Introdução
llan
Kardec (Hippolyte Léon Denizard Rivail), nascido em Lyon, França,
em 3 de outubro de 1804 e falecido em Paris, França, 31 de março
de 1869, foi um professor, pedagogo e escritor francês. Sob o pseudônimo
de Allan Kardec, notabilizou-se como o Codificador do Espiritismo, também
denominado de Doutrina Espírita. A Doutrina Espírita é
uma corrente de pensamento – nascida em meados do século XIX
– que se estruturou a partir de diálogos estabelecidos entre
Allan Kardec e o que ele e muitos pesquisadores da época defendiam
se tratar de espíritos de pessoas falecidas a se manifestar através
de diversos médiuns. Caracteriza-se pelo ideal de compreensão
da realidade mediante a integração entre as três formas
consideradas clássicas de conhecimento, que seriam: a científica,
a filosófica e a religiosa. Segundo Allan Kardec, cada uma destas
formas de conhecimento, se tomada isoladamente, tenderia a conduzir a excessos
de ceticismo, de negação ou de fanatismo. A Doutrina Espírita
se propõe, assim, a estabelecer um diálogo entre elas, visando
à obtenção de uma forma original, que, a um só
tempo, seja mais abrangente e profunda de compreender a realidade.
O
pensamento de Allan Kardec – que constitui o cerne da Doutrina Espírita
– fundamenta-se basicamente nas premissas de que existe um Deus como
Pai de todos e que todos os seres individuais reencarnam, em um
processo de evolução universal. O grande mérito de
Allan Kardec, em termos práticos, foi ter propiciado a milhões
de pessoas que perderam seus entes queridos a possibilidade de se comunicarem
com eles, aqui e agora (através de médiuns), não tendo
que esperar por um possível reencontro apenas na Vida Eterna, proposto
pela religião Cristã, que disseminou esta idéia no
mundo ocidental. É bem verdade que existem falsos médiuns,
que se valem do Espiritismo para aplicar golpes e ganhar dinheiro, mas devemos
nos lembrar de que, em um mundo regido e funcionando sob a Lei da Dualidade,
todos os eventos fenomênicos têm aspectos opostos, e, assim,
existem, também, bons religiosos e maus religiosos, bons profissionais
e maus profissionais, bons políticos e maus políticos, boas
pessoas e más pessoas etc. Pelo sim e pelo não, a Doutrina
Espírita tem ajudado a Humanidade Ocidental a carregar o fardo da
finitude. Contudo, é preciso fazer duas ressalvas importantes: 1ª)
não se deve confundir o Espiritismo Kardecista, tanto em suas manifestações
originais (de mesa) como em suas adaptações sincréticas
(Umbanda, por exemplo) com o Animismo Africano autêntico (antiga Religião
Yoruba e Jeje) e suas ramificações americanas igualmente originais
(como o Candomblé do Brasil, que apresenta semelhanças com
a Santeria, esta, literalmente, caminhos dos santos, que é um sistema
religioso que funde crenças católicas com a religião
tradicional Yoruba, praticada por escravos e seus descendentes em Cuba),
pois nestas Religiões não existe a incorporação
de espíritos desencarnados em médiuns mas, sim, a manifestação,
de dentro para fora, de um ancestral divinizado (Orixá ou
Vodun) codificado no DNA (ácido desoxirribonucleico) de um seu descendente
propenso a entrar em transe. Entretanto, o Candomblé engloba o culto
de Egun (espírito desencarnado de Zelador de Santo, Ekedi, Ogan ou
outro membro graduado da seita), mas este não necessita de um médium
para se manifestar, fazendo aparições físicas através
de roupas rituais colocadas sobre uma bacia com água, ervas sagradas
e algo mais. Modernamente, Candomblés de Angola, e até de
Ketu, adotaram elementos kardecistas, como a incorporação
mediúnica de caboclos boiadeiros; e 2ª) nós, da Ordem
Rosacruz, não necessitamos de médiuns para nos comunicar com
nossos entes queridos que se foram (e também membros da Ordem), pois
esta comunicação é feita face a face, sem qualquer
intermediação, no Sanctum Privado.
O
pseudônimo Allan Kardec, segundo seus biógrafos, foi adotado
por Hippolyte Léon Denizard Rivail a fim de diferenciar a Codificação
Espírita dos seus trabalhos pedagógicos anteriores. Segundo
algumas fontes, o pseudônimo foi escolhido, pois um Espírito
(que se denominava de Z) lhe revelou que ambos haviam vivido entre os druidas,
na Gália, e que, então, o Codificador, naquele época,
se chamava Allan Kardec.
O
termo Espiritismo (do francês Espiritisme)
surgiu como um neologismo – mais precisamente uma palavra-valise –
criado por Allan Kardec e utilizado pela primeira
vez na introdução de O
Livro dos Espíritos (Princípios da Doutrina Espírita),
para nomear especificamente o corpo de idéias por ele sistematizadas,
com a finalidade de estabelecer distinção entre do movimento
espiritualista em geral. Contudo, a utilização de raízes
oriundas da língua viva para compor a palavra (Spirit: Espírito
+ Isme: Doutrina), que, por um lado, foi um expediente a que recorreu
Kardec para facilitar a difusão do novo conjunto de idéias,
por outro, fez com que o termo fosse rapidamente incorporado ao uso cotidiano
para designar tudo o que dizia respeito à comunicação
com os Espíritos. Assim, por Espiritismo, muitos entendem hoje, de
forma equivocada, as várias doutrinas religiosas e/ou filosóficas
que crêem na sobrevivência do Espírito à morte
do corpo, e, principalmente, na possibilidade de comunicação
ordinariamente com ele. A recepção de mensagens dos espíritos
é uma questão conhecida em vários relatos desde a mais
remota Antigüidade.
Obras
Espíritas de Allan Kardec
O
professor Hippolyte Léon Denizard Rivail escreveu diversos livros
pedagógicos, mas sob o pseudônimo de Allan Kardec divulgou
cinco obras fundamentais que versam sobre o Espiritismo, quais sejam: 1
ª - O Livro dos Espíritos (Princípios da Doutrina
Espírita), publicado em 1857; 2 ª - O Livro dos Médiuns
ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, publicado em janeiro de
1861; 3 ª - O Evangelho Segundo o Espiritismo, publicado em
abril de 1864; 4 ª - O Céu e o Inferno ou a Justiça
Divina Segundo o Espiritismo, publicado em 1865; e 5 ª - A
Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo,
publicado em 1868. Além destas, Kardec publicou mais cinco obras
complementares: Revista Espírita, O que é o Espiritismo,
Instrução Prática Sobre as Manifestações
Espíritas, O Espiritismo em sua Expressão mais Simples
e Viagem Espírita. Duas obras menos conhecidas também
foram publicadas no Brasil: O Principiante Espírita (publicado
pela editora O Pensamento) e A Obsessão (publicado pela
editora O Clarim). Após o seu falecimento, em 1890, viria à
luz Obras Póstumas.
Objetivo
da Pesquisa
Esta
pesquisa objetivou garimpar, exclusivamente na Internet, citações
de reflexões e de ensinamentos de Allan Kardec.
Delimitação
da Pesquisa
A
pesquisa
está delimitada ao autor citado. Nesta oportunidade, comentarei,
apenas esporadicamente, alguns excertos escolhidos, permitindo, desta forma,
que o Codificador fale através das citações
selecionadas.
Esclarecimento
Quando
foi necessário, editei as citações colhidas para adequá-las
a este tipo de pesquisa. Entretanto, não modifiquei ou adulterei
o pensamento de Kardec, que, se assim tivesse acontecido, seria, no mínimo,
uma heresia. Por outro lado, como não poderia deixar de ser, esta
pesquisa está incompletíssima, o que não quer dizer
que os excertos selecionados para compô-la não sejam, para
todos, inspiradores e iluminantes, seja, por exemplo, o leitor um religioso
não-espírita, seja um agnóstico. Eu, que não
sou espírita, que não conhecia intestinamente o pensamento
de Kardec e que convicta e declaradamente sou um Ateu-Místico, colhi
no que estudei diversos esclarecimentos iluminadores e maravilhas espirituais
que jamais esquecerei.
É
necessário acrescentar, ainda, que, pela natureza do estudo e pela
metodologia que foi aplicada à esta pesquisa, alguns dos oitenta
e seis fragmentos reproduzidos a seguir tratam do mesmo tema, não
se constituindo, entretanto, de meras repetições, sendo, em
todos os casos, ampliações de ensinamentos anteriores. Enfim,
concordar ou discordar dos ensinamentos de Allan Kardec é um privilégio
que o livre-arbítrio humano alcançou, livre-arbítrio
este que Kardec sempre e tanto defendeu.
Todos
os Websites consultados estão listados ao final desta pesquisa.
Seguem-se os pensamentos-ensinamentos de Allan Kardec.
Ensinamentos
de Allan Kardec
A
Doutrina Espírita transforma completamente a perspectiva do futuro.
A vida futura deixa de ser uma hipótese para ser realidade. O estado
das almas, depois da morte, não é mais um sistema, porém
o resultado da observação. Ergueu-se o véu; o mundo
espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prática. Não
foram os homens que o descobriram pelo esforço de uma concepção
engenhosa, porém, são os próprios habitantes desse
mundo que nos vêm descrever a sua situação.
Como meio de elaboração,
o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas,
aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentam que não
podem ser explicados pelas leis conhecidas; o Espiritismo os observa, compara,
analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que
os rege. Depois, deduz-lhes as conseqüências e busca as aplicações
úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim,
não apresentou como hipóteses a existência e a intervenção
dos Espíritos, nem o perispírito1, nem
a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina;
concluiu pela existência dos Espíritos, quando essa existência
ressaltou evidente da observação dos fatos, procedendo de
igual maneira quanto aos outros princípios. Não foram os fatos
que vieram 'a posteriori' confirmar a teoria: a teoria é que veio
subseqüentemente explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente
exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação
e não produto da imaginação. As ciências só
fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre
o método experimental; até então, acreditou-se que
esse método também só era aplicável à
matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas.
O
laço ou perispírito, que prende ao corpo o Espírito,
é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é
a destruição do invólucro mais grosseiro. O Espírito
conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível
para nós no estado normal, porém que pode se tornar acidentalmente
visível, e mesmo tangível, como sucede no fenômeno das
aparições.
O Espiritismo, restituindo ao Espírito
o seu verdadeiro papel na criação, constatando a superioridade
da inteligência sobre a matéria, apaga naturalmente todas as
distinções estabelecidas entre os homens segundo as vantagens
corpóreas e mundanas, sobre as quais o orgulho fundou castas e os
estúpidos preconceitos de cor. O Espiritismo, alargando o círculo
da família pela pluralidade das existências, estabelece entre
os homens uma fraternidade mais racional do que aquela que não tem
por base senão os frágeis laços da matéria,
porque esses laços são perecíveis, ao passo que os
do Espírito são eternos. Esses laços, uma vez bem compreendidos,
influirão pela força das coisas, sobre as relações
sociais, e, mais tarde, sobre a Legislação social, que tomará
por base as leis imutáveis do amor e da caridade. Então, ver-se-á
desaparecerem essas anomalias que chocam os homens de bom senso, como as
leis da Idade Média chocam os homens de hoje.
O
Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem
alguns, está sempre envolto em uma substância qualquer? Envolve-o
uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira
para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera
e transportar-se aonde queira... Envolvendo o gérmen de um fruto,
há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação,
se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito
propriamente dito.
Constituindo
uma lei da natureza, os fenômenos estudados pelo Espiritismo hão
de ter existido desde a origem dos tempos, e sempre nos esforçamos
por demonstrar que dele se descobrem sinais na Antigüidade mais remota.
Pitágoras, como se sabe, não foi o autor da metempsicose;2
ele o colheu dos filósofos indianos e dos egípcios, que o
tinham desde tempos imemoriais. O que não deixa dúvidas é
que uma idéia não atravessa séculos e séculos,
e nem consegue impor-se à inteligências de escol, se não
contiver algo de sério.
A Ciência Espírita compreende
duas partes: uma experimental, relativa às manifestações
em geral; outra, filosófica, relativa às manifestações
inteligentes e suas conseqüências.
Quem
primeiro proclamou que o Espiritismo era uma religião nova, com seu
culto e seus sacerdotes, senão o clero? Onde se viu, até o
presente, o culto e os sacerdotes do Espiritismo? Se algum dia ele se tornar
uma religião, o clero é quem o terá provocado.
Crede,
não queirais ir além do fato intuitivo da existência
de Deus. Não vos percais em um labirinto que vos confundirá
e do qual não podereis sair. Isto não vos tornará melhores,
mas um pouco mais orgulhosos, porque muitos de vós acreditais saber
sobre algo que, na verdade, vos escapa, e do qual, em realidade, nada sabeis.
Deixai, pois, de lado todos estes sistemas que apenas vos dividem; tendes
bastantes coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós
mesmos. Estudai as vossas próprias imperfeições, a
fim de vos libertardes delas, o que vos será mais útil e mais
benéfico do que pretenderdes penetrar, com vossas limitações,
no que é impenetrável.
O Espiritismo é uma doutrina
filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista,
pelo que forçosamente vai encontrar-se com as bases fundamentais
de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas não
é uma religião constituída, visto que não tem
culto, nem rito, nem templos, e que, entre seus adeptos reais, nenhum tomou
o título de sarcerdote ou de sumo sarcerdote.
O
Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural;
proclama-a para seus adeptos assim como para todas as pessoas. Respeita
todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade.
Se
a Doutrina Espírita fosse de concepção puramente humana,
não ofereceria por penhor senão as luzes daquele que a houvesse
concebido. Ora, ninguém, neste mundo, poderia alimentar
fundadamente a pretensão de possuir, com exclusividade, a verdade
absoluta. Se os Espíritos que a revelaram se houvessem
manifestado a um só homem, nada lhe garantiria a origem, porquanto
fora mister acreditar, sob palavra, naquele que dissesse ter recebido deles
o ensino. Admitida, de sua parte, sinceridade perfeita, quando muito poderia
ele convencer as pessoas de suas relações; conseguiria sectários,
mas nunca chegaria a congregar todo o mundo. (Grifo
meu).
Podem
queimar-se os livros, mas não se podem queimar os Espíritos.
Ora, queimassem-se todos os livros e a fonte da doutrina não deixaria
de se conservar inexaurível, pela razão mesma de não
estar na Terra, de surgir em todos os lugares e de poderem todos se dessedentar
nela. Faltem os homens para difundi-la: haverá sempre os Espíritos,
cuja atuação a todos atinge e aos quais ninguém pode
atingir.
Se
o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas científicas, teria
abortado, como tudo quanto surge antes do tempo.
O
Espiritismo, longe de negar ou de destruir o Evangelho, vem, ao contrário,
confirmar, explicar e desenvolver, pelas Leis da Natureza, que revela, tudo
quanto o Cristo disse e fez. Elucida os pontos obscuros do ensino cristão,
de tal sorte que aqueles para quem eram ininteligíveis certas partes
do Evangelho ou pareciam inadmissíveis, as compreendem e admitem,
sem dificuldade, com o auxílio desta doutrina; vêem melhor
o seu alcance e podem distinguir entre a realidade e a alegoria. O Cristo
lhes parece maior, Ele já não é simplesmente um filósofo,
é um Messias Divino.
Todos
os Espíritos tendem para a perfeição...
[Perfeição
relativa].
A
Doutrina da Reencarnação, isto é, a que consiste em
admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é
a única que corresponde à idéia que formamos da justiça
de Deus para com os homens que se acham em condição moral
inferior. Esta Doutrina é a única que pode explicar o futuro
e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos
os nossos erros por novas provações.
Quem
é que, ao cabo da sua carreira, não deplora haver tão
tarde ganho uma experiência de que já não mais pode
tirar proveito? Entretanto, essa experiência tardia não fica
perdida; o Espírito a utilizará em nova existência.
O
futuro a todos toca, sem exceção e sem favor para quem quer
que seja. Os retardatários só de si mesmos se podem queixar.
Forçoso é que o homem tenha o merecimento de seus atos, como
tem deles a responsabilidade.
No esquecimento das existências
anteriormente transcorridas, sobretudo quando foram amarguradas, não
há qualquer coisa de providencial e que revela a Sabedoria Divina?
Nos Mundos Superiores, quando o recordá-las já não
constitui pesadelo, é que as vidas desgraçadas se apresentam
à memória. Nos Mundos Inferiores, a lembrança de todas
as que se tenham sofrido não agravaria as infelicidades presentes?
Deus
não se mostra, mas se revela pelas suas obras.
Deus
é a suprema e soberana inteligência.
Deus
é a inteligência suprema e soberana. É único,
eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom,
infinito em todas as perfeições, e não pode ser diverso
disso. Toda teoria, todo princípio, todo dogma, toda crença,
toda prática que estiver em contradição com um só
que seja desses atributos, que tenda não tanto a anulá-lo,
mas simplesmente a diminuí-lo, não pode estar com a verdade.
A providência é a solicitude
de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo
vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É
nisto que consiste a ação providencial.
O
homem é um pequeno mundo, que tem como diretor o Espírito
e como dirigido o corpo. Nesse universo, o corpo representará uma
criação cujo Deus seria o Espírito. Compreendei bem
que aqui há uma simples questão de analogia e não de
identidade. Os membros desse corpo, os diferentes órgãos que
o compõem, os músculos, os nervos e as articulações
são outras tantas individualidades materiais, se assim se pode dizer,
localizadas em pontos especiais do referido corpo. Se bem que seja considerável
o número de suas partes constitutivas, de natureza tão variada
e diferente, a ninguém é lícito supor que se possam
produzir movimentos, ou uma impressão em qualquer lugar, sem que
o Espírito tenha consciência do que ocorra. Há sensações
diversas em muitos lugares simultaneamente? O Espírito as sente todas,
distingue, analisa, assina a cada uma a causa determinante e o ponto em
que se produziu, tudo por meio do fluido perispirítico.
O
Espírito só se depura com o tempo, sendo as diversas encarnações
o alambique em cujo fundo deixa cada vez algumas impurezas.
A
liberdade de consciência é conseqüência
da liberdade de pensar, que é um dos atributos do homem; e o Espiritismo,
se não a respeitasse, estaria em contradição com os
seus princípios de liberdade e tolerância.
O
homem terreno está longe de ser, como supõe,
o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição.
Entretanto, há homens que se têm por espíritos muito
fortes e que imaginam pertencer a este pequenino globo o privilégio
de conter seres racionais. Orgulho e vaidade! Julgam que só para
eles criou Deus o Universo.
Nada
há, nem na posição, nem no volume, nem na constituição
física da Terra, que possa induzir à suposição
de que Ela goze do privilégio de ser habitada, com exclusão
de tantos milhares de milhões de mundos semelhantes.
considerando
os caracteres gerais dos Espíritos, as ordens (ou graus) de perfeição
dos Espíritos são ilimitadas em número. Todavia, considerando-se
os caracteres gerais dos Espíritos, elas podem reduzir-se a três
principais. Na primeira, colocar-se-ão os que atingiram a perfeição
máxima: os puros Espíritos. Formam a segunda os que chegaram
ao meio da escala: o desejo do bem é o que neles predomina. Pertencerão
à terceira os que ainda se acham na parte inferior da escala: os
Espíritos imperfeitos. A ignorância, o desejo do mal e todas
as paixões más que lhes retardam o progresso, eis o que os
caracteriza.
Se
há demônios, eles se encontram no mundo inferior em que habitais
e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem
de um Deus justo um Deus mau e vingativo, e que julgam agradá-lo
por meio das abominações que praticam em seu nome.
Todos
os Espíritos são criados simples e ignorantes e se instruem
nas lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é
justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e trabalhos, conseguintemente
sem mérito.
As aflições da vida
são muitas vezes a conseqüência da imperfeição
do Espírito. Quanto menos imperfeições, tanto menos
tormentos. Aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avaro,
nem ambicioso, não sofrerá as torturas que se originam desses
defeitos.
A
alma nada leva consigo deste mundo, a não ser a lembrança
e o desejo de ir para um mundo melhor, lembrança cheia de doçura
ou de amargor, conforme o uso que ela fez da vida. Quanto mais pura for,
melhor compreenderá a futilidade do que deixou na Terra.
A
cada nova existência, o Espírito dá um passo para diante
na senda do progresso. Desde que se ache limpo de todas as impurezas, não
tem mais necessidade das provas da vida corporal.
As
nossas diversas existências corporais são vividas em diferentes
mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem serão
as últimas; são, porém, das mais materiais e das mais
distantes da perfeição.
A curta duração da
vida de uma criança pode representar, para o Espírito que
a animava, o complemento de existência precedentemente interrompida
antes do momento em que devera terminar, e sua morte, também não
raro, constitui provação ou expiação para os
pais.
Os
Espíritos encarnam como homens ou como mulheres, porque não
têm sexo. Visto que lhes cumpre progredir em tudo, cada sexo, como
cada posição social, lhes proporciona provações
e deveres especiais e, com isso, ensejo de ganharem experiência. Aquele
que, por hipótese e 'ab absurdo', encarnasse só como homem,
só saberia o que sabem os homens.
A
Doutrina da Reencarnação amplia os deveres
da fraternidade, porquanto, no vosso vizinho ou no vosso servo pode achar-se
um Espírito a quem tenhais estado presos pelos laços da consangüinidade.
O corpo deriva do corpo, mas o Espírito
não procede do Espírito. Entre os descendentes das raças
apenas há consangüinidade.
Sendo
o Espírito sempre o mesmo nas diversas encarnações,
podem existir certas analogias entre as suas manifestações,
se bem que modificadas pelos hábitos da posição que
ocupe, até que um aperfeiçoamento notável lhe haja
mudado completamente o caráter, porquanto, de orgulhoso e mau poderá
se tornar humilde e bondoso, se se arrependeu.
Os
conhecimentos adquiridos em cada existência não mais se perdem.
Liberto da matéria, o Espírito sempre os tem presentes. Durante
a encarnação, esquece-os em parte, momentaneamente; porém,
a intuição que deles conserva lhe auxilia o progresso. Se
não fosse assim, teria que recomeçar constantemente. Em cada
nova existência, o ponto de partida, para o Espírito, é
o em que, na existência precedente, ele ficou.
Quando
na erraticidade, antes de começar nova existência corporal,
o Espírito tem consciência e previsão do que lhe sucederá
no curso da vida terrena, ou seja, Ele próprio escolhe o gênero
de provas por que há de passar, e nisso consiste o seu livre-arbítrio.
Entretanto, é escolhido apenas o gênero das provações.
As particularidades correm por conta da posição em que o Espírito
se encontra; são, muitas vezes, conseqüências das próprias
ações. Escolhendo, por exemplo, nascer entre malfeitores,
sabia o Espírito a que arrastamentos se expunha; ignorava, porém,
quais os atos que viria a praticar. Esses atos resultam do exercício
da sua vontade ou do seu livre-arbítrio. Sabe o Espírito que,
escolhendo tal caminho, terá que sustentar lutas de determinada espécie;
sabe, portanto, de que natureza serão as vicissitudes que se lhe
depararão, mas ignora se se verificará este ou aquele êxito.
Os acontecimentos secundários se originam das circunstâncias
e da força mesma das coisas. Previstos só são os fatos
principais, os que influem no 'destino'. Se tomares uma estrada cheia de
sulcos profundos, sabes que terás de andar cautelosamente, porque
há muitas probabilidades de caíres; ignoras, contudo, em que
ponto cairás, e bem pode suceder que não caias, se fores bastante
prudente. Se, ao percorreres uma rua, uma telha te cair na cabeça,
não creias que estava escrito, segundo vulgarmente se diz.
O
Espírito escolhe as provas que quer vivenciar de acordo com a natureza
de suas faltas, isto é, as provas que o levem à expiação
destas e a progredir mais depressa. Uns, portanto, impõem a si mesmos
uma vida de misérias e de privações, objetivando suportá-las
com coragem; outros preferem experimentar as tentações da
riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e pela má
aplicação a que podem dar lugar, pelas paixões inferiores
que uma e outros desenvolvem. Muitos, finalmente, se decidem a experimentar
suas forças nas lutas que terão de sustentar em contato com
o vício.
Havendo
se elevado a um certo grau, o Espírito, embora não seja ainda
perfeito, já não tem que sofrer provas. Continua, porém,
sujeito a deveres nada penosos, cuja satisfação lhe auxilia
o aperfeiçoamento, mesmo que consistam apenas em auxiliar os outros
a se aperfeiçoar.
Os Espíritos têm uns
sobre os outros a autoridade correspondente ao grau de superioridade que
hajam alcançado, autoridade que eles exercem por um ascendente moral
irresistível.
Os
Espíritos inferiores se comprazem em nos induzir ao mal pelo despeito
que lhes causa o não terem merecido estar entre os bons. O desejo
que neles predomina é o de impedirem, quanto possam, que os Espíritos
ainda inexperientes alcancem o 'Summum Bonum'. Querem que os outros experimentem
o que eles próprios experimentam. [Benedictus
Deus Summum Bonum. In imo Corde. In Corde loquitur nostro Vox Dei.]
Ankh
Original
(A Chave da Imortalidade)
Benedictus Deus Summum Bonum3
A
união da alma com o corpo começa na concepção,
mas só é completa por ocasião do nascimento. Desde
o instante da concepção, o Espírito designado para
habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que
cada vez mais se vai apertando até o instante em que a criança
vê a luz. O grito, que o recém-nascido solta, anuncia que ela
se conta no número dos vivos e dos servos de Deus.
Aborto:
Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre
que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, pois isto
impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo
que estava se formando.
Dado
o caso em que o nascimento da criança possa pôr em perigo a
vida da mãe, é preferível que se sacrifique o ser que
ainda não existe a sacrificar-se o que já existe.
As
almas dos cretinos e dos idiotas, não
raro são mais inteligentes do que supondes, mas sofrem da insuficiência
dos meios de que dispõem para se comunicar, da mesma forma que o
mudo sofre da impossibilidade de falar.
De não simpatizarem um com
o outro, não se segue que dois Espíritos sejam necessariamente
maus. A antipatia, entre eles, pode derivar de diversidade no modo de pensar.
À proporção, porém, que se forem elevando, essa
divergência irá desaparecendo e a antipatia deixará
de existir.
Em cada nova existência, o
homem dispõe de mais inteligência e melhor pode distinguir
o bem do mal. Onde o seu mérito se se lembrasse de todo o passado?
Quando o Espírito volta à vida anterior (a vida espírita),
diante dos olhos se lhe estende toda a sua vida pretérita. Vê
as faltas que cometeu e que deram causa ao seu sofrer, assim como de que
modo as teria evitado. Reconhece justa a situação em que se
acha e busca, então, uma existência capaz de reparar a que
vem de transcorrer. Escolhe provas análogas às de que não
soube aproveitar, ou as lutas que considere apropriadas ao seu adiantamento,
e pede aos Espíritos que lhe são superiores que o ajudem na
nova empresa que sobre si toma, ciente de que o Espírito, que lhe
for dado por guia nessa outra existência, se esforçará
para levá-lo a reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie
de intuição das que já incorreu... Em sua nova existência,
se sofre com coragem as provas e resiste, o Espírito se eleva e ascende
na hierarquia dos Espíritos, ao voltar para o meio deles.
Os
Espíritos imperfeitos são instrumentos próprios a pôr
em prova a fé e a constância dos homens na prática do
bem.
Os
bons Espíritos simpatizam com os homens de bem ou suscetíveis
de melhorar. Os Espíritos inferiores com os homens viciosos ou que
podem se tornar tais. Daí, suas afeições, como conseqüência
da conformidade dos sentimentos.
A fraqueza, o descuido e o orgulho
do homem são exclusivamente o que empresta força aos maus
Espíritos, cujo poder todo advém do fato de lhes não
opordes resistência.
A ação dos Espíritos
que vos querem bem é sempre regulada de maneira que não vos
tolha o livre-arbítrio, porquanto, se não tivésseis
responsabilidade, não avançaríeis na senda que vos
há de conduzir a Deus. Não vendo quem o ampara, o homem confia
em suas próprias forças. Sobre ele, entretanto, vela o seu
guia e, de tempos a tempos, lhe brada, advertindo-o do perigo... Entretanto,
sem o livre-arbítrio o homem seria máquina.
Antes de encarnar, tem o Espírito
conhecimento das fases principais de sua existência, isto é,
do gênero das provas a que está se submetendo. Tendo estas
caráter assinalado, ele conserva, no seu foro íntimo, uma
espécie de impressão de tais provas, e esta impressão,
que é a voz do instinto, faz-se ouvir,
na forma de pressentimentos, quando
chega o momento de sofrê-las.
O
progresso moral decorre do progresso intelectual, mas nem sempre o segue
imediatamente... A moral e a inteligência são duas forças
que só com o tempo chegam a se equilibrar.
A fatalidade existe unicamente pela
escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para
sofrer. Escolhendo-a, institui para si uma espécie de destino, que
é a conseqüência mesma da posição em que
vem a se achar colocado. Falo das provas físicas, pois, pelo que
toca às provas morais e às tentações, o Espírito,
conservando o livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre
senhor de ceder ou de resistir. Ao vê-lo fraquejar, um bom Espírito
pode vir em seu auxílio, mas não pode influir sobre ele de
maneira a dominar-lhe a vontade. Um Espírito mau, isto é,
inferior, mostrando-lhe, exagerando aos seus olhos um perigo físico,
poderá abalá-lo e amedrontá-lo. Nem por isso, entretanto,
a vontade do Espírito encarnado deixa de se conservar livre de quaisquer
embaraços.
Grande
probabilidade tem de se afogar quem pretender atravessar a nada um rio,
sem saber nadar. O mesmo se dá relativamente à maioria dos
acontecimentos da vida. Quase sempre obteria o homem bom êxito, se
só tentasse o que estivesse em relação com as suas
faculdades. O que o faz perder são o seu orgulho excessivo e a sua
ambição, que o desviam da senda que lhe é própria
e o fazem considerar vocação o que não passa de desejo
de satisfazer certas paixões. Fracassa por sua culpa. Mas, em vez
de se culpar a si mesmo, prefere se queixar da sua estrela. Um, por exemplo,
que seria bom operário e ganharia honestamente a vida, mete-se a
ser mau poeta e morre de fome. Para todos haveria lugar no mundo, desde
que cada um soubesse se colocar no lugar que lhe compete.
O
homem não tem o direito de dispor da sua vida, importando o suicídio
em uma transgressão das Leis de Deus, ainda que um louco que se mate
não saiba o que faz.
Doutrina
Espírita: O Princípio
Inteligente independe da matéria. A alma individual preexiste e sobrevive
ao corpo. O ponto de partida ou de origem é o mesmo para todas as
almas, sem exceção; todas são criadas simples e ignorantes
e sujeitas a progresso indefinido. Nada de criaturas privilegiadas e mais
favorecidas do que as outras. Os anjos são seres que chegaram à
perfeição, depois de haverem passado, como todas as outras
criaturas, por todos os graus da inferioridade. As Almas ou Espíritos
progridem mais ou menos rapidamente, mediante o uso do livre-arbítrio,
pelo trabalho e pela boa-vontade. A
vida espiritual é a vida normal; a vida corpórea é
uma fase temporária da vida do Espírito, que durante ela se
reveste de um envoltório material, de que se despe por ocasião
da morte. O Espírito progride no estado corporal e no estado espiritual.
O estado corpóreo é necessário ao Espírito,
até que haja galgado um certo grau de perfeição. Ele
aí se desenvolve pelo trabalho a que é submetido pelas suas
próprias necessidades e adquire conhecimentos práticos especiais.
Sendo insuficiente uma só existência corporal para que adquira
todas as perfeições, retoma um corpo tantas vezes quantas
forem necessárias, e, de cada vez, encarna com o progresso que haja
realizado em suas existências precedentes e na vida espiritual. Quando,
num mundo, alcança tudo o que aí pode obter, deixa-o para
ir a outros mundos, intelectual e moralmente mais adiantados, cada vez menos
materiais, e assim por diante, até à perfeição
de que é suscetível a criatura. O estado ditoso ou inditoso
dos Espíritos é inerente ao adiantamento moral deles; a punição
que sofrem é conseqüência do seu endurecimento no mal,
de sorte que, com a perseverança no mal, eles se punem a si mesmos;
mas, a porta do arrependimento nunca se lhes fecha e eles podem, desde que
o queiram, volver ao caminho do bem e efetuar, com o tempo, todos os progressos.
As crianças que morrem em tenra idade podem ser Espíritos
mais ou menos adiantados, porquanto já tiveram outras existências
em que ou praticaram o bem ou cometeram ações más.
A morte não os livra das provas que precisam sofrer e, em tempo oportuno,
voltam a uma nova existência na Terra ou em mundos superiores, conforme
o grau de elevação que tenham atingido. A alma dos cretinos
e dos idiotas é da mesma natureza que a de qualquer outra alma encarnada;
possuem, muitas vezes, grande inteligência; sofrem pela deficiência
dos meios de que dispõem para entrar em relação com
os seus companheiros de existência, como os mudos sofrem por não
poderem falar. É que abusaram da inteligência em existências
pretéritas e aceitaram voluntariamente a situação de
impotência, para usar dela a fim de expiarem o mal que praticaram
etc., etc., etc.
Sem a vida futura, a atual se torna
para o homem a coisa capital, o único objeto de suas preocupações,
ao qual ele tudo subordina. Por isto, quer gozar a todo custo, não
só os bens materiais como as honrarias; aspira a brilhar, elevar-se
acima dos outros, eclipsar os vizinhos por seu fausto e posição.
Daí a ambição desordenada e a importância que
liga aos títulos e a todos os efeitos da vaidade, pelos quais ele
é capaz de sacrificar a própria honra, porque nada mais vê
além. A certeza da vida futura e de suas conseqüências
muda-lhe totalmente a ordem de idéias e lhe faz ver as coisas por
outro prisma; é um véu que se levanta descortinando imenso
e esplêndido horizonte.
Há
no homem três coisas: 1ª - o Corpo ou Ser Material, análogo
aos dos animais e animado pelo mesmo Princípio Vital; 2ª - a
Alma ou Ser Imaterial, Espírito encarnado no corpo; e 3ª - o
Laço que prende a Alma ao Corpo, Princípio Intermediário
entre a Matéria e o Espírito. [Há
outros entendimentos, mais complexos, para a manifestação
do homem nos diversos Planos. Segundo a Teosofia, por exemplo, o homem é
um ser setenário. Atman (que em sânscrito significa
Alma ou Sopro Vital), com o objetivo de se individualizar, emana de Si um
Princípio mais denso chamado Buddhi (o fino vaso onde
dentro arde o Atman, o Espírito, raio individual que emana da
Alma Universal). Esta díade – Atman-Buddhi –
se reveste de princípios
cada vez mais densos e em número de sete: Atman
- o Raio do Absoluto, isto é, nossa Essência Divina, o 7º
Princípio na constituição setenária do Homem;
Buddhi - nossa Alma Divina, o 6º Princípio
na constituição setenária do Homem;
Manas - nossa Alma Humana ou Mente Divina, sendo o elo
entre a Díade Atman-Buddhi e nossos princípios inferiores
(corpo mental de Manas inferior), o 5º Princípio na
constituição setenária do Homem; Kâma
Rupa - o Corpo de Desejos ou Corpo Emocional, o 4º
Princípio na constituição setenária do Homem;
Pranan - o Corpo Vital, o 3º Princípio
na constituição setenária do Homem; Linga
Sharira - o Duplo Etérico, Corpo Etérico,
Corpo Fluídico, Homem Astral, o 2º Princípio na constituição
setenária do Homem; e Sthula Sharira
- o Corpo Físico ou Corpo Denso, o 1º Princípio na constituição
setenária do Homem, o mais denso na constituição humana.]
Os
Espíritos pertencem a diferentes classes e não são
iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade.
Os da primeira ordem são os Espíritos Superiores, que se distinguem
dos outros pela sua perfeição, pelos seus conhecimentos, pela
sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor
do bem: são os anjos ou Espíritos Puros. Os das outras classes
se acham cada vez mais distanciados desta perfeição, mostrando-se
os das categorias inferiores, na sua maioria, eivados das nossas paixões:
ódio, inveja, ciúme, orgulho etc. Comprazem-se no mal. Há,
também, entre os inferiores, os que não são nem muito
bons nem muito maus, antes perturbadores e enredadores do que perversos.
A malícia e as inconseqüências parecem ser o que neles
predomina. São os Espíritos estúrdios ou levianos.
Os
Espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos
melhoram, ascensionam, passando pelos diferentes graus da Hierarquia Espírita.
Esta melhora se efetua por meio da encarnação, que é
imposta a uns como expiação, a outros como missão.
A vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente,
até que tenham atingido a absoluta perfeição moral.
A
encarnação dos Espíritos se dá sempre na espécie
humana; seria erro acreditar-se que a Alma ou Espírito possa encarnar
no corpo de um animal [ou,
por efeito retrocessivo ou punição divina, em qualquer representante
dos reinos vegetal ou mineral]. As
diferentes existências corpóreas do Espírito são
sempre progressivas e nunca regressivas; mas, a rapidez do seu progresso
depende dos esforços que faça para chegar à perfeição.
As comunicações dos
Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As ocultas
se verificam pela influência boa ou má que exercem sobre nós,
à nossa revelia. Cabe ao nosso juízo discernir as boas influências
das más
inspirações. As comunicações ostensivas se dão
por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações
materiais, quase sempre pelos médiuns que lhes servem de instrumentos.
A
moral dos Espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta
máxima evangélica: Fazer aos outros o que quereríamos
que os outros nos fizessem, isto é, fazer o bem e não o mal.
Neste princípio encontra o homem uma regra universal de proceder,
mesmo para as suas menores ações.
Não há faltas irremissíveis
que a expiação não possa apagar. Meio de consegui-la
encontra o homem nas diferentes existências que lhe permitem avançar,
conforme seus desejos e seus esforços, na senda do progresso, para
a perfeição, que é o seu destino final.
Se
as religiões, apropriadas em começo aos conhecimentos limitados
do homem, tivessem acompanhado sempre o movimento progressivo do espírito
humano, não haveria incrédulos, porque está na própria
natureza do homem a necessidade de crer, e ele crerá desde que se
lhe dê o alimento espiritual de harmonia com as suas necessidades
intelectuais.
O progresso nos Espíritos
é o fruto do próprio trabalho; mas, como são livres,
trabalham no seu adiantamento com maior ou menor atividade, com mais ou
menos negligência, segundo sua vontade, acelerando ou retardando o
progresso e, por conseguinte, a própria felicidade. Enquanto uns
avançam rapidamente, entorpecem-se outros, quais poltrões,
nas fileiras inferiores. São eles, pois, os próprios autores
da sua situação, feliz ou desgraçada, conforme esta
frase do Cristo: — A cada um segundo as suas obras.
A encarnação é
necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito:
ao progresso intelectual pela atividade obrigatória do trabalho;
ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si.
A vida social é a pedra de toque das boas ou das más qualidades.
A
bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência,
a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade,
a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, em uma palavra,
tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso tem por móvel,
por alvo e por estímulo as relações do homem com os
seus semelhantes. Contudo, para o homem que vivesse insulado não
haveria vícios nem virtudes. Preservando-se do mal pelo insulamento,
o bem de si mesmo se anularia.
Uma
só existência corporal é manifestamente insuficiente
para o Espírito adquirir todo o bem que lhe falta e eliminar o mal
que lhe sobra. Como poderia o selvagem, por exemplo, em uma só encarnação,
nivelar-se moral e intelectualmente ao mais adiantado europeu? É
materialmente impossível. Deve ele, pois, ficar eternamente na ignorância
e barbaria, privado dos gozos que só o desenvolvimento das faculdades
[superiores] poderá
lhe proporcionar? Para cada nova existência de permeio à matéria,
entra o Espírito com o cabedal adquirido nas existências
anteriores,
em aptidões, conhecimentos intuitivos, inteligência e moralidade.
Cada existência é, assim, um passo avante no caminho do progresso.
A
encarnação é inerente à inferioridade dos Espíritos,
deixando de ser necessária desde que estes, transpondo-lhe os limites,
ficam aptos para progredir no estado espiritual ou nas existências
corporais de mundos superiores, que nada têm da materialidade terrestre.
Da parte destes, a encarnação é voluntária,
tendo por fim exercer sobre os encarnados uma ação mais direta
e tendente ao cumprimento da missão que lhes compete junto dos mesmos.
Desse modo aceitam abnegadamente as vicissitudes e os sofrimentos da encarnação.
[Melhor seria, neste caso,
conceituar este processo voluntário e solidário como projeção,
particular e principalmente, da Consciência Nirmanakayca
.4]
O
estado corporal é transitório e passageiro. É no estado
espiritual, sobretudo, que o Espírito colhe os frutos do progresso
realizado pelo trabalho da encarnação. É também
neste estado que o
Espírito se
prepara para novas lutas e toma as resoluções que há
de pôr em prática na sua volta à Humanidade.
A
reencarnação pode se dar na Terra ou em outros mundos. Há
entre os mundos alguns mais adiantados onde a existência se exerce
em condições menos penosas do que na Terra, física
e moralmente, mas onde, também, só são admitidos Espíritos
chegados a um grau de perfeição relativo ao estado desses
mundos.
Ao lado das grandes missões
confiadas aos Espíritos Superiores, há outras de importância
relativa, em todos os graus, concedidas a Espíritos de todas as categorias,
podendo afirmar-se que cada encarnado tem a sua, isto é, deveres
a preencher a bem dos seus semelhantes, desde o chefe de família,
a quem incumbe o progresso dos filhos, até o homem de gênio
que lança às sociedades novos germens de progresso. É
nessas missões secundárias que se verificam desfalecimentos,
prevaricações e renúncias que prejudicam
o indivíduo sem afetar o todo. (Grifo
meu).
Por toda parte há vida
e movimento. [Por toda parte
há transformação e evolução (ou reintegração).]
A
felicidade não é pessoal. Se a possuíssemos somente
em nós mesmos, sem poder reparti-la com outrem, ela seria tristemente
egoísta.
A
verdadeira desgraça está mais nas conseqüências
de uma coisa do que na própria coisa.
Não
poderá haver caridade sem esquecimento dos ultrajes e das injúrias;
não poderá haver caridade sem perdão; não poderá
haver caridade com o coração tomado de ódio.
Em
todas as épocas da História, às grandes crises sociais
se seguiu uma era de progresso. Opera-se, presentemente, um desses movimentos
gerais, destinados a realizar uma remodelação da Humanidade.
A multiplicação das causas da destruição constitui
sinal característico dos tempos, visto que elas apressarão
a eclosão dos novos germens. São as folhas cheias de vida,
porquanto a Humanidade tem suas estações, como os indivíduos
têm suas várias idades. As folhas mortas da Humanidade caem
batidas pelas rajadas e pelos golpes de vento, porém, para renascerem
mais vivazes sob o mesmo sopro de vida, que não se extingue, mas
que se purifica.
Todos
somos livres na escolha das nossas crenças. Podemos crer em alguma
coisa ou em nada crer, mas aqueles que procuram fazer prevalecer no espírito
das massas e da juventude, principalmente, a negação do futuro,
apoiando-se na autoridade do seu saber e no ascendente da sua posição,
semeiam na sociedade germens de perturbação e de dissolução,
incorrendo em grande responsabilidade.
Uma
Palavra Final
Conforme
afirmei no item Esclarecimento, não sou espírita, não
conhecia intestinamente o pensamento de Kardec e convicta e declaradamente
sou um Ateu-Místico. Entretanto, para meu gáudio, colhi e
bebi no que estudei diversos esclarecimentos iluminadores e maravilhas espirituais
que jamais esquecerei.
Mas,
não posso concluir este estudo sem deixar um pensamento pessoal que
venho desenvolvendo em trabalhos anteriores, qual seja: O Universo (que,
sem perda de substância, pode ser entendido como o acreditado Deus
dos religiosos) não é nem premiador nem castigador. É
inconscientemente educativo. Portanto, nós é que devemos,
paulatinamente, aprender e tomar consciência das Leis Universais,
pois, o Universo, como tal, não tem consciência de nossas existências
e nelas não interfere. A beleza deste conceito está encravada
no fato de que só o que é categórico e tendente à
Ética Cósmica poderá manumitir o homem. E o Caminho
Místico para a Santa Liberdade – independente de qualquer religião
ou do que quer que seja – está tão-somente em nosso
Coração. Por isto, vira-e-mexe, mexe-e-vira, afirmo: In
Corde loquitur nostro Vox Dei. Em nosso Coração fala
a Voz de Deus. Digitarei este conceito até ficar rouco... Ou dedeta.