Armando Nogueira

Armando Nogueira

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Objetivo Desta Recordação

 

 

 

Vamos recordar um pouquinho as frases, os ditos e as tiradas do botafoguense Armando Nogueira?

 

 

 

 

Armando e Pelé

Armando e Pelé

 

 

 

 

Biografia de Armando

 

 

 

Armando Nogueira (Xapuri, 14 de janeiro de 1927 – Rio de Janeiro, 29 de março de 2010) foi um jornalista e cronista esportivo, tendo sido o responsável pela implantação do jornalismo na Rede Globo.

 

Filho de cearenses que emigraram para o Acre, nascido na mesma cidade onde também nasceu o seringueiro e líder sindical Chico Mendes, mudou-se para o Rio de Janeiro com apenas 17 anos de idade. Entrou para a Faculdade de Direito e conseguiu um emprego de ensacador, mas desde então pensava em ser jornalista.

 

Em 1950, foi trabalhar na seção de esportes no Diário Carioca. Esse jornal reunia, na época, os mais expressivos jornalistas do Rio de Janeiro como Prudente de Moraes Neto, Carlos Castello Branco, Otto Lara Resende, Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Pompeu de Souza, e foi uma verdadeira escola de jornalismo para Armando, que lá permaneceu por treze anos.

 

Foi testemunha ocular do atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, na Rua Toneleros, em Copacabana. Ao escrever sobre o episódio, fez história no jornalismo brasileiro: pela primeira vez em uma reportagem um fato era narrado na primeira pessoa.

 

Além do Diário Carioca, passou a colaborar também com o Diário da Noite. Depois de uma passagem pela revista Manchete, em 1957, foi para a revista O Cruzeiro, dos Diários Associados, propriedade de Assis Chateaubriand e, em 1959, para o Jornal do Brasil.

 

Armando foi pioneiro na televisão brasileira, ao trabalhar, a partir de 1959, na primeira produtora independente do País, dirigida por Fernando Barbosa Lima, onde escrevia textos para os locutores Cid Moreira e Heron Domingues lerem na antiga TV-Rio.

 

Convidado por Walter Clark, foi para a Rede Globo em 1966, onde implantou, com Alice Maria, o telejornalismo da emissora. Graças ao trabalho de Armando e Alice Maria, o telejornalismo, que antes era visto como uma coisa menor, passou a atrair o interesse dos profissionais e do público.

 

Nos vinte e cinco anos que passou na Globo foi responsável ainda pela implantação do jornalismo em rede nacional e pela criação dos noticiosos Jornal Nacional e Globo Repórter.

 

Mas, sua paixão sempre foi o esporte, em especial o futebol. A partir de 1954, esteve presente na cobertura de todas as Copas do Mundo e, desde 1980, de todos os Jogos Olímpicos.

 

Mesmo com todos esses serviços prestados, envolveu-se em uma rumorosa polêmica em 1989, dentro da própria Globo. No segundo turno das eleições presidenciais daquele ano, a emissora promoveu um debate entre os candidatos Fernando Collor de Melo e Luiz Inácio Lula da Silva. No compacto do evento, que foi exibido no dia seguinte de sua transmissão no Jornal Nacional, houve uma edição que favoreceu claramente o candidato Collor, que desde o início foi apoiado – direta ou indiretamente – pelas empresas de Roberto Marinho. Na qualidade de diretor de jornalismo, Armando foi pessoalmente a Roberto e fez duras críticas à sua postura e a dos funcionários que realizaram aquela edição, dizendo que não compactuava com aquilo. Em uma entrevista, Armando confessou: — Fiquei muito decepcionado, mas não com meus superiores e, sim, com os meus subordinados, que se portaram de maneira muito equivocada na adulteração do debate. Isto contribuiu, definitivamente, para eu sair da emissora. Por causa disto, acabou aposentado pela alta cúpula e se desligou da emissora definitivamente no ano seguinte. Passou, então, a se dedicar integralmente ao jornalismo esportivo.

 

Certa vez, um jornalista lhe perguntou: — Como é chegar aos 80 com qualidade de vida, fazendo o que aprecia e sendo reverenciado como um ícone do jornalismo brasileiro? Armando respondeu: — Basta ser otimista e continuar tendo projetos de vida, que é o que eu faço. Quero aprender a tocar gaita, a pilotar melhor os meus aviõezinhos e aumentar meu círculo de amigos, porque, quanto mais eu os tiver, mais testemunhas terei da minha vida.

 

A figura encantadora, o jornalista exemplar, o poeta Armando Nogueira morreu hoje, aos 83 anos, por volta das 7h desta segunda-feira (29 de março de 2010), em seu apartamento, na Lagoa, na Zona Sul do Rio, em conseqüência de um câncer no cérebro, que lhe roubou, ao mesmo tempo, a capacidade de falar e de escrever. Acho que a primeira pessoa que ele foi procurar do lado de lá foi o Manuel Francisco dos Santos – o Mané Garrincha. Depois, juntos, vão fazer um baita gol lá no Céu.

 

 

A Batuta do Mané Garrincha Batuta

 

 


 

Frases, Ditos e Tiradas

 

 

 

 

Armando Nogueira

Armando Nogueira

 

 

 

Sobre a Conquista do Tri em 1970: Choremos a alegria de uma campanha admirável em que o Brasil fez futebol de fantasia, fazendo amigos. Fazendo irmãos em todos os continentes.

 

Um dia, um poeta entreabriu as pétalas de uma rosa brandante. No íntimo da flor, encontrou, vislumbrado, um verão inteiro. Eu também quis ver de perto a alma de outro devaneio – a bola. Despetalei os gomos, um por um, e encontrei um drible de Garrincha.

 

Driblar e driblar com tanta graça e naturalidade – eis o mistério de Garrincha que só Deus pode explicar.

 

No futebol, matar a bola é um ato de amor.

 

Picasso dizia: "Eu tenho sorte porque, toda vez que ela me procura, me encontra no meu ateliê, trabalhando." Quando a sorte me procurou, no dia do atentado contra o Carlos Lacerda, eu estava no exercício profissional; assim como na Copa, em que fiz uma foto que não esperava.

 

O melhor caminho para a formação de um profissional de jornalismo, de qualquer editoria, vai do estágio na reportagem até o ponto de passar a assinar matérias, especialmente para quem deseja ser comentarista ou cronista.

 

Para mim, Nelson Rodrigues era o maior cronista esportivo do mundo. Ele não tinha olhos para ver as partidas, porque enxergava pouco. No entanto, ninguém jamais escreveu crônicas como ele sobre a seleção, os ídolos da bola e o Fluminense do seu coração. O Nelson via o futebol por meio da alma. Era um extraordinário dramaturgo que se transformou em cronista, função que nos permite viajar e recriar, com direito a devaneios.

 

Para mim, a poesia é uma janela que me permite debruçar sobre a vida. Haja o que houver na minha paisagem, eu a descreverei sempre com um toque de poesia. Se eu sou poeta, não sei; mas poético, tenho certeza.

 

No esporte, convivemos com ódio, paixão, soberba, frustração, lágrima, sorriso, ironia... Todas as emoções e qualidades que enaltecem ou aviltam o ser humano se encontram na grande alegoria do esporte. Então, é um prato cheio para um poeta.

 

Se a bola não quica, mau caráter indica.

 

Abençoada a obra que nasce e morre e renasce do ânimo lúdico de brincar. Na essência do esporte, a ação estendida como brincadeira pura. E se do gesto participa uma bola, aí, então, amigo, aí principia o jogo que há de levar o homem à purificação.

 

Que seria de ti, de mim, que seria de nós, amigo, o domingo sem a comovente mentira de um gol?

 

Copiar o bom é melhor que inventar o ruim.

 

Gosto muito de fazer TV. Outro dia o Otávio Florisbal, diretor-geral da Globo, me perguntou: "Armando, onde é que você se sente melhor, por trás das câmeras ou diante delas?" Respondi que me sinto muito mais motivado atrás das câmeras. Devo reconhecer que tenho que ir pra frente delas para me valorizar no mercado, mas o meu ideal é atuar nos bastidores. É um desafio quase neurótico comandar uma cobertura, seja de uma partida de futebol ou de um buraco na rua.

 

Se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola.

 

Ademir da Guia tem nome, sobrenome e futebol de craque.

 

A coisa fundamental na existência humana é se sentir desafiado pela própria vida.

 

Sobre a paixão pelo futebol e o ofício da escrita: Tem a paixão em si, do esporte, e tem a paixão pelo ato de escrever; você fica de certa maneira dependente da palavra, porque não pode deixar de escrever. Existe o respeito pela palavra, embora seja muito penoso mantê-lo; é uma das raras profissões em que você tem a chance de fazer e refazer. Na verdade, a palavra é um ser vivo que fica pulsando na gaveta, te incomodando; você bota na gaveta, no computador, onde quiser, mas, de noite, na cama, fica pensando que tem um ser te aporrinhando, enchendo teu saco. Você não se livra da palavra. Às vezes, você é salvo por uma leitura. Você pode estar empacado numa palavra e ter uma insônia e, de repente, acorda com aquela palavra na ponta da língua. Isso já me aconteceu. Eu estava escrevendo um texto um pouco poético, “as bolas murcham no campo como as flores...”. Precisava de um trissílabo e não havia jeito de achar essa palavra, atravessada na garganta. Um dia, lia Machado de Assis, à uma hora da manhã, e uma palavra surgiu como se cintilasse na página; era a palavra “campina”, que dava certinho na minha métrica. Era a palavra que eu queria. “As bolas murcham no campo como as flores na campina”. Até então, faltava alguma coisa para completar o verso. E, quando é assim, a cabeça fica funcionando, você fica refém daquela busca. É aí que vem a recompensa: do fato de você ler; porque, se eu não gostasse de ler, talvez essa palavra não cintilasse na página, não ficasse piscando, como vi piscar. Há uma máxima que diz: escrever é reescrever. Escrever é cortar palavras. Mesmo que seja um bilhete para a namorada, não goste, desconfie sempre da primeira versão. Às vezes, falar menos é melhor. É preciso exercer o desapego para com a palavra; ao contrário do que se pensa, isso é uma forma de valorizar e não menosprezar a palavra; de buscar a palavra essencial, a palavra inevitável, a palavra irrecusável. Me parece que, sendo esta a premissa do ponto de vista da forma — e considerando sempre que a primeira versão do texto não é boa — você tem um bom começo, um bom caminho. Então, vem o mais complicado da história, que ainda não contei, que é você ter a capacidade de mentir. No meu caso, entro de maneira meio marginal nessa história, porque meus personagens todos são da vida real. Eu escrevo, mas, literariamente, não sou escritor; escritor é quem cria seus personagens.

 

A tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus.

 

Heróis são reféns da glória. Vivem sufocados pela tirania da alta performance.

 

Deus é esférico.

 

Deus castiga quem o craque fustiga.

 

O bom jogador vê a jogada, o craque antevê.

 

O esporte, na essência, é ludicidade; o que é lúdico é poético. A crônica esportiva procura exprimir, com palavras, a emoção que rola nos estádios, nos ginásios, nas pistas, nas piscinas.

 

Feliz da criatura que tem por guia e emblema uma estrela. Por isso é que o Botafogo está sempre no caminho certo, o caminho da luz. Feliz do clube que tem por escudo uma invenção de Deus.

 

Eu recrio o personagem, mas ele já existe. Posso até retocar, melhorar ou piorar o personagem, mas ele precede a minha obra. Então, minha obra não é de criação, é de recriação. Um dia, Clarice Lispector, que trabalhava no mesmo jornal que eu – O Diário Carioca – escreveu uma crônica muito simpática sobre o meu trabalho; ela dizia que eu deveria escrever um romance. Foi aí que me dei conta de que havia um grande equívoco entre os meus amigos, a começar por ela, mas também do Paulo Mendes Campos e outros: achavam que eu era um escritor. Romancista, contista e até poeta era o Nelson Rodrigues, que inventava personagens que não existem. Embora ele recriasse alguns personagens, outros ele criava, como o “Gravatinha” e o “Sobrenatural de Almeida”. Estas são características do escritor; eu sou cronista. Tenho consciência de que pertenço a uma categoria, hoje, quase fora do jornalismo. Me dei conta disso não só quando comecei a escrever crônica, mas porque como eu lia muito Nelson Rodrigues, e como ele era um grande cronista, eu percebia que ele era capaz de melhorar ou de piorar os jogos sobre os quais escrevia. Ficava a critério dele, coisa que o jornalista não pode fazer, somente o cronista pode. Então, acho que temos, nas nossas categorias profissionais, o repórter, que tem o comprometimento com o fato, o analista/comentarista, que comenta o fato, mas não necessariamente opinando, apenas analisando, e temos o cronista, que tem liberdade absoluta. O cronista não precisa ir ao jogo para gostar ou não do jogo. Passa-se a ter a liberdade (a que hoje me permito) de não ver o jogo todo; um pequeno episódio de uma partida de futebol pode me dar uma crônica. Costumo dizer que mais importante do que o jogo é o jogador, mais importante que o jogador é a jogada, mais importante do que a jogada é o gesto. Posso, de um gesto, escrever uma crônica; o repórter não. O cronista viaja. Fico, então, nessa fronteira. Pelo fato de eu ter uma forma requintada, trabalhada e sofrida, as pessoas me consideram um literato, mas eu não me considero um literato. Os livros que escrevo são apenas livros de crônica.

 

O Botafogo tem tudo a ver comigo: por fora, é claro-escuro; por dentro, é resplendor. O Botafogo é supersticioso, eu também sou. O Botafogo é bem mais que um clube – é uma predestinação celestial.

 

Para o Garrincha, a superfície de um lenço era um latifúndio.

 

Eu me dei muito bem com a Internet, porque a Internet é o reencontro com a palavra escrita. Comecei a tentar entender o meio e vi que, escrevendo da maneira que eu escrevo, tradicional, passo a minha mensagem com muito ardor, com muito calor, e as pessoas respondem imediatamente. A grande surpresa que tive com a Internet foi que eu pensava que essa era uma ferramenta virtual, mas ela não é virtual, é absolutamente carnal. Ela chega a provocar um corpo a corpo; é atritada. Você põe um texto e, um minuto depois, tem uma resposta para o texto. É uma coisa que aproxima demais as pessoas, e isto me deu uma alegria muito grande.

 

A crônica esportiva é um meio cruel, porque os jornais não abrem espaço para a pouca objetividade. Acho que o que me distingue dos outros é que, desde muito cedo, entrei pelo veio da poesia. Percebi – e não fui o primeiro – que a poesia está muito próxima do esporte, na medida em que o esporte é uma coisa lúdica, uma forma de brincar. A poesia permite fantasias que a prosa não permite. Então, de quando em quando, faço incursões na poesia. Tenho a impressão de que, com essa superdose, overdose, de realismo que baixou no jornalismo de um modo geral, e na vida das pessoas, ninguém tem muito tempo para ficar recriando palavras, inventando metáforas. Além de a matéria-prima estar escasseando. No futebol, por exemplo, você vê um Robinho despontando, que te permite refazer a recriação de um gesto, mas tem dez que não te permitem escrever uma linha. O futebol não era assim, o futebol, nos primórdios, se chamava o jogo do drible. Aí, primeiro acabaram com o ponta, que era o exímio driblador, porque o ponta sempre teve um espaço melhor para driblar do que quem está na faixa central do campo, sempre muito congestionada. Ao extinguirem o ponta, extinguiram praticamente o drible, porque o drible mal dado na faixa central do campo pode representar um contra-ataque brutal. Então, os treinadores não querem correr riscos; e o futebol, com isso, se empobreceu. Aí, começou a aparecer um outro universo ligado à ludicidade do esporte, que é muito próxima da poesia. Foi a atenção com os Jogos Olímpicos. Lembro que o primeiro gesto olímpico que inspirou um poema meu foi da Nadia Comaneci, nos Jogos de 76, em Montreal. Tem outro dado, também, que contribui muito para instigar a inspiração poética: o esporte é uma coisa épica. Nos jogos olímpicos da Antigüidade, já havia grande exaltação poética – Píndaro e tantos outros escreveram odes maravilhosas aos grandes heróis – o que permite realmente aproximar o esporte da arte, seja da arte da dança, seja do gestual do esporte, que nos salva um pouco desse excesso de realismo do futebol.

 

Sobre futebol e caráter: O futebol não aprimora os caracteres do homem; mas, sim, os revela.

 

Preciso escrever por necessidade profissional e por necessidade existencial, embora eu sofra muito no processo, a ponto de dizer que melhor do que escrever é ter escrito. Vou continuar a escrever, para ter a alegria de depois poder dizer: — Escrevi, confesso que escrevi!

 

O esporte é uma das mais ricas manifestações de vida que eu conheço. Contém todas as virtudes e todos os pecados da criatura humana – das mais sublimes aos mais subalternos.

 

Há uma caixa-preta no comando do esporte que precisa ser devassada pelo Governo. A imprensa tem feito um bom trabalho de promotoria, denunciando a cartolagem desonesta.

 

Saudosismo seu de um futebol mais aristocrático: Nesse sentido, há dois aspectos. Um aspecto puramente estético, que fascina a gente, como o gestual do Robinho, que mistura um pouco de finta com drible e jogo de cintura, e alude às raízes de uma cultura. Por exemplo, existe um texto do Pasolini sobre a seleção de 70 que vale a pena ler. Ninguém podia ficar indiferente à seleção de 70 do ponto de vista estético. Coincidia também com todo o charme que a televisão estava inaugurando para o corpo — isso enriquecia muito o espetáculo. Quando se diz que o Brasil tem o melhor futebol do mundo, não é porque ele ganha; é porque ele tem o melhor futebol do mundo. E o que é o melhor futebol do mundo? É o futebol mais bem jogado, esteticamente. A experiência da Copa de 1994, em que o Parreira mandou para os Estados Unidos uma equipe européia – com exceção de Bebeto e Romário era de uma chatice inominável, porque, fora esses dois jogadores, não havia um gesto que ficasse. Isso não é você romper com as raízes? Porque a raiz é o Leônidas da Silva, que eu não vi jogar, mas adorei. Você também não viu, mas adora, porque ele faz um apelo à sua fantasia. Ele inventou a bicicleta. Costumo dizer que o que distingue o futebol brasileiro, quando ele é fiel às suas raízes, é isso. O inglês inventou o futebol e o brasileiro inventou as delícias do futebol. No momento em que você não tem as delícias no campo, vira o futebol inglês, o futebol europeu. O fato é que ninguém tolera esse tipo de jogo, porque, se você não respeita as raízes, daqui a pouco você vai mandar para um festival internacional de música como representante do Brasil um sujeito que compôs bons boleros. Temos compromissos com a música popular brasileira, com o samba. Se nós transportarmos o fenômeno do Ari Barroso, do Noel Rosa, do Bide, do Armando Marçal, enfim, dos grandes compositores brasileiros para o futebol, o nosso compromisso passa a ser buscar o Garrincha, o Didi, o Pelé. Porque, nas obras de arte que você cria para identificar um povo, você cria impressões digitais, que precisam ser respeitadas. Por que tanto se lutou para se implantar o Cinema Novo no Brasil? Porque era um cinema brasileiro, autenticamente nacional. Não é o chauvinismo, não é o nacionalismo não, é o compromisso que nós temos com a identidade do povo brasileiro. Porque, senão, você pega a camisa da seleção brasileira e coloca na seleção italiana. Nos agrada? Não. Só porque ganhou? Só porque venceu? O objetivo não é esse. É preservar as raízes e conseguir juntar isso ao lado estético, ao lado técnico, e produzir equipes como tivemos em 58, como tivemos em 70, e que ficaram na história. Os europeus não vieram buscar aqui um jogador e continuam levando num arrastão monumental deles por ele ser atlético, vêm buscar aqui a habilidade individual do jogador brasileiro, que é a nossa marca, nossa característica. Então, a essência da nossa escola futebolística são as delícias do futebol, um esporte que tem a capacidade de criar espaço no reino da fantasia, não necessariamente à custa de um bate-estaca.

 

A ilustre fauna: Ruben Braga, Carlos Drumond de Andrade, Manoel Bandeira, Ciro dos Anjos, Dalton Trevisan e outros.

 

Amar um clube é muito mais do que amar uma mulher.

 

Quando alguém dizia que ele era um vencedor, Armando rebatia com humildade: Não, sou apenas um lutador.

 

Meu gosto por aeronaves é um devaneio desde que eu tinha cinco anos de idade, quando tinha freqüentes sonhos de que estava voando nas asas de um regador de jardim. Voar de ultraleve, como faço atualmente, não é um acaso na minha vida. Eu diria que faz parte de uma predestinação.

 

Decidi estudar Direito porque era o desejo do meu pai. Acabei me formando, mas nunca fui buscar o diploma.

 

O importante é ter uma vida saudável. Gostar efetivamente de algum esporte, como eu, por exemplo, que gosto muito de tênis. Tenho até uma crônica em que me defino entre esses dois amores, o amor do esporte individual e o amor do esporte coletivo. Mas tem o momento em que o esporte coletivo pode virar individual, como é o caso típico do Robinho. Tem uma máxima no futebol que diz que o futebol é um por todos e todos por um. O Robinho prova que não é bem assim: é um por todos, e nem sempre todos por um.

 

Sobre Otto Lara Resende: Foi com quem aprendi um pouco a arte cristã de conviver.

 

Num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela [a bola] corre para cá, corre para lá, quiçá no meio-fio, pára de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho.

 

Ao descrever Heleno de Freitas: Só tinha afagos pra conquistar a bola, em cuja convivência realizava sua face de anjo. Dormia abraçado com a bola delirante do jogo de ontem, de hoje, de amanhã, de sempre. Quando acordava, bola murcha, Heleno tornava ao delírio. Heleno de Freitas, o craque das mais belas expressões corporais que conheci nos estádios, morreu, sem gestos, de paralisia progressiva, e descansa, hoje, no Cemitério de São João Nepomuceno, onde nasceu um dia, para jogar a própria vida num 'match' sem intervalo entre a glória e a desgraça.

 

Jogador do Fluminense, para o Nelson [Nelson Rodrigues], não era gente como nós, de carne e osso; era entidade. Certa vez, invoquei o videoteipe para comprovar um gol irregular do Fluminense. Ele me jogou pela cara a sentença desconcertante: — O videotape é burro!

 

Em nome da bola, forma sublime, em nome da grama que floresce na infância, em nome do gesto gratuito que faz o encanto do esporte, deitemos fora a aritmética do futebol. E que as portas dos estádios se reabram no tempo próximo para que lá, como Albert Camus,1 possamos viver outra vez sublimes momentos de inocência.

Gol de letra é injúria; gol contra é incesto; gol de bico é estupro.

 

 

 

 



 

 

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Nota:

1. Albert Camus (Mondovi, 7 de novembro de 1913 – Villeblevin, 4 de janeiro de 1960) foi um escritor e filósofo francês nascido na Argélia. Na sua terra natal, viveu sob o signo da guerra, da fome e da miséria, elementos que, aliados ao Sol, formam alguns dos pilares que orientaram o desenvolvimento do pensamento do escritor.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/
artigos.asp?cod=421FDS001

http://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Camus

http://64.233.163.132/search?

http://perspectivapolitica.com.br/

http://www.copamundo2010.com.br/
morre-armando-nogueira/

http://blogdojuca.uol.com.br/
2010/03/mestre-armando/

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/
artigos/al190820033.htm

http://www.goal.com/br/

http://mundobotafogo.blogspot.com/
2010/03/faleceu-armando-nogueira.html

http://www.jornalplasticobolha.com.br/
pb16/entrevista.htm

http://www.netsaber.com.br/
biografias/ver_biografia_c_4360.html

http://g1.globo.com/Noticias/
Rio/0,,MUL1548904-5606,00.html

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Armando_Nogueira

http://pt.wikiquote.org/
wiki/Armando_Nogueira