REFLEXÕES DE ANNE FRANK

 

 

 

Anne Frank

Anne Frank

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Texto

 

 

 

Para quem não conhece, hoje, revisitaremos o Diário de Anne Frank, sob a forma de alguns fragmentos (editados por mim, em alguns casos), escrito por Annelies Marie Frank, mais conhecida como Anne Frank – uma jovem judia vítima do Nazismo, que no dia 14 de junho de 1942, começou a escrever sobre a dramática ocupação na Holanda. O Diário de Anne Frank é uma lição de vida para todos nós.

 

 

 

Breve Biografia de Anne Frank

 

 

 

Annelies Marie Frank, mais conhecida como Anne Frank (Frankfurt am Main, 12 de junho de 1929 – Bergen-Belsen, março de 1945), foi uma adolescente alemã de origem judaica, vítima do holocausto, que morreu em um campo de concentração aos quinze anos de idade. Ela se tornou mundialmente famosa com a publicação póstuma de seu Diário, no qual relatou as experiências do período em que sua família se escondeu da perseguição aos judeus dos Países Baixos. O conjunto de relatos, que recebeu o nome de Diário de Anne Frank (um dos mais famosos símbolos do Holocausto e que Anne Frank batizou de Kitty), foi publicado pela primeira vez em 1947, e é considerado um dos livros mais importantes do século XX.

 

Embora tenha nascido na cidade alemã de Frankfurt am Main, Anne passou a maior parte da vida em Amsterdã, nos Países Baixos. Sua família se mudou para lá em 1933, ano da ascensão dos nazistas ao poder. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o território neerlandês foi ocupado e a política de perseguição do Reich foi estendida à população judaica residente no País. A família de Anne passou a se esconder em julho de 1942, abrigando-se em cômodos secretos de um edifício comercial.

 

Durante o período no chamado anexo secreto (para o qual Anne foi quando tinha treze anos, e que se tornou um famoso museu após a publicação do Diário), Anne escrevia no diário suas intimidades e também o cotidiano das pessoas ao seu redor. E lá permaneceu por dois anos até que, em 1944, um delator desconhecido revelou o esconderijo às autoridades nazistas. O grupo foi, então, levado para campos de concentração. Anne Frank e sua irmã Margot foram transferidas para o campo de Bergen-Belsen, onde morreram de tifo em março de 1945, dois meses antes da libertação da Holanda.

 

Otto Frank, pai de Anne e único sobrevivente da família, retornou a Amsterdã depois da guerra e teve acesso ao diário da filha. Seus esforços levaram à publicação do material em 1947. O diário, que foi dado a Anne em seu aniversário de 13 anos, narra sua vida de 12 de junho de 1942 até 1º de agosto de 1944. É, atualmente, um dos livros mais traduzidos em todo o mundo.

 

Em sua introdução para a primeira edição do Diário americano, Anna Eleanor Roosevelt (Nova Iorque, 11 de outubro de 1884 – Nova Iorque, 7 de novembro de 1962), que foi primeira-dama dos Estados Unidos da América de 1933 a 1945, descreveu-o como um dos mais comoventes e mais sábios comentários sobre a guerra e seu impacto sobre os seres humanos que eu já li. John Fitzgerald Kennedy (Brookline, 29 de maio de 1917 – Dallas, 22 de novembro de 1963), político estadunidense que serviu como 35° Presidente dos Estados Unidos (1961 – 1963), em um discurso de 1961, disse: — De todas as multidões que, ao longo da História, têm falado da dignidade humana em tempos de grande sofrimento e perda, nenhuma voz é mais atraente do que a de Anne Frank.

 

 

 

Reflexões de Anne Frank

 

 

 

A Terra enlouqueceu; há destruição por toda a parte.

 

 

 

Por que e para que é esta guerra? Por que os homens não podem viver em paz? Para que tantas destruições? Por que, todos os dias, são gastos milhões com a guerra, se não há dinheiro para a Medicina, para os artistas e para os pobres? Por que há homens a passar fome, se, em outros continentes, os víveres apodrecem? Por que os homens são tão insensatos?

 

Não acredito que a culpa da guerra caiba exclusivamente aos que governam e aos capitalistas. Não! O homem da rua também tem a sua culpa, pois não se revolta. O homem nasce com o instinto da destruição, do massacre, da fúria, e enquanto toda a Humanidade não sofrer uma metamorfose total, haverá sempre guerras. O que se construiu e cultivou e o que cresceu será destruído, e à Humanidade só resta recomeçar.

 

Os estúpidos adultos deveriam começar a aprender as coisas, em vez de andar a criticar constantemente as crianças!

 

O anti-semitismo é uma injustiça!

 

 

 

 

Gosto da Holanda. Espero que um dia ela me sirva de pátria, a mim, que já não tenho pátria. Tenho esta esperança!

 

Passar fome e todas as privações são preferíveis a sermos descobertos.

 

Os pais somente podem dar bons conselhos e indicar bons caminhos, mas a formação final do caráter de uma pessoa está em suas próprias mãos.

 

Nunca mais recuarei diante da verdade, pois, quanto mais tardamos em dizê-la, mais difícil se torna aos outros ouvi-la.

 

Pureza no Coração... Pureza no pensamento...

 

Apesar de tudo, eu ainda creio na bondade humana.

 

Adormeço com a idéia tola de querer ser diferente do que sou ou de que não sou como queria ser, e de que faço tudo ao contrário.

 

Aquele que é feliz espalha felicidade. Aquele que teima na infelicidade, que perde o equilíbrio e a confiança, se perde na vida.

 

Em cada censura1 há uma ponta de verdade.

 

Muitas vezes tenho ficado abatida, mas nunca me desespero.

 

Eu sinto o sofrimento de milhões de pessoas, mas, ainda assim, quando olho para o céu, de alguma maneira, eu sinto que esta crueldade terminará, e que a paz e a tranqüilidade mais uma vez irão voltar.

 

É difícil viver em tempos como estes. Nossos ideais, nossas esperanças acalentadas e nossos sonhos são esmagados dentro de nós pela realidade sombria.

 

De qualquer forma, talvez, seja a câmara de gás a maneira mais rápida de se morrer...

 

 

E há quem diga que o holocausto não aconteceu!

 

 

Viro o meu Coração do avesso: o lado mau para fora, o bom para dentro. E continuo a procurar um meio de vir a ser aquela que gostava de ser, que era capaz de ser...

 

Aprendi uma coisa: só se conhece realmente uma pessoa depois de uma discussão. Só nesta altura se pode avaliar o seu verdadeiro caráter.

 

Mas, quando uma pessoa está desesperada, poderá lhe valer de alguma coisa pensar nas misérias dos outros?

 

O melhor de tudo é que, pelo menos, posso escrever o que penso e o que sinto; senão, me asfixiaria completamente.

 

Quando escrevo, sinto um alívio. A minha dor desaparece e a coragem volta. Mas, me pergunto: escreverei alguma vez coisa de importância? Virei a ser jornalista? Escritora? Espero que sim, espero de todo o meu coração! Ao escrever, sei esclarecer tudo: os meus pensamentos, os meus ideais, as minhas fantasias.

 

É uma maravilha eu não ter abandonado todos os meus ideais, que parecem tão absurdos e pouco práticos. Se me prendo a eles, porém, é porque ainda acredito, apesar de tudo, que as pessoas têm bom Coração.

 

Que maravilha é ninguém precisar esperar um único momento para melhorar o mundo!

 

Na cama, à noite, enquanto penso em meus muitos pecados e em meus defeitos exagerados, fico tão confusa pela quantidade de coisas que tenho que analisar, que, dependendo do meu humor, não sei se rio ou se choro. Depois, durmo com a sensação estranha de que quero ser diferente do que sou, ou de que sou diferente do que quero ser, ou, talvez, de me comportar diferente do que sou ou do que quero ser. Minha nossa! Agora estou confundindo você também.

 

Amo você com um amor tão grande, que, simplesmente, não pode continuar crescendo no meu Coração. Precisa saltar para fora e se revelar em toda magnitude.

 

O papel tem mais paciência do que as pessoas.

 

Saia, vá para o campo, aproveite o Sol e tudo o que a Natureza tem para oferecer. Saia e tente recapturar a felicidade que há dentro de você. Pense na beleza que há em você e em tudo ao seu redor. Seja feliz. A beleza continua a existir mesmo no infortúnio. Se você a procurar, descobrirá cada vez mais felicidade, e recuperará o equilíbrio. Uma pessoa feliz tornará as outras felizes; uma pessoa com coragem e fé nunca morrerá na desgraça.

 

As pessoas com mais idade já têm opiniões formadas sobre todas as coisas, e já não vacilam, não hesitam perante as dificuldades da vida. A nós – os jovens – é penoso nos mantermos firmes nos nossos pareceres, por vivermos em uma época em que a vida se mostra pelo seu lado mais horroroso, em que se duvida da verdade, do Direito e até de Deus.

 

Não é em imaginação que fico mais calma e que me encho de esperança, mas quando olho o céu, as nuvens, a Lua e as estrelas. É um remédio melhor do que a valeriana2 e o bromo3. A Natureza me torna um ser humilde, me torna capaz de suportar melhor todos os golpes.

 

Para mim, as lembranças são mais importantes do que os vestidos.

 

Para ser franca, não consigo imaginar como alguém poderia dizer "Eu sou fraco" e continuar assim. Se você sabe isto a seu respeito, por que não luta contra, por que não desenvolve o caráter?

 

Os fracos desaparecem, mas os fortes sobrevivem e não morrerão!

 

A gente não faz idéia de como mudou até que a mudança já tenha acontecido.

 

Quero amigos, não admiradores. Pessoas que me respeitem pelo caráter e pelo que faço, não pelo sorriso encantador. O círculo ao meu redor seria bem menor, mas o que importa, desde que fosse composto por gente sincera?

 

Fortuna, fama, tudo podes perder, mas a felicidade do Coração, ainda que por vezes esteja obscurecida, torna a vir enquanto viveres. Enquanto puderes erguer os olhos para o céu, sem medo, saberás que tens o Coração puro, e isto significa felicidade.

 

Uma coisa te vou dizer: se quiseres conhecer bem uma pessoa, terás de te zangar uma vez com ela. Só então é que poderás aquilatá-la.

 

O amor não é coisa que se possa pedir a alguém.

 

Hoje, fazem com os judeus o que há muitos anos foi feito com os escravos. Maltratam-nos, torturam-nos, matam-nos, enfim. O que aconteceu com os escravos, nos tempos antigos, está hoje a acontecer com os judeus. Não poupam ninguém: homens, mulheres, velhos, crianças. Quando estou deitada na minha cama, cama tão quente e confortável, enquanto as mais queridas amigas sofrem lá fora, talvez expostas ao vento e à chuva, mortas até, sinto-me quase má. Tenho medo ao pensar em todas as pessoas às quais tanta coisa me liga e ao me lembrar de que estão entregues aos mais cruéis carrascos que a História dos homens já conheceu. E tudo isto só por serem judeus!

 

 

E há quem diga que o holocausto não aconteceu!

 

 

O homem é grande de espírito, mas mesquinho nas ações.

 

Quando pensamos no próximo, deveríamos chorar. A dizer a verdade, não devíamos fazer mais nada do que chorar.

 

Para se amar uma pessoa, a primeira condição é poder admirá-la – admirá-la e respeitá-la.

 

É mais fácil murmurar os sentimentos do que dizê-los em voz alta.

 

Acho horrível e inconcebível que os adultos se irritem e se zanguem com tanta facilidade, e por causa das mais insignificantes bagatelas. Até há pouco tempo, eu julgava que só as crianças se zangavam, e que isto, mais tarde, já não aconteceria. Já se vê que, por vezes, existem motivos para grandes discussões. Mas, eles se ofendem uns aos outros constantemente com palavras veladas, e isto se torna insuportável.

 

Bem sei que tenho muitos defeitos e fraquezas...

 

E apesar de rir e de fingir que não me importo, eu me importo sim. Há dias que eu gostaria de ser diferente, mas isto é impossível. Estou presa ao caráter com o qual nasci, e mesmo assim tenho certeza de que não sou má pessoa. Faço o máximo para agradar a todos, mais do que eles suspeitariam em um milhão de anos.

 

Tenho pena de não poder modificar as coisas.

 

Quando uma pessoa ferve, quase já perdeu o jogo de antemão.

 

A partir de 1940, foram-se acabando os bons tempos. Primeiro veio a guerra, depois a capitulação, em seguida a entrada dos alemães. E, então, começou a miséria. A uma lei ditatorial seguia-se outra; e, em especial para os judeus, as coisas começaram a ficar feias. Obrigaram-nos a usar a estrela e a entregar as bicicletas. Não nos deixavam andar nos carros elétricos e muito menos de automóvel. Os judeus só podiam fazer compras das 3 às 5 horas, e só em lojas judaicas. Não podiam sair à rua depois das oito da noite e nem sequer ficar no quintal ou na varanda. Não podiam ir ao teatro nem ao cinema, nem freqüentar qualquer lugar de divertimentos. Também não podiam nadar nem jogar tênis ou hóquei, nem praticar qualquer outro desporto. Os judeus não podiam visitar os cristãos. As crianças judaicas eram obrigadas a freqüentar escolas judaicas. Cada vez saíam mais decretos...

 

 

 

 

No amor ninguém manda.

 

Goza a tua liberdade enquanto for possível.

 

Há pais a quem parece dar prazer especial não só educar os seus próprios filhos, mas, também, os filhos dos outros.4

 

Somos obrigados a falar muito baixinho. Mas, não falar mesmo nada e ficar sentada todo o dia sem me mexer, acho que é dez vezes pior!

 

Gente inocente é presa. Se em qualquer parte se dá uma sabotagem e os autores não são encontrados, simplesmente fuzilam alguns reféns. Depois, publicam a notícia no jornal. E lembrar de que também já fui alemã! Hitler tirou-nos a nacionalidade há muito. Entre aquela espécie de alemães – os hitleristas – e os judeus existe uma inimizade como não pode haver mais forte em todo o mundo!

 

Em tudo, sou o contrário da mãe e, por isto, é inevitável que nos choquemos. Não estou a criticar o seu caráter, pois isto não me compete. Vejo-a apenas como minha mãe. E ela, para mim, não é a mãe que idealizei. Parece que tenho de ser eu própria a minha mãe. Quem sabe aonde chegarei um dia? Na minha imaginação, vejo o ideal de mulher e de mãe, mas naquela a que tenho de dar o nome de mãe nada disto encontro.5

 

Tenho de me aperfeiçoar sozinha, sem exemplo e sem ajuda. Só assim, um dia, hei de ser forte e resistente. Tenho os meus ideais, o meu modo de pensar e os meus planos, embora ainda me falte a capacidade de traduzir tudo isto em palavras.

 

Às vezes, não posso mais!

 

 

 

 

Sempre há motivos para sermos otimistas.

 

A verdade é que, se transformarmos o nosso esconderijo em uma casa de luto, se ficarmos sempre melancólicos, não adiantaremos nada, nem para nós nem para os que lá fora sofrem.

 

Sinto um vácuo enorme dentro de mim.

 

Com o tempo, tudo se torna monótono.

 

É curioso ver as pessoas a correr! Parece que estão sempre com pressa, quase que tropeçam nos seus próprios pés!6

 

Não quero ter vivido inutilmente, como a maioria das pessoas. Quero ser de utilidade e alegria para as pessoas que vivem à minha volta e para as que não me conhecem.

 

Durante horas, ouço falar a fio sobre a miséria que esta guerra trouxe, e fico cada vez mais triste. Não temos outro remédio senão esperar, calma e serenamente, o fim de tanta infelicidade. Esperam os judeus, esperam os cristãos. Esperam os povos de todo o Mundo... Mas muitos esperam só pela morte!

 

Comemos tantas vezes feijão branco, que já não posso vê-lo à minha frente, e fico enjoada só de pensar nele.

 

 

A Dança dos Feijões

 

 

O rádio transmite este repugnante teatro de marionetas. Dá quase a idéia de que os soldados têm orgulho das suas feridas: quanto mais feridas, melhor. Um deles, a quem o Führer consentiu em apertar a mão – caso ainda tivesse alguma – nem conseguiu falar!

 

Soldado: — Meu nome é Heinrich Scheppel!
Führer
: — Onde você se feriu?
Soldado: — Em Estalingrado.
Führer
: — Que feridas tem?
Soldado: — Perdi os dois pés por causa do frio e fraturei o pulso esquerdo.

 

 

Herr Adolf e Adolfinho Marionette

 

 

Nunca terei medo da verdade. É sempre melhor não adiar o que se tem a dizer.

 

Quando há uma comida de que não gosto, imagino que aquilo é muito bom, finjo mesmo que assim penso, e antes que consiga refletir, já engoli tudo.7

 

Há uma semana que não sabemos as horas exatas, porque levaram o nosso tão querido e fiel sino da Torre Oeste. Supomos que querem transformá-lo em um canhão!

 

Descascar batatas não é uma brincadeira, mas, sim, um trabalho de precisão.

 

Tac, tac, tac! Bater três vezes é sinal de que o jantar está pronto!

 

Here follows the best news of the whole war. Italy has capitulated! A Itália capitulou incondicionalmente!

 

Ai, se eu pudesse rir, só uma vez, rir de todo o coração, seria melhor remédio do que dez dessas pastilhas brancas de Valeriana Dispert.

 

Todos aguardam o inverno com medo... Quem me dera estar longe daqui! Quem me dera poder fugir!

 

Há ocasiões em que me esqueço de quem são os que andam zangados uns com os outros e quem são os que já fizeram as pazes. A única distração é o trabalho, e eu trabalho muito!

 

Ando por toda a casa, de um quarto para o outro, escada acima, escada abaixo. Sinto-me como um pássaro a quem cortaram as asas, e que bate contra as grades da gaiola estreita.

 

Quero sair. Sair daqui, para o ar livre; quero poder rir à vontade! Não há resposta! Mas, sei que esses gritos não têm poder, e deito-me na cama para matar estas horas tão terrivelmente silenciosas e cheias de angústia.

 

A ingratidão é a paga de muita gente.

 

Abro os cortinados escuros... e um novo dia começa no Anexo!

 

Eu só posso clamar e suplicar: — Oh!, círculo! Oh!, círculo! Alarga-te e abre-te para nós!

 

A minha caneta foi cremada, precisamente como eu queria que um dia me fizessem!

 

Não posso remediar o mal que as pessoas fazem.8

 

No Natal, vamos receber uma ração suplementar: azeite, doces e geléia de nabo9 para pôr no pão.

 

Quando poderemos ir lá para fora e respirar o ar e a liberdade?

 

Os dias de Natal passaram tão depressa!

 

Quando as pessoas são obrigadas a viver juntas durante muito tempo acabam por ter conflitos.

 

Deve haver razões para não nos confiarmos inteiramente, mesmo àqueles que nos são mais queridos.10

 

Porque se fala das coisas sexuais em segredo e de uma maneira tão feia?

 

O mundo não parará por minha causa, e eu, pela minha parte, não posso também fazer parar os acontecimentos. Venha o que vier. Entretanto, estudo, trabalho e tenho esperança de que tudo acabará em bem.

 

O Sol brilha... O céu é de um azul intenso... Sopra um vento maravilhoso... E eu... Eu tenho saudades! Saudades da liberdade... Saudades dos amigos... Saudades de poder desabafar... Saudades de estar só comigo... Saudades de tudo. Só sei que tenho saudades.

 

Ai!, se eu pudesse chorar à vontade, uma vez só que fosse. Queria aliviar o meu coração, queria chorar para me sentir melhor, mas sei que não pode ser.

 

Enquanto ainda houver um Sol tão brilhante, um céu sem nuvens e tão azul, e enquanto me é dado ver e viver tamanha beleza, não deverei ficar triste. Para qualquer pessoa que se sinta só ou infeliz ou que esteja preocupada o melhor remédio é sair para o ar livre, ir para qualquer parte, onde possa estar só com o céu, com a Natureza e com Deus. Então, compreenderá que tudo é como deve ser, e que Deus quer ver os homens felizes no meio da Natureza, simples e bela. Enquanto assim for – e julgo que será sempre assim – sei que haverá uma consolação para todas as dores e em todas as circunstâncias. Creio que a Natureza alivia os sofrimentos.

 

Ao olhar lá para fora e ao reconhecer Deus em a Natureza, senti-me feliz, apenas feliz.

 

... comecei a sentir uma ânsia sem limites de tudo o que é bom e belo.

 

Vai. Procura os campos, a Natureza, o Sol. Vai. Procura a felicidade em ti e em Deus. Pensa no que é belo, e no que se realiza em ti e à tua volta. Sempre. E sempre de novo.

 

Há traidores que levam gente às prisões. Contudo, felizmente, são poucos os holandeses que estão do lado mau.

 

Não quero ficar insignificante. Quero conquistar o meu lugar no mundo e trabalhar para a Humanidade. O que sei é que a coragem e a alegria são os fatores mais importantes na vida! Mas, não sei explicar o porquê.

 

O trabalho, a esperança, o amor e a coragem me fazem agüentar, e me tornam boa e feliz.

 

O silêncio nos faz tão bem!

 

Há sempre uma luta entre o coração e a razão. Cada um deles fala no momento próprio. Mas saberei eu, com certeza, qual será o momento próprio?

 

Sinto falta de qualquer coisa mais autêntica. E eu tenho a certeza de que esta coisa existe.

 

Uma consciência tranqüila nos torna fortes!

 

A autocontemplação nunca me larga. Não posso pronunciar uma palavra sem pensar logo em seguida: 'devia ter dito isto de outra maneira' ou 'foi bem dito. Muitas vezes, condeno os meus atos, e reconheço cada vez mais a verdade das palavras de meu pai: 'Cada criança deve se educar a si própria.

 

Os outros só nos podem dar conselhos ou nos indicar o caminho a seguir, mas a formação definitiva do caráter está nas próprias mãos de cada indivíduo.

 

A Natureza me torna um ser humilde, e me faz capaz de suportar melhor todos os golpes. É, no entanto, inevitável que eu só a possa contemplar – e, mesmo assim, excepcionalmente – através das janelas sujas com cortinas cheias de pó, o que diminui o meu prazer, pois a Natureza é a única coisa que não pode ser imitada ou substituída.11

 

Um pouco de esperança! Esperança do fim. Esperança da paz!

 

Deus não me abandonou, e não haverá de me abandonar.

 

Que venha o fim, mesmo que seja duro, mas, ao menos, que fiquemos a saber se vencemos ou se morremos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Aqui, há uma tríplice questão: 1ª) Quem pode censurar quem? 2ª) Quem pode censurar o quê? Censurar para quê? Bem, pode até ser que em cada censura haja uma ponta de verdade, mas, em cada censura, há, muitas vezes, também, uma ponta de preconceito. A percepção interna das coisas e a representação dos objetos são pessoais, logo, não temos o direito de censurar ninguém. Enfim, foi exatamente por isto que nasceu (e ainda existe) a aversão aos semitas, especialmente aos judeus.

2. Da Valeriana officinalis (um gênero de planta herbácea perene da família das valerianáceas) são preparados medicamentos fitoterápicos de efeito ansiolítico, tranqüilizante, calmante e até anticonvulsivante.

3. Alguns compostos do bromo (Br) têm sido empregados no tratamento contra a epilepsia e como sedante. Mas, o bromo é altamente tóxico. Em pequenas quantidades (10 ppm), tanto por via dérmica como por inalação, o bromo poderá causar problemas imediatos de saúde ou até morte. É muito irritante tanto para os olhos como para a garganta; em contato com a pele ocasiona inflamações dolorosas. O manuseio impróprio do bromo pode provocar um sério risco para a saúde, requerendo máxima precaução de segurança ao ser manipulado. No milênio passado, em 1967, quando, como estagiário, para completar meu curso de técnico em Química na Escola Técnica Rezende-Rammel, trabalhei no Laboratório Geral na fábrica das Tintas Ypiranga, no Rio de Janeiro, de vez em quando, eu tinha que quebrar (na capela) uma ampola de bromo para preparar água de bromo. Apesar de nunca ter acontecido nada de grave, acho que este foi o tempo mais perigoso e mais maçante que vivi como químico. Perigoso por causa do bromo; maçante porque era eu que, diariamente, analisava todos os vernizes da fábrica; entrava semana, saía semana, era sempre a mesma coisa (índice de iodo, índice de acidez, viscosidade, sólidos totais e sei lá mais o quê). Eu não tenho nada contra a empresa, pelo contrário; mas, quando saí de lá (demitido sem justa causa), adorei: tive a sensação de que estava flutuando no ar. Verniz nunca mais!

 

água de bromo

 

4. Esta é uma maniazinha estuporada que temos todos que evitar: nos metermos na vida dos outros. Precisamos aprender que, se as nossas culturas são diferentes, os nossos sentimentos, as nossas expectativas e as nossas perspectivas são igualmente diferentes. Logo, ninguém convence ninguém. De nada; principalmente quando opinamos sem que peçam a nossa opinião. E o pior: acabamos por nos tornar antipáticos. Mais um bocado de hortaliça... Hortaliça faz bem à saúde... Faça como o Popeye, que, quando come espinafre, fica muito mais forte e confiante, podendo vencer qualquer desafio.


 

Popeye

 

 

5. Por virem depois dos pais, os filhos, geralmente, como diz Anne Frank, idealizam-nos de maneira diferente. É o que costuma ser denominado de choque de gerações, mas eu prefiro nomear de desconformidade cultural. Talvez, também, um pouco ou muito de desconformidade espiritual. É o que acontece com a Geração Y, também chamada Geração do Milênio ou Geração da Internet (em Sociologia, conceito que se refere, segundo alguns autores, aos nascidos após 1980, e, segundo outros, de meados da década de 1970 até meados da década de 1990, sendo sucedida pela geração Z – nascidos a partir da segunda metade da década de 90 até os dias de hoje) e seus pais ou parentes próximos. Esta geração se desenvolveu em uma época de grandes avanços tecnológicos e de prosperidade econômica. Os pais, não querendo repetir o abandono das gerações anteriores, encheram-nos de presentes, atenções e atividades, fomentando a auto-estima de seus filhos. Eles cresceram vivendo em ação, estimulados pela independência e fazendo múltiplas tarefas. Acostumados a conseguir o que querem, não se sujeitam às tarefas subalternas de início de carreira, e lutam por salários ambiciosos desde cedo. É comum que os jovens desta geração (Y) troquem de emprego com freqüência em busca de oportunidades que ofereçam mais desafios e crescimento profissional. Uma de suas características atuais é a utilização de aparelhos de alta tecnologia, como, por exemplo, telefones celulares de última geração, os chamados smartphones (telefones inteligentes), para muitas outras finalidades além de apenas fazer e receber ligações, como é característico das gerações anteriores. Nisto, confesso, eu estou na Idade da Pedra, pois, o meu celular, que já tenho há alguns anos, é um Samsung dos mais burros que existe no mercado – um legítimo dumbphone: ele só chama e recebe ligações. O legal é que ele cumpre o seu dever com exação e não quebra! E até hoje eu nem troquei a bateria! Também, pudera! Ele fica mais desligado do que ligado!

 

 

6.

 

Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para arrumar um dinheiro?
Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para se tornar trapaceiro?

Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para, na bolsa, especular?
Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para depois se encalacrar?

Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para dar uma cafungada?
Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para pagar uma viajada?

Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para desabonar e acusar?
Pressa? Homessa! Sem essa!

Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para conquistar a prenda?
Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para granjear a comenda?

Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para de compressa trocar?
Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para, depressa, se safar?

Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para rechaçar o Coração?
Pressa? Homessa! Sem essa!
Pressa para lamentar a solidão?

Pressa só produz mais pressa,
e acabamos esquecendo da Vida.
Se dói, fazemos uma promessa;
mas, isto não cicatrizará a ferida.

Ora! Pressa? Por quê? Para quê?
Para dar com os burros n'água?
Pressa é uma espécie de cutiliquê, 
própria só de quem é bebe-água.

Mas, devagar também é pressa.
Entretanto, é preciso ter cuidado
para não cair na corrente revessa,
e acabar empacotando afogado.

 

7. Não sei por quê, mas me lembrei da Autopsicografia, de Fernando Pessoa, poema publicado in Presença, nº 36, em novembro de 1932:

 

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

 

8. Remediar significa tornar mais suportável ou aceitável, atenuar, minorar. Sim, de certa forma, podemos amenizar as coisas, mas, a melhor maneira, se soubermos como fazer, é aplicar a Lei Mística da Assunção. Esmolar é bom, mas, adianta pouco. Seja como for, quem não tem cão deve caçar mesmo como o gato. O que não devemos é não fazer nada. Sempre é bom dar uma ajudinha.

9. Geléia de nabo? Tenha a santa paciência! Nunca ouvi falar nisto nem posso imaginar como possa ser. Eu tenho verdadeiro horror a nabos e a nabiças, apesar de saber que têm alto teor de vitamina A, de vitaminas do complexo B e de vitamina C, e que suas fibras contribuem para regularizar o funcionamento intestinal. Mas, o fato é que nunca fui apresentado a um nabo que não cheirasse a pum podre. Geléia de nabo? Agora senti mais pena ainda de Anne Frank. Acho que só se comeu esta geléia crucífera durante a Segunda Grande Guerra. Acho mais: quem inventou os nabos e as nabiças devia estar de muito mau humor.

 

 

 

 

10. Por pudor, ninguém diz tudo; nem para si mesmo nem para o analista. É por isto que a análise ajuda só até um certo ponto.

11. Não é só a Natureza a única coisa que não pode ser imitada ou substituída. Há outras coisas que não podem ser imitadas nem substituídas. Uma delas é a nossa personalidade-alma. Mas, talvez, a mais importante de todas seja o próprio Universo, que não pode ser imitado nem pode substituído por outro. Desde sempre, em perpétuo movimento e perpétua mudança, o Universo é o que é, porque – ora como mânvântâra, ora como prâlâya – sempre foi e sempre será o que agora é. Bem, reconheço que falar em perpétuo movimento e em perpétua mudança é meio redundante, pois, como poderia haver mudança sem que houvesse movimento? Em um certo sentido, toda mudança deriva de um movimento.

 

 

 


 

Páginas da Internet consultadas:

http://thedukeofpeckhams.tumblr.com/
post/16972615968/nice-skull-gif

http://netanimations.net/moving_animated
_fire_explosion_animations.htm

http://en.wikipedia.org/wiki/Anne_Frank

http://en.wikiquote.org/wiki/Anne_Frank

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http://pensador.uol.com.br/
frases_de_anne_frank/2/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bromo

http://pensador.uol.com.br/autor/anne_frank/

 

Música de fundo:

Lili Marleen (gravação de 1939)
Composição: Hans Leip (letra) & Norbert Schultze (música)
Interpretação:
Lale Andersen

Fonte:

http://archive.org/details/LaleAnderson-91-100

 

Observação:

Lili Marleen é uma canção de amor alemã que se tornou popular durante a II Guerra Mundial. Escrita em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, o poema foi publicado sob o título Das lied eines jungen soldaten auf der wacht, em 1937, e foi gravado pela primeira vez por Lale Andersen, em 1939, sob o título Das mädchen unter der laterne. Após a invasão nazista da Iugoslávia, a música foi tocada com freqüência no rádio para entreter as forças armadas alemãs, e acabou se tornando popular em toda a Europa e no Mediterrâneo entre os soldados das Potências do Eixo (Eixo Roma-Berlim-Tóquio – aliança firmada em 1936 entre a Alemanha nazista, a Itália fascista e o Japão por ocasião da Segunda Guerra Mundial) e as tropas aliadas. Os Aliados da Segunda Guerra Mundial foram os países que se opuseram às Potências do Eixo. A União Soviética, os Estados Unidos e o Império Britânico eram as principais forças.

 

Direitos autorais:

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