Waite a carta significa, simbolicamente,
o Morador do Limiar, sem o Jardim Místico, quando foram dele expulsos
aqueles que comeram o fruto proibido.6
Baphomet
(detalhe)
– Observe o pentagrama invertido na fronte –
A
Torre (Arcano
XVI)
representa a ruína da Casa da Vida, a destruição de
uma Casa de Doutrina, em todos os seus aspectos – a materialização
da Palavra Espiritual. Mostra que 'a não ser quando o Senhor7
constrói a Casa, trabalham em vão aqueles que a constroem.'
Em um sentido mais profundo, significa o fim de uma isenção.8
A
Estrela (Arcano
XVII),
que está vinculada ao Sephira Binah, Supremo Entendimento, simboliza
a
eterna juventude e a beleza. Os lemas desta carta são: Águas
da Vida e Dons do Espírito.
A
Lua (Arcano
XVIII)
é crescente no lado chamado de misericórdia, à direita
do observador. Seus dezesseis raios principais e seus dezesseis raios secundários
representam a vida da imaginação, distinta da vida do Espírito.
A mensagem é: Paz, ficai quietos; e pode ser que desça a calma
sobre a natureza animal, enquanto o abismo, embaixo, cessará de apresentar
uma forma. Misericórdia!
O
Sol (Arcano
XIX)
ensina que quando o autoconhecimento do Espírito surge na consciência
acima da mente natural, a mente, em sua renovação, conduz
a natureza animal a um estado de perfeito conformismo.9
O
Juízo Final (Arcano
XX)
é a Carta da Eterna Vida. Exprime assombro, adoração
e êxtase. Ela registra a consecução da Grande Obra de
transformação interior, pois os apelos ao Supremo10
foram ouvidos, respondidos e compreendidos no Coração.
O
Bobo Místico (Arcano
Zero),
o mais eloqüente de todos os símbolos, não é louco;
é inteligente e se nutre de esperança. Ele é o Espírito
à procura de experiências. Ele, enfim, significa a viagem para
adiante... Muitas recordações estão guardadas em sua
Alma...
O
Mundo (Arcano
XXI)
representa o estado da Alma na Consciência da Visão Divina,
refletida no Espírito autoconsciente. É o estado do mundo
restaurado quando a Lei da Manifestação tiver sido cumprida
em seu grau mais elevado de perfeição natural.
Os
meros poderes numéricos11
e
as palavras nuas de significação são insuficientes
por si mesmos; mas as figuras são como portas que se abrem para aposentos
inesperados ou como uma curva no caminho aberto, com amplas perspectivas
além.
Em
relação a qualquer sistema que desça das generalidades
para os pormenores, suponho que ele se torne naturalmente mais precário;
e nos registros da leitura de sorte profissional oferece mais dificuldades.
Ao mesmo tempo, as advinhações baseadas na intuição
e na visão profética são de menor valor prático,
a não ser que venham da região dos universais para a dos particulares;
mas, à medida que este dom se apresenta em um caso particular, as
significações específicas registradas pelos cartomantes
do passado irão sendo postas de lado em benefício da apreciação
pessoal dos valores das cartas.
O
caminho da simplicidade é o caminho da verdade.