ANDANDO
POR COPACABANA
Rodolfo
Domenico Pizzinga
Copacabana
Oh!,
formosa Copacabana!
Tuas areias, teu céu tão
lindo...
Tuas sereias sempre sorrindo...
O
carioca sempre acudindo!
Andando
por Copacabana,
vi
o
Sol nascente aparecer,
o Sol
poente se esconder,
o Sol
das almas arrefecer.
Andando
por Copacabana,
vi
a
Lua o mar ornamentar,
dois apaixonados
suspirar,
uma estrela
cadente flutuar.
Andando
por Copacabana,
vi
Carlos
Drummond poetar,
Caymmi
Das Rosas
cantar,
o inzoneiro
Ary Aquarel[iz]ar.
Andando
por Copacabana,
vi
miseráveis
abandonados,
macróbios
à sorte largados,
mil Corações enamorados.
Andando
por Copacabana,
vi,
no
sinal, um cara parar.
O guarda
foi logo avisar:
—
Bota o cinto ou vou multar.
Andando
por Copacabana,
vi malabaristas
nos sinais
a malabarizar
(para os pais).
Aqui e
ali, sei-lá,
alegria, ais.
Andando
por Copacabana,
em um
vaivém de anoiteceres.
Talvez,
para pagar alugueres!
Andando
por Copacabana,
vi uns
cafifas atemorizando,
putos
e descuidistas afanando,
engazopadores
engazopando.
Andando
por Copacabana,
vi –
em primeiríssima mão –
uns pivetes
a fazer arrastão,
e alguém
ficar sem o calção.
Andando
por Copacabana,
vi arremedarem
um alfacinha,
gente
rumorejando sozinha,
a contar
boró$ um casquinha.
Andando
por Copacabana,
vi um
pitosga que piscava,
um sem-calça
que mijava,
um pichador
que pichava.
Andando
por Copacabana,
vi a Lei
Seca desmolhando,
um borracho
se explicando,
um sem-brio
alavercando.
Andando
por Copacabana,
vi um
religioso conclamando,
um herege
menoscabando,
um tolerante
só observando.
Andando
por Copacabana,
vi um
balofo tirando meleca,
um magriço
tocando rabeca,
um nanico
coçando a creca.
Andando
por Copacabana,
vi um
padreca sem cercilho,
um banguela
a comer milho,
um sem-picas
maltrapilho.
Andando
por Copacabana
–
sem dar bola para o cana –
vi um
bem-ajambrado bacana
dando
um tapa na marijuana.
Andando
por Copacabana,
misturada,
mas branquinha,
vi desaparecer
a carreirinha
nas ventas
de uma gatinha.
Andando
por Copacabana,
vagando,
vi o homem do éter.1
Noite
frígida, ele, sem suéter,
urrava:
— Não bota o cateter!
Andando
por Copacabana,
vi abafarem
a velha muleta
de um
tartamudo cambeta.
—
Fafoi quequele fi-da-peta!
Andando
por Copacabana,
vi um
cegueta que espiava
a bundinha
de uma ajava.
Com a
mão no bolso, se...
Andando
por Copacabana,
vi um
nazi-skin
ameaçando
um afro-baiano
implorando.
Andando
por Copacabana,
vi de
tudo e mais um pouco.
Cantou
My Way um
tarouco,
que até
ouviu um amouco!
Andando
por Copacabana,
vi coisas
que me afligiram ver,
apesar
de, lá no fundo, saber
Foi
assim em Copacabana!
Vi coisas
do arco-da-velha!
Até
punheta2 com groselha
Nós
criamos o nosso destino!