CRITÉRIO DE VERDADE

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Alceu Amoroso Lima
(Tristão de Ataíde)

Fragmentos

 

 

 

Alceu Amoroso Lima

 

 

 

O passado não é aquilo que passa, é aquilo que fica do que passou.

 

Em cada momento da vida é preciso recomeçar a viver. É mister, sobretudo, nunca se cansar de viver e de recomeçar a viver.

 

A primeira condição para se realizar alguma coisa, é não querer fazer tudo ao mesmo tempo.

 

É preciso fazer compreender à criança que a leitura é o mais movimentado, o mais variado e o mais engraçado dos mundos.

 

Amar, no verdadeiro sentido do termo, é um sacrifício de si mesmo, é uma vitória sobre suas paixões, sobre a impaciência, sobre a monotonia, sobre o egoísmo, sobre a vaidade, sobre tudo o que nos leva a olhar apenas para dentro de nós mesmos.

 

A utopia é o derradeiro reduto dos que não desesperaram da liberdade.

 

É preciso elitizar as massas e massificar as elites.

 

A vida não passa de um instante; mas basta este instante para empreendermos coisas eternas.

 

O homem não foi feito para a solidão, mas a solidão existe para que o homem encontre a si mesmo.

 

O homem sem vida interior deixa-se viver, isto é, deixa-se levar pela vida. O futuro não o preocupa, porque não o ocupa.

 

Onde não há oposição livre, há conspiração latente.

 

A problemática do cristão não é ser ou não ser. É a de ser e não ser, isto é, ser no mundo, mas sem ser do mundo.

 

Conversão ao Catolicismo: São Paulo diz que há dois tipos de conversão. Para simplificar: a conversão lenta e a conversão violenta. Há uma conversão como a de São Paulo: violenta, que passa de uma pessoa que é conscientemente perseguidora do Cristo, negadora de todas as verdades judeu-cristãs e que os gregos chamam de metanóia [mudança essencial de pensamento ou de caráter; transformação espiritual]. E há uma conversão lenta, a transformação de um estilo de vida, de uma concepção, para outro estilo de vida, outra forma de concepção. A minha conversão foi evidentemente lenta. Eu nunca tive uma educação religiosa muito profunda. A minha família era religiosa, mas de uma religiosidade bastante superficial. Posso dizer que até vinte anos o problema religioso não me interessou. Por isto, costumo dividir minha vida em três etapas: a etapa literária, a etapa de idéias e a etapa de fatos, acontecimentos. A etapa literária vai até os vinte e poucos anos: só a literatura e a estética me interessavam. Aí, a Guerra de 14 foi um problema mundial que afetou profundamente a mim e à minha geração de um modo muito radical, porque a gente vivia mesmo a 'belle époque' no sentido de gozar a vida, gozar a vida esteticamente, ideologicamente, filosoficamente, no sentido de preocupação de idéias, não no sentido de ir fundo nos problemas. A guerra provocou realmente uma ruptura. Eu estava em Paris, e diante daqueles fatos trágicos, de vida ou de morte, da morte de uma civilização, de um país, de uma geração, da minha geração, que eu julgava isenta de ter que fazer opções tão dramáticas. Voltei para o Brasil e fui me ajustando até encontrar uma pessoa – que foi o Jackson de Figueiredo – que promoveu a minha conversão. Neste sentido, a verdade contida na essência do Cristianismo, de que a Verdade é uma pessoa: Eu sou o Caminho, a Verdade, a Vida, diz o Cristo, ou seja, este sentido personalista de que há na Terra alguém que representa o Caminho e a Verdade na sua integridade, para mim, começou a se apresentar.

 

O Cristianismo é uma passagem de uma promessa do Messias para a realização dessa promessa através da vivência no tempo, e uma revelação do que é realmente o sentido da vida. O Cristo é o sentido do amor, da amizade, da fraternidade. Então, o Cristianismo é o sentido de que se encontrou alguma coisa, mas que este encontro não é um descanso, mas uma responsabilidade nova.

 

O poder é uma coisa perigosa. Pois bem, o sexo é mais perigoso ainda.

 

Todo homem deveria ser incendiário até os 25 anos de idade e bombeiro daí em diante.

 

Sou um individuo que tende ao amadorismo e não ao profissionalismo.

 

Temos de arrancar de todo o nosso sofrimento a capacidade de reagir dentro das nossas possibilidades. Conhecer nossos limites. Ser limitado sem ser medíocre. Ser equilibrado sem ser conformista, sem ser morno. Deus vomita os mornos.

 

Devemos ter o amor da dignidade, da honra, para saber que vivemos em um mundo em que o bem e o mal estão confundidos em nossas próprias almas.

 

Cada um de nós deve ter o amor da perfeição. Saber que devemos querer o máximo, mas saber que o máximo nunca atingiremos. A santidade é um mosaico de pequenas virtudes. Os grandes gestos são raros. No mais, a vida é feita de pequenos gestos anônimos. Temos que adquirir o sentido de sermos o menos imperfeito possível. Isto já é uma grande conquista.

 

Dizem que quando Einstein veio ao Brasil, Alceu Amoroso Lima, que o acompanhava, volta e meia fazia anotações em um caderninho. Intrigado, o cientista indagou-lhe o que tanto escrevia. Alceu explicou:Toda vez que tenho uma idéia interessante, anoto. Einstein então retrucou: Engraçado, eu só tive uma idéia até hoje — referindo-se implicitamente à sua Teoria da Relatividade.

 

O êxito não é critério de verdade.




Alceu Amoroso Lima (1893 – 1983)


 

 

 

 

 

 

 

O bom sucesso não é critério de verdade.

O fideísmo não é critério de verdade.

A racionalidade não é critério de verdade.

Uma dada verdade não é critério de verdade.

 

 

E por que o bom sucesso, o fideísmo,

a racionalidade e uma dada verdade

não podem ser considerados critérios de verdade?

Por que cada um, a seu modo, é um -ismo.

 

 

Talvez, o erro grosseiro maiormente cometido

seja a crença em uma verdade absoluta.

O pior é tentar convencer na força bruta,

pois isto deriva de um olhar malconduzido.

 

 

Mas, ainda bem que de verdade em verdade,

de um ensaio e erro por aqui, de outro por ali,

de um desemperro por aqui, de outro por ali,

assintoticamente,1 nos aproximamos da Verdade!

 

 

 

 

De Verdade Relativa em Verdade Relativa...

 

 

 

 

 

 

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Nota:

1. Uma assíntota (assímptota) é uma reta que é tangente a uma curva no infinito, ou seja, é uma reta limite da família de tangentes a uma curva quando o ponto de tangência tende para o infinito. Ou ainda, uma assíntota é uma reta que se aproxima indefinidamente de uma curva sem jamais cortá-la, mesmo que se suponha uma e outra prolongadas ao infinito com uma distância menor do que toda quantidade finita determinada. Nossa capacidade de compreensão é como esta reta; só assintoticamente poderemos nos aproximar da Verdade Cósmica, já que o próprio Cosmos não se compreende integral e absolutamente a Si mesmo.

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/
0,6993,EPT672883-1655,00.html

http://www.saldaterraluzdomundo.
net/literatura_entrev_alceu.htm

http://www.ditados.com.br/AUTOR.ASP
?autor=Alceu%20Amoroso%20Lima

http://pt.wikiquote.org/
wiki/Alceu_Amoroso_Lima

 

Fundo musical:

Illusion

Fonte:

http://br.geocities.com/mimifantasy01/midi.htm