AGRAÚDE1 OU AMIÚDE?

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

Não sei se é amiúde,

não sei se é agraúde.

Mas sei que um passo

é uma pisada-amasso.

 

Andando, calcando,

vamos todos matando

insetinhos reptantes...

Todo dia... Bastantes!

 

afligimos o Uno-Ser,

com Sol e de noite...

 

Inconscientemente,

antanho, atualmente,

todo pé é um açoite!

 

 

 

 

 

 

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Nota:

1. Agraúde é um simpático neologismo criado por Rose Nânie Heringer da Silva – uma espécie de sinônimo avantajado de amiúde, pois, se amiúde (do latim, adminútim) significa repetidas vezes, com freqüência, a miúdo, em pedacinhos, em bocadinhos, em migalhas, agraúde (vocábulo que, se existisse em latim, talvez pudesse ser admontim ou adborbotim) quer dizer a mesma coisa, só que de montão, aos borbotões, aos nacos. Bem, isto, mais do que uma licença poética, é mesmo uma maluquice!

 

Observação:

Por que escrevi este soneto? Bem, por diversos motivos, mas, principalmente, para lembrar que não há aquele que, querendo ou não querendo, sabendo ou não o que está fazendo, eventualmente, não provoque uma desarmonia ou uma quebra de expectativa. Por exemplo, basta dar um espirro (esternutação), e lá vai perdigoto para todo lado, espalhando até 40.000 gotículas infecciosas, cujo diâmetro varia de 0.5 a 5 µm! Quanto a arrotos e puns, não sei. Seja como for, a todos nós faltam, no mínimo, nove décimos de discernimento. Enfim, este soneto está também, mais ou menos, ligado àquela passagem bíblica (Evangelho de João, VIII, 7) na qual os escribas e os fariseus queriam apedrejar uma mulher apanhada em adultério. Depois de aturar todas as provocações e os argumentos absurdas dos escrevinhadores e dos formalistas e hipócritas, Jesus, parando de escrever com o dedo na terra, levantou-se calmamente, e disse ao presumidos cumpridores e defensores da Lei de Moisés: — Aquele de vós que estiver sem pecado seja o primeiro a lhe atirar a pedra. O resto da história todo mundo conhece, mas, apesar de Jesus, naquele exato momento, ter revogado a pena de lapidação, ela ainda continua vigente em certos países. Vai ver que os venerandos meritíssimos, que têm a cara-de-pau de prolatar sentenças de apedrejamento, nunca cobiçaram a mulher do próximo, nunca se masturbaram, nunca tiraram um sarrinho, nunca paparam uma prendinha, nunca tiveram um sonho erótico, nunca comeram uma melequinha escondidinho e nunca sei-lá-mais-tantas-outras-coisas. Vai ver que é isto; tudo é possível. Mas, eu, se dependesse do meu passado, jamais poderia ser um juiz. Meritíssimo? Nem pensar! E, se, por acaso ou por descuido, tivesse sido, com certeza seria um juiz de merda ou uma merda de juiz, e acabaria exonerado rapidinho a bem da Justiça e da ordem pública, porque eu não condenaria ninguém. Voltando ao meu queridíssimo Mestre Jesus, tenho de reconhecer que Ele era, além de tudo o que sabemos que Ele foi e que continua sendo, um homem educado. Eu, que também me considero educado, mas, nem tanto, no lugar Dele, teria dito: — Olha aqui, ô gente fina: a senhora aí, que vocês estão querendo apedrejar, deu o que era dela ou deu o que era da mãe de um de vocês? Se deu o que era dela, ninguém tem nada com isso. Então, circulando, que eu tenho mais o que fazer do que aturar preconceito e idiotice de pecador babaca e marca roscofe. Bem, claro, isto foi uma franca expansão de sentimentos e de pensamentos íntimos de alguém que não suporta preconceitos, e muito menos tolera apedrejamentos. E mais: o Mestre Jesus estava certo quando disse o que disse, pois se tivesse dito o que eu disse que diria ou algo semelhante, os escribas e os fariseus de plantão não teriam feito um exame de consciência, o que eu suponho que tenham feito, e teriam apedrejado a adúltera. Para concluir, só de passagem: ninguém se torna adúltero a troco de nada. Enfim, essa palavra adúltero é medonha e descabida, pois, normalmente, não existem nem acontecem relações carnais fora de um casamento estável e equilibrado. Quando isto acontece, é porque o casamento já acabou, e, se já acabou, não existe adultério. Simples; como dois e dois são quatro. Por fim, quem pode julgar uma mulher e decidir e sentenciar que ela deve morrer apedrejada? Raios partam os escribas e os fariseus! Isto é medieval! Foi por tudo isto que escrevi este soneto.

 

 

Quantos perdigotos há neste espirro?

 

 

Música de fundo:

Day-O (The Banana Boat Song)
Composição: adaptada por Irving Burgie e William Attaway
Interpretação: Harry Belafonte

Fonte:

http://mp3skull.com/mp3/harry_belafonte_calypso.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Espirro

http://bighexlittlehex.wordpress.com/
2011/11/30/ant-war/

http://victorious.wikia.com/wiki/
Template:Benster

http://harris.agrilife.org/
program-areas/fireant/

http://www.strandarchive.co.uk/
nicknames.html

 

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