PLATÃO – A REPÚBLICA

 

 

 

Platão

Platão

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Acho que o pensador mais estudado e divulgado no Website Pax Profundis tenha sido Platão – – (Atenas, 428/427 – Atenas, 348/347 a.C.) – Iniciado, Filósofo e Matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental, e o mais brilhante e conhecido discípulo de Sócrates.

 

Hoje, aos trabalhos que venho irradiando da obra platônica, estou acrescentando diversos fragmentos (alguns editados) de um reestudo que acabei de fazer de A República – a primeira concepção de sociedade perfeita que se conhece, na qual dirigentes e guardiães representam a encarnação da pura racionalidade, obra-matriz inspiradora de todas utopias aparecidas e da maioria dos movimentos de reforma social que desde então a Humanidade conheceu. Esta obra platônica está estruturada sob a forma de uma argumentação dialética (um diálogo socrático) cujo tema central é a justiça. No decorrer da obra, Platão imagina uma república fictícia (a cidade de Calípole, Kallipolis, que significa Cidade Bela), onde são questionados os assuntos da organização social, particularmente teoria política e filosofia política, na qual a ordem da cidade é uma incorporação na realidade histórica da idéia do Bem – o Agathon – elaborado minuciosamente na parte central do diálogo na Alegoria da Caverna, onde são discutidos o Governo dos Filósofos e a visão do Bem.

 

Por último, informo que este estudo, que ora estou divulgando, está incompleto e inacabado.

 

 

 

A República

Trecho de A República, de Platão

 

 

 

Fragmentos Platônicos Republicanos

 

 

 

Não é o gênio que vos escolherá, mas vós que escolhereis o gênio. O primeiro, a quem a sorte couber, seja o primeiro a escolher uma vida a que ficará ligado pela necessidade. A virtude não tem senhor; cada um a terá em maior ou menor grau, conforme a honrar ou a desonrar. A responsabilidade é de quem a escolhe. Os deuses são isentos de culpa.

 

 

 

 

O supra-sumo da injustiça é parecer justo sem o ser.

 

O resultado é sempre mais rico, mais belo e mais fácil quando cada pessoa fizer uma só coisa, de acordo com a sua natureza e na ocasião própria, deixando em paz as outras.

 

A vida é um grande combate ('megas agon')... e consiste em nos tornarmos bons ou maus. De modo que não devamos nos deixar arrebatar por honrarias, nem por riquezas, nem por poder algum, nem mesmo pela poesia, descurando a justiça e as outras virtudes.

 

A liberdade em excesso1 não conduz a mais nada que não seja a escravatura em excesso, quer para o indivíduo, quer para o Estado.

 

Para que o guardião, futuro filósofo-rei, atinja o Bem, é preciso sair da caverna e contemplar o Sol.

 

No limite do cognoscível é que se avista, a custo, a idéia do Bem. E, uma vez avistada, compreende-se que ela é para todos a causa de quanto de justo e belo há; que, no mundo visível, foi ela que criou a luz, da qual é senhora; e que, no mundo inteligível, é ela senhora da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para ser sensato na vida particular e pública.

 

A alma filosófica, ao contemplar a totalidade do tempo e do ser, colocará a própria vida e a morte em segundo plano e se apaixonará pelo saber que possa lhe revelar algo daquela essência que existe sempre, e que não se desvirtua por ação da geração e da corrupção.

 

O homem, se quiser ser brando com os familiares e com seus amigos, tem de ser, por natureza, filósofo e amigo do saber.2

 

 

 

 

Zeus é o Distribuidor.

 

Realmente, devemos ter a verdade em alto preço.

 

É impossível que o mal venha dos deuses.3

 

Os guardiães devem ser isentos de todos os outros ofícios, para poderem ser os artífices muito escrupulosos da liberdade do Estado, e de nada mais devem se ocupar que não diga respeito a isto.

 

As imitações, se se perseverar nelas desde a infância, se transformam em hábito e natureza para o corpo, para a voz e para a inteligência.

 

 

Chico Anysio

 

 

A inteligência verdadeiramente modela o caráter na bondade e na beleza.

 

Riqueza alguma poderá proporcionar a paz a um homem mau.

 

O homem se torna rigorosamente um tirano, quando, por natureza, ou por hábito, ou pelos dois motivos, se torna ébrio, apaixonado e louco.

 

O amor verdadeiro, por sua natureza, ama com moderação e harmonia a ordem e a beleza.

 

Nada de furioso ou de aparentado com a libertinagem deve se aproximar do amor verdadeiro.

 

Se era filho de um Deus, não pretendia lucros sórdidos; se pretendia lucros sórdidos, não era filho de um Deus.

 

O corpo não se trata por meio do corpo, mas por meio da alma, a qual, se já estiver ou ficar doente, não é possível tratar com êxito seja do que for.

 

 

 

A Alegoria da Caverna

 

 

 

Imagina agora o estado da natureza humana com respeito à ciência e à ignorância, conforme o quadro que dele vou esboçar. Imagina uma caverna subterrânea que tem em toda a sua largura uma abertura por onde entra livremente a luz e, nesta caverna, homens agrilhoados desde a infância, de tal modo que não possam mudar de lugar nem volver a cabeça devido às cadeias que lhes prendem as pernas e o tronco, podendo tão-só ver aquilo que se encontra diante deles. Nas suas costas, a certa distância e a certa altura, existe um fogo cujo fulgor os ilumina, e entre este fogo e os prisioneiros depara-se um caminho dificilmente acessível. Ao lado deste caminho, imagina uma parede semelhante a esses tapumes que os charlatães de feita colocam entre si e os espectadores para esconder destes o jogo e os truques secretos das maravilhas que exibem.

— Estou a imaginar tudo isso.

— Imagina homens que passem para além da parede, carregando objetos de todas as espécies ou pedra, figuras de homens e animais de madeira ou de pedra, de tal modo que tudo isto apareça por cima do muro. Os que tal transportam, ou falam uns com os outros ou passam em silêncio.

— Estranho quadro e estranhos prisioneiros!

— E, no entanto, ponto por ponto, são tal qual como nós. Em primeiro lugar, julgas que percepcionarão outra coisa, de si mesmos e dos que se encontram a seu lado, além das sombras que na sua frente se produzem, no fundo da caverna?

— Que outra coisa poderão ver, pois que, desde o nascimento, foram compelidos a conservar a cabeça permanentemente imóvel?

— Verão, apesar disto, outras coisas além dos objetos que passam à sua retaguarda?

— Não.

— Se pudessem conversar uns com os outros, não concordariam em dar às sombras que vêem os nomes destas mesmas coisas?

— Sem dúvida.

E, se no fundo da sua prisão, houvesse eco que repetisse as palavras daqueles que passam, não imaginariam que ouviam falar as sombras mesmas que desfilam diante dos seus olhos?

Sim.

E, por fim, não julgariam eles que nada existiria de real além das sombras?

Não há dúvida.

Pensa, agora, naquilo que naturalmente lhes aconteceria se fossem libertados das suas cadeias e se fossem elucidados acerca do erro em que estavam. Liberte-se um desses cativos, e que ele seja obrigado a se levantar imediatamente, a voltar a cabeça, a andar e a enfrentar a luz: nada disto poderá fazer sem grande esforço; a luz encandear-lhe-á a vista e o deslumbramento produzido impedi-lo-á de distinguir os objetos cujas sombras via antes. Que julgas tu que responderia se lhe dissessem que até então apenas vira fantasmas, e que agora tem ante os olhos objetos mais reais e mais próximos da verdade? Se lhe mostrarem imediatamente as coisas à medida que se forem apresentando, e se for obrigado, à força de perguntas, a dizer o que é cada uma delas, não ficará perplexo e não julgará que aquilo que dantes via era mais real do que aquilo que agora se lhe apresenta?

Sem dúvida.

E se o obrigassem a enfrentar o fogo, não adoeceria dos olhos? Não desviaria seu olhar, para dirigi-lo para a sombra, que enfrenta sem dificuldade? Não julgaria que essa sombra possui algo de mais claro e distinto do que tudo quanto se lhe mostra?

Certamente.

Se, agora, o arrancarmos da caverna e o arrastarmos pela senda áspera e fragosa até à claridade do Sol, que suplício o seu por ser assim arrastado! Como está furioso! E, uma vez chegado à luz livre, os olhos ofuscados com o fulgor dela, poderia ver alguma coisa da multitude de objetos a que chamamos seres reais?

De início ser-lhe-ia impossível.

Necessitaria de tempo, sem dúvida, para se acostumar a eles. Aquilo que distinguiria melhor seria, em primeiro lugar, as sombras; e, logo a seguir, as imagens dos homens e dos mais objetos, refletidos à superfície das águas; por fim, os próprios objetos. Daí volveria os olhos para o céu, cuja visão suportaria com maior facilidade durante a noite, à luz da Lua e das estrelas, do que durante o dia, à luz do Sol.

Sem dúvida.

Por fim, encontrar-se-ia em condições, não só de ver a imagem do Sol nas águas e em tudo aquilo em que se reflita, como de olhá-lo e contemplar o verdadeiro Sol no seu verdadeiro local.

Sim.

Depois disto, pondo-se a refletir, chegaria à conclusão de que o Sol é o que determina as estações e os anos, e o que rege todo o mundo visível e que, de certo modo, é causa daquilo que se via na caverna.

É evidente que chegaria gradualmente a tais reflexões.

E se, então, se recordasse da sua primeira habitação e da idéia que aí formavam da sabedoria, ele e os seus companheiros de escravidão, não se regozijaria com a mudança e não teria compaixão da desgraça daqueles que permaneciam cativos?

Certamente.

Crês tu que agora ele sentisse ciúmes das honras, das vaidades e recompensas ali outorgadas àquele que mais rapidamente captasse as sombras, àquele que com maior segurança recordasse as que iam atrás ou juntas, e por tal razão seria o mais hábil em prever a sua aparição, ou que invejasse a condição daqueles que na prisão eram mais poderosos e mais honrados? Não preferiria, como Aquiles, segundo Homero, passar a vida a serviço de um pobre lavrador e sofrê-lo, a voltar ao seu primeiro estado e às suas primitivas ilusões?

Não duvido de que preferiria suportar todos os males possíveis a voltar a viver de tal modo.

Atenta, pois, nisto: se regressasse novamente à sua prisão, para voltar a ocupar nela o seu antigo posto, não se acharia como um cego, na súbita passagem da luz do dia para a obscuridade?

Sim.

E se, no entanto, ainda não distinguisse nada e, antes que os seus olhos se houvessem refeito, o que apenas poderia acontecer depois de muito tempo, tivesse de discutir com os mais prisioneiros sobre estas sombras, não se tornaria ridículo aos olhos dos outros, que diriam dele que, por ter subido até lá acima, perdera a vista, acrescentando que seria uma loucura eles pretenderem sair do lugar onde se encontravam, e que, se alguém se lembrasse de tirá-los dali e levá-los para a região superior, se tornaria necessário prendê-lo e matá-lo?

Indiscutivelmente.

Pois, meu querido Glauco, é esta, precisamente, a imagem da condição humana. A caverna subterrânea é este mundo visível; o fogo que a ilumina, a luz do Sol; o prisioneiro que ascende à região superior e a contempla é a alma que se eleva até à esfera do inteligível. É isto, pelo menos, o que penso, já que o queres conhecer, mas só Deus sabe se é certo. Pelo que me toca, a coisa afigura-se-me tal como te vou comunicar. Nos últimos limites do mundo inteligível encontra-se a idéia do Bem, que só com dificuldade se percebe, mas que, todavia, não pode ser percebida sem que se conclua que ela é a causa primeira de quanto há de bom e de belo no Universo; que ela, neste mundo visível, produz a luz e o astro do qual a luz irradia diretamente; que, no mundo visível, engendra a verdade e a inteligência; que é preciso, enfim, ter os olhos fitos nessa idéia, se quisermos conduzir-nos honestamente na vida pública e privada.

Na medida em que pude compreender a tua idéia, concordo contigo.

Tens, pois, de admitir e não estranhar que aqueles que alcançaram esta sublime contemplação desdenhem da intervenção nos assuntos humanos e que as suas almas aspirem, incessantemente, a se fixar neste lugar eminente. Assim deve ser, se isto está em conformidade com a pintura alegórica que esbocei.

Assim deve ser.

 

 

 

Não há nada mais vergonhoso do que alguém ser honrado pela fama dos antepassados e não pelo merecimento próprio.

 

O cansaço físico, mesmo que suportado forçosamente, não prejudica o corpo, enquanto o conhecimento imposto à força não pode permanecer na alma por muito tempo.4

 

O homem retrata-se inteiramente na alma. Para saber o que é e o que deve fazer, deve olhar-se na inteligência, na parte da alma na qual fulge um raio da Sabedoria Divina.

 

O juiz não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas para julgar segundo as leis.5

 

O livro é um mestre que fala, mas que não responde.

 

O que ama é, de certa maneira, mais divino que o objeto amado, pois possui em si divindade é possuído por um Deus.

 

O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê.

 

O sábio fala porque tem alguma coisa a dizer; o tolo, porque tem que dizer alguma coisa.

 

O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel.6

 

Os homens não desejam aquilo que fazem, mas os objetivos que os levam a fazer aquilo que fazem.7

 

Os olhos do espírito só começam a ser penetrantes quando os do corpo principiam a enfraquecer.

 

Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.

 

Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz do que o injustiçado.

 

São muitos os que usam a régua, mas poucos os inspirados.

 

Quando a violência das paixões se desalentar e o seu ardor arrefece, ficamos libertos de uma multidão de furiosos tiranos.

 

Boas pessoas não precisam de leis para agir responsavelmente; já as pessoas ruins, se puderem, sempre encontrarão um modo de contornar as leis.

 

Aprender, na realidade, não é mais do que recordar.

 

O melhor uso que podemos fazer da maledicência é calar os maldizentes continuando a viver bem.

 

Devemos aprender durante toda a vida sem imaginar que a sabedoria vem com a velhice.

 

Devemos prosperar por merecimento, não por proteção.

 

Coragem é a força que mantém sempre a opinião justa e legítima sobre o que é necessário temer e não temer.

 

Muitos odeiam a tirania apenas para que possam estabelecer a sua.

 

Não eduques as crianças nas várias disciplinas recorrendo à força, mas como se fosse um jogo, para que também possas observar melhor qual a disposição natural de cada uma.

 

Na realidade, não há nada bom nem mau, a não ser estas duas coisas: a sabedoria que é um bem e a ignorância que é um mal.

 

 

 

 

Ora, não há nada de errado com aqueles que não gostam de política. Simplesmente serão governados por aqueles que gostam.

 

Para mover o mundo o primeiro passo será mover a si mesmo.

 

Todo homem é poeta quando está apaixonado.

 

Tudo aquilo que engana parece libertar um encanto.

 

Tudo quanto vive provém daquilo que morreu.

 

Vencer a si próprio é a maior das vitórias.

 

Vivemos no mundo do irreal onde tudo o que vemos é somente uma sombra imperfeita de uma realidade mais perfeita.

 

 

 

Efetivamente, o vício não poderá jamais se conhecer a si e à virtude, ao passo que, com o tempo, a virtude – se as qualidades naturais forem aperfeiçoadas pela educação atingirá o conhecimento científico de si mesma e do vício. Tal será o sábio, mas não o perverso.

 

A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro.

 

A Paz do Coração é o paraíso dos homens.

 

Não deveriam gerar filhos aqueles que não querem se dar ao trabalho de criá-los e educá-los.8

 

A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento.

 

Os males não cessarão para os seres humanos antes que a raça dos puros e autênticos Filósofos chegue ao poder ou antes que os chefes das cidades, por uma divina graça, se ponham a Filosofar verdadeiramente.

 

A Filosofia é a mais sublime das músicas.

 

A necessidade é a mãe da invenção.

 

A pobreza não nasce da diminuição dos haveres, mas da multiplicação dos desejos.

 

A poesia está mais próxima da verdade vital do que a História.

 

O começo é a parte mais difícil de qualquer trabalho.

 

Não guardes só para si a sua ciência.

 

Sem justiça, sociedade alguma é possível.

 

Todo conhecimento tem que ser racional, objetivo e universal.

 

O bem jamais causa a perdição de qualquer coisa.

 

O belo é o esplendor da verdade.

 

Lembrai-vos de que é necessário a benevolência dos homens para o sucesso dos negócios.

 

Só os mortos poderão ver o fim da guerra.


O que mais importa não é viver, mas viver bem.Vencer a si próprio é a maior das vitórias.

 

Mau, com efeito, é o amante vulgar que prefere o corpo ao espírito, pois o seu amor não é duradouro por não se dirigir a um objeto que perdure. A flor do corpo que ama vem um dia a murchar – e, então, ele ‘se retira ligeiro como as asas’ esquecendo-se das declarações e muitas juras que fez.

 

As almas dos homens, antes de terem caído neste sepulcro que é o corpo, conseguiram vislumbrar – umas mais de perto, outras de maneira menos precisa – a Pureza, a Justiça e a Sabedoria. Decaíram, corromperam-se, encheram-se de vícios ao se ligarem com o corpo. Guardam, todavia, uma tênue recordação do que antes contemplaram e tendem, sempre, para aquela perfeição que um dia contemplaram.

 

Deus é a Verdade, e a luz é a Sua sombra.

 

Não é com honras e riquezas que se contenta o Coração de um pensador, mas, sim, apenas, com o saber e a virtude.

 

Nunca desencoraje ninguém que continuamente faz progresso, não importa quão devagar.

 

A harmonia se obtém pela virtude.

 

Quando a mente está pensando, está falando consigo mesma.


A Democracia se estabelece quando os pobres, tendo vencido seus inimigos, massacram alguns, banem os outros e partilham igualmente com os restantes o Governo e as magistraturas.

 

Se existir injustiça em um indivíduo, torna-lo-á incapaz de atuar, por suscitar a revolta e a discórdia em si mesmo, seguidamente, fazendo dele inimigo de si mesmo e dos justos.

 

A alma justa e o homem justo viverão bem, e o injusto mal.

 

Só o caráter das pessoas produzirá paz e libertação na velhice. Se elas, na juventude, forem sensatas e bem dispostas, a velhice será modestamente penosa; caso contrário, quer a velhice, quer a juventude, serão pesadas a quem assim não for.

 

O filósofo deve saber Matemática porque ela tem um efeito muito grande na elevação da mente, compelindo-a a raciocinar sobre entidades abstratas.

 

 

Triângulo de Pascal

 

 

Quando toda a cidade tiver aumentado e for bem administrada, deve-se consentir a cada classe que participe da felicidade conforme a sua natureza.

 

A riqueza dá origem ao luxo, à preguiça e ao gosto pelas novidades.

 

Uma educação e instrução honestas que se conservam tornam a natureza boa.

 

Uma cidade de fato bem fundada é totalmente boa – sábia, corajosa, temperante e justa.

 

A ponderação é uma espécie de ciência. Efetivamente, não é pela ignorância, mas pela ciência, que se delibera bem.

 

Na alma do homem, há como que uma parte melhor e outra pior. Quando a parte melhor, por natureza, domina a pior, chama-se a isto ser 'senhor de si'; porém, quando devido a uma má educação ou má companhia, a parte menor, sendo mais pequena, é dominada pela superabundância da pior, o homem acaba por se tornar escravo de si mesmo e libertino.

 

 

 

 

A temperança se assemelha a uma harmonia.

 

A temperança permite que todos cantem em uníssono na mesma oitava.9

 

O maior dos danos para uma cidade é a injustiça.

 

Quem não deseja o que é bom?

 

Todo objeto em relação com outros, em qualidades específicas, está em relação com determinado objeto; ao passo que, em si mesmo, só está consigo.

 

O mesmo sujeito, na mesma parte e relativamente ao mesmo objeto, não pode produzir ao mesmo tempo resultados contrários.

 

Na alma, há dois elementos: o que raciocina e o irracional. O elemento irracional ou da concupiscência é aquele que tem fome e sede e esvoaça em volta de outros desejos, e é companheiro de certas cobiças e paixões.

 

Há na cidade e na alma de cada indivíduo as mesma partes, e em número igual.

 

A virtude é uma espécie de saúde, beleza e bem-estar da alma; já a doença é enfermidade, fealdade e debilidade.

 

Comete menor crime quem mata alguém involuntariamente do que quem engana os outros relativamente a instituições nobres, boas e justas, em matéria legal.10

 

Se utilizamos as mulheres para os mesmos serviços que os homens, tem de se lhes dar a mesma instrução.

 

É tolo quem se empenha em alcançar o belo pondo o seu alvo em qualquer outro lado que não seja o Bem.

 

Cada um deve executar a sua tarefa específica de acordo com a sua natureza.

 

O que é útil é belo; o que é vergonhoso é prejudicial.

 

Os governantes, se realmente forem dignos deste nome, obedecerão eles mesmos às leis.

 

Haverá algum mal maior para a cidade do que dilacerá-la e torná-la múltipla em vez de una? Ou maior bem do que aproximá-la e torná-la unitária?11

 

Os valentes serão honrados na medida que evidenciam sua intrepidez.12

 

O homem justo em nada difere da justiça, mas em tudo lhe é semelhante.

 

O verdadeiro Filósofo não deseja apenas uma parte da Sabedoria [ShOPhIa], mas da totalidade.

 

Os amadores de audições e de espetáculos encantam-se com as belas vozes, com as cores, com as formas e com todas as obras feitas com tais elementos, embora o seu espírito, geralmente, seja incapaz de amar a natureza do Belo-em-si.13

 

O que existe absolutamente é absolutamente cognoscível, e o que não existe de modo algum é totalmente incognoscível. O Conhecimento respeita ao Ser; o desconhecimento respeita ao Não-ser.

 

A opinião visa um objeto, e a Ciência outro, cada uma segundo a potência que lhe é própria. A potência que nos permite julgar apenas pelas aparências não é senão opinião. Já a Ciência que, por natureza, respeita ao ser, destina-se a conhecer o que é o Ser.14

 

Ao Não-ser, por força da necessidade, atribuímos a ignorância, e ao ser o Conhecimento.

 

As múltiplas noções da multidão acerca da Beleza e das restantes coisas andam como que a rolar entre o Não-ser e o Ser Absoluto. É impossível à multidão filosofar. Logo, é forçoso e compreensível que os Filósofos sejam criticados pela multidão.

 

Não é lícito se irritar contra a Verdade.

 

Teorema de Pitágoras

 

A mesquinhez é o que há de mais contrário a uma alma que pretenda alcançar a totalidade e a universalidade do humano e do divino.

 

... Quando nascerem de novo...

 

O Filósofo, convivendo com o que é divino e ordenado, tornar-se-á divino e ordenado, até onde é possível a um ser humano.

 

A idéia do Bem é a mais elevada das Ciências.

 

As doutrinas sem base na Sabedoria [ShOPhIa] são uma vergonha.15

 

O que transmite a verdade aos objetos cognoscíveis e dá poder16 ao sujeito que conhece é a idéia do Bem.

 

É mais claro o conhecimento do Ser e do inteligível adquirido pela Ciência da Dialética do que pelas chamadas ciências, cujos princípios são hipóteses.17

 

 

 

Tudo o que nasce está sujeito à corrupção.18

 

O tirano autêntico é um autêntico escravo, adulador e servil ao extremo, lisonjeador dos piores, invejoso, injusto, hostil, impiedoso, hospedeiro de toda espécie de maldade, sustentáculo do que é mais desgraçado, carecido de quase tudo e pobre de verdade.

 

 

 

 

São três as espécies de homens: o Filósofo [busca a Ciência], o ambicioso [busca a riqueza] e o interesseiro [busca o lucro].

 

O luxo e a indolência fazem surgir a covardia.

 

Não se deve honrar um homem acima da verdade.

 

O imitador não tem conhecimentos que valham nada sobre aquilo que imita. A imitação é uma brincadeira sem seriedade.

 

Nem tudo o que é humano merece que se lhe dê muita importância.

 

É impiedade trair o que consideramos verdadeiro.

 

Não devemos nos deixar arrebatar por honrarias, por riquezas, pelo poder, nem mesmo pela poesia, descurando a justiça e as outras virtudes.

 

Nenhuma coisa perece pelo mal de outra coisa. Se o mal do corpo não pode provocar o mal da alma, não admitamos jamais que a alma possa ser destruída por um mal alheio sem a ajuda do seu próprio mal.

 

Repetindo: A virtude não tem senhor. Cada um a terá em maior ou menor grau, conforme a honrar ou desonrar. A responsabilidade é sempre de quem escolhe. Os deuses são isentos de culpa.

 

A nossa alma é imortal.

 

 

 

 

 

 

A Coisa Toda é Assim

 

 

De tropeço em tropeço,

haveremos de pagar o preço

por todas as nossas omissões

e por todas as nossas comissões;

por todas as nossas incoerências

e por todas as nossas inadimplências;

por todos os nossos preconceitos

e por todos os nossos malfeitos;

por todas as nossas irresponsabilidades

e por todas as nossas cumplicidades;

por todas as nossas anestesias

e por todas as nossas demasias;

por todas as nossas prevaricações

e por todos os nossos encontrões;

por todos os nossos beija-mãos

e por todas as nossas contramãos;

por todas as nossas deslealdades

e por todas as nossas hipoteticidades;

por todos os nossos adiamentos

e por todos os nossos esquecimentos;

por todos os nossos desejos

e por todos os nossos malfazejos;

por todas as nossas cobiças

e por todas as nossas injustiças;

por todas as nossos furores

e por todas as nossos rancores;

por todos os versos mal rimados

e por todos os poemas desarrumados.

Sim, de recomeço em recomeço,

 

 


 

 

 

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Notas:

1. Liberdade em excesso = descumprimento dos deveres de cidadão.

2. O próximo passo é se tornar amigo da Verdadeira Sabedoria (ShOPhIa) – que, insubstituivelmente, é Iniciática.

3. De maneira muito simples, talvez, se possa definir o mal como o desconhecimento do Bem.

4. Isto significa que é inútil forçar alguém ao que quer que seja. O que muitos não percebem é que quem é forçado, geralmente, finge que concorda e aceita para não constranger o forçador.

5. Infelizmente, por aí, contrariando absurdamente imperativos categóricos, há sentenças que são dadas para atender amigos, advogados e empresas, e também sentenças que são modificadas a pedido de amigos, de advogados e de empresas. O que os senhores juízes que assim prolatam estas sentenças não sabem é que responderão por isto direitinho, ponto por ponto, vírgula por vírgula, palavra por palavra, frase por frase, sentença por sentença, canalhada por canalhada.

6. O que Platão quis dizer aqui é que o Universo é energeticamente imutável, ou seja: a energia cósmica é, desde sempre e para sempre, uma unidade permanente.

 

 

 

 

7. Um jogador compulsivo não está preocupado em ganhar ou perder; o que ele quer é jogar.

8. Eu vou um pouco mais além nesta matéria, e direi que quem gera um filho e não o cria adequadamente e não o educa concertadamente, mais do que cometer um crime contra o próprio filho, comete um crime contra a Humanidade. Na verdade, perpetra um crime contra o Universo. Já nossas limitações como pais são os necessários e educativos vales e montes que os nossos filhos terão que inevitavelmente ultrapassar. A paternidade/maternidade/filiação é um triângulo em que cada lado passa por seu específico aprendizado.

9. Os gregos chamavam à oitava o mais belo acorde.

10. Entretanto, precisamos ter em mente que tudo haverá de ser devida e educativamente compensado, seja o que for praticado involuntariamente, seja o que for levado a efeito voluntariamente. Um exemplo de involuntariedade é quando fazemos um bem que, digamos assim, não deveria ser feito ou que, por nossa ignorância, acaba por se transformar em algo que possui um efeito destrutivo. Insistir para que alguém tome um determinado remédio para ficar curado de uma presumida doença é uma maneira de proceder totalmente inadequada. Só um médico pode prescrever um remédio. Nem um chazinho de sei lá o quê devemos recomendar que alguém tome.

11. Um exemplo recente de fragmentação e dilaceramento é o da Iugoslávia, que, após ser dividida em 1991, deu origem aos seguintes Estados: Croácia, Bósnia e Herzegovina, Eslovênia, Macedônia, República da Sérvia e Montenegro – dando origem, em 2006 à Sérvia e Montenegro – e, por último, Kosovo, cuja independência não é reconhecida pela Sérvia.

12. Mas, haverá maior bravura do que vencer os próprios defeitos?

13. O espírito (personalidade-alma) é incapaz de amar a natureza do Belo-em-si por um único motivo: por não O conhecer.

14. E assim, nada poderá ser mais prejudicial ao desenvolvimento espiritual do homem do que admitir a existência de coisas que ele próprio não pôde, por si, comprovar. Jamais nos libertaremos enquanto dependermos das opiniões de terceiros, quartos, quintos, milésimos etc. E mais: algumas coisas que parecem ser dessemelhantes, na verdade, são da mesma espécie, qualidade, natureza e forma. E outras que parecem ser semelhantes são absolutamente dessemelhantes. A desgraça toda é que a imprecisão reina em (quase) tudo.

 

 

15. Mais do que uma vergonha são inúteis; mais do que inúteis fazem declinar de um estado melhor para um pior.

16. Maria Helena da Rocha Pereira, tradutora da obra A República, publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian, explica que o poder de conhecer não é a faculdade do conhecimento ou a razão, mas o poder de exercer esta faculdade. Isto significa que, às vezes, sabemos teoricamente algo, mas não temos a capacidade de utilizar ou de pôr em movimento este algo. É por isto que muitos estudantes de Misticismo vão ficando pelo caminho e desistindo, pois, mesmo que aprendam, não conseguem realizar ou pôr em prática o que aprenderam. O que eles não sabem é que desistindo apenas estão adiando as dificuldades que oportunamente voltarão a ter. Aproveito para relatar um fato verídico. Conheci um muito querido irmão da Ordem Rosacruz AMORC (já falecido) que completou todos os estudos de todos os graus pelo sistema antigo, que se estende por mais ou menos vinte e cinco anos, e me disse que jamais havia realizado absolutamente nada. E daí? O que importa é que ele prosseguiu até o fim.

17. Segundo Friedrich Engels (1820 – 1895), a Dialética é a grande representação fundamental segundo a qual o mundo não deve ser considerado como um complexo de coisas acabadas, mas como um complexo de processos em que as coisas, na aparência estáveis, do mesmo modo que os seus reflexos intelectuais no nosso cérebro – as idéias passam por uma mudança ininterrupta de devir e decadência, em que, finalmente, apesar de todos os insucessos aparentes e retrocessos momentâneos, um desenvolvimento progressivo acaba por ininterruptamente se fazer. Seja como for, as relações entre os subsistemas não são lineares, mas, sim, obedecem às leis da dupla dialética (propósito – antítese/propósito – homeostase). A homeostase é a tendência de um sistema a salvaguardar uma estabilidade interna.

18. Corrupção = deterioração; decomposição física ou orgânica de algo; putrefação; adulteração das características originais de algo.

 

Música de fundo:

Koroido Mousolini

Fonte:

http://www.navis.gr/midi/midi.htm#Greek

 

Bibliografia:

PLATÃO. A República. Introdução, tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. 5ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pequenosgestosesimplesdetalhes.
blogspot.com/2011/01/culpa-e-sua.html

http://www.stealthart.net/forum/index.php?
/gallery/image/2357-hitlergif/

http://www.unicist-library.org/br/unicistwiki
_library/index.php?title=Ontologia_Unicista

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dial%C3%
A9tica#As_leis_da_dial.C3.A9tica

http://www.theoryofevolution.net/blog/simple-
dialectics-drives-towards-non-adaptive-behaviors/

http://penta.ufrgs.br/edu/telelab/
mundo_mat/curgeo/modulo/tpit.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jugosl%C3%A1via#Pa.C3.ADs
es_que_se_formaram_depois_da_separa.C3.A7.C3.A3o

http://pt.wikipedia.org/wiki/Blaise_Pascal

http://www.ufpel.edu.br/isp/dissertatio/
revistas/antigas/dissertatio12.pdf

http://pt.wikiquote.org/
wiki/A_Rep%C3%BAblica

http://www.recantodasletras.com.br/
artigos/2891177

http://www.alashary.org/
resumo_a_republica_de_platao/

http://www.cathyscorner2.com/
tutorials/kaleidoscope/

http://www.alashary.org/
resumo_a_republica_de_platao/4/

http://www.alashary.org/
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http://www.picgifs.com/sport-graphics/tug-of-war
/704/sport-graphics-tug-of-war-515872/

http://www.alashary.org/
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http://www.physics.ncsu.edu/
jet/news/index.html

http://www.citador.pt/textos/
a-alegoria-da-caverna-platao

http://www.travelet.com/2010/02/10
-awesome-caves-of-the-world/

http://pensador.uol.com.br/
autor/platao_a_republica/

http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/
livros/analises_completas/a/a_republica

http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o

http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Rep%C3%BAblica

 

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