Em todos nós, há o constante desejo de nos divertirmos, de nos entretermos, de fugirmos de nós mesmos, [de nos anestesiarmos]. Temos medo de estar sós, desacompanhados, privados de distrações. De fato, vivemos tolhidos por uma estúpida rotina. No fundo, temos medo de estar sós – nós conosco. Eis a razão da existência desta enorme estrutura de diversão comercializada, de distração automatizada, que se tornou parte tão relevante desta coisa que chamamos civilização. Tudo isto porque, interiormente, somos vazios, embotados, medíocres, e nos servimos das nossas relações e das reformas sociais como meios de fugir de nós mesmos. E, para fugirmos à solidão, corremos para os templos, para as igrejas, para as mesquitas, [para os smartphones], vestimo-nos a rigor para assistir a solenidades sociais, vemos televisão, ouvimos rádio, lemos etc. E a nossa vida acaba se tornando uma interminável busca de distrações [anestesiadoras]. Mas, é preciso transcender o medo da solidão, porque é além que se encontra o Verdadeiro Tesouro. Então, há uma enorme diferença entre solidão e "estar só". "Estar só" é um estado de liberdade, de não depender psicologicamente de ninguém [nem de nada], que surgirá depois de termos passado pela solidão e de a termos compreendido. Apenas a mente que está completamente só é criadora. Enfim, se fugirmos da solidão, jamais a compreenderemos, e ela estará sempre à nossa espera, em cada curva do caminho. Mas, os que estão interiormente sós, aqueles cuja mente e cujo Coração estão livres da dor da solidão, é que são os indivíduos reais, porque são capazes de descobrir, por si próprios, o que é a Realidade e de conhecer o Atemporal. [In: A Cultura e o Problema Humano (título do original: This Matter of Culture), de autoria de Jiddu Krishnamurti.]
— Lá, no velho parquinho,
aflito e sozinho,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
na roda-gigante.
— Na platônica caverna,
sem uma lanterna,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
com os bruxuleios.
— Em um eremitério,
que fiz de alexetério,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
ajoelhado no milho.
— No Caminho de Santiago,
tranqüilo e tardívago,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
não saindo do lugar.
— No frio calabouço,
de medo ricouço,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
feliz comigo mesmo.
— No quente deserto,
o céu encoberto,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
comendo umas tâmaras.
— Em Copacabana,
terra de bacana,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
paquerando umas prendas.
— Em uma procela,
caguei minha rodela,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
escondido no armário.
— Lá, no Pantanal,
um frio infernal,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
com uma anaconda.
Anaconda
— No Pólo Norte,
esperando um transporte,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
com um urso-polar.
— Em Tell el-Amarna,
Aton na lucarna,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
pensando em Akhnaton.
Akhnaton
— Em um disco voador,
abduzido sem dor,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
com um ultramundano.
Intramundano
— Na curva do caminho,
piou um estorninho,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
bodocando o passarinho.
— Nesta Pancoronamia,
pobre de alegria,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
flexibilizando na padaria.
Fique em casa! Fique em segurança!
— Na padaria da esquina,
entupido de cloroquina,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
comendo um sonho.
— No nobre terreiro,
na cuca, cerveja,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
num frege-moscas.
— Na hedionda guerra,
que um dia foi jerra,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
matando inimigos.
— Na sonhada paz,
que não fui capaz,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
burlando amigos.
— No antigo hospital,
me sentindo mui mal,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
com uma enfermeira.
— No odontologista,
que era comunista,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
não abrindo a boca.
— Em um beco escuro,
totalmente inseguro,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
fechando os olhos.
— Lá, em Pasárgada,
na casa da Hermengarda,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
subindo num pau-de-sebo.
— Lá, em Sucupira,
de onde dei logo o pira,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
inaugurando o cemitério.
— Em um certo velório,
final abolitório,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
esmigalhando baratas.
— Na missa de 7º dia
dum cadáver ventania,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
tirando meleca.
— Lá, em Brasília,
ódio tamanho-família,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
foguetando o STF.
Supremo Tribunal Federal
(Não há ataque maior à Democracia
do que desrespeitar e agredir o STF)
— Na minha casa,
rogando uma grasa,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
me mortificando.
— No Rio de Janeiro,
garrido e faceiro,
fugindo de mim mesmo
e ignorante da Lei,
eu me anestesiei
na Vila Mimosa.
— Já no Silêncio,
em Santo Silêncio,
encontrei a mim mesmo.
E, repleto de Amor,
ouvi meu Deus Interior.
Foi o fim da solidão!
— Com-tudo-com-todos,
anodos e catodos,
transmutei a maldade,
ultrapassei a Saudade
e senti a Unicidade.
E recebi a 1ª Iniciação!
Música de fundo:
E.T. the Extra-Terrestrial
Composição: John WilliamsFonte:
http://free-loops.com/5553-et-movie-theme.html
Páginas da Internet consultadas:
https://br.pinterest.com/pin/766597167811769393/
https://www.bahrainthisweek.com/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Aquen%C3%A1ton
https://michigansup.fandom.com/wiki/
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