Aquele
cujo propósito é saber qualquer coisa melhor do que
a multidão deve ultrapassar em muito todos os outros, tanto
em sua natureza como em seu treinamento precoce. E quando chegar
à primeira adolescência ele deverá se tornar
imbuído de um ardente amor pela verdade, como um inspirado;
nem um dia ou noite ele poderá deixar de se incitar e de
se esforçar, a fim de aprender completamente tudo o que tenha
sido dito pelos mais ilustres Antigos. E quando tiver aprendido,
então, por um longo período, ele deverá testar
e prová-lo, observando qual parte está de acordo e
qual está em desacordo com os fatos óbvios. Assim,
ele poderá escolher uma coisa e rejeitar outra.
A menos que se saiba como
um órgão funciona, não se pode nem reconhecer
sua condição saudável nem aliviar seus males,
e a função de um órgão pode ser entendida
somente dentro do contexto da unidade de todo o organismo e sua
unidade com seu ambiente.1
Hipócrates
foi o primeiro conhecido por nós dentre aqueles que foram
tanto médicos quanto filósofos, e foi o primeiro a
reconhecer o que a Natureza faz.
A
Fisiologia inclui grande parcela de Física e de Química,
elas mesmas consideradas como o estudo dos processos inteligentes
(e, portanto, inteligíveis) da Natureza.
A
principal característica da Natureza é a 'techne'
– sua artisticidade criativa.
Enquanto
as categorias do movimento autônomo possam ser entendidas
'a priori', a observação clínica, baseada em
detalhado conhecimento anatômico, é crítica
para a diagnose de qualquer doença ou desequilíbrio
no sistema orgânico.
O
verdadeiro curador deve dominar os três ramos da Fisiologia:
1º) a Lógica, a Ciência do pensamento correto
e da conceitualização; 2º) a Física e
a Ciência da Natureza visível e invisível; e
3º) a Ética – a ciência do que fazer.
A
Natureza é viva e inteligente; o caráter moral do
médico reflete seu reconhecimento da operação
da própria Natureza.
O curador tem sucesso não
só por causa de seu conhecimento, mas, também, porque
ele conscientemente busca auxiliar a Natureza, que revela seus segredos
aos seus servos fiéis e devotos.
Alguns indivíduos,
por natureza, são bons, e outros são maus,2
e a educação não pode alterar significativamente
suas constituições naturais. Pode, não obstante,
desenvolver os naturalmente bons e impor algumas restrições
aos inerentemente maus.
Para
a maioria dos seres humanos, é possível o progresso
ético e intelectual.
Se um professor não
puder ver com maior clareza intelectual que seus estudantes, ele
não deverá estar nesta profissão.
O
caráter pode ser influenciado pela educação
porque os traços atribuídos à personalidade
e ao caráter são parte não da alma racional,
mas, da irracional, ou seja, dos aspectos vital e vegetativo da
psique.
O
pensamento falacioso emerge tanto de falhas na argumentação
como de ambigüidades nos conceitos.
A
linguagem, essencialmente, deve transmitir o que ela significa;
já a ambigüidade é o grau em que o significado
é obscuro.3
O
melhor Médico é também um Filósofo.
Para
diagnosticar, é preciso observar e raciocinar.
Preguiça
gera humores4
do sangue.
Todos os animais ficam tristes
[abatidos, melancólicos]
depois do coito, exceto a fêmea humana e o galo.
Os sectários não
conseguem apre[e]nder.
Aquele
que mais estima a riqueza do que a virtude, e que aprende a sua
arte para acumular fortuna, e não para o bem da Humanidade,
não merece figurar entre os que exercem a Medicina.5
Cura
melhor quem tem a confiança do paciente.
O trabalho é o médico
da Natureza e é essencial à felicidade humana.
O
hábito é uma segunda natureza.
Há um único
Deus.
O
corpo é uma criação divina e instrumento da
alma.
Peregrinação
Espiritual
______
Notas:
1. Galeno
foi um dos pioneiros da Medicina Holística.
2. Na
verdade, penso que, propriamente, não existam indivíduos
bons e maus, pecadores e santos, da mesma forma que, mal comparando,
por exemplo, um aluno da 1ª série do 1º grau tem
menos conhecimento geral e aptidão do que um aluno da 1ª
série do 2º grau, e um Nirmânâkâya
não está no mesmo Plano de Realização
que um Sambhogakâya;
há, sim, em virtude da maior ou menor compreensão
(ignorância) das Leis da Natureza, maior ou menor harmonia
(percepção interna) com estas Leis, derivando daí,
no caso dos chamados bons e maus, comportamentos e atitudes que
costumamos classificar, dualística e antagonicamente, em
bem e mal. Então, de modo geral, tudo se resume à
uma maior ou menor ignorância (compreensão) da Lei,
o que poderá, em casos extremos e mórbidos, desembocar
em absurdidades palúrdias, para dizer o mínimo e como
se fosse possível uma absurdidade não-palúrdia,
como foi o caso do Großdeutsches
Reich (Grande Reich Alemão), das diversas ideologias
totalitárias, fascistas e xenofóbicas ou de indivíduos
mentalmente desequilibrados, do tipo Elias Pereira da Silva, mais
conhecido como Elias Maluco, Charles Manson, Jack, o Estripador,
Ted Bundy, frei Brendan Smyth, padre Robert Burns, Karla Homolka
e Mary Flora Bell. Enfim, cada um que cuide e trate de dominar seus
demônios, para não acabar igualzinho a eles e ser entropizado.
A animação em flash abaixo mostra mais ou
menos como funciona a percepção interna.
Percepção
Interna
3.
Para Galeno, era essencial o reconhecimento deste problema lingüístico
(a ambigüidade), pois, ele, freqüentemente, se via debatendo
com médicos que confundiam rotulação (etiquetar
com simplismo ou impropriedade) com diagnóstico (fase do
ato médico em que o profissional procura a natureza e a causa
da afecção). O enorme perigo da rotulação
é tratar o rótulo e não o paciente, negando
a unidade do organismo. Galeno trabalhou toda a sua vida para banir
da prática médica o equívoco de atacar a doença
como se ela pudesse ser separada de toda a vida pregressa do paciente.
4.
Humores são líquidos secretados pelo corpo, e que,
no passado, eram tidos como determinantes das condições
físicas e mentais do indivíduo. Na Antiguidade Clássica,
contavam-se quatro humores: sangue, bile amarela, fleuma ou pituíta
(secreção mucosa que, eliminada pelo nariz, era tida
como proveniente do encéfalo) e bile negra ou atrabílis
(suposto humor ao qual os antigos atribuíam o temperamento
melancólico, a irascibilidade, a hipocondria etc.).
5.
Isto vale para tudo, particularmente para o sacerdócio. Recentemente,
em sua visita ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude (2013),
o Papa Francisco comentou: A
relação dos bispos e dos sacerdotes com o povo é
uma relação existencial, sacramental. Mas, eles também
são homens e, por isto, são pecadores e são
tentados. Santo Agostinho, comentando o profeta Ezequiel, falou
de duas tentações: a riqueza, que pode chegar a se
converter em avareza, e a vaidade. Quando os bispos e os sacerdotes
se aproveitam das ovelhas para si mesmos, o movimento muda: não
é mais o bispo e o sacerdote para o povo, mas, o bispo e
o sacerdote que tiram do povo. Quando bispos e sacerdotes correm
atrás de dinheiro, o povo não os ama, e isto é
um sinal. Mas, esses bispos e esses sacerdotes terminam mal. Se
formos pelos caminho da riqueza, se formos pelo caminho da vaidade,
acabaremos nos convertendo em lobos, não em pastores.
Estes comentários foram editados por mim, todavia, sem qualquer
mudança no conteúdo da mensagem.
Observação:
Galeno
(Claudius Galenus) – * Pérgamo, cerca de 129, †
provavelmente Sicília, cerca de 217 – foi o maior médico
do mundo antigo, tendo se baseado na Medicina Hipocrática
para criar um sistema de patologia e terapêutica de grande
complexidade e coerência interna. Galeno é um representante
exemplar não daqueles que proclamam a verdade última,
mas, dos que apontam o caminho para ela.