Sou,
e até onde a minha memória alcança, sempre
fui pouco dado a devaneios.
O
maior
pecado contra a mente humana é acreditar em coisas inevidentes. A
Ciência é o grau mais elevado do bom senso – é
rigidamente precisa em sua observação e inimiga da lógica
falaciosa.
Eu
estava sentado, sozinho com livros.
Até a dúvida era uma doença negra,
Quando ouvi o grito alegre dos rebentos
Nas árvores despidas, proféticas.
Árvores
despidas, profetas do novo nascimento
Levantam as filiais limpas e livres,
Para ser uma marca na Terra,
Uma flama de cólera para que todos vejam.
E
os rebentos nas filiais riem e gritam
Àqueles que podem ouvir e compreender:
"Ande através dos caminhos sombrios da dúvida
com a tocha da visão em sua mão."
A
educação atual e as atuais conveniências sociais premem
o cidadão e imolam o homem. Nas condições modernas,
os seres humanos vêm a ser identificados com as suas capacidades socialmente
valiosas. A existência do resto da personalidade ou é ignorada
ou, se admitida, é admitida somente para ser deplorada, reprimida
ou, se a repressão falhar, sub-repticiamente rebuscada. Sobre todas
as tendências humanas que não conduzem à boa cidadania,
a moralidade e a tradição social pronunciam uma sentença
de banimento. Três quartas partes do homem são proscritas.
O proscrito vive revoltado e comete vinganças estranhas. Quando os
homens são criados para ser cidadãos e nada mais, tornam-se,
primeiro, em homens imperfeitos e, depois, em homens indesejáveis.
A
insistência nas qualidades socialmente valiosas da personalidade,
com exclusão de todas as outras, derrota finalmente os seus próprios
fins. O atual desassossego, o atual descontentamento e a atual incerteza
de propósitos testemunham a veracidade disto. Tentamos fazer homens
bons cidadãos de estados industriais altamente organizados: só
conseguimos produzir uma colheita de especialistas, cujo descontentamento
em não serem autorizados a ser homens completos faz deles cidadãos
extremamente maus. Há toda a razão para supor que o mundo
se tornará ainda mais completamente tecnicizado, ainda mais complicadamente
arregimentado do que é presentemente; que graus cada vez mais elevados
de especialização serão requeridos dos homens e das
mulheres individuais. O problema de reconciliar as reivindicações
do homem e do cidadão tornar-se-á cada vez mais agudo. A solução
deste problema será uma das principais tarefas da educação
futura. Se irá ter êxito, e até mesmo se o êxito
é possível, somente o evento poderá decidir.
Os
provérbios continuarão a ser chavões, até você
experimentar a verdade contida neles.
Da
sua experiência ou da experiência gravada por outros [História],
os homens aprendem somente o que suas paixões e seus preconceitos
metafísicos lhes permitem.
Literária
ou científica, liberal ou especializada, toda a nossa educação
é predominantemente verbalista, e, pois, não consegue atingir
plenamente seus objetivos. Ao invés de transformar crianças
em adultos completamente desenvolvidos, ela produz estudantes de Ciências
Naturais que não têm a menor noção do papel primordial
da Natureza como elemento fundamental da experiência; entrega ao mundo
estudantes de Humanidades que nada sabem sobre a Humanidade, seja ela a
sua ou a de quem mais for.
As
palavras nos permitiram elevar-nos acima dos brutos; mas é também
pelas palavras que, não raro, descemos ao nível de seres demoníacos.
Se
não fossem os intelectuais esnobes que pagam o tributo que o prosaísmo
deve à cultura, as artes pareceriam com seus famintos profissionais.
Aquilo
que o homem uniu a Natureza não consegue separar.
O
silêncio
está tão repleto de sabedoria e de espírito em potência
como o mármore não talhado é rico em escultura.
Pietà
(Michelangelo)
A
Democracia permite que criaturas abomináveis conquistem o poder.
Senti que vem a vós o Grande
Ser dos dias!
Alegrai-vos com a sorte ideal que Ele vos deu!
Fundi-vos ao cantar das melodias,
Porque, enfim, eu sou vós e vós sois eu.
Os defeitos da Democracia
política como sistema de Governo são tão óbvios
e têm sido tantas vezes catalogados, que não preciso mais do
que resumi-los aqui. A Democracia
política foi criticada porque conduz à ineficiência
e à fraqueza de direção, porque permite aos homens
menos desejáveis obter o poder e porque fomenta a corrupção.
A ineficiência e fraqueza da Democracia
política se tornam mais aparentes nos momentos de crise, quando é
preciso tomar e cumprir decisões rapidamente. Averiguar e registrar
os desejos de muitos milhões de eleitores em poucas horas é
uma impossibilidade física. Segue-se, portanto, que, em uma crise,
uma de duas coisas tem de acontecer: ou os governantes decidem apresentar
o fato consumado da sua decisão aos eleitores – em cujo caso
todo o princípio da Democracia
política terá sido tratado com o desprezo que em circunstâncias
críticas ela merece; ou, então, o povo é consultado
e perde-se tempo, freqüentemente, com conseqüências fatais.
Durante a guerra, todos os beligerantes adotaram o primeiro caminho. A Democracia
política foi em toda a parte temporariamente abolida. Um sistema
de Governo que necessita ser abolido todas as vezes que surge um perigo,
dificilmente se pode descrever como um sistema perfeito.
A
fraqueza crônica de um sistema democrático de Governo, em oposição
à ocasional, parece ser proporcional ao grau da sua democratização.
Os mais poderosos e estáveis Estados democráticos são
aqueles nos quais os princípios da Democracia foram menos lógica
e consistentemente aplicados. Assim, um parlamento eleito segundo um sistema
de representação proporcional é um parlamento verdadeiramente
democrático. Mas é também, na maioria dos casos, um
instrumento não de Governo, mas de anarquia. A representação
proporcional garante que todos os setores da opinião estarão
representados na assembléia. É o ideal da Democracia cumprido.
Infelizmente, a multiplicação de pequenos grupos dentro do
parlamento torna impossível a formação de um Governo
estável e forte. Nas assembléias proporcionalmente eleitas,
os Governos têm geralmente de confiar em uma maioria compósita
[caracterizada pela heterogeneidade
dos seus elementos]. Esta maioria tem de comprar o apoio de pequenos
grupos, com uma distribuição de favores mais ou menos corrupta,
e, como nunca consegue dar o suficiente, fica sujeita a ser derrotada em
qualquer altura. Na Itália, a representação proporcional
conduziu ao Fascismo através da anarquia. Causou grandes dificuldades
práticas na Bélgica, e, agora, ameaça fazer o mesmo
na Irlanda. Encontram-se Governos democráticos estáveis em
países nos quais as minorias, por muito grandes que sejam, não
estão representadas, e onde nenhum candidato que não pertença
a um dos grandes partidos terá a mais leve possibilidade de ser eleito.
Em tais países, os parlamentos não são de modo nenhum
Todavia, possuem um grande mérito, que compensa todos os seus defeitos:
podem formar Governos suficientemente fortes para governar.
Quando
pomos em jogo toda a nossa força para levantar o que nos parece ser
um peso enorme, é desagradável perceber que se trata apenas
de um halter de papelão, e que teria sido possível erguê-lo
com dois dedos.
As
sensações não são entidades à parte,
suscetíveis de ser estimuladas independentemente do resto do espírito.
Quando um homem fica emocionalmente exaltado em uma direção,
está sujeito a ficar também em outras...
A
felicidade não é atingida pela busca consciente de felicidade;
geralmente, ela
é um subproduto de outras atividades.
O
hábito
converte os suntuosos prazeres em suspeitas necessidades cotidianas.
Depois
do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível
é a música.
O
silencioso nunca depõe contra si próprio.
Quando
não se tem o hábito da História, os fatos relativos
ao passado parecem quase sempre inacreditáveis.
Toda
descoberta da Ciência pura é potencialmente subversiva; por
vezes, a Ciência deve ser tratada como um inimigo possível.
Experiência
não é o que acontece com um homem; é o que um homem
faz com o que lhe acontece.
Fatos
empíricos: Um. Todos nós somos capazes de sentir amor por
outros seres humanos. Dois. Impomos limitações a este amor.
Três. Podemos transcender a todas estas limitações –
se nos aprouver. (É uma questão de observação
que, quem quer que o deseje, poderá vencer a repugnância pessoal,
o sentimento de classe, o ódio nacional, o preconceito de cor. Não
é coisa fácil; mas, podemos conseguir, se tivermos vontade
e soubermos pôr em prática as nossas boas intenções.).
Quatro. Amor que se manifesta em bom tratamento cria amor. Ódio que
se manifesta em mau tratamento cria ódio. À luz destes fatos,
é óbvio quais deveriam ser os comportamentos políticos
entre pessoas, entre classes, entre nações. Mas, ainda uma
vez, o saber não basta. Saber, todos nós sabemos; onde quase
todos nós fracassamos é em fazer. E a questão está,
habitualmente, em achar os melhores métodos de dar cumprimento às
intenções. Entre outras coisas, a propaganda da paz deve consistir
em uma série de instruções para a arte de modificar
o caráter.
O
inferno
é a incapacidade de sermos diferentes da criatura segundo a qual
ordinariamente nos comportamos.
As
escadas sociais vão se tornando mais largas à medida que se
sobe. Embaixo, mal há lugar para se botar o pé. Em cima, os
degraus têm uma largura de vinte jardas.
Certas
lembranças e certos processos mentais são como um dente que
dói e que se precisa estar sempre tocando, apenas para se ter a certeza
de que ainda dói!
A
vida interior começa quando o ego analisável deixa de agir.
O
sortilégio
da história e sua lição enigmática consistem
no fato de que, de uma época a outra, nada muda, e, contudo, todas
as coisas são completamente diferentes. Em personagens de outras
épocas e culturas estranhas, reconhecemos nossos egos demasiadamente
humanos, e, contudo, temos consciência de que o sistema de referências
no qual moldamos nossas vidas mudou, até se tornar irreconhecível.
Proposições que pareciam incontestáveis são
agora indefensáveis, e o que encaramos como os mais irrefutáveis
postulados não poderia, em um período anterior, encontrar
aceitação nem na mais ousada mente especulativa. Mas, embora
acentuadas e importantes nas áreas do pensamento e da tecnologia,
da organização social e do comportamento, as diferenças
são sempre periféricas. No centro, permanece uma identidade
fundamental. Na medida em que são mentes revestidas de forma humana,
sujeitas à decadência física e à morte, capazes
de sentir dor e prazer, dirigidas pelo ardente e pela aversão, e
oscilando entre o desejo de auto-afirmação e o de autotranscendência,
os seres humanos, em todo tempo e lugar, têm de enfrentar os mesmos
problemas, confrontam-se com as mesmas tentações, e são
forçados, de acordo com a Ordem das Coisas, a fazer a mesma escolha
entre impenitência e esclarecimento. Mudam os contextos, mas, a essência
e o significado são invariáveis.
Uma
tragédia é algo de que se participa; a uma comédia,
apenas assistimos.1
O
reino
do céu pode ser destinado a existir na Terra; não pode ser
destinado a existir em nossa imaginação ou em nosso raciocínio
discursivo. Tem de haver uma mortificação da nossa tendência
fatal para colocar produtos de nossa imaginação no lugar da
Natureza. Temos de nos livrar de nosso catálogo de simpatias e antipatias,
dos modelos verbais aos quais esperamos adaptar a realidade, das fantasias
nas quais nos refugiamos quando os fatos não atingem nossas expectativas...
A
síntese do espírito de finura poderá se transformar
na essência da não-verdade.
A
vida é curta e o conhecimento ilimitado.
A
organização em excesso transforma
homens e mulheres em autômatos,
reprime o espírito criador e elimina a própria possibilidade
de liberdade. Como sempre, o único caminho seguro está no
meio-termo, entre o excesso do 'laissez-faire', em um dos topos da escala,
e o controle total, no outro extremo.
A
vida na cidade é anônima e, por isso mesmo, abstrata. As pessoas
se relacionam umas com as outras, não como personalidades integrais,
mas, como personificações de funções econômicas
ou, quando não estão no emprego, como pessoas que procuram
irrefletidamente o entretenimento. Sujeitos a uma vida desta espécie,
os indivíduos tendem a se sentir solitários e sem importância.
A sua existência deixa de ter qualquer importância ou qualquer
sentido.
Nenhum
povo em condições econômicas precárias tem uma
grande oportunidade para estar capaz de governar democraticamente a si próprio.2
Em
uma época de superpopulação crescente, de crescente
superorganização e de meios de comunicação cada
vez mais eficientes com as massas, como podemos manter intacta a integridade
e reafirmar o valor do ser humano individual?
Já
não compramos laranjas, compramos vitalidade; já não
compramos um automóvel, compramos prestígio. Com um dentifrício,
por exemplo, adquirimos, não um mero antisséptico ou um produto
de higiene, mas, sim, a libertação do medo de sermos sexualmente
repulsivos. Com a 'vodka' ou com o 'whisky', não adquirimos um veneno
protoplásmico que, em pequenas doses, pode afetar o sistema nervoso
de maneira psicologicamente valiosa; estamos adquirindo amizade e boa camaradagem...
Com o 'best-seller' do mês adquirimos cultura, a inveja dos vizinhos
menos ilustrados e a admiração dos que são intelectuais.
Penso
na incompreensível seqüência de mudanças que fazem
uma vida. Penso que o destino dos seres humanos, insuscetível de
ser interpretável e, mesmo assim cheio de significação
divina, é composto pela fusão de belezas, de horrores e de
absurdos.
Cerca
de um terço do sofrimento que devo suportar é inteiramente
inevitável por ser inerente à própria condição
humana. Representa o preço que todos temos que pagar pelo fato de
sermos dotados de sensibilidade. Embora sedentos de libertação,
nos sujeitamos às Leis Naturais, que nos obrigam a continuar caminhando
(sem poder retroceder) através de um mundo inteiramente indiferente
ao nosso bem-estar. Caminhando em direção à decrepitude
e à certeza da morte. Os outros dois terços são 'confeccionados
em casa', e o Universo os considera inteiramente supérfluos.
Saber
é uma palavra cujo significado é muito amplo. Prefiro dizer
que estamos capacitados a fazer algumas suposições.
A
função da juventude depende do lugar em que os jovens residem.
Por exemplo: para que servem os rapazes e as moças da América?
Resposta: para consumirem maciçamente. E os corolários desse
tipo de consumo são: comunicações em massa, publicidade
em massa. Narcóticos em massa (sob a forma de televisão, tranqüilizantes,
pensamentos positivos e cigarro). Agora que a Europa também ingressou
na produção em massa, para que servirão os seus rapazes
e moças? Para consumirem maciçamente, exatamente como a juventude
da América. O destino da mocidade deve ser apenas se desenvolver
harmoniosamente e se transformar em adultos plenamente realizados.
Não
existe remédio único para males que jamais têm somente
uma causa.3
O
segredo da genialidade é conservar o espírito de criança
até à velhice, o que significa nunca perder o entusiasmo.
Há
três espécies de inteligência: a inteligência humana,
a inteligência animal e a inteligência militar.
Dá
tanto trabalho escrever um mau livro
como um bom; ambos brotam com igual sinceridade da alma do
autor.
Uma
das funções principais de um amigo consiste em sofrer, sob
uma forma mais doce e simbólica, os castigos que desejaríamos
e não podemos infligir aos nossos inimigos.
O
homem que pretende ser sempre coerente no seu pensamento e nas suas decisões
morais ou é uma múmia ambulante ou, se não conseguiu
sufocar toda a sua vitalidade, um monomaníaco fanático.
Posso
compartilhar as dores das pessoas, mas não os seus prazeres. Existe
algo curiosamente aborrecedor na felicidade alheia.
Os
fatos são como os bonecos dos ventríloquos. Sentados no joelho
de um homem sábio, articularão palavras de sabedoria; em outros
joelhos, não dirão nada ou dirão disparates, ou se
comprazeão em puro diabolismo.
A
publicidade é uma das formas mais interessantes e difíceis
da Literatura moderna.
O
degrau da escada não foi inventado para repousar, mas, apenas, para
sustentar o pé o tempo necessário para que o homem coloque
o outro pé um pouco mais alto.
A
castidade é a mais anormal das perversões sexuais.
Em
tempos normais, nenhum indivíduo são pode concordar com a
idéia de que os homens são iguais.
Os fatos não deixam de existir
só porque são ignorados.
A
constância é contrária à Natureza, contrária
à vida. As únicas pessoas completamente constantes são
os mortos.4
A
nossa política educacional se baseia em duas enormes falácias.
A primeira é a que considera o intelecto como uma caixa habitada
por idéias autônomas, cujos números podem ser aumentados
pelo simples processo de abrir a tampa da caixa e introduzir novas idéias.
A segunda falácia, é que, todas as mentes são semelhantes
e podem lucrar como o mesmo sistema de ensino. Todos os sistemas oficiais
de educação são sistemas para bombear os mesmos conhecimentos
pelos mesmos métodos, para dentro de mentes radicalmente diferentes.
Sendo as mentes organismos vivos e não caixotes do lixo, irremediavelmente
dissimilares e não uniformes, os sistemas oficiais de educação
não são, como seria de se esperar, particularmente afortunados.
Que as esperanças dos educadores ardorosos da época democrática
cheguem alguma vez a ser cumpridas parece extremamente duvidoso. Os grandes
homens não podem ser feitos por encomenda, por qualquer método
de ensino por mais perfeito que seja. O
máximo que podemos esperar fazer é ensinar todo o indivíduo
a atingir todas as suas potencialidades, e se tornar completamente ele próprio.
Mas, o eu de um indivíduo será o eu de Shakespeare, o eu de
outro será o eu de Flecknoe. Os sistemas de educação
prevalecentes não só falham em tornar Flecknoes em Shakespeares
(nenhum método de educação fará isto alguma
vez); falham em fazer dos Flecknoes o melhor. A Flecknoe não é
dada sequer uma oportunidade para se tornar ele próprio. Congenitamente,
pela educação que recebe, um sub-homem está condenado
a passar a sua vida como um sub-sub-homem.
Os
homens são animais muito estranhos: uma mistura do nervosismo de
um cavalo, da teimosia de uma mula e da malícia de um camelo.
As
paródias e as caricaturas são as formas mais agudas de crítica.
Frank
Sinatra
Há
um único recanto do Universo que podemos ter certeza de melhorar:
o nosso próprio interior.
As
particularidades, como todos sabem, são favoráveis à
virtude e à felicidade; as generalidades é que são,
intelectualmente, males necessários. A espinha dorsal da sociedade
não é composta de filósofos, mas de serradores de enfeites
e de colecionadores de selos.
A
normalidade é tão-somente uma questão de estatística.
Uma
verdade desinteressante pode ser eclipsada por uma mentira emocionante.
Nunca
é igual saber a verdade por si mesmo e ter de a ouvir por outro.
Por
muito lentamente que nos pareça que passam as horas, parecer-nos-ão
curtas, se refletirmos que não voltarão a passar.
Devemos
o progresso aos insatisfeitos.
Talvez
somente os gênios sejam verdadeiros seres humanos.
A
ânsia
pelo ritual e pelas cerimônias é forte e generalizada. Quanto
é forte e quanto está largamente espalhada vê-se pelo
ardor com que homens e mulheres, que não têm nenhuma religião
ou têm uma religião puritana sem ritual, se agarram a qualquer
oportunidade para participar em cerimônias, sejam elas de que espécie
forem. A Ku Klux Klan, por exemplo, nunca teria conseguido o seu êxito
do pós-guerra, se se aferrasse aos trajes civis e às reuniões
de comissões. Os Srs. [William
Joseph] Simmons e [Edward
Young] Clark, os ressuscitadores daquela notável organização,
compreendiam o seu público. Insistiram em realizar estranhas cerimônias
noturnas nas quais os trajes de fantasia não eram facultativos, mas,
sim, obrigatórios. O número de sócios subiu aos saltos
e baldões. A Klan tinha um objetivo: o seu ritual simbolizava alguma
coisa. Mas, para uma multidão ritofaminta a significação
é aparentemente supérflua. A popularidade dos cânticos
em comunidade mostram que o rito, como tal, é o que o público
quer. Desde que seja impressivo e provoque uma emoção, o rito
é bom em si próprio. Não interessa nada o que ele possa
significar. À cerimônia dos cânticos em comunidade falta
todo um significado filosófico, e não há nenhuma ligação
com qualquer sistema de idéias. A cerimônia
é simplesmente ela própria
e mais nada. Os rituais tradicionais da religião e da vida quotidiana
sumiram deste mundo vastamente. Mas, o seu desaparecimento causou pena.
Sempre que as pessoas têm oportunidade, tentam satisfazer a sua fome
cerimonial, mesmo que o rito com que a mitigam seja
inteiramente destituído de significado.
Ku
Klux Klan
É
possível que a religião da solidão, de certa maneira,
seja
superior à religião social e formalizada. O
que é certo é que ela apareceu mais tarde no decurso da evolução.
Além disso, os fundadores das religiões e das seitas historicamente
mais importantes têm sido todos, com exceção de Confúcio,
solitários. Talvez seja verdade se dizer que quanto mais poderosa
e original for uma mente, mais ela se inclinará para a religião
da solidão, e menos ela será atraída no sentido da
religião social ou impressionada pelas suas práticas. Pela
sua própria superioridade, a religião da solidão está
condenada a ser a religião das minorias. Para a grande maioria dos
homens e das mulheres, a religião ainda significa o que sempre significou:
religião social formalizada, um assunto de rituais, observâncias
mecânicas, emoção das massas. Perguntem a qualquer dessas
pessoas o que é a verdadeira essência da religião, e
eles responderão que ela consiste na devida observância de
certas formalidades, na repetição de certas frases, na reunião
em certos tempos e em certos lugares, da realização por meios
apropriados de emoções comunais.
Um
homem louco é aquele cuja maneira de pensar e de agir não
se coaduna com a maioria dos seus contemporâneos. A sanidade mental
é uma questão de estatística. Aquilo que a maioria
dos Homens faz em qualquer dado lugar e período é a coisa
ajuizada e normal a fazer. Esta é a definição de sanidade
mental na qual baseamos a nossa prática social. Para nós,
aqui e agora, são muitos os de mentalidade sã e poucos os
loucos. Mas, os julgamentos, aqui e agora, são, por sua natureza,
provisórios e relativos. O que nos parece sanidade mental, a nós,
porque é o comportamento de muitos, pode parecer... uma loucura.
Nem é preciso invocar a eternidade como testemunho. A História
é suficiente. A maioria auto-intitulada mentalmente sã, em
qualquer dado momento, pode parecer ao historiador, que estudou os pensamentos
e as ações de inumeráveis mortais, uma escassa mão-cheia
de lunáticos. Considerando o assunto de outro ponto de vista, o psicólogo
pode chegar à mesma conclusão. Ele sabe que a mente consiste
de tais e tais elementos, que existem e devem ser tidos em conta. Se um
homem tenta viver como se certos destes elementos constituintes do seu ser
não existissem, está a tentar viver, em um sentido psicológico
absoluto, anormalmente. Está a tentar ser louco; e tentar ser louco
é insânia. Aplicando
estes dois testes, o do historiador e o do psicólogo, à maioria
mentalmente sã do Ocidente contemporâneo, o que verificamos?
Verificamos que os ideais e a filosofia da vida agora geralmente aceites
são totalmente diferentes dos ideais e da filosofia aceite em quase
todas as outras épocas. O Sr. Buck e os milhões por quem ele
fala estão, esmagadoramente, em minoria. Os incontáveis mortos
preferem a sentença a seu respeito: estão loucos. Os psicólogos
confirmam o seu veredicto. O êxito – «a deusa-cadela,
Êxito» na frase de William James – exige estranhos sacrifícios
daqueles que a adoram. Nada menos do que automutilação espiritual
pode obter os seus favores. O homem coordenado para o êxito é
um homem que foi forçado a deixar metade do seu espírito fora
da sua personalidade. E se ele aceitar os ideais e a filosofia da vida que
a deusa-cadela tem para oferecer, achar-se-á condenado, ou a uma
estrênua irreflexão, ou a um cinismo poeirento e descolorido.
Nascido potencialmente são, ele aprende a sua loucura. “Porque
todo o Homem”, como Sancho Pança observou, “é
como o céu o fez, e algumas vezes muito pior do que isso” –
algumas vezes, também, muito melhor; depende, em parte, dos seus
próprios esforços, em parte das tradições, das
crenças, dos códigos, da filosofia da vida que acontece ser
corrente na sociedade em que ele nasceu. Onde esta herança social
é uma loucura, o indivíduo naturalmente mais normal está
moldado à semelhança de um louco. Em relação
à sociedade em que vive, ele é, sem dúvida, normal,
porque se parece com a maioria dos seus pares. Mas eles são todos,
falando em absoluto, conjuntamente loucos. A Natureza permanece inalterável,
quaisquer que sejam os esforços conscientes feitos para a deformar.
Os Homens podem negar a existência de uma parte do seu próprio
espírito; mas o que é negado não é por isso
destruído. Os elementos banidos se vingam nos indivíduos,
nas sociedades inteiras. Uma coisa apenas é absolutamente certa quanto
ao futuro: que as nossas sociedades ocidentais não se manterão
por muito tempo no seu presente estado. Ideais loucos e uma filosofia lunática
da vida não são as melhores garantias de sobrevivência.
Que
todos os homens são iguais é uma proposição
à qual, em tempos normais, nenhum ser humano sensato deu, alguma
vez, o seu assentimento. Um homem que tem de se submeter a uma operação
perigosa não age sob a presunção de que tão
bom é um médico como outro qualquer. Os editores não
imprimem todas as obras que lhes chegam às mãos. E quando
são precisos funcionários públicos, até os Governos
mais democráticos fazem uma seleção cuidadosa entre
os seus súditos teoricamente iguais. Em tempos normais, portanto,
estamos perfeitamente certos de que os homens não são iguais.
Mas quando, em um país democrático, pensamos ou agimos politicamente,
não estamos menos certos de que os homens são iguais. Ou,
pelo menos – o que na prática vem ser a mesma coisa
– procedemos como se estivéssemos
certos da igualdade dos homens. Identicamente, o piedoso fidalgo medieval
que, na igreja acreditava em perdoar os inimigos e oferecer a outra face,
estava pronto, logo que imergia novamente a luz do dia, a desembainhar a
sua espada à mínima provocação. A mente humana
tem uma capacidade quase infinita para ser inconsistente.
A
imposição de padrões pelas sociedades aos seus extremamente
diversificados indivíduos tem variado muito em diferentes períodos
históricos e em diferentes níveis de cultura. Nas culturas
mais primitivas, nas quais as sociedades eram pequenas e ligadas a tradições
muito estreitas, a pressão para o conformismo era naturalmente muito
intensa. Quem ler Literatura de Antropologia ficará espantado com
a natureza fantástica de algumas das tradições às
quais os homens tiveram de se adaptar. A vantagem de uma sociedade grande
e complexa como a nossa é permitir à variedade de seres humanos
se expressar de muitas maneiras; não precisa haver uma adaptação
intensa, como a que encontramos em pequenas sociedades primitivas. Mesmo
assim, em toda a sociedade há sempre um impulso para a conformidade,
imposto de fora pela lei e pela tradição, e que os indivíduos
impõem sobre si mesmos, tentando imitar o que a sociedade considera
o tipo ideal. A
este respeito, recomendo um livro muito importante do filósofo francês
Jules de Gaultier, publicado há cerca de cinqüenta anos, chamado
"Bovarismo". O nome vem da heroína do romance de Gustave
Flaubert, Madame Bovary, no qual essa jovem mulher infeliz sempre tentava
ser o que não era. Gaultier generaliza isto e diz que todos temos
tendência a tentar ser o que não somos, a querer ser o que
a sociedade na qual crescemos julga desejável. Ele diz que todo mundo
tem um "ângulo bovarístico", e que o de algumas pessoas
é bastante estreito; aquilo que elas são intrinsecamente,
pela hereditariedade, não difere muito do que tentam fazer de si
mesmas pela imitação. Mas, algumas
pessoas têm ângulos bovarísticos de noventa graus, outras
até de cento e oitenta, e tentam ser exatamente o oposto daquilo
que são por natureza. Em geral, os resultados são desastrosos.
Mesmo
assim, um dos mecanismos através dos quais a sociedade consegue que
as pessoas se conformem à ela é criar um ideal e fazer com
que as pessoas o imitem voluntariamente. (Não é por nada que
o livro provavelmente mais lido e mais influente da devoção
cristã se chama Imitação de Cristo). Infelizmente,
como vemos muito bem pelo estudo da delinqüência juvenil, nem
sempre o ideal que imitamos é o melhor. Há a imitação
de Al Capone, infelizmente, e a imitação do jovem duro que
anda por aí a dar porrada nas pessoas; há imitação
de cantores de 'rock-and-roll', e assim por diante. O processo sempre existe,
em qualquer sociedade, e sempre existirá. O que devemos descobrir
é algum método para aproveitar ao máximo este impulso
social de conformidade, salvaguardando, ao mesmo tempo, a variabilidade
genética dos indivíduos. Em primeiro lugar, liberdade e tolerância
são de enorme importância, e, em segundo lugar, um ambiente
decente – igual para todos e melhorando igualmente para todos –
é decisivo. É vital não pressionar pessoas geneticamente
diferentes para que sejam como todo o mundo, e, dentro dos limites da lei
e da ordem, tentar e permitir que todo o indivíduo se desenvolva
conforme as leis do seu próprio ser, e conforme o princípio
religioso de que a alma individual é infinitamente valiosa. O nosso
ideal deveria ser o que o filósofo de Chicago, Charles Morris, descreveu
no seu livro "The Open Self": 'uma sociedade aberta constituída
de Eus abertos.'
Os
Imitadores
Como
todos sabemos, aprender pouco é algo perigoso. Mas, o excesso de
aprendizado altamente especializado também é uma coisa perigosa,
e, por vezes, pode ser ainda mais perigoso do que aprender só um
pouco. Um dos principais problemas da educação superior, agora,
é conciliar as exigências da muita aprendizagem, que é
essencialmente uma aprendizagem especializada, com as exigências da
pouca aprendizagem, que é a abordagem mais ampla, mas menos profunda,
dos problemas humanos em geral. O que precisamos fazer é arranjar
casamentos, ou melhor, trazer de volta ao seu estado original de casados
os diversos departamentos do conhecimento e das emoções, que
foram arbitrariamente separados e levados a viver em isolamento nas suas
celas monásticas. Podemos parodiar a Bíblia e dizer: "Que
o homem não separe o que a Natureza juntou"; não permitamos
que a arbitrária divisão acadêmica em disciplinas rompa
a teia densa da realidade, transformando-a em absurdo. Mas,
aqui, deparamo-nos com um problema muito grave: qualquer forma de conhecimento
superior exige especialização. Precisamos nos especializar
para entrar mais profundamente em certos aspectos separados da realidade.
Mas, se a especialização é absolutamente necessária,
pode ser absolutamente fatal, se levada longe demais. Por isto, precisamos
descobrir algum meio de tirar o maior proveito de ambos os mundos: aquele
mundo altamente especializado da observação objetiva e da
abstração intelectual, e aquele que podemos chamar o mundo
casado da experiência imediata, no qual nada pode ser apartado. Somos
as duas coisas, intelecto e paixão, as nossas mentes têm conhecimento
objetivo do mundo exterior e da experiência subjetiva. Descobrir métodos
para unir esses mundos separados, mostrar a relação entre
eles, é, penso eu, a mais importante tarefa da educação
moderna. Gostaria
de citar uma frase muito bela, de uma carta escrita por T. H. Huxley a Charles
Kingsley, por ocasião da morte do filho pequeno de Huxley, de quatro
anos de idade. Kingsley escrevera-lhe uma carta de condolências, e
o meu avô respondeu escrevendo extensamente sobre todo o problema
da imortalidade e da posição do cientista no mundo moderno.
Ele disse: "Parece-me que a Ciência ensina da maneira mais elevada
e firme a grande verdade, personificada na concepção cristã,
de uma submissão absoluta à vontade de Deus. Sentarmo-nos
diante do destino como uma criança pequena, e estarmos preparados
para renunciar a qualquer noção preconcebida, seguindo humildemente
para sejam quais forem os abismos aos quais a Natureza nos guia, ou não
aprenderemos coisa alguma".
A
investigação das doenças progrediu de tal forma que
é quase impossível encontrar alguém totalmente saudável.
Não
basta que as frases sejam boas. Seria preciso que o que delas se fizesse
também fosse bom.
Os
ideais da Democracia e da liberdade se chocam com o fato brutal da sugestionabilidade
humana. Um quinto de todos os eleitores pode ser hipnotizado quase num abrir
e fechar de olhos, um sétimo pode ser aliviado das suas dores mediante
injeções de água, um quarto responderá de modo
pronto e entusiástico à hipnopédia.5
A todas estas minorias demasiado dispostas a cooperar, devemos adicionar
as maiorias de reações menos rápidas, cuja sugestionabilidade
mais moderada pode ser explorada por não importa que manipulador
ciente do seu ofício, pronto a consagrar a isso o tempo e os esforços
necessários. É
a liberdade individual compatível com um alto grau de sugestionabilidade
individual? Podem as instituições democráticas sobreviver
à subversão exercida do interior por especialistas hábeis
na ciência e na arte de explorar a sugestionabilidade
dos indivíduos e da multidão? Até que ponto pode ser
neutralizada pela educação, para bem do próprio indivíduo
ou para bem de uma sociedade democrática, a tendência inata
a ser demasiado sugestionável? Até que ponto pode ser controlada
pela lei a exploração da sugestionabilidade
extrema, por parte de homens de negócios e de eclesiásticos,
por políticos no e fora do poder?
Os
mártires penetram na arena de mãos dadas; mas, são
crucificados sozinhos.
E
se este mundo for o inferno de outro planeta?
Abraçados,
os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em
uma única autotranscendência. Debalde! Cada espírito,
em sua prisão corpórea, está condenado a viver e a
gozar em solidão.
A felicidade real sempre parece bastante
sórdida em comparação com as supercompensações
do sofrimento. E, por certo, a estabilidade não é, nem de
longe, tão espetacular como a instabilidade. E o fato de se estar
satisfeito nada tem da fascinação de uma boa luta contra a
desgraça, nada do pitoresco de um combate contra a tentação,
ou de uma derrota fatal sob os golpes da paixão ou da dúvida.
A felicidade nunca é grandiosa.
Se
considerais ter agido mal, arrependei-vos, corrigi os vossos erros na medida
do possível, e tentai vos conduzir melhor na próxima vez.
E não vos entregueis, sob nenhum pretexto, à meditação
melancólica das vossas faltas. Rebolar no lodo não é,
com certeza, a melhor maneira de alguém se lavar.
O
homem tem encontrado abundância em a Natureza, e, em quase todos os
casos, devastou inteiramente o que encontrou.
Todo
excesso traz, em si, o germe da autodestruição.
O
único grande mérito dos deuses (além de amedrontar
os pássaros e os ‘pecadores’, e, às vezes, consolar
os miseráveis), consiste nisto: erguidos sobre estacas, temos de
levantar a cabeça para vê-los. Quando alguém olha para
cima, mesmo que seja para procurar um deus, não pode deixar de ver
o céu que está além. E o que é o Céu?
Simples dispersão de ar e de luz.
Além
das prisões reais e históricas, marcadas por muita ordem e
disciplina, e aquelas em que a anarquia engendra o inferno do caos moral
e físico, há ainda outras prisões não menos
terríveis por serem fantásticas e, portanto, sem uma estrutura
fixa – as prisões metafísicas, que residem dentro da
mente, cujas paredes são feitas de pesadelo e de incompreensão,
cujas amarras são a ansiedade e seu instrumento de tortura, um sentimento
de culpa tanto pessoal quanto coletivo.
Convenientemente
aplicado a qualquer situação, o amor vence sempre. É
um fato que se verifica empiricamente. O amor é a melhor política.
A melhor não só para os que são amados, mas, também,
para quem ama. Pois, o amor é um potencial de energia.
O
bem da Humanidade deve consistir em que cada um goze o máximo de
felicidade que possa, sem diminuir a felicidade dos outros.
Por
estarmos encarnados,
somos
seres-aí (de)limitados.
Mas,
a tal da morte não liberta,
e, algumas
vezes, até incerta.
Nem
LSD
nem dimetiltriptamina,
nem mescalina nempsilocibina...
Nem
de joelhos nem prometendo,
nem
se relhando nem fendendo...
Já
para o ser-aí que delivra,
a compreensão,
esta sim, livra.
Entretanto,
o processo é longo;
tanto
faz ser gazil ou mocorongo.
O
Universo não escolhe;
quem
faz germinar colhe.
Somos
morango com creme;
somos
a bússola e o leme.
Não
há deus nem demônio
que falsifique
o nosso nônio.
Desde
sempre, escolhemos
o que,
no venturo, seremos.
Por tudo,
somos responsáveis:
veneráveis
ou abomináveis.
em que
é difícil a contravolta.
Para
a coluna não entortar,
é
necessário a Voz escutar.