ANATOLE FRANCE – Pensamentos

 

 

 

Anatole France

Anatole France

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo é uma pequena coletânea de excertos do pensamento de Anatole France – escritor francês e Nobel de Literatura de 1921.

 

 

 

Nota Biográfica

 

 

 

Jacques Anatole François Thibault (Paris, 16 de abril de 1844 – Saint-Cyr-sur-Loire, 12 de outubro de 1924), mais conhecido como Anatole France, foi um escritor francês.

 

De tom cético, suas publicações obtiveram grande sucesso. Seu primeiro grande êxito foi O Crime de Silvestre Bonnard, premiado pela Academia francesa. Outras obras são: Thais, O Lírio Vermelho, O Poço de Santa Clara e A Rebelião dos Anjos.

 

Durante a guerra Franco-Prussiana (1870 – 1871), Anatole participou na defesa de Paris como guarda nacional, integrado na 1ª Companhia do 20º Batalhão da Guarda Nacional do Sena, na reserva no reduto de Faisanderie (Joinville-le-Pont). Enquanto decorria a batalha de Champigny, foi declarado impróprio ao serviço por ser de fraca constituição e, em janeiro de 1871, passou a civil. Retirou-se de Paris no início da insurreição da Comuna de Paris.

 

Tendo sido primeiramente bibliotecário do Senado, foi eleito para a Academia Francesa em 23 de janeiro de 1896, para a Cadeira nº 38, sucedendo Ferdinand de Lesseps (Versalhes, 19 de novembro de 1805 – La Chesnaye, Guilly, 7 de dezembro de 1894). Foi recebido na Academia Francesa em 24 de dezembro de 1896.

 

Anatole apoiou Émile Zola (Paris, 2 de abril de 1840 – Paris, 29 de setembro de 1902) no Caso Dreyfus (em francês, Affaire Dreyfus). O Caso Dreyfus foi um escândalo político que dividiu a França por muitos anos, durante o final do século XIX. Centrava-se na condenação, por alta traição, de Alfred Dreyfus (Mulhouse, 9 de outubro de 1859 – Paris, 12 de julho de 1935), em 1894, um oficial de artilharia do exército francês, de origem judaica. O acusado sofreu um processo fraudulento conduzido a portas fechadas. Dreyfus era, em verdade, inocente: a condenação baseava-se em documentos falsos. No dia seguinte da publicação do "J'accuse" (em português, Eu acuso) – título do artigo redigido por Émile Zola, quando do Caso Dreyfus, e publicado no jornal L'Aurore, em 13 de janeiro de 1898 sob a forma de uma carta ao Presidente da República Francesa, Félix Faure (30 de janeiro de 1841 – 16 de fevereiro de 1899) – Anatole assinou uma petição que pedia a revisão do processo. Devolveu sua Ordem Nacional da Legião de Honra (em francês, Ordre National de la Légion d'Honneur) quando foi retirada a de Zola. Participou na fundação da Liga dos Direitos do Homem.

 

Anatole foi laureado com o Nobel de Literatura de 1921, pelo conjunto de sua obra.

 

 

 

Anatole France
(Pensamentos)

 

 

 

É acreditando nas rosas que as fazemos desabrochar.

 

O Catolicismo prestou um grande serviço ao amor, quando o anunciou como pecado.

 

Não há Governos populares; governar é descontentar.

 

O que a juventude tem de melhor é a capacidade de admirar sem compreender.1

 

O pensamento é uma doença peculiar de certos indivíduos, que, a se propagar, em brevemente acabaria com a espécie.2

 

O trabalho distrai a vaidade, engana a falta de poder e traz a esperança de um bom evento.

 

Preferi sempre a loucura das paixões à sabedoria da indiferença.

 

Estar triste é, quase sempre, pensar em si mesmo.3

 

A timidez é um grande pecado contra o amor.

 

Chamamos perigosos àqueles cujo espírito é diferente do nosso e imorais aos que não têm a nossa moral.

 

Muito aprendeu quem bem conheceu o sofrimento.4

 

O futuro permanece escondido até dos homens que o fazem.

 

A compaixão é que nos torna verdadeiramente humanos e impede que nos transformemos em pedra, como os monstros de impiedade das lendas.

 

 

 

 

As grandes obras deste mundo foram sempre realizadas por doidos.

 

Raramente, tenho aberto uma porta por descuido sem ter me defrontado com um espetáculo que me fez sentir pela Humanidade compaixão, nojo ou horror.

 

As mulheres e os médicos sabem bem como a mentira é necessária aos homens.

 

Santa mãe de Deus, vós, que haveis concebido sem pecado, concedei-me a graça de pecar sem conceber.

 

A justiça é a sanção das injustiças estabelecidas.

 

A pobreza é indispensável à riqueza, e a riqueza é necessária à pobreza. Estes dois males se engendram um ao outro e se sustentam um ao outro. O que é preciso não é melhorar a condição dos pobres, mas, acabar com a pobreza.

 

 

 

 

Agradeço ao destino por me ter feito nascer pobre. A pobreza foi uma amiga benfazeja; ensinou-me o preço verdadeiro dos bens úteis à vida, que sem ela não teria conhecido. Evitando-me o peso do luxo, devotou-me à arte e à beleza.

 

O real nos serve para fabricar melhor ou pior um pouco de ideal.

 

As idéias de ontem fazem os costumes de amanhã.

 

Majestosa igualdade da lei: proíbe tanto o rico como o pobre de dormir sob as pontes, de mendigar nas ruas e de roubar pão.

 

Por mais que busquemos, apenas nos encontramos a nós próprios.

 

Tenho amor à verdade. Creio que a Humanidade necessita dela. É, porém, certo que precisa mais da mentira, que a lisonjeia, que a conforta e que lhe dá esperanças infinitas. Sem a mentira, a Humanidade morreria de desespero e de enfado.5

 

É o amor que faz a beleza das coisas.

 

As opiniões comuns passam sem exame. Na maioria das vezes, não as admitiríamos, se lhes prestássemos atenção.

 

O jogo é um corpo-a-corpo com o destino.

 

Sabendo sofrer, sofre-se menos.

 

Mais vale entender pouco do que entender mal.6

 

O dinheiro é um dos fins para se viver feliz, mas, os homens o transformaram no único fim.

 

Com que direito os deuses imortais rebaixariam um homem virtuoso a ponto de o recompensar?

 

Todos os que não sabem o que fazer desta vida desejam outra que nunca acabe.

 

De todas as escolas que freqüentei, a da rua foi a que me pareceu melhor.

 

Nem o sacerdote nem o soldado devem sentir as inquietações de dúvida.7

 

As promessas custam menos do que os presentes e valem muito mais. Nunca se dá tanto quando se dão esperanças.

 

A infelicidade é a nossa maior mestra e amiga. É ela que nos ensina o sentido da vida.8

 

Nós metemos o infinito no amor. A culpa não é das mulheres!9

 

Nada temos a fazer neste mundo senão nos resignarmos. Mas, as criaturas nobres sabem dar à resignação o lindo nome de contentamento.

 

Como pensar que as idéias religiosas são essencialmente moralizadoras, quando se vê que a História dos povos católicos é tecida de guerras, massacres e suplícios?

 

As religiões não têm muito efeito sobre os costumes, e são o que os costumes as fazem.

 

As religiões, como camaleões, se pintam com as cores do solo que percorrem.

 

Nos tornamos rebeldes quando somos vencidos. Os vitoriosos nunca são rebeldes.

 

Os homens brigam, com mais freqüência, por via das palavras. É por palavras que eles matam e se fazem matar com maior empenho.

 

A vida de uma nação, como a de um indivíduo, é uma ruína perpétua – uma seqüência de desabamentos, uma interminável expansão de misérias e crimes.

 

A mulher é a grande educadora do homem: ensina-lhe as virtudes encantadoras, a polidez, a discrição e essa altivez que teme ser importuna. Ela mostra a alguns a arte de agradar; a todos a arte útil de não desagradar.

 

Todas as nossas misérias verdadeiras são íntimas e causadas por nós mesmos. Acreditamos erradamente que elas vêm de fora, mas, as formamos dentro de nós, da nossa própria substância.

 

 

 

 

Definem-nos o milagre como uma derrogação das Leis da Natureza. Se não conhecemos todas as Leis da Natureza, como poderemos afirmar que um fato as derroga?

 

Uma besteira repetida por trinta e seis milhões de bocas não deixa de ser uma besteira.

 

 

 

 

Só amaremos verdadeiramente se amarmos sem causa.

 

Os sonhos dos Filósofos têm, em todos os tempos, animado homens de ação, que puseram mãos à obra para realizá-los.

 

A aptidão para a felicidade não é igual em todos os homens. Ao que me parece, ela é mais forte nos medíocres, do que nos homens superiores e nos imbecis.

 

Os homens animados por uma fé comum nada têm feito mais depressa senão exterminar aqueles que pensam de modo diferente, sobretudo quando a diferença é muito pequena.

 

Um bom estilo, afinal, é como esse raio de luz que entra pela minha janela no momento em que escrevo, e que deve a sua clareza pura à união das sete cores das quais é composto. O estilo simples é parecido com a claridade branca.

 

O que seriam os desertos da vida sem as brilhantes miragens dos nossos pensamentos!

 

A mulher se alimenta de carícias, como a abelha das flores.

 

[Em geral,] o homem não crê no que é; crê no que ele deseja que seja.

 

É uma grande tolice o «conhece-te a ti mesmo» da Filosofia Grega. Não conheceremos nunca nem a nós nem aos outros. Mas não se trata disso. Criar o mundo é menos impossível do que explicá-lo.10

 

O que os homens chamam de civilização é o estado atual dos seus costumes, e o que chamam de barbárie são os estados anteriores. Os costumes presentes serão chamados bárbaros quando forem costumes passados.

 

O artista deve gostar da vida e nos mostrar que ela é bonita. Se não fosse ele, duvidaríamos disso.

 

Os homens que não se interessam por mulheres se interessam pelas suas roupas. Os homens que realmente gostam de mulheres nem percebem o que elas estão usando.

 

O senso comum nos diz que a Terra é imóvel, que o Sol gira à sua volta e que os homens que vivem nos antípodas andam de cabeça para baixo.11

 

Um bom retrato é uma biografia pintada.

 

 

 

 

A virtude está toda no esforço.

 

A fome e o amor são os dois sexos do mundo. A Humanidade gira toda sobre o amor e a fome.

 

O mal é necessário. Da mesma forma que o bem, o mal tem a sua nascente profunda em a Natureza, e um não poderia se exaurir sem o outro.

 

A virtude, tal como os corvos, aninha-se nas ruínas.

 

Eu prefiro o erro do entusiasmo à indiferença do bom senso.

 

O Estado é como o corpo humano. Nem todas as funções que desempenha são nobres.

 

Considero a piedade do rico para com o pobre injuriosa e contrária à fraternidade humana.12

 

As verdades descobertas pela inteligência são estéreis. Apenas o Coração é capaz de fecundar os seus sonhos.

 

O trabalho convém ao homem. Evita que ele olhe para esse outro – que é ele e que lhe torna a solidão horrível.

 

Na noite, onde todos estamos, o sábio esbarra com a parede, enquanto o ignorante fica tranqüilamente no meio do quarto.

 

Em matéria de propriedade, o direito do primeiro ocupante é incerto e pouco seguro. O direito de conquista, pelo contrário, assenta em fundamentos sólidos. Ele é respeitável porque é o único que se faz respeitar.

 

O passado é a única realidade humana. Tudo o que é já foi.

 

O povão faz bem as línguas. Fá-las imaginosas e claras, vivas e expressivas. Se fossem os sábios a fazê-las, elas seriam baças e pesadas.

 

As coisas, em si mesmas, não são grandes nem pequenas, e quando nós consideramos que o Universo é vasto, trata-se de uma idéia meramente humana.

 

Devemos duvidar até mesmo da própria dúvida.

 

A esmola avilta tanto a quem a dá como a quem a recebe.

 

 

 

 

 

 

Mais Vale

 

 

 

Mais vale entender pouco

do que entender mal.

Mais vale ser um bom Louco

do que só tradicional.

 

Mais vale ser um irreligioso

Mais vale ser um espirituoso

do que ser arrogante.

 

Vale mais nada querer

do que querer e sofrer.

 

Vale mais nada valer

do que valer sem valer.

 

 


 

 

 

______

Notas:

1. Eu já penso que o que a juventude tem de melhor seja a possibilidade de não chegar à velhice com o mesmo balaio de erros do passado, seja passado próximo, seja passado remoto. Encarnar nada mais é do que ter o privilégio merecido da chance de aprender (ilustrar-se ou instruir-se), de corrigir (compensar ou retribuir) e de melhorar (compreender para mudançar), pois, só pela compreensão nos libertaremos. Se isto é assim, podemos até pensar em uma fórmula matemática para definir a encarnação, que é:

Encarnação Aprender + Corrigir + Melhorar = Servir.

2. Ora, isto é extremamente pessimista e esperar pelo pior. Eu como sou otimista, com relação a tudo, sempre espero o melhor. Pensar é dialetizar; dialetizar é voar; voar é ir além de si-próprio; ir além de si-próprio é se superar; superar-se é se tornar melhor; tornar-se melhor é peregrinar no sentido se tornar Deus; peregrinar no sentido se tornar Deus é pensar ininterruptamente. Simbolicamente, é mais ou menos assim:

 

 

Tornando-se Deus

 

 

3. Tristeza Saudade Metafísica.

4. Acho que isto não é sempre assim. Há pessoas que quanto mais sofrem mais se tornam piores, principalmente se os sofrimentos acontecerem na infância.

5. Não! É exatamente o contrário! O desespero e o enfado derivam exatamente de vivermos uma vida ilusória, oca e mentirosa.

6. É fatalmente a má compreensão das coisas que gera o fanatismo, o preconceito, a intolerância, o dizer mal, a homofobia, a xenofobia e sei lá mais o quê.

 

 

 

 

7. A dúvida, a hesitação e a incerteza fazem parte da existência humana. Se não duvidássemos, se não hesitássemos e se não incertezássemos, já seríamos (quase) Deuses. Insegurança não dá em pedra; dá em gente. A coisa é como disse o místico francês Raymond Bernard (19 de maio de 1923 - 10 de janeiro de 2006): Na Via Iniciática prestigiosa que seguimos, as tentações são numerosas, as quedas ocasionais e a dúvida periódica.

8. Isto só se torna proveitoso, benéfico e verdadeiro quando fazemos, digamos assim, uma dialética da infelicidade, ou seja, um diálogo interior, cujo objetivo seja a contraposição e a contradição de idéias que gera(ra)m a infelicidade, e que, eventualmente, possam levar a outras idéias, que nos façam compreender os motivos geradores dos nossos infortúnios. Sessão de terapia é isto.

9. Quanto a isto, Vinicius de Moraes escreveu o seu Soneto de Fidelidade:

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto,
Que mesmo, em face do maior encanto,
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento,
E em seu louvor hei de espalhar meu canto,
E rir meu riso e derramar meu pranto,
Ao seu pesar ou ao seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure,
Quem sabe a morte, angústia de quem vive,
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama,
Mas, que seja infinito enquanto dure
.

10. Anatole não entendeu o «conhece-te a ti mesmo» da Filosofia Grega, que, simplesmente, significa: liberta-te de ti mesmo.

11. Pois é. Geralmente, é o tal do senso comum que nos abestalha.

12. Piedade por piedade não adianta nada; é hipocrisia. A piedade só presta quando está acompanhada de atos concretos, efetivos, que possam reduzir ao mínimo o padecimento do outro. Mas, isto dá muito trabalho e custa um dindinzinho, e as pessoas, em geral, se comiseram porque sentem um certo receio que aconteça com elas a mesma desgraça que acontece com os outros. Basta virar a página, e a piedade vira fumaça. Não há nada que uma transada sensacional e um bom vinho não façam esquecer.

13. Mar Portuguez, Fernando Pessoa.

 

Música de fundo:

Et Maintenant
Composição: Gilbert Bécaud & Pierre Delanoë
Interpretação: Gilbert Bécaud

Fonte:

http://mp3skull.com/mp3/gilbert_becaud_et_maintenant.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.qotd.org/search/search.html?aid=285

http://www.blogdedesenho.blogger.com.br/

http://www.stealthart.net/forum/index.php?
/gallery/image/2357-hitlergif/

http://www.imaginationscostumes.com/
Clown_c_138.html

http://www.bandeirasanimadas.com/
organizacoes/Gay/index3.htm

http://www.occupy.com/article/its-time
-shine-light-poverty-creation-industry

http://www.liupis.com/monstergif/monstergif.html

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/anatole-france/90

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/anatole-france/80

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/anatole-france/70

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/anatole-france/60

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/anatole-france/50

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/anatole-france/40

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/anatole-france/30

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/anatole-france/20

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/anatole-france/10

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/anatole-france

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anatole_France

http://pt.wikiquote.org/wiki/Anatole_France

 

Direitos autorais:

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