APULEIUS
(Pensamentos)

 

 

 

Apuleius

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Apuleius

 

 

 

Este estudo teve por objetivo reunir alguns pensamentos do escritor e filósofo médio platônico romano Lucius Apuleius.

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Apuleius

 

 

 

Lúcio Apuleio (em latim, Lucius Apuleius, Madaura, na atual Argélia, cerca de 125 – Cartago, cerca de 170) foi um escritor e filósofo médio platônico romano.

 

Nasceu em Madaura, pequena, mas, importante colônia romana. Sua família, proveniente da Itália, era abastada e influente: o pai fora cônsul, a mais alta magistratura municipal da Roma Antiga, e deixara aos dois filhos uma consistente herança de quase dois milhões de sestércios.

 

Após os primeiros estudos de Gramática e Retórica, Apuleio se transferiu para Cartago, onde aprofundou seus conhecimentos de Poesia, Geometria, Música e, sobretudo, de filosofia, cujos estudos concluiu posteriormente em Atenas. Interessava-se também pelos ritos esotéricos: em Cartago, pelos mistérios de Esculápio, o correspondente romano de Asclépio, o Deus Grego da Medicina e da Cura, e, em Atenas, pelos mistérios eleusinos.

 

Casou-se com uma viúva rica, Emília Pudentila, e foi acusado pelos parentes de sua esposa de haver utilizado magia para obter seu amor. Defendeu-se através de uma célebre Apologia, que se conservou até os nossos dias. Sua obra mais famosa é Metamorphoseon Libri XI (Onze Livros de Metamorfose), mais conhecida como O Asno de Ouro. Apuleio escreveu também Floridas (fragmentos de discursos) e De Deo Socratis.

 

 

 

Pensamentos Apuleianos

 

 

 

Apuleius

 

 

 

Com cuidado, me lancei ao mar, e me limpei e me purifiquei, colocando a cabeça sete vezes debaixo da água, porque o Divino Pitágoras manifestou que o número setenário era de grande maneira aparelhado para a religião e para a santidade.

 

 

 

 

Com arte mágica, os rios caudalosos tornam para trás, o mar se coalha, os ares morrem, o Sol fica fixo no céu, Lua desponta nas ervas, as estrelas são arrancadas do céu, o dia termina e a noite se detém.

 

Convém saber que, na noite sem sonho, abunde no candelabro azeite e vinho na taça.

 

Aos olhos do Sol e da Justiça, nada se pode esconder. [Aos olhos da Lei da Causa e do Efeito, nada se pode esconder.]

 

 

 

 

Cupido, que é assaz temerário e ousado, com seus maus costumes, menospreza a autoridade pública, e armado com setas e chamas de amor, discorrendo de noite pelas casas alheias, corrompe os casamentos de todos, e, sem pena nenhuma, comete tantas maldades e coisa boa não faz.

 

... enganando a verdade com muitos nomes de amor e caridade...

 

Mas, depois que o fogo cruel do amor se encerrou em suas vísceras, o furioso amor, sem nenhum remédio, a queimava, de tal maneira, que sucumbiu e obedeceu ao cruel Deus do Amor.

 

... rapidamente, mudou seu nefando amor em ódio mortal...

 

A dignidade de nossa Grande Deusa reformou e metamorfoseou, hoje, esta besta em homem. Por certo, ele é bem-aventurado e houve boa sorte, que, pela inocência e pela fé da vida passada, mereceu tão grande favor e ajuda do céu, que quase voltou a nascer hoje de novo, e logo foi dedicado e posto no serviço das coisas sagradas.

 

Nenhuma fé se pode achar entre os vivos. [Por quê? Porque estão vivos, mas, não estão VIVOS!]

 

Finalmente, que achando oportuna ocasião para a maldade que há dias pensava, aparelhou-se a fazer a traição.

 

Com sua malícia acostumada, dissimulando tanta maldade com seu rosto sereno...

 

Nossos inimigos e adversários caíram em tanta ira dos Deuses e em tão grande desterro, que foi maior do que o de Ulisses.

 

Oh!, Sacerdote! Tenha piedade de mim! Pelas estrelas do céu, pelos Deuses da Terra, pelos elementos da Natureza, pelo silêncio da noite, pelo crescimento do Nilo, pela munição e reparo feito pelas andorinhas ao crescimento deste rio perto do Castelo Copto, pelos segredos de Mênfis e pela tromba da Deusa Isis...

 

... festejamos com muito prazer e gritos de alegria ao muito santo Deus da Risada... Onde se levantou tão grande risada, entre todos, que foi com isto celebrada com grande prazer a festa do Deus da Risada.

 

 

 

 

A Providência dos Deuses não permite aos malfeitores ficar sem pena alguma.

 

Basta premeditar um ato punível para ser passível de punição.

 

 

 

 

 

 

 

 

Se você é velhinho como eu, a Margareth e o Drauzio, tome a 3ª dose!

 

 

Deus me deu um pouco de ousadia...

 

Já sabe todo o estado de nossa casa. Também saberá os segredos maravilhosos de minha senhora, pelos quais lhe obedecem os mortos, as estrelas se turvam, os deuses são apressados, os elementos lhe servem...

 

É difícil manter o amor preso.

 

Acabada a fala, tomaram suas taças douradas cheias de vinho puro, sacrificaram-se, saudando um pouco, em memória dos três companheiros mortos, e, depois de cantar certas canções ao Deus Marte, repousaram um momento.

 

 

Marte (um dos Doze Olimpianos) – Deus Grego da Guerra

 

 

... suspeitando que alguma ira e ódio dos deuses celestiais houvesse contra ela... [Desde a mais remota Antigüidade, a Humanidade ignorante tem cismado de achar que os Deuses (por ela fabricados) pensam como ela, agem como ela e têm os mesmos sentimentos que ela, como gostos extravagantes, ódio, amor, ciúme, vingança, prêmio, castigo, facilitação, dificultação...]

 

... ao qual, o mesmo Deus Júpiter teme, todos os outros Deuses se espantam e os rios e os lagos do inferno têm medo.

 

... um vinho que se chama Néctar, que os Deuses usam...

 

Sendo ele um Deus, também fará dela uma Deusa.

 

... ela traz um Deus em seu ventre...

 

... o que nunca Deus queria...

 

O arco e as setas são as armas do Cupido, o Deus do Amor.

 

 

Cupido Adulto

 

 

O Deus Pan é o Deus das Montanhas.

 

De nenhum Deus se devem menosprezar as cerimônias. Antes, devemos procurar sempre ter propícia Sua Misericórdia.

 

E pequei...
E pedi perdão.
E adoeci...
E pedi saúde.
E virei jacaré...
E pedi para desvirar.
E perdi minha mulher...
E pedi outra.
E perdi esta também...
E pedi mais uma..
E meu gato fugiu...
E pedi para achá-lo..
E empobrei...
E pedi riqueza.
E tive sede...
E pedi água.
E tive fome...
E pedi comida.
E tive insônia...
E pedi para dormir.
E fui traído...
E pedi 'vendetta'.
E fui enxovalhado...
E pedi justiça.
E perdi o rumo...
E pedi uma bússola.
E fui tentado...
E pedi resistência.
E perdi a esperança...
E pedi fé e confiança.
E perdi a vida...
E pedi o céu.
E perdi... Perdi... Perdi...
E pedi... Pedi... Pedi...
E não ganhei nada... Nada... Nada...

... até que a cruel ira de tão grande Deusa, como é Vênus...

 

Oh!, soberanos Deuses! Dêem ajuda e favor à meus extremos perigos.

 

... com as preferências dos Deuses... [Ora, somos nós, ignorantes ceguetas, que temos preferências. Como os Deuses (que inventamos) podem preferir alguma coisa? Eles, de fato, nem sequer existem!]

 

... logo começaram a entender em aplacar e sacrificar à Deusa com grande veneração e com grossos animais e sacrifícios. [Oh! Quantos animais de duas patas e de quatro patas já sacrificamos a deuses que não existem! Oh! Quantos animais já foram mortos às custas de crendices esdrúxulas, esquisitas, extravagantes e excêntricas? Oh! Quanto karma já foi produzido às custas de tanta boçalidade sesquipedal?]

 

... menosprezava os Deuses e mentia jurando por Eles...

 

... enquanto eu comia e tragava a meu prazer aqueles manjares que Deus me dava!

 

A Lua é Deusa soberana e resplandece com grande majestade.

 

Venho comovida por seus rogos. Oh, Lucio! Saiba que eu sou mãe e natureza de todas as coisas, senhora de todos os elementos, princípio e geração dos séculos, a maior das Deusas e rainha de todos os defuntos, primeira e única garganta de todos os Deuses e Deusas do céu, que dispenso com meu poder e mando as alturas resplandecentes do céu, as águas saudáveis do mar e os secretos choros do inferno... Os troianos, que foram os primeiros que nasceram no mundo, chamam-me Pesinuntica, Mãe dos Deuses.

 

... e vi os Deuses altos e baixos, cheguei-me perto e os adorei.

 

O Grande Deus e Soberano Pai de todos os Deuses: Osíris.

 

Liberalmente, a providência dos Deuses havia bem provido nos negócios e nas causas de minha advocacia.

 

E neste envolvimento de sua história aparecem e expressam nossos costumes e a imagem de nossa vida continuada, cujo fim e suma bem-aventurança é nossa religião, para servir a Deus e a sua Divina Majestade, para que alcancemos a Sua Glória, para a qual fomos criados.

 

Com seus sacrifícios e oferendas, suplicou ao Deus Apolo que desse casa e marido à triste de sua filha.

 

Teu pranto e tuas orações me moveram para te socorrer.

 

Os egípcios são excelentes em todo tipo de doutrina antiga.

 

Este dia, que virá depois desta noite, será dedicado ao Serviço, por uma Religião Eterna.

 

Você é minha única Luz.

 

Tu não descansas nem estás ocioso em qualquer momento.

 

Meu espírito não é capaz de te louvar o suficiente.

 

Minha voz não tem poder de proferir o que eu penso.

 

A escuridão da noite não faz nada por mim.

 

 

 

 

E penetraram nos pensamentos enfermos... com as espadas desembainhadas da maldade.

 

A familiaridade gera desprezo. Já a raridade produz admiração.

 

Se mantiver meu bom caráter, serei rico o suficiente.

 

Aquele que sabe o que é insanidade é são.

 

A insanidade não pode ser mais sensível de sua própria existência do que a cegueira pode ver a si mesma.

 

A pobreza é a descobridora de todas as artes.

 

A própria Vênus, se fosse ousada, não seria Vênus.

 

Mercúrio não é feito de nenhum bloco de madeira.

 

Nenhuma palavra de reverência ou piedade e nenhuma declaração digna do céu e dos Deuses do céu serão ouvidas ou acreditadas.

 

Eles não amarão mais este mundo que nos rodeia, esta obra incomparável de Deus, esta estrutura gloriosa que Ele construiu.

 

Terá mais quem desejar menos.

 

 

 

 

Quando você começar a Servir à Deusa, então, em um grau ainda mais alto, desfrutará do fruto de sua liberdade. [Servir à Deusa pode ser entendido como Servir à Humanidade.]

 

A vida é como a natação: o homem experiente estará livre de todos os obstáculos. [Experiente = Sábio. Agora, não sei se o Sábio estará livre de todos os obstáculos, mas, de muitos obstáculos, certamente, estará.]

 

E me aproximei dos Deuses do céu, e estive perto Deles e Os adorei.

 

E, assim, Deus trará de volta Seu Mundo ao seu aspecto anterior, de modo que o Cosmos, mais uma vez, será considerado digno de adoração e de admirável reverência, e Deus criador e restaurador desta poderosa estrutura será adorado pelos homens, a partir deste Dia, com hinos incessantes de louvor e de bênção. [Simbolicamente, entendo esta citação como representando o Dia em que nos unificaremos com o Deus de nossos Corações.]

 

Ele chamará de volta ao Caminho Certo aqueles que se extraviaram, e limpará o mundo do mal, ora lavando-o com inundações de água, ora queimando-o com o mais feroz fogo, ora, novamente, o purificando com a guerra e pela pestilência.

 

E esquecemos...
E 'pecamos'...
E desamamos...
E odiamos...
E nos pervertemos...
E nos afastamos...
E, pelo fogo, morremos...
E renascemos...
E 'pecamos'...
E desamamos...
E odiamos...
E nos pervertemos...
E nos afastamos...
E, pela água, morremos...
E, definitivamente, renasceremos.

 

Então, o Mestre e Pai, Deus, o primeiro antes de tudo, o criador daquele Deus que primeiro veio a existir, olhará para o que aconteceu, e deterá a desordem, que contraria a Sua Vontade, que é o Bem. [A desordem (desarmonia) sempre foi-é-será detida pela destruição. Destruição —› Reconstrução. Então, por exemplo, depois desta PanCOVIDmia mortal, eu não tenho a menor dúvida de que uma Humanidade mais solidária surgirá. Aliás, já está surgindo. Mas, os que não puderem acompanhar terão que ser afastados. A Humanidade deve prosseguir, e não há montanha nem abismo que possam impedir.]

 

 

 

 

E, naquele dia, os homens estarão cansados da vida... E assim, a religião será ameaçada de destruição... E os homens pensarão que é um fardo... [Como somos ignorantes, para nós, tudo é um fardo.]

 

E o piedoso será considerado insano, e o ímpio sábio. E o louco será considerado um homem valente, e os perversos serão considerados bons. [É exatamente isto o que caracteriza o Kali Yuga, Era de Ferro, Idade das Trevas ou Idade do Vício, do Conflito, da Discórdia, da Degradação ou da Disputa, que começou à meia-noite de 18 de fevereiro de 3102 a.C., no Calendário Juliano ou 23 de janeiro de 3102 a.C. no Calendário Gregoriano – data em que o Senhor Krishna deixou a Terra. É inevitável que haja escândalo; mas, ai daquele por quem o escândalo vier!]

 

E as trevas serão preferidas à Luz... E a morte será considerada mais lucrativa do que a vida... E ninguém irá levantar os olhos para o céu.

 

O que sabemos é limitado; o que não fazemos é ilimitado.

 

Nunca se pode ver o que se pode sentir.

 

Você até poderá culpar o inocente, mas, poderá condenar apenas o culpado. [Acho que não cabe a nenhum de nós condenar ninguém. Sempre que julgamos alguém, estamos julgando com o nosso conhecimento e a nossa cultura, que são limitadíssimos e tendem para zero.]

 

Somos todos mortais, porém, a Humanidade é imortal. [Na verdade, nós todos somos imortais; por isto, a Humanidade é imortal.]

 

Não há nada no mundo que possa atingir a Perfeição Absoluta.

 

A coragem está no meio entre a arrogância e a timidez.

 

A vida é uma combinação de mel e bile.

 

Para mim, o maior respeito é o respeito por quem eu mais respeito.

 

Aproximei-me dos confins da morte e, tendo pisado no limiar de Prosérpina, voltei dali, sendo carregado por todos os elementos.

 

 

Prosérpina
(de Dante Gabriel Rossetti, 1874, Tate Gallery, Londres)

 

 

A paixão é tenaz como o inferno.

 

Com ouro costumam se abrir até as portas de aço.

 

A primeira taça sacia a sede. A segunda traz alegria. A terceira dá prazer. A quarta é a da insensatez... Eu mesmo, em Atenas, também outras taças bebi: da invenção poética, da clareza geométrica, da suavidade musical, do brando vigor da dialética, mas, sobretudo, a taça inesgotável do Néctar, ou seja, da Filosofia Universal.

 

 

 

 

O que achas, minha irmã, de primeiro despedaçarmos esse homem, como fazem as bacantes, ou de lhe ligarmos os membros e cortar o seu instrumento de virilidade?

 

Que título maior ou mais firme, para receber elogios, que o de glorificar Cartago, cidade em que todos os cidadãos são consumados eruditos, em que as crianças aprendem todo tipo de disciplinas, os jovens se orgulham de seus conhecimentos e os anciãos os ensinam? Cartago, musa celeste da África; Cartago, enfim, Camena do povo que veste a toga.

 

 

Cartago
(Representação artística em seu auge)

 

 

Há que se expressar um canto que seja útil às crianças, aos jovens e aos velhos. Deve-se cantar para milhares de homens, tal como eu faço, agora, cantando um hino referente às virtudes de Orfeu. Hino, quiçá tardio, mas, sincero. Hino tão agradável quanto útil para as crianças, para os jovens e para anciãos de Cartago, aos quais o maior procônsul que já existiu os agraciou com sua indulgência. Moderando suas necessidades e aplicando com discrição seus remédios, [Orfeu] deu às crianças a abundância, aos jovens a alegria e aos velhos a segurança.

 

De maneira honrosa, eu me inspirei em Platão...

 

Nós outros, ao contrário, [por sermos da] família de Platão, conhecemos as alegrias e a serenidade das coisas consagradas, sublimes e celestes.

 

Pitágoras, que passa por ter sido discípulo de Zoroastro e versado na Magia, viveu entre pescadores no Sul da Itália. Comprava peixes aos pescadores e, depois de pagar, devolvia ao mar os peixes que eles apanhavam com a rede. Pitágoras tinha uma erudição pouco comum.

 

Chegaste enfim, Lúcio, ao Porto do Repouso e ao Altar da Misericórdia. Nem teu nascimento, nem teu mérito, nem mesmo a ciência que floresce em ti te serviram. As tentações da verde juventude te fizeram escolher volúpias servis. Tua fatal curiosidade te valeu amarga recompensa. [...] Ladrões, feras, servidão, marchas e contramarchas sobre caminhos aspérrimos, terror cotidiano da morte, de tudo isso que proveito tirou a tua nefanda fortuna? Foste recolhido, agora, sobre a proteção de uma Fortuna clarividente e que Illumina até os outros Deuses com os raios de sua LLuz. [...] Ei-lo, aí está, livre das antigas atribulações, pela Providência da grande Ísis.

 

Pode alguém, que tenha a mais remota lembrança de ritos religiosos, se surpreender com o fato de que um homem que tenha partilhado de tantos Mistérios Divinos, tenha em seu lar certas lembranças dessas Cerimônias Sagradas ou de que ele as envolva com um tecido de linho, que é a mais pura cobertura para objetos sacros?

 

O próprio ato da Iniciação representa uma morte voluntária e uma salvação obtida pela Graça. [Graça Mérito]. [...] De algum modo, Ela [a Deusa] os faz renascer por Sua Providência. O Poder da Deusa atrai para si os mortais que, chegados ao fim da existência, pisam a soleira onde se acaba a luz. [...] De algum modo, Ela [a Deusa] os faz renascer por Sua Providência.

 

Pousando afetuosamente a mão direita sobre o meu ombro, o Ancião me conduziu logo até a porta do imponente edifício, onde, depois de ter celebrado na forma consagrada o rito de abertura do templo, cumpriu o sacrifico matinal. Tirou de um recesso do fundo do santuário livros em que estavam traçados caracteres desconhecidos. Alguns eram figuras de animais de toda a espécie, expressão abreviada de fórmulas litúrgicas. Outros, de traços nodosos ou arredondados, sobre si mesmos como as gavinhas de parreira, subtraíam a leitura do texto à curiosidade dos profanos. De acordo com esses livros, instruiu-me a respeito dos preparativos para a Iniciação.

 

Em plena noite, vi brilhar o Sol, com uma LLuz que cegava.

 

No meio da Casa Sagrada, diante da estátua da Deusa, um estrado de madeira foi erguido. Fui convidado a subir. Em pé, e revestido de um tecido de fino linho, bordado de vivas cores, eu atraía os olhares. [...] Os Iniciados dão a essa roupa o nome de Estola Olímpica. Eu segurava com a mão direita uma tocha acesa e minha cabeça estava cingida por uma nobre coroa de plumas, cujas folhas brilhantes se projetavam para a frente como raios. Assim paramentado, à imagem do Sol, expuseram-me como uma estátua [...] e houve um desfile do povo desejoso de me ver.

 

Não lamentei [...] nem trabalhos nem despesas, porquanto a Providência dos Deuses me procurou por modo assaz liberal pelos ganhos por meio dos estipêndios forenses. [...] Incitou-me [Osíris] sob seu patrocínio, a continuar resolutamente no fórum a carreira de advogado. Que não temesse as maledicências invejosas, provocadas naquele meio por meu trabalho erudito e minha cultura. Por fim, [...] fez-me entrar para o colégio dos seus pastóforos [no Antigo Egito, sacerdote responsável por carregar imagens ou estátuas de Deuses em procissões ou cerimônias religiosas], e me elevou até a classe de decurião quinquenal. Mandei raspar a cabeça completamente, então, e nesse vetustíssimo Colégio, fundado desde os tempos de Sila [...] das minhas honrosas funções me desincumbi com alegria.

 

A vergonha e a honra são como um vestido: quanto mais gasto, mais descuidado você é para com eles.

 

Ou, se isso é mais do que pode suportar tua natural candura e a ternura do teu coração, pelo menos a respeito do teu marido não escutes nada, não respondas nada. Nossa família se acrescenta, gera-se uma criança no teu útero; divina será, se souberes calar e conservar nossos segredos, mortal, se os profanares.

Depois, despertando Psiquê com a inofensiva picada de uma das flechas, disse-lhe: "És vítima, uma vez mais, desgraçada criança, da curiosidade que já te perdeu. Agora vai, acaba a missão de que te encarregou minha mãe. O resto compete a mim."

 

Entretanto, Psiquê, deixada só, que digo? Só? Ela não estava só: as Fúrias a fustigavam. Agitada pelo desgosto, ela é como o mar de águas em turbilhão. Por firme que seja seu plano, por obstinado que esteja seu ânimo, no momento de executar o crime, titubeia ainda, e vacila; sente-se dividida entre emoções contrárias, nela provocadas pela adversidade. Impaciência, indecisão, audácia, inquietação, desconfiança, cólera, e, afinal, no mesmo ser, ela odeia a besta e ama o esposo.

 

Eu te confesso, Psiquê singela, esqueci as ordens de Vênus, minha mãe, que te queria cativa de imperiosa paixão pelo mais ínfimo dos miseráveis, e condenada a uma abjeta união. Fui eu, pelo contrário, que voei ao teu encontro, para ser o teu amante. Era agir levianamente, eu sei. O ilustre sagitário ferido com suas próprias flechas. Afinal, fiz de ti minha mulher, para que me tomasses por uma besta monstruosa, e tua mão cortasse com o ferro uma cabeça onde tu vês olhos que te adoram. Contra isso a que chegamos, não te preveni quanto bastasse. No entanto, quanto ouviste de mim de benévolas advertências! Mas, tuas excelentes conselheiras não tardarão a receber de mim o preço de seu pernicioso magistério. Para ti, minha fuga será a única punição.

 

E sua inconstância passou de um amor nefando a um ódio ainda pior.

 

Se alguma divindade ofendida me persegue com uma vingança inexorável, que me seja ao menos permitido morrer, se não me permitem viver.

 

Do mesmo modo que a famosa Medéia que, tendo obtido de Creon um dia somente de adiamento, consumiu nas chamas lançadas de uma coroa toda a casa do velho rei, sua filha e ele próprio, assim, Méroe, operando sobre uma cova, com ritos sepulcrais, conforme me contou recentemente, num dia em que estava bêbada, manteve todos os habitantes da cidade fechados em suas casas pela força muda das potências divinas.

 

É assim que, neste momento, ela morre de amor por um jovem beócio, de admirável beleza, e movimenta fervorosamente todos os recursos de sua arte, todas as sua máquinas de guerra. Ouvi-a esta tarde, com os meus ouvidos. Porque o Sol tinha sido lento demais para baixar no céu, e não se tinha retirado logo para dar lugar à noite, para ela se entregar aos seus encantamentos, ameaçou o próprio Sol de o envolver num véu de escuridão e de trevas eternas. Ontem, por acaso, quando ela voltava do banho, reparou num moço sentado num salão de barbeiro. Ordenou-me que levasse, às escondidas, seus cabelos que caía sob as tesouras e juncavam o solo [...] Panfília, fora de si, subiu, do outro lado da casa, a um terraço coberto de pranchas, livre, acessível a todos os ventos, de onde a vista abrange o oriente e se estende de outro lado às suas várias direções. Esse lugar se presta como nenhum às suas operações mágicas, e Panfília o freqüenta em segredo. Ela dispôs, então, para começar, o aparelho ordinário de sua oficina infernal, cheia de substancias aromáticas de todo gênero, de lâminas cobertas de inscrições desconhecidas, de velas de navios perdidos no mar. Estavam ali expostos inúmeros fragmentos de cadáveres, já chorados ou mesmo já colocados no túmulo: aqui narizes e dedos, ali cavilhas de forca, com langanhos de carne, além o sangue recolhido de gargantas cortadas, e crânios mutilados arrancados os dentes das feras.

 

Esta segunda classe de magia, a que meus adversários se referem, segundo entendi, é uma prática penalizada pelas leis e está proibida desde os tempos mais antigos pelas Leis das XII Tábuas, devido às misteriosas e nefastas influências que pode exercer sobre as colheitas. É, portanto, uma prática tenebrosa e horrível, que se realiza durante a noite, se oculta nas trevas, evita testemunhos, busca a solidão e murmura seus encantamentos em voz baixa.

 

Além disso, nosso Platão, pouquíssimo ou nada desviado dessa doutrina, muito pensava como Pitágoras. Da mesma forma, também eu mesmo poderia, em nome dele, pelos meus mestres ser adotado, e uma e outra coisa pelas meditações acadêmicas aprendi, não só, quando era necessário dizer, dizer corajosamente, como também, quando era necessário o silêncio, de bom grado me calar.

 

Não é muito astuto da sua parte jogar o peso do seu preconceito por aí, invocando mentiras a respeito de tudo o que é novo para seus ouvidos ou desconhecido para seus olhos, ou, talvez, apenas, porque pareça íngreme para o seu pensamento se agarrar.

 

Ela está carregando oito anos de carga e está tão inchada como se estivesse prestes a dar à luz um elefante.

 

Não considero que nada seja impossível. Seja qual for a forma estranha que o destino ordenou, é assim que tudo vai acabar para aqueles de nós que não são Deuses.

 

 


Não há água de morro acima.
Jabuti não trepa em árvore.
C18H26ClN3 não cura a COVID.
Quem dorme de touca dança.

 

 

Pessoas estúpidas sempre descartam como inverídico tudo o que acontece apenas raramente ou qualquer coisa que suas mentes não possam compreender prontamente. No entanto, quando essas coisas são cuidadosamente investigadas, muitas vezes são descobertas que não apenas são possíveis, mas, que são prováveis.

 

 

 

 

Eu jamais esquecerei como me senti quando ele disse isso [o cavalariço acusou Aristômenes de ter assassinado Sócrates]. Eu tive uma visão do inferno, com o velho cão de três cabeças rosnando avidamente para mim.

 

 

Cérbero
(Na Mitologia Grega, cão de três cabeças
que guarda a entrada do Mundo Inferior.)

 

 

Eu estava curtindo as delícias de um famoso show de gladiadores, quando caí nessa desgraça.

 

Aristômenes, disse ele, você não pode conhecer as curvas escorregadias da Fortuna os ataques inconstantes e a seqüência de reversos.

 

Um de seus amantes se comportou mal com outra pessoa, então, com uma única palavra, ela o transformou em um castor.

 

Por necessidade, suportei pacientemente o infortúnio, e continuei mastigando feno na forma de um asno.

 

Lá somos muito mal avaliados na cidade como viciados na ciência dos feitiços malignos.

 

Por causa de uma crença errônea, compartilhada por todos os ignorantes, acusações falsas são feitas [sempre foram e continuam sendo] contra os filósofos, de modo que uma parte deles, justamente aqueles que investigam as primeiras causas e os princípios constitutivos dos corpos, são tidos como ímpios que negam a existência dos Deuses, como aconteceu com Anaxágoras, Leucipo, Demócrito, Epicuro e com os demais defensores da ordem natural do mundo. Por outro lado, os demais, aqueles que estudam com maior zelo a Providência que governa o Uni[multi]verso e adoram os Deuses com a devoção mais profunda, são chamados magos, no sentido mais vulgar da palavra, como aconteceu, no passado, com Epimênides, Orfeu, Pitágoras e Ostanes.

 

Acredito, como Platão, que assegurava que entre os deuses e os homens existem certos poderes divinos, que lhes servem de intermediários, por sua natureza e pelo lugar que ocupam, e que tais poderes regem todas as manifestações da adivinhação e os milagres realizados pelo homem. [Milagres para os que desconhecem como as Leis Cósmicas funcionam.]

 

Na Grécia, recebi Iniciações na maior parte dos cultos Mistéricos. Conservei ainda, com grande carinho, certos símbolos e recordações destes cultos, que me foram entregues pelos Sacerdotes. Não estou dizendo nada insólito nem desconhecido. Pois bem, eu também, como já disse, conheci, por meu amor à Verdade e minha piedade aos Deuses, cultos de toda classe, ritos numerosos e cerimônias variadas. E não estou inventando esta explicação para me acomodar às circunstâncias.

 

Os Sacerdotes Romanos, sobretudo os pontífices, eram homens de direito e de letras. Os seus textos não constituíam revelações metafísicas, mas, o registro de fatos que pudessem interessar aos atos públicos dos homens e dos Deuses, e a compilação de todos os decretos e respostas dadas pelos sacerdotes: em suma, toda a Jurisprudência Sagrada.

 

Pois, como as lágrimas muitas vezes escorrem pelas bochechas de aquele que vê ou ouve algumas novidades alegres, então eu, estando nesta perplexidade terrível, não pude deixar de rir, para ver como de Aristômenes fui feito semelhante a um caracol em sua concha.

 

Para onde você está levando essa bunda?

 

 

 

 

Levarei a minha bunda
onde houver um senão.
Levarei a minha bunda
onde houver uma imperfeição.
Levarei a minha bunda
onde houver uma tergiversação.
Levarei a minha bunda
onde houver um pancadão.
Levarei a minha bunda
onde houver uma surubada.
Levarei a minha bunda
onde houver íncubos e súcubos.
Levarei a minha bunda
onde houver um 'fudehouse de cagalhufas'.
Levarei a minha bunda
onde houver um 'fudelhufas de cagahouse'.
Levarei a minha bunda
onde houver uma 'fake news'.
Levarei a minha bunda
onde houver uma 'Fata Morgana'.
Levarei a minha bunda
onde houver uma fantasia.
Levarei a minha bunda
onde houver uma quimera.
Levarei a minha bunda
onde houver uma grossa sacanagem.
Levarei a minha bunda
onde houver algum tipo de corrupção.
Levarei a minha bunda
onde houver uma boa rachunchinha.
Levarei a minha bunda
onde houver gente querendo comprar vacina.
Levarei a minha bunda
onde houver tráfico de influência.
Levarei a minha bunda
onde houver advocacia administrativa.
Levarei a minha bunda
onde houver 'insider trading'.
Levarei a minha bunda
onde houver peculato.
Levarei a minha bunda
onde houver malversação.
Levarei a minha bunda
onde houver afilhadismo.
Levarei a minha bunda
onde houver alguma chance de engambelação.
Levarei a minha bunda
onde houver vantagem auferível.
Levarei a minha bunda
onde houver proveito faturável.
Levarei a minha bunda
onde houver moleza garimpável.
Levarei a minha bunda
onde houver ganhuça ganhável.
Levarei a minha bunda
onde houver riqueza sobejável.
Levarei a minha bunda
onde houver escuridão.
Levarei a minha bunda
onde houver um buraco negro.
Levarei a minha bunda
onde houver magia negra.
Levarei a minha bunda
onde houver mentira e degradação.
Levarei a minha bunda
onde houver egoísmo e separatividade.
Levarei a minha bunda
onde houver choro e ranger de dentes.
Levarei a minha bunda
onde houver escândalo e perplexidade.
Levarei a minha bunda
onde houver irreverência e impiedade.
Levarei a minha bunda
onde houver desamor e imisericórdia.
Levarei a minha bunda
onde houver insensatez e loucura.
Levarei a minha bunda
onde houver
aflição, dor e morte.
Levarei a minha bunda
onde houver
desconfiança e cólera.
Levarei a minha bunda
onde houver fogo, inferno e demônios.
Levarei a minha bunda
onde houver tsunami, demolição e afogamento.
Levarei a minha bunda
onde houver mal em potência,
que eu, pela magia, possa transformar em ato.
Levarei a minha bunda
onde houver não-Haver
e onde não houver Haver.
Nasci assim. Sou assim. Morrerei assim.

 

Tudo isto eu vi com os meus olhos.

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:

The Eleusinian Mysteries

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=3MFqGDzttHA

 

Páginas da Internet consultadas:

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Apuleius.jpg

https://www.alamy.com

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https://citacoes.in/autores/apuleio/

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https://www.goodreads.com/author/quotes/7929831.Apuleius

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https://pt.wikipedia.org/wiki/Apuleio

 

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