Nossa
pátria é onde nos sentimos bem.
Às
vezes, a verdade nos é imposta, muito rapidamente, por um adversário.
Eu
não tenho confiança nele. Ele tem olhos delirantes!
Se
você fizer uma bagunça, você tem que limpá-la.
Quem
é sábio aprende muito com os seus inimigos.
Prudência é a melhor
defesa. Este princípio não pode ser aprendido com um amigo,
mas um inimigo ensina imediatamente.
Isto
é o que muito me entristece: um homem que nunca lutou... Nunca, até
hoje, teve um remo, uma lança ou uma bolha na mão.
São
pelos inimigos, não pelos amigos, que as cidades aprendem a construir
muros altos.
Não
há nada mais vergonhoso do que alguém ser honrado pela fama
dos antepassados e não pelo merecimento próprio.
Os
eventos malvados são decorrentes de causas malvadas.
Quando
acontece de alguém encontrar
a sua metade verdadeira, de um ou de outro
sexo, ficam ambos tomados de um sentimento maravilhoso de confiança,
de intimidade e de amor, sem que decidam se separar, por assim dizer, um
só momento. Estas pessoas, que passam juntas toda a vida, são,
precisamente, as que não sabem dizer o que uma espera da outra. E
a razão disto é que, primitivamente, era plena a
A saudade deste todo homogêneo
e o empenho de restabelecê-lo é
o que denominamos amor.
Cortesia
é simplesmente fazer aos outros aquilo que gostaria que eles fizessem
a você.
É
preciso ter sido remador, ter estado na proa e ter observado os ventos antes
de pegar o timão
e comandar o navio.
Deixe
cada homem praticar a arte que conhece.
Os
deuses querem que cada um desempenhe o ofício que sabe!
Esta
animação foi editada da fonte:
http://ryaninja.blogspot.com/2006/07/
need-excuse-to-get-off-work.html
A
juventude envelhece, a imaturidade é superada, a ignorância
pode ser educada e a embriaguez passa, porém, a estupidez é
eterna.
Não podes ensinar o caranguejo
a caminhar para frente.
Os
velhos são duas vezes crianças.
Para
as crianças, educação é o mestre-escola; para
os jovens, é o poeta.
Mesmo
se me convenceres, não me convencerás.
Devemos
nos abster
completamente do macho.
Você
tem aprendido com os pássaros, e vai continuar a aprender... As aves
são um bom Apolo profético.
Agora,
vamos dançar e cantar em tons consagrados...
Vidas
santas – um Juramento Sagrado!
Nada
é mais covarde do que a riqueza.
Não
se deve tentar enganar o infortúnio, mas,
com graça, resignar-se
a ele.
É
de mau gosto para um poeta para ser grosseiro e peludo.
Os
tempos mudam. Os vícios da sua idade são elegantes hoje.
Invocar apenas argumentos simples
e ainda triunfar é uma arte que vale mais do que cem mil dracmas.
Zeus,
todo-poderoso, que infindável e monstruosa noite! Quando o dia nascerá
finalmente?
Não
consigo dormir. Malditas dívidas! Não me deixam sequer piscar
os olhos.
Não
jures por esses deuses cavalares. Jurar por eles é a causa de toda
esta situação.
Faz
de ti mesmo um homem novo.
Toda
a atmosfera é realmente um forno cósmico, e nós apenas
somos uns fragmentos de carvão a arder.
Os deuses não passam, meu
amigo, de uma falsa e vulgar superstição.
O
que me importa é não morrer tão cedo.
Se
um sacrilégio cometi, desculpa. Fiz muita força, mas não
resisti.
Nunca
te ocorreu, dize a verdade, que são as nuvens deusas celestiais?
As
nuvens podem assumir qualquer forma que desejem.
Salve
tu, ó sumo sacerdote da conversa fiada.
Zeus?
Que Zeus? Não há Zeus. Que Zeus?
Quem
faz a chuva? As nuvens, certamente. A prova, neste caso, é conclusiva:
tu já viste jamais chover com céu sem nuvens?
Quem
faz a trovoada são
as nuvens também. Simples processo de convecção...
As nuvens são de água carregada, e explodem quando entram
em colisão.
Se
é Zeus que castiga os mentirosos, como é que Simon ainda está
vivo, e vivos também estão Cleôminos e Téoros?
No entanto, em lugar de fazer isso, Ele destrói seus próprios
santuários corta ao meio carvalhos centenários. Tem razão
para isso? Por acaso pode o carvalho cometer perjúrio?
Se
puderes passar na nossa prova, hás de ser invejado em toda a Grécia.
Antes, porém, de começar a prova, as nossas condições
terás de ouvir. Tua memória é boa? És bem capaz
de pesquisar a fundo o que é preciso? Ao cansaço, à
fadiga és resistente? A friagem do inverno não te assusta?
Ficarás sem comer um dia inteiro? Evitarás os vinho e as mulheres?
E, enfim, tens de jurar, solenemente, seguir, bem a rigor, o nosso código.
Lutar, brigar, pleitear e batalhar, como um leal soldado da palavra, sempre
como um filósofo perfeito.
Promete agora, então, que
o meu caminho hás de trilhar religiosamente, sem teres outro deus,
senão os meus, e respeitando sempre esta trindade: nuvens, caos e
mistificação.
Para
o melhor e o pior, podeis matar meu corpo de fome, podeis secá-lo
de sede. Podeis reduzi-lo a gelo e até picá-lo em pedaços.
Fazei o que bem quiserdes, mas eis minhas condições: quando,
completada a ordália, tudo estiver terminado, que surja um Estrepsíades
inteiramente mudado. Um
velhaco, mentiroso, solerte e parlapatão, embusteiro, palavroso,
sem vergonha, charlatão, macio, esperto, untuoso, embrulhador consumado,
pulha, safado, maldoso, salafrário e descarado.
Se alguém me deve, eu não
me esqueço, de maneira alguma. Se eu devo a alguém, contudo,
o caso é outro: não consigo lembrar, por mais que queira.
Nós
exigimos dos iniciantes que fiquem nus.
A
hesitação não é mais permitida nesta fase adiantada
da iniciação!
Posso
ser careca, como os meus rivais não cansam de dizer, porém
não desenxabido.
—
Careca, tudo bem;
desenxabido é o cacete!
Tu, nosso rei, primeiro invocamos
lá de seu trono, onipotente deus, baixa os teus olhos sobre a nossa
dança e sê conosco, Zeus. E tu, senhor do mar, grande Poseidon,
que vences com o tridente toda a luta e toda a fúria das ondas, ó
Poseidon, a nossa prece escuta. E tu, Éter etéreo, paternal,
que pelo ar te espalhas, e senhor és para nos nutrir e sustentar,
dá-nos força e vigor. E tu, cujos corcéis o firmamento
atravessam, levando-te, a brilhar. Ó luz fecunda para o céu
e a Terra, vem nos iluminar.
Nenhum deus, em verdade, já
vos trouxe benefícios iguais ao que trouxemos. Somente nós,
é certo, em tempo algum recebemos sequer um sacrifício. No
entanto, nem há necessidade de vos lembrar a ternura, o cuidado com
o que nós vos tratamos.
O
luar, realmente, está às vossas ordens. No entanto, negastes
a fazer um calendário lunar perfeitamente formulado. E o vosso mês,
assim, tornou-se um caos, obra-prima de pura confusão. E mais ainda:
quando à noite um deus chega em casa faminto e não encontra
nada para jantar, porque vós outros a festa celebrais em dia errado,
é a coitada da inocente Lua que pelo deus furioso é censurada.
E não é isso só: naqueles dias em que devíeis
cultuar os deuses, vos ocupais em discutir demandas ou torturar as pobres
testemunhas. E, enquanto os deuses jejuando ficam, vós, no entanto,
a grandes comilanças e a grandes bebedeiras vos entregais. Ficai,
portanto, agora advertidos. Ainda bem recentemente, os deuses, de seu lugar
hepérbolo, privaram na comissão dos festivais, querendo ensinar-lhes
e ensinar a outros iguais porque se deve respeitar o tempo.
De
qualquer maneira, a verdade é quem manda. Eu obedeço.
Todo aquele que ao ritmo é
sensível terá da sociedade a porta aberta.
É
indispensável que aprendas a distinguir pela terminação
o que é masculino e o que é feminino. De outro modo, verás
que confusão.
Concentra
primeiro, depois raciocina, concentra de novo. Lucubra em seguida, depois
especula, rumina afinal. Se sentes cansaço, sê forte, resiste
e fica acordado. Em
suma, reflete, rumina, especula, mas sempre deitado!
Instila,
agora, em tua mente, instila a mais etérea essência, permitindo
que as essências sutis do pensamento penetrem em cada poro do problema.
Bastando, depois disso, analisar, corrigir, resumir e definir... Em caso
de dilema, visa a concatenar todos os dados, medi-los e pesá-los,
e, em seguida, por fim, o resultado compulsar.
É
muito claro: não havendo Lua, não haverá mais mês,
e, deste modo, não terei de pagar juros mensais.
Antes
que meus credores recorressem ao tribunal, eu me suicidaria, pois a verdade
é que não poderiam acionar um defunto.
Deuses,
deuses do céu! O que vai ser de mim agora? Pois estou perdido, se
da palavra o dom me for negado. Nuvens, cheias de graça, aconselhai-me.
Dizei-me o que fazer.
Um
homem de tua idade acreditando em Zeus! Muito engraçado!
Causa-me espécie, afeta a
minha mente, ver jovens como tu tão iletrados que enchem a cabeça
de noções tão falsas.
Fica
sabendo agora um segredo tão só: Zeus não existe. Zeus
foi banido. Só o princípio da convecção tem
o poder agora.
A
lógica sofística moderna, também chamada lógica
imoral, pode ser menos moral do que a lógica filosófica, que
é tradicional, porém é muito mais eficiente.
A
justiça está no regaço dos deuses? Então, podes
me explicar como Zeus escapou da punição, depois de ter prendido
o próprio pai? A incoerência é clara como a água.
Hás
de convir que hoje as coisas mudaram. O que era errado no teu tempo, é
o certo e a moda agora.
Em
todas as escolas de Atenas se seguia o regime dos três dd: disciplina,
decoro e dever.
Era
proibido também dar gargalhadas ou as pernas cruzar...
Aprende as virtudes do homem: a mente
sã, a decência e a inocência, que não vão
permitir que do mal te aproximes. Que te sintas furioso, indignado, quando
a tua honra sentes ultrajada.
Para
com os mais velhos, deferência; respeitar pai e mãe; manter
intacta a imagem de modéstia assaz viril que servirá de guia
em tua vida. Sê puro, evita os sórdidos bordéis, o amor
prostituído, que corrompe teu caráter viril e que rebaixa
tua reputação. Para teu pai mostres sempre total obediência.
Respeita o fim da vida de quem antes te criou, te tratou, quando mais moço.
Jamais o chames de velho ou de caduco...
Os banhos quentes fazem muito mal
– tornam o homem frouxo, efeminado.
Segue,
porém, os meus conselhos, jovem, e faz o que te dita a Natureza.
Goza a vida, diverte-te e te rias do mundo sem escrúpulos. Se acaso
em flagrante tu fores apanhado, afirma simplesmente ao pobre corno que não
tens culpa, e invoca como exemplo o Zeus onipotente, que não pode
ver mulher sem tratar de conquistá-la. Se um tão grande e
poderoso deus não pode resistir, como querer que um pobre mortal
tenha a arrogância de ministrar ensinos de moral aos deuses imortais?
Não é possível.
Um
rabanete! Achas mesmo, confessa, uma desgraça tão grande ter
um rabanete enfiado no rabo?
Fui
derrotado pelos pederastas passivos. Vou me retirar. Só isso... Tomai
meu manto e me recebei, ó vós, pederastas passivos. Terminou.
Mas não te esqueças:
quero que a sua língua fique, em suma, tão afiada como uma
navalha. Do lado esquerdo, afia-a para as causas particulares; porém,
do direito, para os negócios públicos e as grandes ocasiões
e oportunidades.
Chorai,
chorai, ó agiotas, vós que emprestais, rangei os dentes, vós
que lucrais os altos juros.
Tal
é meu filho! Melhor do que ele, apenas eu.
Sou
bobo! Preciso ser mais duro! E hei de ser!
Pois,
agora, juro que não jurei.
Deuses?
Que deuses? Zeus? Poseidon? Hermes? Então, pior para eles, se jurei.
Jurei e perjurei. Amo o perjúrio.
Zeus
é uma burla, para quem raciocina.
Os
juros não são mais do que a tendência natural do dinheiro
aplicado de se reproduzir, com a passagem do tempo. E assim é mais
do que claro que os juros crescem e o Capital aumenta.
Se
o mar, no qual todos os rios desembocam, não cresce nem um pouco,
como queres que o dinheiro é que cresça?
O
crime não compensa. O desonesto acaba castigado.
Queremos a verdade ou, pelo menos,
algo parecido.
Senhores!
A eloqüência é coisa boa, muito melhor até do que
esperava. Oh!, o arrebatamento do discurso! Oh!, a volúpia da articulação!
Mas, sobretudo, o ático prazer de poder à vontade subverter
a ordem da moral seguida e aceita!
Eu
tinha de te educar. Bati porque te amava.
Uma
vez que tu mesmo reconheces a sinonímia de espancar e amar, é
mais do que natural que eu, agora, por minha vez, com muito amor, te espanque.
Mais que isso, aliás: com que direito tu podes me espancar, e pretenderes
que eu não possa fazer a mesma coisa. O que pensas que sou? Que sou
escravo? Não nasci, como tu, um homem livre? O que me dizes, então?
Os
velhos são crianças que cresceram. É lógico,
portanto, que os velhos mereçam muito mais ser espancados, porquanto,
experientes como são, são menos desculpáveis do que
as crianças.
Observa como os galos se comportam
entre si. Vivem brigando filhos com pais, sem vãs hierarquias. E
em que a sociedade galinácea se difere da nossa? Tão-somente
porque a nossa sociedade tem leis e a sociedade galinácea não.
O
sofrimento gosta de companhia.
É
assim mesmo que nós somos: insubstanciais nuvens onde o homem constrói
as suas frágeis esperanças, brilhantes, tentadoras, mas formadas
de puro ar, miragens do desejo. E assim agimos nós, indiferentes.
Seduzindo e atraindo os homens vãos nos desonestos sonhos da ambição
que, como sonhos, logo se desfazem. E o sofrimento lhes ensina, então,
a respeitar os deuses, e a temê-los.
Que
Zeus, que nada! Acreditar em Zeus é prova de burrice consumada!
Discurso
Sobre o Homem e o Amor
Aurora Consurgens
A
princípio, havia três espécies de seres humanos,
e não duas, como agora: o masculino e o feminino e, além
destes, um terceiro, composto pelos outros dois, que veio a se
extinguir. Apenas nos resta a sua designação, pois
a espécie desapareceu. Era a espécie andrógina,
que tinha a forma e o nome das outras duas, masculina e feminina,
das quais era formada: hoje, já não existe e não
passa de uma designação pejorativa. Cada homem,
no seu todo, era de forma arredondada, tinha dorso e flancos arredondados,
quatro mãos, outras tantas pernas, duas faces exatamente
iguais sobre um pescoço redondo, e nestes duas faces opostas,
uma só cabeça, quatro orelhas, dois órgãos
sexuais, e tudo o resto na mesma proporção. Caminhava
ereto, tal como o homem atual, na direção que lhe
convinha. Quando corria, fazia como os acrobatas, que dão
voltas no ar. Lançando as pernas para cima e apoiando-se
nos membros, em número de oito, rodava rapidamente sobre
ele mesmo. Estas três espécies eram assim conformadas,
porque o masculino tinha origem no Sol, o feminino na Terra, e
a espécie mista provinha da Lua que, como se sabe, participa
de ambos. Eram esféricos, e a sua locomoção
também, porque se assemelhavam aos progenitores. Possuíam
igualmente uma força e um vigor extraordinários
e, como eram corajosos, decidiram escalar o céu e guerrear
os deuses, à semelhança de Efialto e de Oto, o que
Homero conta.
Em face desta invasão,
Zeus e os restantes deuses deliberaram sobre a posição
a assumir. O caso apresentava-se de solução difícil:
não se podiam decidir a exterminar os homens e a destruir
a raça humana a golpes de raio, como tinham feito os Titãs,
porque isso significava o fim das homenagens e do culto que os
homens prestavam aos deuses; mas não podiam suportar este
ato de insolência. Por fim, Zeus, tendo encontrado, não
sem alguma dificuldade, uma solução, tomou a palavra
e disse: — Creio ter encontrado a maneira de conservar os
homens e de cercear a sua liberdade: torná-los-ei mais
fracos. Dividi-los-ei em duas partes. Obteremos, assim, a dupla
vantagem de os tornar mais fracos e de continuar a tirar deles
algum proveito, pois passarão a ser mais numerosos. Caminharão
eretos sobre duas pernas. Se continuarem a se mostra insolentes
e não sossegarem, voltarei a dividi-los, e caminharão
sobre uma só perna!
Tendo
pronunciado esta lei, Zeus cortou todos os homens em dois, tal
como se cortam os frutos ou um ovo com um cabelo. De cada vez
que cortava um, ordenava a Apolo para lhe voltar a face e o pescoço
para o lado do golpe, a fim de que, vendo-o, o homem tornava-se
mais humilde; mandava-lhe, além disso, curar as feridas.
Apolo assim fazia e, ligando toda a pele na parte que se chama
ventre, deixava apenas uma cavidade, que se chama umbigo. Depois,
alisava as costuras e arranjava o peito com um instrumento semelhante
ao que utilizam os correeiros para polir, na forma, as rugas do
cabedal, mas deixava ficar algumas rugas, como as do ventre e
as do umbigo, como recordação deste castigo.
Ora, depois de assim ter
dividido o corpo, cada uma das partes, lamentando a outra metade,
foi à procura dela e, abraçando-a e entrelaçando-se
uma às outras, no desejo de se fundirem numa só,
iam morrendo de fome, por inação, pois nada queriam
fazer umas sem as outras. Quando morria uma metade e a outra sobrevivia,
esta procurava logo outra e enlaçava-se nela, quer fosse
metade-mulher, quer fosse metade-homem e, deste modo, a raça
ia se extinguindo…
A
partir deste momento, aparece o amor inato que os seres têm
uns pelos outros. O amor tende a reencontrar a antiga natureza,
esforça-se por se fundir numa só, e por sarar a
natureza humana.
Cada um de nós é,
por isso, um símbolo, pois fomos cortados em dois, como
o linguado e, de um só, ficaram duas metades. Assim, cada
um procura a metade que lhe corresponde. Os homens constituídos
pela metade daquele composto de dois sexos, amam as mulheres…
|
O
que é justo também é do conhecimento da comédia.
Ora, o que eu vou dizer pode ser cáustico, mas justo é.3
Alguma
vez, olhando para cima, você viu uma nuvem com a forma de um centauro,
de um lobo ou de um touro?
O núcleo do cômico,
na comédia, baseia a sua comicidade mais na falência dos tribunais
do que na sua eficácia.
Não é coisa fácil
pôr de parte a natureza que sempre nos acompanhou.
Somos cidadãos de Atenas,
nascidos de famílias ilustres. Não fomos expulsos; resolvemos
sair da cidade por vontade própria. Querem saber por quê? Não
é por Atenas, tão boa pra se viver! O problema é a
corrupção de seus habitantes. Os atenienses vivem empoleirados
em processos judiciais. E os burocratas e os delatores profissionais? E
os cidadãos que ganham três óbolos por dia para participarem
das assembléias? Por isso, estamos indo embora.
Eu,
o Discurso Injusto, recebi esta qualificação entre os pensadores
porque tive, antes de qualquer outro, a idéia de falar contra as
leis e a justiça. Esta arte tem um valor maior do que qualquer outra;
ela ensina a defender as razões mais fracas e fazê-las prevalecer,
apesar de sua fragilidade.
A
direção de uma comédia é o trabalho mais penoso
de todos.
Se
não me engano, aquele político sujo anda metido nisso; dizem
que ele comia imundície.
Não
diga palavras de mau agouro! Fale coisas otimistas e dê berros de
alegria! Mande todo mundo se calar, cobrir as latrinas com telhas novas
e arrolhar os intestinos.
Eu
descobri, nas fábulas de Esopo, que o escaravelho foi o único
bicho voador que conseguiu chegar até os deuses.
Agora é hora de cantar uma
música badalativa, balançando as mãos levantadas: 'Como
é bom gozar! Hoje eu vou me esbaldar!' Gregos! Chegou a hora de libertar
a Paz querida por todos, de nos livrarmos das brigas e dos combates, antes
que outro pau de pilar apareça para atrapalhar! Vamos, lavradores
e negociantes, artistas, operários, imigrantes, estrangeiros, ilhéus,
venham todos para cá, povo de todos os lugares, o mais depressa possível,
com picaretas, alavancas e cordas! Chegou a hora de ter juízo!
Marchem
todos por aqui fogosamente, diretos para a liberdade! Ajudemo-nos uns aos
outros, gregos de toda a parte, agora ou nunca! Chega de campos de batalha!
Chega de uniformes militares! Acaba de raiar o dia luminoso de que traficantes
de guerra não vão gostar!
Libação! Libação!
Concentrem-se! Concentrem-se! Fazendo esta libação, vamos
rezar para que este dia seja para todos os gregos o início de um
bocado de coisas boas, e para os que pegarem nestas cordas com o coração
cheio de boa vontade nunca mais tornem a pegar em armas!
E
se alguém, com vontade de comandar batalhões, se opuser a
que você volte a reinar entre os homens, soberana Paz, que nas batalhas...
tenha de jogar as armas fora para fugir mais depressa.
Ao
deus da guerra: não! Ao deus da carnificina: não!
Não
é de amargar que uns puxem em um sentido e outros puxem ao contrário?
Vocês,
atenienses, parem de ficar pregados no chão! Vocês só
querem julgar os outros. Se vocês querem mesmo soltar a Paz, recuem
um pouco para o lado do mar.
Que hálito gostoso, perfumado
e suave como a isenção do serviço militar e como as
essências mais finas!
Longe de mim a trouxa odiosa de um
inimigo odiado! O cheiro da trouxa pioraria o arroto de um comedor de cebolas.
Veja
como as cidades conversam umas com as outras, de pazes feitas, e riem alegremente!
Ouçam
todos: que os lavradores voltem com suas ferramentas e se dirijam sem demora
para o campo, sem lança, nem espada, nem dardo, pois a boa Paz de
antigamente está de novo aqui conosco. Vamos! Volte cada um a trabalhar
no campo após cantar uma canção alegre!
Os
amigos que se foram não estão mortos, apenas foram antes,
caminhando na estrada que todos nós devemos percorrer, seguindo os
passos que eles já trilharam.
A
enxada é mesmo uma coisa bonita quando bem polida, e os ancinhos
de três dentes brilhando ao Sol também, prontinhos para fazer
um bom canteiro. Eu mesmo estou ansioso por voltar ao campo agora e afofar
meu pedacinho de terra com o enxadão, depois de tanto tempo. Vamos!
Lembrem-se, companheiros, da vida boa que a deusa nos proporcionava antes,
aqueles pacotes de figos secos, os figos frescos, o mirto, o vinho doce,
o canteiro de violetas perto do poço e as azeitonas que agora nos
fazem tanta falta! Dêem agora um viva à deusa pela volta dessas
coisas boas!
Paz
muito querida! Eu estava tarado de desejos por você; um impulso sobre-humano
me impelia a voltar para o campo. Você era a causa da abundância
para todos nós que vivíamos da terra, Paz muito desejada!
Só você nos ajudava. Que doces prazeres tínhamos antes,
graças a você, gratuitos e bem gozados! Você era, para
a gente do campo, o doce mais gostoso e a salvação. As parreiras
e as figueiras novas e todas as outras plantas também receberão
você com um sorriso alegre.
Estes,
ambiciosos, cínicos e falsamente amigos dos estrangeiros, repeliram
vergonhosamente a Paz para estimular a Guerra. E os lucros deles foram a
perdição dos lavradores, pois vossos barcos, em represália,
saíam daqui para destruir as figueiras dos inocentes.
Então
toda a pressa é pouca. Se algum músico desses que levam a
vida na flauta vir vocês aí, vai chegar perto e vai querer
tocar sem ser convidado; e, se vocês virem a cara de sofrimento que
ele faz quando toca, vão deixar que ele tome parte na festa.
Paz
venerada, soberana dos coros, soberana das festas nupciais, recebe nosso
sacrifício! Mostra-te todinha, como uma mulher sincera, a nós,
teus amantes, que nos matamos por ti há treze anos. Acaba com as
batalhas e os conflitos para podermos chamar-te de fim da guerra. Acaba
com essas desconfianças sem fundamento que nos fazem lançar-nos
uns contra os outros. Junta-nos, junta os gregos todos com o cimento da
amizade e infunde em nossos peitos um pouco de suave tolerância. Faze
com que nosso mercado fique superlotado de coisas gostosas: de Megara, alhos,
pepinos tenros, marmelos, romãs, capotes para escravos; da Beócia,
que venha gente trazendo gansos, marrecos, pombos bravos, patos selvagens;
que as melhores enguias cheguem aos cestos, e que, amontoados em volta delas
para fazer nossas compras, nos acotovelemos com todos os gulosos da cidade;
que um comilão preguiçoso chegue tarde demais ao mercado,
quando não houver mais enguias para vender, e cante suas tristezas
em versos trágicos. O pessoal ia se divertir às pampas! Atende
às nossas preces todas, Deusa Venerável!
A
Paz não gosta de matanças nem de altares ensangüentados.
O
estarrecedor não são os assassinos assassinando,
mas os que ficam olhando e gostando da matança.
Jamais poderás alisar um ouriço
eriçado!
Isto é muito melhor do que
ficar olhando um militar odiado pelos deuses, com seus três penachos
e sua capa purpurina, que ele diz que foi tingida mesmo é de amarelo-merda.
Nada
no mundo é pior que uma mulher sem-vergonha – exceto algumas
outras mulheres.
A
pobreza é irmã da mendicância.
Você
tem todas as características de um político popular: uma voz
horrível, má educação e péssimos modos.
Continua
a fazer aquilo que já fazes: mistura os negócios públicos,
amassa-os todos juntos numa pasta. O povo, conquista-o quando quiseres,
com umas palavrinhas doces, que são a tua especialidade. Tudo o mais
que é necessário à demagogia, tu o tens de sobra: voz
de safado, baixa condição, ar de espertalhão. Tens
tudo o que é necessário à governação.
Vamos, põe a coroa e faz um brinde à Estupidez.
Então eu, quando percebi que
as palavras dele tinham acolhimento, e que o Conselho se deixava levar,
pensei: 'Vamos lá deuses da safadeza e da enrolação,
da maluquice e do descaramento, e tu praça, onde, menino ainda, me
criei, chegou a hora de me darem coragem, uma língua rápida
e uma voz atrevida'.
É
muito bem feito, já que te apossas dos bens do Estado, mesmo antes
de teres sido sorteado para isso; como quem colhe figos, apertas os magistrados
na prestação de contas, para ver os que estão verdes,
ou maduros, ou para amadurecer.
A verdade é que, desde sempre,
mostraste a falta de vergonha, que é a única defesa dos oradores.
Foi ou não foi? É nela que, dirigente da cidade, te apóias,
para chupares os estrangeiros ricos.
Ó Povo, que belo império
o teu! Todos te receiam como a um rei. Mas és tão fácil
de levar! Gostas de ser engraxado, enganado e ficas de boca aberta perante
os oradores.
E
pões-te de tocaia para ver se, entre os cidadãos, aparece
um cordeirinho, rico, sem maldade, tímido nos negócios. Porque,
se sabes de algum que seja inexperiente e bobo, manda-o vir, deitas-lhe
as unhas, passas-lhe uma rasteira, torces-lhe os costados...
Pois
vou te denunciar aos prítanes por guardares, sem pagar a dízima,
as tripas consagradas aos deuses.
O Amor é o deus mais amigo
do homem, protetor e médico de todos os males, de cuja cura dependeria,
sem dúvida, a maior felicidade para o gênero humano. Na
nossa antiga natureza, éramos um Todo. É, portanto ao desejo
e procura do Todo que se dá o nome de Amor. É por isso, que
o Amor dirige e comanda os homens.
Educar
pessoas não é como encher um copo; é como acender um
fogo.
A desconfiança é a
mãe da segurança.
Na
adversidade, nasce a luz da virtude.
Uma
andorinha não faz verão.
O
homem é o único animal que fere a sua parceira.
O
homem, mesmo que tenha cabelos grisalhos, poderá conseguir uma esposa;
mas a mulher tem pouco tempo para isto.
Não
há um homem realmente honrado; nenhum de nós está livre
do afã do lucro.
O
uso moderado do prazer aumenta a satisfação que dele resulta.
Rápido! Traga-me um copo de
vinho para que eu possa molhar minha mente e dizer algo inteligente.
Mesmo que todas as leis fossem abolidas,
os homens sábios levariam a mesma vida.
Fome
não tem amigo, só sua alimentação.
Abra a boca e feche os olhos e veja
o que Zeus lhe envia.
Sob cada pedra se esconde um político.
Pensamentos elevados devem ter uma
linguagem elevada.
As
mulheres são impossíveis! Como elas ficam em torno de nós!
O poeta estava certo: não é possível viver com elas
ou sem elas.
Para
ser insultado, você deve ser enfeitado com lírios.
O
amor é simplesmente o nome para o desejo e para a busca do Todo.
Santuários!
Santuários! Certamente você não acredita nos deuses.
Qual é o seu argumento? Onde está a prova?
Um
arbusto, dizem eles, nunca pode esconder dois ladrões.
Você não deve decidir
até que você tenha ouvido o que ambos têm a dizer.
Os homens de bom senso, muitas vezes,
aprendem com os seus piores inimigos.
Pelas
palavras, a mente é alada.
Eu
mesmo cuidarei do meu banho.4
Feliz
o homem totalmente sábio! Milhares de provas atestam a veracidade
desta afirmação. Este, por ter sido sábio, voltará
a ver a sua casa, o que é uma vantagem para seus concidadãos,
para seus parentes e seus amigos; ele deverá tudo à sua sapiência.
É bom, então, não ficar perto de Sócrates conversando
com ele, desdenhando a música e as partes mais importantes da arte
trágica. É loucura perder tempo em conversas ociosas, em sutilezas
frívolas.
Muitas
felicidades, muitas felicidades para vocês! Quem me seguir vai ganhar
um doce!
Cherries
Jubilee
______
Notas:
1.
Designa-se como Século de Péricles ou Idade de Ouro de Atenas
o período histórico compreendido entre o cerco de Samos, por
parte dos atenienses, em 439 a.C., e a derrota dos gregos na Batalha de
Queroneia, frente o exército macedônio de Filipe II, em 338
a.C.
2. A
Guerra do Peloponeso foi um conflito armado entre Atenas (centro político
e civilizacional por excelência do mundo do século V a.C.)
e Esparta (cidade de tradição militarista e costumes austeros),
de 431 a 404 a.C. Sua história foi detalhadamente registrada por
Tucídides e Xenofonte. De acordo com Tucídides, a razão
fundamental da guerra foi o crescimento do poder ateniense e o temor que
o mesmo despertava entre os espartanos. A cidade de Corinto foi especialmente
atuante, pressionando Esparta a fim de que esta declarasse guerra contra
Atenas.
3. De
Charles Chaplin (1889 – 1977): A
vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia
quando vista de longe.
4. Esta
sentença é equivalente a: Das
minhas coisas cuido eu. Cada qual trate de si e deixe os outros. Cada qual
varra a sua testada.
Páginas
da Internet consultadas:
http://www.bancariosbahia.org.br/index.
php?menu=charge&COD_CHARGE=7
http://www.revistadeletras.ufc.br/
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http://allyne-evellyn.blogspot.com/2009/
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http://www.estadao.com.br/arquivo/
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http://caixinhadeouro.blogspot.com/
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2008/01/as-nuvens-de-aristfanes.html
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Aristofanes-As-NUVENS
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http://pensador.uol.com.br/autor/Aristofanes/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3fanes
http://pt.wikiquote.org/wiki/Arist%C3%B3fanes
Fundo
musical:
Never
on Sunday
Composição: Manos Hadjidakis
Interpretação: Ray Conniff & Orquestra
Fonte:
http://www.34mc.com/play/683352.html