Não
arriscar nada é arriscar tudo.
Evidências
recentes mostram que a crise do clima é significativamente pior,
e está se desenvolvendo mais rápido do que nos haviam advertido
as projeções mais pessimistas do IPCC (Intergovernmental
Panel on Climate Change).
A
religião, devidamente compreendida, não é simplesmente
uma questão de crença, mas de comportamento.
Você
deve ser a mudança que deseja ver no mundo. (Mahatma
Gandhi, apud Al Gore).
Quando
nós mudamos nosso comportamento diariamente, algumas vezes, esquecemos
uma parte da cidadania e uma a parte da Democracia. Precisamos ser incrivelmente
ativos como cidadãos em nossa Democracia.
Para
resolver a crise climática precisamos resolver a crise democrática.
Precisamos
de uma mobilização mundial por energia renovável, por
eficiência e por uma transição global para uma energia
de baixo carbono.1
Se
o mar subir um único metro, haverá 100 milhões de refugiados
no planeta; se forem seis metros, o número de refugiados salta para
400 milhões... Temos tudo que necessitamos para que medidas sejam
tomadas; o que falta é vontade política.
A
luta contra a mudança climática é tão importante
quanto combater o terrorismo... O terrorismo não é a única
ameaça. Caso uma parte da Groenlândia se derreta, os efeitos
sobre Manhattan seriam muito piores do que o atentado de 11 de setembro
de 2001.
Lutar
contra a mudança política não é só uma
questão política, é uma questão moral.
Estamos
queimando combustíveis fósseis a um ritmo que fará
com que, em menos de 45 anos, os níveis de CO2 dobrem, o que, segundo
a comunidade científica do mundo, seria uma catástrofe.
Não
se pode falar de ciclo, como fazem alguns céticos, já que
temos nesta época os níveis mais altos de CO2 dos últimos
mil anos.
Ao
contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não
é só deles, mas de todos nós.2
A
crise ambiental leva ao desaparecimento de enormes massas de gelo do Himalaia,
o que poderia ameaçar rios como o Ganges ou o Amarelo. A Cordilheira
é fonte de recursos para 40% da população do mundo.
Os dez anos mais quentes estiveram
entre os últimos catorze e no mesmo tempo se aqueceram também
as águas dos oceanos. Tudo isto, segundo alguns cientistas, provoca
fenômenos extremos como ciclones, furacões ou tornados, que
aumentaram sua potência em 50% por causa do aquecimento global.
Depois do Katrina, em Nova Orleans,
quase 150 mil cidadãos não puderam voltar para suas casas,
e me envergonho de como esta crise foi administrada. Muitos pensam que com
o Katrina começou o período das conseqüências do
aquecimento global... Não podemos falar de colonizar outros planetas
quando somos incapazes de esvaziar Nova Orleans.
Estou
convencido, do fundo meu coração, que temos as capacidades
de fazer desta geração uma daquelas que alterou o curso do
ser humano, e os desafios nunca foram tão elevados.
Acho que, hoje, minha melhor missão
é fazer a opinião pública nos Estados Unidos evoluir
sobre a questão ambiental. Só existe um Planeta. Todos, democratas
e republicanos, vivemos nele.
Existem previsões de que as
camadas de gelo do Pólo Norte poderiam desaparecer por completo nos
meses de verão, dentro de cinco anos. Esta é uma emergência
planetária. Nunca houve, nem remotamente, uma coisa assim em toda
a história da civilização humana. Estamos colocando
em risco toda a civilização.
A
política mais importante que pode ser implementada
é um imposto sobre as emissões de gases que provocam o efeito
estufa em todo o mundo, para que aqueles que não pagam pelo preço
do carbono não tenham uma vantagem sobre os que pagam.
Eu
acredito que atingimos o estágio em que é hora para uma desobediência
civil para prevenir a construção de novas usinas movidas a
carvão que não possuem sistemas de captura e aprisionamento
de carbono... As indústrias de carvão e de óleo já
gastaram, sozinhas, meio bilhão de dólares nos primeiros oito
meses deste ano promovendo a imagem enganosa de que existe o carvão
limpo.
Para
resolver a crise climática, precisamos atingir milhares de milhões
de pessoas. Lançamos SOS e Live Earth para começar um processo
de comunicação que mobilizará pessoas em todo o mundo
para que comecem a agir.
Assim
como o Brasil fez um trabalho espetacular em relação aos biocombustíveis,
é preciso ter cuidado para não dar munição aos
críticos, tomando precauções para não comprometer
as florestas. não está perdida.
Wall
Street sabe que temos um problema, e acredito que com os sinais e os investimentos
certos poderemos criar os tipos de parcerias público-privadas que
vão desencadear o poder dos mercados para resolver a crise climática.
A
menos que tomemos atitudes com coragem e rapidamente, estamos em grave perigo
de cruzar o ponto em que não há mais retorno dentro dos próximos
10 anos.
As
conseqüências da ausência de ação serão
devastadoras tanto para o meio ambiente quanto para a Economia.
Se
nossos filhos têm febre, os levamos ao médico. Bem, nosso planeta
tem febre, e já está sentindo isso há algum tempo.
Está alguns graus acima do que deveria estar. Os cientistas já
nos deram sua resposta. Podemos ter apenas dez anos para agir, ante que
se torne irreversível.
Quanto
ao motivo pelo qual tanta gente ainda resiste em admitir o que os fatos
mostram claramente, creio que, em parte, a crise climática é
uma verdade inconveniente, pois significa que precisaremos mudar nossa maneira
de viver.
Vivemos
uma época em que os problemas ambientais cruzam as fronteiras locais
e atingem a escala global, como é o caso do efeito estufa e do buraco
na camada de ozônio.
Identificar as próprias interferências
negativas no ambiente e voluntariamente mitigá-las implica em um
novo tipo de relacionamento com o meio ambiente e conseqüentemente
com a sociedade. Promover este ideal implica em uma busca incessante pelo
aperfeiçoamento humano, através de abordagens criativas e
inovadoras.
Ao
reflorestar áreas de matas ciliares degradadas com espécies
nativas, proporcionamos benefícios globais, através da absorção
do gás carbônico da atmosfera, e benefícios locais,
através de uma gama de serviços ambientais tais como a formação
de corredores de biodiversidade e a preservação dos recursos
hídricos, essenciais para um bom funcionamento do ecossistema.
Há
dois pontos principais a considerar a respeito da Amazônia. Primeiro,
a ação humana fez com que as florestas, aspiradores naturais
do gás carbônico, se tornassem grandes emissores desse poluente.
A cada ano, 10 trilhões de toneladas de CO2 são lançadas
na atmosfera e, desse total, 2,5 trilhões são produzidas pelas
queimadas. Não sei precisar a contribuição exata do
desmatamento da Amazônia para toda essa poluição. Os
brasileiros precisam agir com urgência para frear o ritmo das queimadas.
Estamos vivendo uma crise global e todos precisam participar do esforço
de reduzir a emissão de gás carbônico. O segundo ponto
é que, ao devastarmos as florestas tropicais, não apenas afetamos
o clima e a biodiversidade, mas, também, perdemos as riquezas naturais
contidas nessas matas. Acredito que, do ponto de vista brasileiro, faz sentido
preservar a floresta para o bem – inclusive econômico –
do Brasil. As espécies vegetais, a maioria delas ainda desconhecida
da ciência, valem milhares de centenas de vezes mais do que a agricultura
de subsistência ou a lavoura de soja que estão substituindo
a floresta.
O
que acontece no Brasil deve ser uma decisão soberana
do povo brasileiro. Não pode ser uma decisão internacional
ou de outro país. O tema da participação estrangeira
na preservação da Amazônia já causou muitos desentendimentos.
É perfeitamente possível para uma nação tão
grande quanto o Brasil descobrir e garantir a riqueza existente na Amazônia
e usar esse conhecimento de forma bem-intencionada.
Uma
coisa que os Estados Unidos poderiam fazer para ajudar o Brasil seria remover
as altas taxas sobre a cana-de-açúcar e o álcool combustível.
Isto, sim, ajudaria o Brasil.
O
álcool é o substituto mais importante que temos hoje para
os combustíveis fósseis. Acredito que seja uma solução
concreta para a ameaça de aquecimento da Terra. É claro que
há limites para a produção de álcool na enorme
escala necessária para substituir totalmente a gasolina, mas já
estão sendo desenvolvidas técnicas para resolver esse problema.
São tecnologias que, no futuro, poderão produzir álcool
pela metade do preço do petróleo. O mais importante é
que permitirão produzir o combustível com raízes, bagaços
e folhas de plantas, evitando que alimentos sejam usados para esse fim.
Se conseguirmos avançar nesse ponto, não haverá mais
a competição comida versus combustível.
O
Brasil não só inovou no desenvolvimento desse combustível
alternativo
[álcool]
como
se tornou líder mundial dessa indústria. O país pode
ensinar o resto do mundo a ter um melhor entendimento na solução
de problemas relacionados aos combustíveis fósseis. Prova
disso é o sucesso dos carros flex. Esses veículos mostram
aos demais países que há alternativas viáveis e que
não é necessário mendigar a misericórdia dos
países do Oriente Médio e da Venezuela.
A
Ecologia é um excelente negócio tanto para a Economia quanto
para o meio ambiente. A Toyota só tem lucros com seu carro híbrido.
Já os fabricantes tradicionais só têm prejuízos.
A General Electric decidiu recentemente se tornar uma empresa engajada na
preservação ambiental e está ganhando muito dinheiro
nesse processo. O mesmo faz a DuPont, a gigante da indústria química.
Empresas gigantes não entram em negócios para perder dinheiro.
As
recomendações mostradas no fim do filme [An
Inconvenient Truth] sobre
o que cada indivíduo pode fazer para melhorar a vida na Terra são
importantes, mas sozinhas não resolvem a crise. As pessoas devem
se organizar para pressionar por mudanças nas políticas públicas.
Cada pessoa que adota um estilo de vida ecológico encoraja o Governo
a tomar decisões a favor da preservação ambiental.
Isto ocorre na Califórnia e em outros estados americanos que vão
em direção contrária à política ambientalista
de Washington, que rejeitou o Tratado de Kioto.
Lovelock,3
por
quem tenho imenso respeito, é muito pessimista e erra em presumir
que o ser humano é incapaz de mudar seu comportamento. Sei algo sobre
política que ele não sabe. Os políticos são
em geral muito lentos, e isso se reflete na condução do Governo
e na tomada de decisões. Por outro lado, eles podem agir com muita
rapidez, se pressionados pelos eleitores. Foi assim quando os Estados Unidos
tomaram a decisão de enviar um homem à Lua e fizeram isso
em menos de dez anos. O mesmo aconteceu quando os aliados reagiram ao fascismo.
Em 1940, a idéia de montar 1000 aviões de guerra por ano era
considerada insana. Em 19
Não precisamos fazer tudo
em dez anos. De qualquer forma, seria impossível. A questão
é outra. De acordo com muitos cientistas, se nada for feito, em dez
anos já não teremos mais como reverter o processo de degradação
da Terra. Os estudos mostram que é necessário iniciar imediatamente
uma forte redução na emissão de gases poluentes. O
primeiro objetivo seria estabilizar a quantidade de poluentes na atmosfera.
E então, quem sabe, depois de cinco anos, começar a reduzir
o montante de CO2 no Planeta.
Há dois anos decidi viver
uma vida sem carbono. Tudo o que eu e minha família fazemos visa
a emitir a menor quantidade possível de gás carbônico.
Temos carros híbridos, usamos energia verde, evitamos água
quente, desligamos nossos aparelhos elétricos quando eles não
estão sendo usados. Claro que ainda pego aviões comerciais
e vou tomar um para ir ao Brasil. Mas a minha emissão pessoal de
carbono nas viagens é compensada com a divulgação que
faço do tema.
Não
vejo só uma ameaça para a Terra, mas uma combinação
de fatores. A superpopulação é um deles. Daí
a necessidade de tecnologias que evitem o uso de alimentos como fonte de
energia. O mundo não pode suportar por muito tempo o crescimento
do consumo no ritmo atual. O número de pessoas quadruplicou nos últimos
100 anos. Isso é muita gente. A boa notícia é que o
tamanho das famílias nos países onde há educação
para o povo, justamente aqueles que consomem mais, está diminuindo
de forma jamais imaginada. O importante é evitarmos aquilo que Jared
Diamond4
mostrou em seu livro Colapso. Ou seja, civilizações que se
autodestroem em nome do progresso.
Em
poucos anos, a água será um problema sério em muitos
países. Isto é devido tanto ao aumento da população
quanto às estratégias ignorantes de determinados países
em relação a esse bem. Não tenho dúvidas de
que a água será uma 'commodity' preciosa. Na minha opinião,
ela já vale mais do que o petróleo. Note que uma garrafa de
água mineral custa mais do que o equivalente em gasolina. E não
estou falando de águas de marcas famosas, como San Pellegrino.
A
energia nuclear não é uma boa alternativa ao consumo de combustíveis
fósseis. É possível que ocorra um aumento no uso de
energia nuclear, mas creio que será mínimo. Trata-se de uma
opção complicada por duas razões. A primeira é
o alto custo. Essa ainda é uma tecnologia muito cara. A segunda,
e mais importante, é que a energia nuclear é sempre um risco.
Ao se permitir o seu uso, aumenta bastante o risco de proliferação
de armas nucleares. Nos oito anos em que estive na Casa Branca me alertaram
para as dimensões desse desafio. Alguns países anunciaram
a intenção de obter tecnologia nuclear para produzir energia,
e, na verdade, estavam interessados em fabricar armas atômicas. Hoje,
temos a ameaça da Coréia do Norte, que, aliás, já
tem armas nucleares, e do Irã. Em todo caso, se houver o desenvolvimento
de uma nova geração de reatores mais seguros, poderíamos
tolerar o uso moderado dessa energia.
Eu
já perdi a objetividade no que diz respeito a Bush5.
Todas as suas políticas me assustam. Na verdade, nesse campo, suas
ações são extremamente perigosas para todo o mundo.
O encarregado da pasta de Meio Ambiente de seu Governo não passa
de um censor. Ele censurou a maioria dos trabalhos científicos sobre
meio ambiente. Catorze senadores acabam de começar uma investigação
a esse respeito. Espero que o Congresso consiga punir o presidente por isso.
Eu
não guardo mágoas. Não olho para o passado; olho para
o futuro.
A
guerra no Iraque converteu o terrorismo em uma ameaça ainda maior
do que já era. Mas o aquecimento global é a pior crise que
já enfrentamos.
______
Notas:
1.
As mudanças no clima rapidamente se tornaram uma das maiores ameaças
que a Humanidade jamais enfrentou. (Kivutha Kibwana, ministro
queniano do meio ambiente).
2. Esta
frase, à primeira vista, poderá parecer absurda. Mas, misticamente,
está correta. Tão correta quanto dizer que o Grand Canyon,
os Grandes Lagos Africanos e a Grande Muralha da China são de todos
nós.
3. James
Ephraim Lovelock (26 de julho de 1919) é um pesquisador independente
e ambientalista que vive na Cornualha (oeste da Inglaterra). A Hipótese
de Gaia foi sugerida por Lovelock, com base nos estudos de Lynn Margulis,
para explicar o comportamento sistêmico do planeta Terra. A Terra
é vista, nesta teoria, como um superorganismo. Em janeiro de 2004,
Lovelock afirmou que como resultado do aquecimento global no final do século
XXI bilhões
de nós morreremos, e os poucos casais férteis de pessoas que
sobreviverão estarão no Ártico, onde o clima continuará
tolerável.
4. Jared
Mason Diamond (10 de setembro de 1937, Boston) é um biólogo
evolucionário, fisiologista, biogeógrafo e autor de não-ficção
estado-unidense. Ele é mais conhecido pelo seu livro Guns, Germs
and Steel (Armas, Germes e Aço), vencedor do Prêmio Pulitzer.
5. Referência
a George Walker Bush (New Haven, 6 de julho de 1946), que foi o 43º
presidente de seu País.
Páginas
da Internet consultadas:
http://www.worth1000.com/
contest.asp?contest_id=17738
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jared_Diamond
http://pt.wikipedia.org/wiki/James_E._Lovelock
http://veja.abril.com.br/111006/entrevista.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Al_Gore
http://mirinpucrio.blogspot.com/2009/02/
al-gore-explica-o-aquecimento-global-e.html
http://www.ted.com/talks/lang/por_br/
al_gore_warns_on_latest_climate_trends.html
http://pt.mongabay.com/news/2008/
1008-080928-gore_hance.html
http://www.youtube.com/
watch?v=S0vOpQIF5Qo
http://oglobo.globo.com/ciencia/
mat/2007/06/23/296493156.asp
http://forum.angolaxyami.com/
http://indexet.investimentosenoticias.com.br/
http://www.ted.com/index.php/
Fundo
musical:
I Need
to Wake Up (trilha sonora do documentário An Inconvenient Truth,
de 2006)
Composição e interpretação: Melissa Etheridge
Fonte:
http://www.umnovoencontromusical.com/
internacionais-M.htm