Oh! Romã do pomar, relva
esmeralda
Olhos de ouro e azul, minha alazã
Ária em forma de sol, fruto de prata
Meu chão, meu anel , cor do amanhã!
Oh!
Meu sangue, meu sono e dor, coragem
Meu candeeiro aceso da miragem
Meu mito e meu poder, minha mulher!
Dizem
que tudo passa e o tempo duro
tudo esfarela
O sangue há de morrer.
Mas,
quando a luz me diz que esse ouro puro
se acaba pôr finar e corromper,
Meu sangue ferve contra a vã razão
E há de pulsar o amor na escuridão.
|
Você
pode escrever sem erros ortográficos, mas, ainda escrevendo com uma
linguagem coloquial.
A
Humanidade se divide em dois grupos: os que concordam comigo e os equivocados.
Sou
a favor da internacionalização da cultura, mas, não
acabando as peculiaridades locais e nacionais.
A
Arte, para mim, não é produto de mercado. Podem me chamar
de romântico. Arte para mim é missão, vocação
e festa.
Jamais
falei mal de Molière, mas, querer que eu aceite Elvis Presley já
é demais.
O
otimista é um tolo. O pessimista é um chato. Bom mesmo é
ser um realista esperançoso.
A
massificação procura baixar a qualidade artística para
a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais
prejudicial do que o mau gosto. Nunca vi um gênio com gosto médio.
Venha
sexta musa mensageira, do reino de Eloim, me traga a pena de Apolo e escreve
aqui por mim: O Assassino da Honra ou A Louca do Jardim.
É
muito
difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera
o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados
e o país dos despossuídos.
Que
eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que,
com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas.
Não
sei. Só sei que foi assim!
Não
troco o meu "oxente" pelo "ok" de ninguém!
Tenho
duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte:
o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa
dura e fascinante tarefa de viver.
Quando
eu morrer, não soltem meu cavalo
nas pedras do meu pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu dorso alardeado,
com a espora de ouro, até matá-lo
Dizem
que tudo passa e o tempo duro tudo esfarela.
Tudo
que é vivo morre.1
Sonho
com o dia em que o Sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo.
Jesus,
às vezes, se disfarça de mendigo para testar a bondade dos
homens.
A
tarefa
de viver é dura, mas, fascinante.
Matar
padre dá um azar danado. Sobretudo, para o padre.
Depois
que eu vi, em um hotel em São Paulo, um show de rock pela televisão,
nunca mais eu critiquei os cantores medíocres brasileiros. Qualquer
porcaria como a Banda Calypso ainda é melhor do que qualquer banda
de rock.
A
gente
tem uma tendência para acreditar que não morre.
Sou
um escritor de poucos livros e de poucos leitores. Vivo extraviado em meu
tempo por acreditar em valores que a maioria julga ultrapassados. Entre
esses, o amor, a honra e a beleza que ilumina caminhos da retidão,
da superioridade moral, da elevação, da delicadeza, e não
da vulgaridade dos sentimentos.
Não
existe arte nova ou velha; só boa ou ruim.
Petróglifo
(Arte Rupestre)
O
ser humano é o mesmo em qualquer lugar, em qualquer tempo, qualquer
que seja a sua condição. Você pode ser rico ou pobre,
mas, os problemas que afetam verdadeiramente o ser humano são os
mesmos.2
Ave
Musa incandescente
do deserto do Sertão!
Forje, no Sol do meu Sangue,
o Trono do meu clarão:
cante as Pedras encantadas
e a Catedral Soterrada,
Castelo deste meu Chão!
Nobres
Damas e Senhores
ouçam meu Canto espantoso:
a doida Desaventura
de Sinésio, O Alumioso,
o Cetro e sua centelha
na Bandeira aurivermelha
do meu Sonho perigoso!
Meu
Sangue ferve contra a vã Razão
e há de pulsar o Amor na escuridão!
Quem
gosta de ler não morre só.
O
autor que se julga um grande escritor, além de antipático
é burro, imbecil. Um escritor só poderá ser julgado
depois da sua morte. Muito tempo depois.
Se
os alemães não leram Guimarães Rosa, Euclides da Cunha
ou Machado de Assis, quem perde são eles.
O
sonho é que leva a gente para a frente. Se a gente for seguir só
a razão, fica aquietado, acomodado.
Só
o teu nome é o que importa!
Todos os outros são erros.
Tu tens a chave da porta
dos sonhos e dos pesadelos.
Eu
sou um péssimo ator. Não sou só o pior ator vivo; eu
sou o pior ator vivo e morto.
Tem
gente que não gosta de adjetivo em texto. Eu confesso que não
sei escrever nada sem adjetivo.
Não
tenho medo da morte. Na minha terra, a morte é uma mulher e se chama
Caetana (no sertão da Paraíba e de Pernambuco chamam a morte
de Caetana). E o único jeito de aceitar essa maldita é pensando
que ela é uma mulher linda.
Eu
acho que a morte aparece como mulher aos homens e como homem, com o nome
de Caetano, às mulheres.
Já
me disseram que eu quero colocar a cultura brasileira dentro de uma redoma
de vidro para que ela não se contamine, e isso é bobagem.
Sou a favor da diversidade cultural brasileira. Só não admito
é a influência de uma arte americana de segunda classe.
Eu
não tenho imaginação; eu copio. Tenho simpatia por
mentiroso e por doido. Como sou do ramo, identifico mentiroso logo.
Imaginem
que tédio um lugar só com macho!
Frase
dita em 2005, na ocasião do seu 78º aniversário:
Acho uma façanha chegar aos 78 anos bem-humorado.
O
Brasil tem uma unidade em sua diversidade. A gente respeita a cultura gaúcha,
nordestina, amazônica. O que é ruim é este achatamento
cosmopolita. Você liga a televisão e não consegue distinguir
se um cantor é alemão, brasileiro ou americano, porque todos
cantam e se vestem do mesmo jeito.
Acredito
que toda arte é local, antes de ser regional, mas, se prestar, será
contemporânea e universal.
Os
doidos perderam tudo, menos a razão. Têm uma (razão)
particular. Os mentirosos são parecidos com os escritores que, inconformados
com a realidade, inventam outra.
Todo
mundo diz que cachorro gosta de osso, mas, eu digo que gosta é de
comida, como todo mundo. Se oferecerem osso e filé, qual o cachorro
prefere?
Globalização
é o novo nome do colonialismo, e o gosto médio é uma
peste, é muito pior do que o mau gosto.
Não
sou contra muita coisa que disseram que sou. Já publicaram algo que
eu teria dito, e, aí, vieram me dizer: isso que o senhor disse é
um absurdo. Aí eu respondo: é um absurdo, mas, não
fui eu que disse.
Terceira
idade é para fruta: verde, madura e podre.
Ao
completar 80 anos:
Estão me fazendo um chamego danado; como é que vai ser quando
eu completar 160? É melhor economizar um pouco agora, porque, senão...
Eu
não posso ser naturista nunca; eu como Castro Alves, Casimiro de
Abreu... Na Idade da Pedra, o cavalo vivia 20 anos, e o homem, o ser humano,
também. Hoje, eu já vou com 80, aqui, e o cavalo continua
com 20, e é vegetariano! Grama não dá não!
Eu
tomei café durante muito tempo, mas, por falta de personalidade.
Todo mundo dizia que brasileiro gosta de café, aí, eu tomava,
e me queimava todo. Passei a tomar frio... Achava azedo! Aos 57 anos descobri
que não gostava de cafezinho. E parei de tomar.
Meu
padroeiro é Santo Ariano, um Santo desconhecido, que morreu afogado
(em negócio de água ele não era bom não) mas,
meu pai o admirava, e botou o nome dele em mim.
Aqui
morava um Rei quando eu menino.
Vestia
ouro e castanho no gibão.
Pedra
da sorte sobre o meu destino.
Pulsava
junto ao meu seu coração.
Para
mim, seu cantar era divino,
Quando,
ao som da viola e do bordão,
Cantava
com voz rouca o desatino,
O
sangue o riso e as mortes do sertão.
Mas,
mataram meu pai, desde esse dia.
Eu
me vi como um cego sem meu guia,
Que se foi para o Sol, transfigurado.
Sua
efígie me queima, eu sou a presa.
Ele
a brasa que impele ao fogo, acesa,
Espada
de ouro em pasto ensangüentado.
|
Como
é que eu chego aos Estados Unidos? Não tem problema não;
você vai de posto
em posto ,
que você chega lá.
Ariano:
— Você é daqui do Rio?
Um tal de Walter: —
Sou; mas, nós estamos em São Paulo!
Outro
dia, viajando de avião, eu li: 320 instruções de segurança.
Isto quer dizer que são 320 perigos!
Se
eu fosse dono de avião, eu não botava aquela frase, que eu
acho de um agouro danado: 'Para
flutuar, use o assento da poltrona.'
Ora, eu não vim aqui nadar, não.
Meu
pai, na época, era Presidente do Estado da Paraíba, e eu nasci
no Palácio do Governo. O quarto onde eu nasci está meio desmoralizado:
está cheio de computadores! Eu não tenho nada contra os
computadores; eles é que têm contra mim. Botaram
meu nome no computador. Ariano ele aceitou. Vilar ele não aceitou,
e sugeriu vilão. E Suassuna ele recusou, e sugeriu assassino! Quer
dizer: no computador, meu nome é Ariano
Vilão
Assassino! E ainda acham que eu sou contra os computadores;
eles é que são contra mim.
Quando
eu comecei a escrever, quando eu não sabia o que fazer com o personagem,
eu o matava. No meu primeiro conto – que era curto, rápido
e violento –
havia três personagens. O marido chegava em casa e
encontrava a mulher com um urso. Matava os dois e se suicidava! Não
sobrava ninguém.
Eu
não tenho astúcia nenhuma; eu sou um ingênuo.
Eu
tenho uma grande intimidade com os mentirosos, e eu reconheço um
mentiroso logo na primeira vez. Uma vez, lá no Recife, encontrei
um mentiroso inglês.
Eu nunca havia visto mentiroso
com sotaque!
Meu
apelido, no tempo do colégio, era chocalho. Por quê? Porque
eu falava muito. E ainda hoje falo!
Sobre essa estrada ilumineira e parda
dorme o lajedo ao Sol, como uma cobra.
Tua nudez na minha se desdobra
— ó corça branca, ó ruiva leoparda.
O
Anjo sopra a corneta e se retarda:
seu cinzel corta a pedra e o porco sobra.
Ao toque do Divino, o bronze dobra,
enquanto assolo os peitos da javarda.
Vê:
um dia, a bigorna desses paços
cortará, no martelo de seus aços,
e o sangue, hão de abrasá-lo os inimigos.
E
a Morte, em trajos pretos e amarelos,
brandirá, contra nós, doidos cutelos
e as asas rubras dos dragões antigos.
|
Menino
não é bobo; é inocente. Por isso, é cruel.
Nunca
saí do Brasil. Eu não gosto de viajar de jeito nenhum. De
avião é pior; nem paisagem você vê! Aquelas nuvens
bastas... O tempo todo... Eu não gosto de viajar de nada. Prefiro
ficar aqui. Eu tenho muita vontade de conhecer Portugal, a França
e o norte da África. Mas, só se fosse ali em Alagoas. Para
os Estados Unidos, nem que me ofereçam dinheiro, eu não vou.
A
Disneylândia é um desgosto. Conheci uma mulher que dividia
a Humanidade em duas categorias: quem já havia ido à Disney
e quem não havia. Eu, como nunca fui, me senti desgraçado.
Essa mesma mulher, que tinha três filhos adolescentes, disse: —
Os professores daqui não têm nível suficiente para conversar
com os nossos filhos. Eu só pensei: 'Danou-se. Essa mulher é
mãe de Ruy Barbosa, de Joaquim Nabuco e de Castro Alves.
Se
você quiser me conquistar
você tem que balançar.
Se
você quiser me conquistar
você tem que rebolar.
Uou... Uou...
Uou...
Uou... Uou...
Uou...
Meu
filho: — Papai, mataram John Lennon.
Eu: — Quem é John Lennon? (Hoje, eu sei o nome dele porque
o mataram).
Uma
vez, dei um mote a um cantador [repentista],
“a vida venceu a morte”. Veja o que ele me fez:
Na
vida material, cumpri o sagrado destino.
O filho de Deus Divino nos deu glória espiritual.
Deu o bem tirou o mal, livrando-nos da má sorte.
Pai de seu suplicio forte, como o maior dos heróis,
Morreu para dar vida a nós, a vida venceu a morte.
O
de trás dava banana,
O da frente discursava.
Quanto mais um se “inxiria”,
Mais o outro se encostava.
Atrás ainda tinha um jeito,
Ai, ai, meu Deus,
Na frente é que eu não ficava.
Só
deixando de glosar,
embora seja um defeito,
quem glosa fica sujeito,
a ferir ou melindrar.
Agora eu vou me arriscar,
ofendendo o cidadão,
que com calma e educação,
podia ser meu amigo.
Você diz, mas, eu não digo,
seu joventino é um ladrão.
Às
vezes, as pessoas pensam que sou contra a televisão. Digo: não,
sou contra; é o modo como a estão fazendo. A televisão
é uma coisa maravilhosa, mas, o que tem de arte ali é muito
pouco. Tem noticiário, entretenimento, negócio, e só
de repente aparece uma obra de arte. Em geral, eles só mostram o
que não presta, e, depois, fazem uma enquete e perguntam: o que o
senhor acha dos programas? E as pessoas dizem que gostam do que não
presta. Claro, elas só vêem o que não presta.
Cervantes
não é arcaico nem nunca será. Aquele ali é contemporâneo,
eterno e será sempre para todas as gerações. E o Quixote
ainda hoje é romance de vanguarda. E vai ser até o fim dos
tempos.
A
esquerda não chegou ao poder; a esquerda chegou ao governo, que é
outra coisa muito diferente.
Noturno
Têm
para mim chamados de outro mundo
as noites perigosas e queimadas,
quando a Lua aparece mais vermelha.
São turvos sonhos, mágoas proibidas,
são ouropéis antigos e fantasmas
que, nesse Mundo vivo e mais ardente,
consomem tudo o que desejo Aqui.
Será
que mais alguém vê e escuta?
Sinto
o roçar das asas amarelas
e escuto essas canções encantatórias
que tento, em vão, de mim desapossar.
Diluídos
na velha luz da Lua,
a quem dirigem seus terríveis cantos?
Pressinto
um murmuroso esvoejar:
passaram-me por cima da cabeça
e, como um halo escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo, como um fruto ardente,
a ventania me agitando em torno
esse cheiro que sai de teus cabelos.
Que
vale a natureza sem teus olhos,
ó aquela por quem meu sangue pulsa?
Da
Terra sai um cheiro bom de vida
e nossos pés a Ela estão ligados.
Deixa que teu cabelo, solto ao vento,
abrase fundamente as minhas mão...
Mas,
não: a luz escura inda te envolve,
o vento encrespa as águas dos dois rios
e continua a ronda, o som do fogo.
Ó
meu amor, por que te ligo à morte?
|
Assombração
de cachorro existe e é uma das mais perigosas.
Meu
filho, perdoe esta alma,
Tenha dela compaixão.
Não se perdoando esta alma,
Faz-se é dar mais gosto ao cão:
Por isto, absolva ela,
Lançai a vossa bênção,
Jesus,
Pois minha mãe leve a alma,
Leve em sua proteção.
Diga às outras que recebam,
Façam com ela união.
Fica feito o seu pedido,
Dou a ela a salvação.
Foi
na venda e de lá trouxe
Três moedas de cruzado.
Sem dizer nada a ninguém,
Para não ser censurado,
No fiofó do cavalo
Fez o dinheiro guardado.
Disse o pobre: — “Ele está magro”.
Só tem o osso e o couro,
Porém, tratando-se dele,
Meu cavalo é um tesouro.
Basta dizer que defeca
Níquel, prata, cobre e ouro.
Se
fôssemos julgados pela justiça, toda a nação
seria condenada.
Eu
acho cachorro uma coisa muito melhor do que motor.
Antes
de morrer, tenho um pedido a fazer.
Quero que ela morra primeiro, para eu ver.
Homem,
morra, que o espetáculo precisa continuar!
O
que me desgosta é ver minha imagem refletida em você, uma imagem
profundamente repugnante.
Eu,
pelo contrário, estou me sentindo muito bem. Sinto-me como se minha
alma quisesse cantar.
Padre:
— Eu, por mim, nunca soube o que era preconceito de raça.
Encourado: — É mentira. Só batizava os meninos pretos
depois dos brancos.
Padre:
— Mentira! Eu muitas
vezes batizei os pretos na frente.
Encourado:
— Muitas vezes, não, poucas
vezes, e mesmo essas poucas quando os pretos eram ricos.
Na
verdade, eu pulei três fogueiras: eu tive dois infartes e um aneurisma
estourou no meu cérebro.
Às
vezes, eu tenho uns sonhos que se transformam em Literatura. Tenho um poema
chamado "Sonho" que foi um sonho. E, às vezes, quando não
estou acordado ainda, mas, não estou mais dormindo, é o momento
em que invento muita coisa muito criativa.
Poucos
dias antes de adoecer, eu dei uma entrevista em que me perguntaram se eu
tinha medo da morte. E eu disse: eu não gosto de contar valentia
antecipada, acho que a gente só pode dizer que não tem medo
de alguma coisa depois de enfrentá-la. Agora, até onde eu
vejo, eu não tenho medo da morte. Eu tenho pena de morrer sem ter
realizado certas coisas. Por exemplo: se visse que não dava para
terminar o romance que escrevo, aí teria muito pena de morrer.
O
circo, sua estrada e o Sol de fogo.
Ferido pela faca na passagem,
Meu coração suspira sua dor
Entre os cardos e as pedras da pastagem.
O galope do sonho, o riso doido,
e late o cão por trás desta viagem.
Pois
é assim: meu circo pela estrada.
Dois emblemas me servem de estandarte;
No sertão, o arraial do bacamarte
Na cidade, a favela consagrada.
Dentro do circo há vida, onça malhada
Ao luzir do teatro,
o pelo belo se transforma
num sonho, palco e prelo,
e é ao som deste canto na garganta,
que a cortina do circo se levanta
para mostrar meu povo e seu castelo.
Considero
Eduardo Campos o político mais brilhante que já conheci. Ele
é de uma capacidade de articulação que você não
pode imaginar. Outra coisa: é paciente, é obstinado. Ele tem
todas as qualidades de um político.
Entre
a Dilma e o PSDB, prefiro Dilma. Mas, entre a Dilma e o Lula, prefiro o
Lula.
O
julgamento do mensalão no Supremo foi uma coisa triste. O que acho
triste ali é que, de repente, houve uma crispação desse
problema. Não tenho elementos para provar nem ninguém tem,
mas, a gente sabe que isto não foi inaugurado naquele momento. Estas
práticas existiam em todos os Governos, e tem havido até agora.
Se você não fizer isso, você não governa. Tem
que questionar a própria existência do Congresso. É
bom que exista o Congresso? Eu acho que é. Agora, no Congresso existe
esse tipo de coisa? Existe e vai continuar existindo. Todo mundo sabe que
essa idéia de dois mandatos [compra
de votos no Congresso para aprovar a emenda da reeleição durante
o Governo Fernando Henrique Cardoso] não
foi obtida de graça não.
Eu
estou entusiasmado com esse novo Papa.
Só o fato de ele ter escolhido o nome
de Francisco, vi logo que ele era alguma coisa de novo. Era o que a Igreja
estava precisando. Estou entusiasmadíssimo. Olhe, ele foi o primeiro
Papa jesuíta, o primeiro chamado Francisco e o primeiro papa latino-americano.
Três novidades de uma vez!
Uma
das minhas leituras prediletas é "Guerra e Paz", de Tolstoi.
Eu já a li pelo menos 15 vezes. E, toda vez, quando vou chegando
no fim, eu fico desgostoso. Pelo meu gosto, a obra seria ainda maior.
A
poesia é uma face da minha personalidade à qual ninguém
dá importância, mas, eu dou. Eu acho que a fonte profunda de
tudo o que eu escrevo, inclusive do teatro e do romance, é a poesia.
Minha poesia, diferentemente da prosa, é meio hermética.
Há
uma coisa que a mim não me agrada em "Macunaíma",
que é essa idéia do herói sem caráter. Eu tenho
uma hostilidade especial à essa maneira de ver o povo brasileiro.
Aqui,
no Nordeste, existe um ditado que diz: "A astúcia é a
coragem do pobre."
No
circo, para mim, há duas presenças fundamentais: a do palhaço
e a do mágico. Nos circos da minha infância você tinha
mulheres lindíssimas, que deviam ser horrorosas, mas, eu achava lindíssimas,
não é? As equilibristas eram para mim a equivalência
do que hoje são as bailarinas. Em tudo o que eu escrevo, ainda hoje,
a presença do circo é muito flagrante.
O
cantador
nordestino tem alguma coisa da oralidade do palhaço. Só que
ele fala em verso.
Minha
infância foi ao mesmo tempo atormentada e maravilhosa. Foi um tempo
muito violento para os dois extremos. Eu passei por uma infância muito
tormentosa com os acontecimentos de 1930, quando meu pai foi assassinado.
Agora, ao mesmo tempo, foi uma infância rural, no meu entender, muito
mais feliz e rica do que uma infância urbana, porque eu tinha as caçadas,
que era uma coisa de que eu gostava muito quando era menino. Eu hoje não
caço mais não. Para ser franco, o que eu gostava mais da caçada
era a excursão, era o mato, era encontrar água. Era o encontro
do próprio animal.
Uma
das coisas que estou com horror no Brasil é a tal modernidade liberal.
Deus me livre e guarde de qualquer modernidade liberal. Não tenho
nada a ver com isso; tenho horror a isso. Atualmente, os devotos da modernidade
liberal estão querendo transformar o Brasil nos Estados Unidos de
quarta categoria ou numa Alemanha de terceira. Eu prefiro o Brasil parecido
com a Índia.
Na
Guerra do Golfo, todos os ricos formaram uma aliança de rico contra
pobre. E a luta agora é essa. É a luta das metrópoles
contra as aldeias. As aldeias são o Terceiro Mundo.
Eu
sempre fui socialista, mas, sempre tive horror ao Marxismo. Eu acho o Marxismo
um pensamento estreito, castrador.
A
minha simpatia pelo regime monárquico começou muito cedo,
na infância, através da influência de um tio meu, Joaquim
Duarte Dantas, monarquista e católico. Ele lia para mim trechos e
mais trechos de um livro português escrito por um certo Antero de
Figueiredo, que hoje está meio fora de moda, mas, a quem ele admirava
muito. E o livro de Antero era sobre D. Sebastião. Um dos motivos
que me levavam para a Monarquia era o motivo estético. A Monarquia
é mais bonita do que a República. Plasticamente, pelo ritual,
pela liturgia, por tudo. Então, eu sou um escritor e um artista,
e eu tenho uma natural atração pela beleza, pelas coisas bonitas.
Agora, por outro lado, a própria visão do povo brasileiro
é uma visão mais monárquica do que republicana. Eu
duvido que você, na sua infância, tenha travado conhecimento
com um conto oral que começa assim: era uma vez um presidente da
república. Não é verdade? Sempre se diz: era uma vez
um rei. Mas, enfim, não é que eu tenha abandonado a Monarquia
não. Foi a Monarquia
me abandonou. E eu coloquei a monarquia entre parêntesis.3
Abertura
'Sob Pele de Ovelha'
(Poema
Inédito)
Falso
profeta, insone, extraviado,
vivo, cego, a sondar o indecifrável:
e, jaguar da Sibila – inevitável
meu Sangue traça a rota deste fado.
Eu,
forçado a ascender, eu, mutilado,
busco a Estrela que chama, inapelável.
E a pulsação do Ser, fera indomável,
arde ao Sol do meu pasto – incendiado.
Por
sobre a dor, a sarça do espinheiro,
que acende o estranho Sol, sangue do ser,
transforma o sangue em candelabro e veiro.
Por
isso, não vou nunca envelhecer:
com meu cantar, supero o desespero.
Sou contra a morte e nunca hei de morrer.
|
Eu
tinha três anos quando meu pai foi assassinado, e as primeiras obras
que eu escrevi eram todas trágicas. Eu era todo travado por dentro!
O
mentiroso cria um outro universo; o escritor é a mesma coisa. Eu
tenho uma simpatia por mentiroso danada! Agora, veja bem: por mentiroso
decente!
Todo
mundo tem seu preço:
o interesse, é a Lei eterna!
É quem dirige a cabeça,
a barriga, o peito e a perna!
A ambição é quem comanda!
A cobiça é quem governa!
Nevinha,
deixe de ilusão,
que amizade, na pobreza,
é defeito e complicação!
Sei
não senhora!
Do jeito que pensei, botei!
Precisei da rima,
do jeito que saiu,
eu sapequei!
Ave-Maria!
Vai ser um cu-de-boi dos seiscentos diabos!
Minha
voz é feia, fraca baixa e rouca!
Eu
sou advogado, mas, estudei Direito por falta de opção. Não
estou faltando com respeito aos que estudam Direito por convocação
[convicção],
mas, eu não tinha vocação mesmo. Isto porque, no meu
tempo, só havia três opções: Engenharia,
Medicina e Direito. Quem era bom em conta
de somar ia fazer Engenharia. Não é o meu caso; eu sou horrível.
Eu faço uma conta de somar seis vezes, e obtenho seis resultados
diferentes – todos os seis errados. Quem gostava de abrir barriga
de lagartixa de manhã ia ser médico. Eu não gosto também.
E quem não dava pra nada ia estudar Direito. Era o meu caso. Aí,
me formei, não tinha emprego e fui ser advogado. E fui advogado por
quatro anos. Nunca sofri tanto na minha vida!
Eu
não gosto nem do telefone comum, quanto mais daquela praga –
o celular. O próprio telefone fixo é meio mal-assombrado...
A gente falando com a pessoa sem a pessoa estar perto... E o telefone sem
fio é misterioso demais pra mim. Não gosto não.4
Um
dia, eu estava no escritório do Dr. Murilo Guimarães, onde
eu trabalhava como advogado, e o telefone tocou. Como eu estava perto do
telefone, atendi. Eis o diálogo:
Do
outro lado da linha: — Quem fala?
Ariano:
— Ariano Suassuna.
Do
outro lado da linha: — Desculpe. Não
é pra aí não.
O
telefone tocou outra vez.
Do
outro lado da linha: — Quem fala?
Ariano:
—
Murilo Guimarães.
Do
outro lado da linha: — Como vai você
Murilo?
Ariano:
—
Eu não sou o Dr. Murilo não.
Do
outro lado da linha: — E por que disse que
é?
Ariano:
—
Porque quando eu digo o meu nome o senhor desliga.
Pequena
pausa. E
eu já estava ficando meio atrapalhado. O homem queria falar com o
Dr.
Murilo...
E eu fiquei naquela agonia.
Do outro lado da linha:
— Vá chamar Murilo?
Ariano:
—
Dr. Murilo não está não.
Do
outro lado da linha: — Ele demora?
Ariano:
— Eu
acho que demora.
Ele foi para a Europa.
Do
outro lado da linha: — E por que o senhor
não disse logo?
Ariano:
— Porque
o senhor não perguntou.
Do
outro lado da linha: — E tem algum auxiliar
dele aí?
Ariano:
— Tem.
Do
outro lado da linha: — Quem é?
Ariano:
—
Ariano Suassuna.
Do
outro lado da linha: — O senhor? O
senhor não sabe nem atender telefone, quanto mais resolver um problema
de Direito!
O senhor não dá pra isso não!
Ariano:
—
É mesmo.
Quando
o Dr. Murilo voltou da Europa, eu disse a ele: — Dr. Murilo, eu não
quero mais ser advogado não.
Eu
tenho uma boa memória. Eu tenho uma memória de cachorro vingativo.
Eu
sou católico, mas, não estou dizendo com isto que sou um homem
virtuoso.
Eu
não admito que a inteligência humana tenha evoluído
do macaco ou seja lá de que bicho for. A diferença é
grande demais. E não vou nem dizer a Divina Comédia ou a Nona
Sinfonia de Beethoven... Pra não humilhar os macacos! Um macaco pode
trabalhar quinhentos milhões de anos que não fará jamais
um pregador de roupa! Na
inteligência humana, tem uma Centelha Divina, que não tem bicho
que chegue perto. Tá certo? Macaco já nasce macaco. E gente
já nasce gente. Pode vir a mãe do Papa... Eu sou católico...
Não é não.
No
começo, era tudo molécula... De repente, um grupo de moléculas
enlouqueceu... E virou célula... As células começaram
a nadar... Foram se juntando... E disseram: — 'Este
mundo está muito monótono; vamos virar uma parte macho e outra
fêmea...' Aí, nasceu
um peixe... Um grupo de peixes virou passarinho... Daí, até
chegar à Nona
Sinfonia de Beethoven... Quem pode acreditar nisto?
Minha
mulher, que está ali... Nós namoramos desde o dia 20 de agosto
de 1947... Estamos namorando até hoje... Não acabou nem acaba...
Nem a morte vai...
Eu
adoro os palhaços; eu sou um palhaço frustrado. Eu gosto de
fazer umas molecagens.5
Uma
mulher que escolhe como nome artístico Lady Gaga ou é imbecil
ou é idiota. Mas, isto é contagioso. Já pensou eu virar
Lord Gaga? Isto é triste!
Eu
gosto muito de história de doido. Não sei se é por
identificação, mas, eu gosto muito.
Leitura!
Ô coisa boa!
O
circo chegou! O mundo já melhorava.
Não
podemos perder a crença nem na ordem política nem na ordem
jurídica do País.
Onça
Malhada O Povo Brasileiro.
O que mais me orgulha no Brasil é essa unidade na variedade.
Lampião
[Virgulino
Ferreira da Silva] era um personagem trágico.
Ele não era uma alma pura, mas, não era uma alma pequena e
vulgar. Era uma alma grande. Mas, minha admiração maior é
por Maria Bonita [Maria Gomes
de Oliveira].
Ser
poeta é muito bom. Eu não tenho nenhuma obrigação
com a veracidade. Eu posso mentir à vontade.
A
coisa mais melancólica do mundo é um roqueiro velho! Quando
é jovem, ainda vai, mas, quando envelhece...
Se
eu gasto o adjetivo genial com o Chimbinha [Cledivan
de Almeida Farias, um dos fundadores da Banda Calypso],
o que eu vou dizer de Beethoven?
Eu
sempre tive uma desconfiança de que o Príncipe Charles [Charles
Philip Arthur George, Prince of Wales, 14 de novembro de 1948]
tem mau gosto. Um homem que troca a Princesa Diana [Diana
Frances Spencer, Princess of Wales, 1961 – 1997]
por aquela mulher com quem ele está casado [Camilla
Rosemary Shand Parker-Bowles, Duchess of Cornwall, 17 de julho
de 1947]...
Sou
sertanejo, e como sertanejo sou vingativo. Vingança braba não
faço não; mas, vingança mansa eu faço.
O
por fazer é só com Deus.
Eu
digo sempre que, das três virtudes teologais chamadas, eu sou fraco
na fé e fraco na qualidade, só me resta a esperança.
Eu sou o homem da esperança.
Desculpe
o desarrumado das minhas palavras.
As
Três Virtudes Teologais
Das
três Virtudes Teologais,
a Fé
eu já não tenho mais,
e a 'Sp'rança
nem saudade.
Só
ficou mesmo a Caridade!
Sim,
Fé não me interessa;
eu creio
em mim. Homessa!
A 'Sp'rança
fede a fede-fede;
prefiro
mamão-de-mamede.
Pobre
sonhador que sonha
e que
se deleita na engonha!
Pobre
de quem espera o pior,
e não
luta para mudar a cor!
O
meu Coração é Caridade,
Misericórdia
e Generosidade
por
tudo-todos. Sem-divisão!
Sem-exceção!
Sem-restrição!