Este estudo tem por objetivo apresentar para reflexão alguns pensamentos de Alexandra David-Néel.

 

 

Alexandra David-Néel
(Em sua juventude)

 

 

Breve Biografia

 

 

Alexandra David-Néel
(No Tibete, em 1933)

 

 

Alexandra David-Néel, pseudônimo de Louise Eugénie Alexandrine Marie David (Saint-Mandé, 24 de outubro de 1868 – Digne-les-Bains, 8 de setembro de 1969) foi uma famosa escritora espiritualista, budista, anarquista, reformadora religiosa e exploradora francesa.

 

David-Néel viajou durante quatorze anos por todo o Tibete e foi reconhecida como a primeira mulher européia a ser consagrada lama. Tornou-se praticante de tumo, uma técnica essencialmente tibetana de aquecimento corporal por meio da meditação, e da criação de tulpas, criaturas imaginárias que, segundo os monges budistas, chegariam quase a se materializar no mundo real. No decorrer de suas viagens e estudos escreveu mais de quarenta livros sobre o Budismo.

 

 

Pensamentos de Alexandra

 

 

Não há nada estranho na circunstância que eu possa ter criado a minha própria alucinação. O interessante é que, nestes casos de materialização, outras pessoas vêem as formas de pensamentos criadas.

 

... saídos do turbilhão das atividades irrisórias, às quais se dedicam os seres nascidos do desejo...

 

A verdade aprendida de outro é sem valor. Só conta, só é efetiva – [ainda que relativamente] – a verdade que nós mesmos descobrimos.

 

Sempre devemos nos perguntar:
— O que é a verdade?
A verdade sempre será percebida por nós
de maneira incompleta e relativa,
portanto, sempre será meio cinzenta,
inacabada e imperfeita.
Mas, muito mais do que isto:
ainda que a VERDADE seja UMA e a MESMA,
a minha percepção/realização da verdade
é diferente da sua, e a nossa da dele.
É por isto que, por exemplo,
a Ucrânia e a Faixa de Gaza
estão sendo absurdamente destruídas
e os ucranianos e os palestinos estão
sendo monstruosamente exterminados.
O senhor Putin e o senhor Zelensky
agasalham verdades estratégicas diferentes
assim como o senhor Bibi e os palestinos
nutrem verdades geopolíticas completamente opostas.
Ora, o primeiro requisito – o bê-á-bá – para que haja paz
– ou mesmo uma utópica Ewigen Frieden,
como propôs o filósofo alemão Immanuel Kant –
é que haja consciência das próprias limitações,
imperfeições e insuficiências,
ou seja, é necessário que tenhamos
humildade, modéstia e simplicidade.
Qualquer coisa diferente disto
sempre produzirá desentendimento,
discórdia, desavença, cizânia e guerra.

 

 

 

 

 

 

A Verdade é Assintótica
(Por isto, todas as verdades percebidas são relativas.)

 

 

O Balde da Verdade Cinzenta
(Por mais que, sem parar, a verdade pingue,
ela continuará cinzenta e o balde nunca ficará cheio!)

 

 

Solidão! Solidão! A mente e os sentidos desenvolvem a sua sensibilidade nesta vida contemplativa feita de observações e de reflexões contínuas.

 

Solidão! Solidão!
Não existe solidão.
Há, sim, ignorância e vaidade.

Solidão! Solidão!
Não existe solidão.
Há, sim, preconceito e separatividade.

Solidão! Solidão!
Não existe solidão.
Há, sim, sonolência e cagaço.

Solidão! Solidão!
Não existe solidão.
Há, sim, egoísmo e exclusivismo.

Solidão! Solidão!
Não existe solidão.
Há, sim, esquecimento e delírio.

 

A fé recomendada aos seus fiéis por todas as religiões, e considerada pelos fideístas como uma virtude essencial para que seja alcançada a salvação eterna. Entretanto, a fé não é, de forma alguma, aprovada nos Ensinamentos Secretos. Com base no conselho dado por Buddha aos Seus discípulos, a principal recomendação que os Mestres dão aos neófitos é: Dúvida! A dúvida é um incitamento à pesquisa, e a pesquisa é o Caminho que leva ao Conhecimento.

 

A Illuminação Espiritual só poderá ser adquirida através do esforço intelectual pessoal. [Ninguém pode conceder Illuminação Espiritual e ninguém. O primeiro passo para se tornar um Illuminado é, diariamente e com humildade, lutar o Bom Combate.]

 

O Sábio não espera por nada, evitando, assim, a decepção e a ansiedade.

 

Para aquele que aprendeu a olhar e a sentir, cada momento da vida é um encantamento.

 

Negligenciar as pequenas coisas sob o pretexto de querer realizar as grandes é a desculpa dos covardes.

 

É preciso ser muito forte ou muito estúpido ou estar completamente esgotado para enfrentar a vida com indiferença. [Há dois tipos básicos de indiferença: a indiferença negativa derivada da ignorância e a indiferença positiva que nasce com a Sabedoria.]

 

A saúde espiritual, moral e social é uma obra pessoal. Não existem salvadores, em nenhum domínio. O homem está só diante da dor, e tão-só por suas próprias forças ele deve e poderá vencer.

 

Obediência é morte. Cada momento em que o homem se submete a uma vontade estranha é um instante arrancado da sua própria vida.

 

Que cada um siga inteiramente, sempre e em todo lugar, o impulso da sua natureza, seja ela limitada, seja grande. Só então o homem saberá o que significa viver, em vez de desprezar a vida sem nunca a ter vivido.

 

Tomei o caminho certo; não tenho mais tempo para me dedicar à neurastenia.

 

Não gosto que o amanhã se pareça com o ontem. O caminho só me parece atraente quando não sei aonde ele me leva.

 

Uma espécie de realidade [miraginal e] ilusória é conferida ao mundo que criamos, considerando-o externo a nós, enquanto emana de nós e habita em nós, dependendo da [miragem] e da ilusão das quais somos vítimas.

 

 

 

 

Às vezes, chorava lágrimas amargas, com a profunda sensação de que a vida me escapava das mãos, de que os dias da minha juventude desapareciam, vazios, sem interesse, sem alegria. Entendi que estava perdendo um tempo que nunca mais recuperaria, que horas e horas que poderiam ter sido lindas estavam passando por mim. Os meus pais – como a maioria – não conseguiam compreender isso e, embora não fossem piores do que os outros, a verdade é que me causaram mais danos do que o mais incansável dos inimigos.

 

O segredo do treinamento psíquico, tal como os tibetanos o concebem, consiste em desenvolver o poder de concentração mental.

 

Quem conhece melhor a flor? Aquele que lê sobre ela em um livro ou aquele que a encontra selvagem na encosta da montanha?

 

 

 

 

O sofrimento eleva as [personalidades-]alma que são verdadeiramente grandes. São apenas as pequenas [personalidades-]alma que se tornam mesquinhas por causa disso.

 

É frio e triste pedir que o apóiem, que o aqueçam, que aliviem o fardo da miséria inerente à sua existência. Ninguém realmente pode mudar nada para você ou em você. É dentro de você que você deve cultivar a chama que o aquece; é somente em você mesmo que você deve confiar.

 

Eu ansiava por ultrapassar o portão do jardim, seguir a estrada que passava por ele e partir para o Desconhecido.

 

O Egoísmo [O SILÊNCIO] é necessário para realizar grandes coisas. Grandes destinos são sempre os destinos dos Grandes Egoístas [GRANDES SILENCIOSOS]. E quando esses destinos se cumprem, se tornam faróis poderosos que nos Illuminam.

 

Todas as coisas são agregações de átomos que dançam, e pelo seu movimento produzem som. Quando o ritmo da dança muda, o som que ela produz também muda... Cada átomo canta perpetuamente sua canção, e o som, a cada momento, cria formas sutis e densas.

 

 

Cristal de Cloreto de Sódio [Na⁺Cl^–]

 

 

O insulto, algumas vezes, é um ato de fé mais profundo do que a adoração.

 

Todas as palavras faladas soam vazias, quando as ouvimos com atenção. [Isto é particularmente flagrante no caso das glossolalias fajutas.]

 

 

Glossolalia Fajuta

 

 

Proteja-se dos ídolos! Sim, proteja-se contra todos os ídolos, dos quais, certamente, o maior é você mesmo!

 

Como estóicos, devemos desprezar a injúria, ou melhor, não devemos senti-la, não devemos ser afetados por ela, para que não possamos violar a liberdade da nossa [personalidade-]alma.

 

O insuspeitado é o cotidiano do viajante no Tibete.

 

Fazer estrelas com esterco de cachorro é o Grande Trabalho. Pegar uma experiência negativa e, comparando-a com algo pior, fazê-la sentir-se bem, é a Grande Habilidade.

 

Por que você ora, se duvida que será ouvido? [A dúvida é a mãe da derrota.]

 

 

 

 

A grande maioria dos leitores e dos ouvintes são iguais em todo o mundo. Não tenho dúvida de que as pessoas do seu país são como aquelas que conheci na China e na Índia, e estas últimas eram exatamente como as tibetanas. Se você lhes falar verdades profundas, elas bocejarão. Se você insistir, elas o abandonatão. Mas, se você lhes contar fábulas absurdas, elas serão todas olhos e ouvidos!

 

— Se você se vacinar,
ficará imunizado.
Um grande bocejo!

— Se você se vacinar,
virará um jacaré bêbado.
Uma grande anuição!

 

O alcançamento da Illuminação Transcendente é o verdadeiro objetivo dos Ensinamentos Ocultos Tradicionais, que não consistem, como muitos imaginam, em ensinar certas coisas espetaculosas ao aluno e lhes revelar certos segredos, mas, antes, em incentivá-los a aprender e descobrir as coisas por si mesmo. Repetindo: a Illuminação Espiritual só poderá ser adquirida através do esforço intelectual pessoal.

 

Eu, um dia, lhe perguntei:
— O que é a Libertação Suprema?
Ele me respondeu:
— É a ausência de todas as visões e de toda imaginação – é a cessação daquela atividade mental que cria ilusões [e miragens].

 

O ideal místico de salvação [que não existe como tal] só acontecerá através da Illuminação. [Um Dia, constataremos que ninguém é salvo de nada.]

 

Quaisquer que sejam as causas em ação, as transmissões telepáticas, conscientes ou inconscientes, parecem ocorrer com bastante freqüência no Tibete.

 

Uma vida virtuosa e a disciplina monástica, embora de grande valor e aconselhável para muitos, são apenas uma mera preparação para um caminho mais elevado.

 

Uma vida pura, a realização de boas ações, a retidão, a compaixão, o desapego das preocupações mundanas, o altruísmo e a tranqüilidade mental atuam como um processo de limpeza, que, gradualmente, remove a poeira impura que cobre os olhos mentais.

 

Um alpinista presunçoso quebra os ossos.

 

O próprio Buddha insistiu fortemente na necessidade de examinarmos as proposições apresentadas por Ele e de compreendê-las pessoalmente, antes de aceitá-las como verdadeiras.

 

Não acredite na força da tradição, mesmo que ela tenha sido honrada e aceita por muitas gerações e em muitos lugares. Não acredite em nada porque muita gente acredita. Não acredite nos ensinamentos dos sábios da Antigüidade. Não acredite no que você mesmo imaginou, pensando que um deus o inspirou. Não acredite em nada que dependa apenas da autoridade de mestres ou de sacerdotes. Após investigação, acredite, então, sim, naquilo que você mesmo testou, experimentou e que considerou razoável, e que é para o seu bem e para o bem dos outros.

 

— Disseram-me que era assim.

— Disseram-me que era ao natural.

— Disseram-me que era assado.

— Disseram-me que era cozido.

— Disseram-me que era frito.

— Disseram-me que era ensopado.

— Disseram-me que era refogado.

— Ouvi a Voz do Silêncio,
e, então, fui Illuminado!

 

 

 

 

A grande maioria daqueles que se autodenominam budistas não foi capaz de ascender ao nível mental dos Ensinamentos do Buddha. A maioria deles construiu para seu próprio uso vários tipos de budismos, que são tudo menos Budismo, e, na sua ignorância sesquipedal, defende, muitas vezes com amargura, a sua crença e as suas práticas absurdas como expressão da mais pura ortodoxia. [Muitíssimo pior do que isso foi o que aconteceu com o Cristianismo Gnóstico-Iniciático, que, na Baixa Idade Média, já havia se transformado em um Catolicismo caótico, dogmático, autoritário e sem pé nem cabeça. Basta, por exemplo, ler as atas do Segundo Concílio de Constantinopla, realizado na Cidade de Constantinopla (atual Istambul, Turquia), de 5 de maio a 2 de junho de 553.]

 

Os Mestres dos Ensinamentos Secretos dizem que a verdade aprendida de outrem não tem valor, e que a única Verdade viva e efetiva, que tem valor, é a Verdade que nós mesmos descobrimos [em nosso Coração].

 

Sem mandamentos! [Sem dogmas!] Viva a sua vida! Viva o seu instinto!

 

Sem mandamentos!
Sem jamais se ajoelhar!
Viva a sua vida!
Sem jamais arremedar!
Viva o seu instinto!
Sem jamais renunciar!