E
a primeira vez em nossa história nacional que a Amazônia está
no centro da atenção coletiva, e há uma grande convergência
no País sobre a tese do desenvolvimento sustentável. Há
muito poucos brasileiros que entendem que a Amazônia deva ser preservada
como um santuário vazio de gente e de atividades. E também,
felizmente, muito poucos que julgam que o preço do desenvolvimento
da Amazônia deva ser a entrega da região a atividades econômicas
predatórias. A grande maioria insiste na reconciliação
da preservação com o desenvolvimento. Nós vamos trabalhar
dia e noite pra isso. O ambiente é de mobilização total.
Uma
candidatura de oposição precisa desmascarar o presidente e
mostrar quem ele é.
Ele
[Barack Hussein
Obama II] demonstrou uma das qualidades mais importantes
da vida pública, que é a capacidade de ser despojado. Obama
é uma pessoa de idealismo refinado e contido, não é
espalhafatoso. Essas qualidades, que são características da
nobreza moral, nunca devem ser interpretadas como frieza.
Ter
idéias fechadas e só aprender com o tempo, a pauladas, é
o preço corriqueiro que se paga em toda a parte pela tranqüilidade
de não pensar.
O
destino de uma criança brasileira e a Educação que
ela recebe não podem depender do lugar do acaso onde ela nasce.1
Se
uma rede escolar cai abaixo de um patamar mínimo, é preciso
intervir para assumi-la, consertá-la e devolvê-la, como se
faz com uma empresa em situação de recuperação.
Sem
organização não há soluções em
educação ou em qualquer outra área da política
social. Portanto, a cooperação deve ser a base para um produtivismo
includente e capacitador.
O
ciclo do nacional-consumismo está esgotado.
O
primeiro requisito em política é tenacidade. Além disso,
a crise múltipla que vivemos é uma oportunidade extraordinária
para o avanço de uma alternativa. O Brasil precisa de outro rumo.
Estamos
vindo de um período histórico em que as bases de desenvolvimento
do Brasil foram a popularização do consumo de um lado –
uma espécie de nacional-consumismo – e a produção
e exportação de commodities, de produtos primários
pouco transformados, de outro lado. A agropecuária e a mineração
pagaram a conta do consumo. Nesse período do nacional-consumismo,
construímos no Brasil uma espécie de condomínio de
rentismos. [O
rentismo é a tentativa permanente de grupos particulares de persuadir
o Governo a lhes atribuir todo tipo de monopólios valiosos ou de
privilégios legais. Ora, então não deve ser surpresa
que estejam dispostos a gastar milhões ao fazer lobby para
conseguirem precisamente esse resultado.] A massa
pobre embaixo recebe o dinheiro das transferências sociais –
essas, sim, justificadas, porque resgatam as pessoas da pobreza extrema.
No meio, as corporações da classe média recebem suas
prebendas [sinecuras].
Em cima, os ricaços são beneficiários
dos juros da dívida pública e do crédito subsidiado
dos bancos públicos. E todo mundo fica satisfeito, aplacado, cooptado.
As circunstâncias do mundo viraram e inviabilizaram a continuação
desse modelo. Nós precisamos agora de outra estratégia.2
Essa
lógica de cooptação, paga pela riqueza natural, mata
o País e não faz o essencial, que é providenciar instrumentos
para o dinamismo brasileiro. Agora, precisamos de uma lógica de empoderamento.
O grande atributo do nosso País é sua extraordinária
resiliência [no
caso, capacidade de se adaptar às mudanças],
pois, tem uma vitalidade assombrosa. E nossa tragédia histórica
é negar instrumentos à maioria dos brasileiros para transformar
essa vitalidade em ação construtiva. Qual é o ator
mais importante no Brasil hoje? É uma pequena burguesia empreendedora
mestiça que está surgindo no Brasil profundo. Andei o País
todo, Estado por Estado, e essa pequena burguesia empreendedora, que nós
chamamos de emergentes, é apenas a linha de frente. Atrás
dela, vem uma multidão de trabalhadores ainda pobres, porém,
já convertidos a uma cultura de auto-ajuda e iniciativa. Chamamos
de batalhadores, porque são pessoas que trabalham dia e noite. Às
vezes, têm dois ou três empregos. Não acreditam em política
e em partidos políticos, não têm instrumento político.
Mas eles, os emergentes, já estão no comando do imaginário
popular e são a vanguarda do povo brasileiro. O projeto que eu estou
defendendo é um projeto para eles, baseado em oportunidades econômicas
e capacitações educacionais, e que não pode ser operado
dentro dos limites do nosso nacional-consumismo. Exige algo diferente: a
democratização do lado da oferta, e não apenas da demanda.
Uma grande diferença entre democratizar a oferta e democratizar a
demanda é que a democratização da demanda se pode fazer
só com dinheiro, enquanto a democratização da oferta
exige reorganização e inovação institucional.
Para
democratizar a oferta, a questão preliminar é resolver a situação
fiscal do Estado. E aí há uma convergência com a pseudo-ortodoxia
que campeia no Brasil, o fiscalismo financista. Há um imperativo
preliminar de realismo fiscal, mas, esse imperativo tem de ser entendido
e abraçado à luz de dois princípios. O primeiro princípio
é uma visão de seu objetivo. O objetivo não é
ganhar a confiança financeira, submeter a definição
de nosso rumo aos interesses e aos preconceitos do rentismo financeiro.
O objetivo é o oposto. O objetivo é assegurar que o Governo
e o País não dependam da confiança financeira para
avançar. E a realização desse objetivo é mais
importante do que a gastança pública como meio de recuperar
a Economia, esse keynesianismo vulgar que praticamos no Brasil. O segundo
princípio é que o realismo fiscal não se pode efetivar
apenas focando os 10% do Orçamento, que são gastos discricionários.
Este é o debate que temos tido no Brasil. Aí não há
ajuste. O ajuste só pode ser realizado se tratarmos dos mais de 90%
do Orçamento do Estado que são gastos obrigatórios.
Sou
um crítico do documento do PMDB porque há um silêncio
sobre as bases de uma estratégia de desenvolvimento. Não é
só que o documento seja incompleto. É que, na falta do mais
importante, aqueles compromissos com o saneamento fiscal ganham um significado
completamente diferente. Uma coisa é julgar que a rearrumação
fiscal por si só gera confiança financeira, a confiança
financeira produz investimento e o investimento traz crescimento. Isto é
uma condição necessária, porém, muito longe
de ser suficiente. É apenas a porta de entrada de um novo projeto
de País, mas, não é o projeto de País. Defendo,
por exemplo, há muitos anos, uma reforma da Previdência com
a fixação de uma idade mínima para a aposentadoria.
A repactuação do condomínio de rentismos implica sacrifício
para o País. Mas, o sacrifício só será legitimado
e, portanto, só será aceito e executado, se ele for visto
como a contraparte de um projeto de democratização de oportunidades.
O País não aceitará o sacrifício em troca de
nada, só porque é do agrado dos bancos ou do rentismo financeiro
disciplinar fiscal do Estado. O acerto fiscal tem de ser entendido no bojo
de um projeto maior, que interesse à maioria. Na falta disso, esse
acerto fiscal necessário será desmoralizado e diminuído,
como de fato vem acontecendo.
Os
ciclos políticos do PT e do PSDB se egotaram. Escrevi há muitos
anos um artigo cujo título era “A Serpente de Duas Cabeças”
– as duas cabeças são o PT e o PSDB. Em todos esses
grandes partidos brasileiros, há uma maioria que não acredita
em alternativas. Um celebrado político brasileiro disse que há
um caminho no mundo e há duas maneiras de descrevê-lo. Ele
dizia não acreditar em alternativas, mas, na humanização
do inevitável. Isto representa a rendição aos interesses
dominantes. A tendência toda do PT e do ex-presidente Lula é,
no máximo, buscar o meio-termo –
um ajuste que não implique uma descontinuidade
da trajetória que seguiram até agora. Não me parece
que eles estejam convencidos da necessidade de passar de maneira decisiva
da distribuição de recursos para a distribuição
de oportunidades.
O
primeiro mandato de Dilma representou o fim de um ciclo iniciado com Fernando
Henrique Cardoso. Foi um período que, após a estabilização
monetária, optou-se por esta estratégia. Basicamente, é
uma Economia com um setor de commodities altamente eficiente, mas, que emprega
pouco. Há também uma vasta Economia de Serviços, que,
em sua maioria, é pouco produtiva. Nós nos desindustrializamos.
Qualitativamente, o perfil de produção e de exportação
regrediu. Uma massa de gente ascendeu a padrões mais altos de consumos
e milhões saíram da pobreza. Passaram, então, a exigir
serviços do Estado, como educação, saúde e segurança.
E aí chegamos ao estado atual. A viabilidade econômica do modelo
atual chegou ao fim. O Brasil não pode mais avançar.
Há
duas grandes reivindicações importantes que explicam o descontentamento
generalizado. A primeira é manter a renda e o emprego, o que significa
encontrar uma nova estratégia de crescimento. Já a segunda
é a qualificação, e não apenas a expansão
quantitativa dos serviços públicos. Estes dois problemas são
ligados. Sem crescimento fica difícil investir na qualificação,
e sem gente capacitada fica difícil organizar um novo paradigma de
produção. É um circulo vicioso a se enfrentar.
Um
novo ciclo de crescimento deverá começar pelas medidas de
médio e longo prazo. Primeiro, deve-se fazer uma política
voltada ao agente econômico mais importante: a multidão de
pequenas e médias empresas. Elas produzem a maior parte dos produtos
e a maioria dos empregos, mas, a grande maioria é retrógrada
tecnologicamente e organizativamente. Se conseguíssemos socorrer,
ainda que pequena parte desta massa empreendedora, seria uma revolução.
Só que a nossa política industrial, reduzida em linhas gerais,
é tirar o dinheiro do trabalhador reunido no FAT e entregar ao BNDES,
que, por sua vez, repassa para vinte grandes empresas bem relacionadas,
que financiam campanhas eleitorais. Enquanto isto, aquela massa de empreendedores
não tem nada, nem acesso ao crédito, nem à tecnologia,
nem ao conhecimento.
O
desmerecimento dos evangélicos é um dos maiores escândalos
da vida nacional. Os evangélicos encarnam a nova consciência
que se afirma no País, de auto-ajuda e de iniciativa.
O
cerne da Teologia Neopentecostal não é o culto à prosperidade
conquistada pelo esforço individual, mas, é referência
pelo empoderamento dos evangélicos.
Temos
outra tarefa, que é mudar o nosso modelo de produção
industrial: de grande escala, datado do século passado, organizado
no sudeste no Brasil. Temos de perguntar se o resto do País tem de
ser como uma São Paulo de meados do século passado, para depois
virar outra coisa. Não deveria ser. Deveríamos organizar uma
travessia direta e libertar o País do purgatório do fordismo
tardio. Isto seria uma tarefa institucional de coordenação
estratégica descentralizada entre os Governos e os pequenos e médios
produtores, e de concorrência cooperativa entre eles, para que pudessem
competir, mas, ao mesmo tempo, pudessem fazer mutirões de recursos
e ganhar economia de escala. Já a segunda vertente é organizar
um ensino capacitador. Porque, caso contrário, este tipo de modelo
econômico não se viabiliza. A terceira vertente é o
aprofundamento de mercado de capitais para multiplicar os canais que mobilizem
a poupança para os investimentos em longo prazo. Aproveitar parte
do vasto capital que existe nos sistemas previdenciários para colocar
em fundos administrados de forma profissional e competitiva, sem controle
do Estado, para que invistam em empreendimentos emergentes. A quarta seria
fazer em cada setor da Economia em que temos vantagens comparativas o que
já fizemos na agricultura, que sofreu uma revolução
por causa da ciência e da tecnologia, graças à Embrapa
[Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária].
No
curto prazo, primeiro, é preciso desonerar radicalmente o investimento
e a exportação Depois, separar a política monetária
e o câmbio. A estabilidade monetária não pode ter uma
âncora cambial. O câmbio apreciado mata a produção.
Mas, para poder separar é preciso ter grande disciplina fiscal.
Uma
coisa é exigir sacrifício da população para
viabilizar esta combinação de tentativa de perpetuação
do modelo anterior com rendição ao mercado financeiro. Isto
é um sacrifício injustificado. Outra coisa é ter um
sacrifício para poder dar os primeiros passos na construção
de uma alternativa. E é esta agora a opção decisiva
no segundo mandato da presidente Dilma.
A
curtíssimo prazo, a confiança do mercado pode oferecer um
benefício, mas não é algo que dure ou importe. O que
importa, de fato, é a Economia real. É comum dizer que é
preciso passar por uma estratégia que beneficie o investimento, mas,
as pessoas não se dão conta de quanto há de diferença
entre a democratização da demanda e a democratização
da oferta. É possível fazer a democratização
da demanda por uma simples recolocação de dinheiro. A da oferta,
não. Exige uma reorganização, passa por inovações
institucionais. É uma tarefa qualitativamente diferente e para qual
não estamos preparados.
Se
houver uma estratégia de produção, o Ministro da Fazenda
pode ser qualquer um. Se não houver uma alternativa de produção,
nenhum ministro pode salvar a situação.
Um
ideário de inovação institucional teria de romper com
o discurso político hegemônico dos partidos no Brasil, que
é o discurso da Suécia tropical. E
nós não estamos acostumados a isto.
Sempre
tive mais ambições do que ser presidente do Brasil.
Amigo-problema,
sob o ponto de vista ético, para mim é ex-amigo.
Vertentes
voltadas à qualificação no segmento agropecuário:
São três grandes vertentes e a primeira é a qualificação
da agropecuária, a intensificação e a diversificação
de lavouras de alto valor agregado. A segunda vertente é aproveitar
este Centro Logístico do Brasil, que está surgindo em Goiás
e no Tocantins, para que não seja, apenas, um corredor vazio de escoamento,
mas, para que seja a base de todo um conjunto de atividade produtivas. E
a terceira vertente é a industrialização –
que começa com os produtos agropecuários, mas, tem um horizonte
imenso de bioquímica e de energia, enfim, de ciências. Vamos
pular aquela etapa de São Paulo do século passado e, o Centro
Oeste não é para ser um São Paulo tardio. É
para abrir um outro horizonte de futuro para o Brasil.
Eu
acho que nós não afirmamos ainda no Brasil as condições
para uma reflexão autônoma sobre o País. E há
dois grandes obstáculos à afirmação dessa autonomia
cultural. O primeiro obstáculo é a falta de condições
materiais de pesquisa e, sobretudo, de conhecimento dos países que
guardam o maior parentesco com o nosso; países como o México
ou a Rússia ou a China ou a Índia. O segundo obstáculo
é que uma grande parte da intelectualidade brasileira continua a
praticar algo que não é idéia nem política,
senão a política das idéias; não se expõe
aos riscos de um pensamento capaz de levar a conclusões desconcertantes.
O
que
está faltando à cultura brasileira
é imaginar alternativas de pensamento e de organização
social.
Eu
acho que o que mais choca no Brasil, hoje, é a falência imaginativa
das elites. E eu não digo das elites universitárias, eu digo
dos quadros dirigentes do País como um todo. Estes quadros abandonaram
um antigo projeto nacional populista sem abraçarem a suposta alternativa
neoliberal, e colocaram o País no limbo em que está. O Governo
Itamar Franco [Presidente
entre 1992 e 1994] é o reflexo dessa indefinição,
dessa bancarrota imaginativa das elites brasileiras.
A
rebelião nacional contra a corrupção [que
culminou no impeachment de Collor] teria um significado
maior de representar a busca de uma vida pública, de um espaço
público que não fosse apenas um instrumento ou o disfarce
de um interesse privado. Essa rebelião só pode prosperar se
ela encontrar o caminho das alternativas estruturais. Se não encontrar,
ameaça se perder em um moralismo frustrado e frustrante.
Veja
o exemplo do debate sobre a inflação. Nós herdamos
do passado essa idéia de que bastava crescer economicamente para
consertar a inflação; não à recessão
a qualquer custo. Essa idéia nos levou às portas da hiperinflação,
onde estamos agora. Por outro lado, adotamos a noção de que
a inflação é um fenômeno inercial e que basta
uma série de truques de congelamentos de preços, de salários
e de negociações entre as partes organizadas no País
para acabar com a inflação. E, assim, sonegamos ao País
a discussão do verdadeiro problema. O verdadeiro problema é
que o Estado Brasileiro, ao invés de impor à parte privilegiada
do País o custo do investimento público em infra-estrutura
e em gente, generaliza esse custo à sociedade toda, através
do dinheiro emprestado impresso. Só pode resolver isso dando ao Estado
a capacidade de impor essa conta às classes proprietárias
do País. Mas, é apenas um exemplo; se não conseguirmos
sequer encaminhar a discussão da problemática da política
antiinflacionária de forma realista, como poderemos aspirar a discutir
os problemas mais complexos do crescimento e da redistribuição?
Eu
sustento que o que precisamos é da formulação de alternativas
estruturais. De uma mudança do modelo econômico que tenha como
contrapartida a mudança do Estado e a reorganização
da política brasileira. E, na mudança do modelo econômico,
eu privilegiaria quatro temas. Primeiro, aumentar a capacidade do Estado
de arrecadar, de impor esse custo, e prefiro um tributo. Prefiro um tributo
que incida sobre a diferença entre o que as pessoas ganham e o que
elas gastam. Segundo, uma política que enfrente diretamente a divisão
interna do País entre dois sistemas econômicos que convivem
no mesmo território: um moderno capitalizado e favorecido pelo Estado
e outro marginalizado, à míngua do acesso ao Capital, à
tecnologia e aos mercados. O Estado tem que consolidar uma vanguarda tecnológica
que se torne a parceira da vasta retaguarda econômica do País.
Terceiro, precisamos impor o Capitalismo aos capitalistas e privatizar o
setor privado. E, em quarto lugar, precisamos de um vasto investimento em
infra-estrutura e em gente e, sobretudo, em educação; um investimento
acompanhado por uma revolução no conteúdo do ensino
brasileiro, para que ele abandone o culto da memorização de
fatos e passe para a conquista de capacidades genéricas, conceituais
e práticas, de analisar, de criticar e de recombinar idéias
e coisas.
Eu
acho que a consciência coletiva de um povo sempre tem uma estrutura
dupla. Na superfície, há sentimentos, hábitos e premissas
que refletem a acomodação à realidade dominante. Mas,
desde que aquele sistema sofra algum trauma, desde que haja uma alternativa,
ainda que remota, a essa ordem existente, aí começam a aflorar
os aspectos ocultos e reprimidos da consciência coletiva.
O
que eu sinto no Brasil é uma imensa inquietação, uma
inconformidade, uma busca de alternativas. O que falta é traduzir
essa busca em um caminho político. E em um País como o nosso,3
é papel de todos os cidadãos, sobretudo dos cidadãos
com algum acesso à cultura, com alguma capacidade de pensar por conta
própria. Então, a mim me parece que uma das nossas tarefas
fundamentais é encaminhar a discussão nacional para o debate
sobre as alternativas –
as
formas alternativas de organização da Economia e do Estado.
Digo o seguinte: há uma grande mudança ideológica que
está ocorrendo no mundo hoje e que nós, no Brasil, ainda não
percebemos. Os velhos conflitos entre estadismo e privatismo, Capitalismo
e Socialismo, estão perdendo seu sentido, estão sendo substituídos
por novos conflitos entre as formas alternativas da Democracia Representativa
e da Economia do Mercado. As Economias Periféricas do Leste Europeu
e da América Latina têm quadros dirigentes que começam
com esforço de apenas imitarem e importarem as instituições
dos países ricos. E só à medida que esse esforço
imitador malogra é que esses países são levados a um
experimentalismo institucional involuntário, descobrindo que o pluralismo
político-econômico pode e deve revestir entre nós formas
alternativas. Este deve ser o caminho principal do debate político
brasileiro.
A
fraqueza do Estado leva ao descrédito do Estado. O descrédito
do Estado justifica fraqueza do Estado. Nós precisamos quebrar esse
círculo vicioso, compreendendo que não há uma relação
inversa simples entre fortalecimento do Estado e liberdade econômica.
O Estado pode se fortalecer na sua capacidade de gerir e de tributar. Na
sua capacidade, inclusive, de ser um parceiro do segundo Brasil, sem que
este fortalecimento leve a uma supressão da vitalidade autônoma
da sociedade civil. Os dois projetos, na verdade, são convergentes.
Sem fortalecer ou reorganizar o Estado Brasileiro, sobretudo sem colocar
o Estado Brasileiro a serviço desse segundo Brasil, não haverá
salvação para nós.
Eu
não dou nenhuma primazia à mudança do modelo econômico.
A mudança do modelo econômico me parece ser apenas a contrapartida
à reorganização da política do Estado. E, na
verdade, essas duas vertentes –
a Economia e a política –
mesmo juntas, são insuficientes, porque a macropolítica,
a grande política das instituições, teria que ser complementada
por uma micropolítica das relações pessoais. A tradição
política e constitucional das Democracias ricas é uma tradição
que privilegia dois conjuntos de mecanismos. Em primeiro lugar: consolida
práticas que mantêm a sociedade em um patamar relativamente
baixo de mobilização política. Em um País como
o nosso, em que nós precisamos de um experimentalismo democrático
acelerado, de uma prática reiterada de reformas estruturais, nós
temos que substituir essas práticas desmobilizantes por outras que
elevem de forma persistente o nível de mobilização
política dos cidadãos: pelo financiamento público das
campanhas políticas, pela quebra do cartel da televisão e
pela mudança do regime eleitoral. A minha preferência na reforma
eleitoral seria a solução mais radical, o sistema que chamam
da lista fechada e do voto proporcional: o partido apresenta uma lista fechada
de candidatos, e o cidadão tem que escolher entre partidos e depois
tem que brigar dentro dos partidos para democratizá-los internamente.
O segundo conjunto de mecanismos tradicionais dessas Democracias ricas são
técnicas que facilitam a fragmentação do poder e, deliberadamente,
favorecem os impasses. É o sistema dos freios e contrapesos do Presidencialismo
Clássico ou é um imperativo de buscar o consenso dentro da
classe política, que caracteriza o Parlamentarismo. Nós teríamos
que substituir também esse segundo conjunto de mecanismos por outros
que facilitassem a resolução rápida de impasses entre
os poderes do Estado.
Para
impedir o abuso de poder econômico e para fazer com que a lei fosse
cumprida, seguindo modelos de Democracias, como a norte-americana e outras,
a forma mais simples não é tentar constranger o uso de dinheiro
privado. A forma mais simples é dar dinheiro público, é
dar dinheiro público em quantidade suficiente para neutralizar o
uso do dinheiro privado. Bastaria isso para começar revolucionar
a prática da política brasileira.
As
tentativas de reformulação das práticas judiciais no
Brasil e, particularmente, essa discussão em torno do Direito Alternativo,
devem ser encaradas de duas maneiras principais. Uma forma de encarar é
ampliar a capacidade de interpretação construtiva dos juristas.
Quer dizer, eles podem interpretar o Direito à luz dos seus objetivos
sociais. É isso que tem sido privilegiado nos Estados Unidos. Mas,
isso aí tem um limite. Porque é como que uma espécie
de bonapartismo coletivo de juristas que se substituem aos cidadãos,
reconstruindo o Direito à luz de uma visão mais progressista,
que a consciência popular não abraçou. Muito mais interessante,
ao meu ver, é uma segunda maneira de encarar a vocação
do pensamento jurídico. Que o pensamento jurídico, nesse segundo
entendimento, tem como tarefa principal fazer análise à crítica
e à proposta das instituições; que a vocação
do pensamento jurídico é ser uma tentativa de ampliar a conversa
democrática; e que o pensamento do jurista, antes de se dirigir ao
juiz, se dirige ao cidadão e aos partidos políticos e movimentos
sociais. Nós precisamos urgentemente, no Brasil, de uma consciência
jurídica que caminhe nesse sentido, que procure ser como que a assistência
técnica da cidadania.
Não
há Estado que agüente pagar aposentadorias. Há mais de
seiscentas mil pessoas com 45 anos de idade aposentadas. Agora, juridicamente,
o direito delas vai contra o meu direito adquirido de me aposentar, porque
eu não vou me aposentar porque eles se aposentaram com 45 anos e
usaram todo esse dinheiro que é de todos.
Não
devemos confundir consciência jurídica com apologia de determinada
estrutura institucional. O que o Direito pode contribuir na Democracia é
mostrar que abstrações, como a idéia de uma Economia
de Mercado, podem ser traduzidas em instituições radicalmente
diferentes. Vamos ver, por exemplo, o debate no plebiscito [que
decidiu entre o presidencialismo e o parlamentarismo, em 21 de abril de
1993], que discutiu Presidencialismo e Parlamentarismo,
como se esses rótulos tivessem conteúdo predeterminado, quando,
na verdade, podem assumir formas radicalmente diferentes com conseqüências
radicalmente diferentes. Essa seria uma das missões fundamentais
da consciência jurídica: demonstrar o grau de liberdade coletiva
que é sonegado ao País. E, em vez de desempenhar essa função,
o pensamento jurídico faz o oposto, contribuindo para a mistificação,
fingindo que esses rótulos, como Economia de Mercado e como Parlamentarismo,
têm um conteúdo predeterminado.
O
nosso problema, no discurso político e na prática política,
não é a falta de consenso. O nosso problema é, em certo
sentido, exatamente o inverso: o nosso problema é a existência
de consenso.4
Os
partidos políticos brasileiros convergem hoje para o mesmo ideário;
na verdade, para o mesmo vocabulário socialdemocrata, mas, que é
fantasioso e que sonega ao País a discussão de verdadeiras
alternativas estruturais. Então, esse ideário socialdemocrata
de que participam todos os partidos políticos brasileiros, desde
o PDS [Partido
Democrático Social] até o PT [Partido
dos Trabalhadores], não propõe uma estratégia
concreta de crescimento econômico e propõe uma forma de redistribuição
[de renda] que
é claramente inviável, que é a redistribuição
por mecanismos compensadores: tira do Brasil-1 para dar ao Brasil-2, mas,
muito antes de alcançar a dimensão necessária para
resolver os problemas da maioria aprisionada no segundo Brasil, essa transferência
começaria a desorganizar o primeiro Brasil. Então, não
há nenhum projeto de redistribuição viável que
não passe pelo enfrentamento desse dualismo interno, dessa divisão
entre dois países e dois sistemas. Então, o que nós
precisamos nisso, como em tudo, é uma dialética de conflitos
para criar essas idéias. Não é o consenso, aquilo que
precisamos, mas, a ruptura do consenso ou do falso consenso.
Nunca
completamos a obra do século XIX, em matéria de administração
pública.
Eu
acho que há três condições fundamentais para
a realização de uma agenda alternativa para o Brasil. A primeira
condição é uma convergência dentro da esquerda.
É a construção de uma série de alianças
políticas e sociais –
primeiro políticas, depois sociais –
que sustentem a agenda
alternativa. Nós temos, hoje, no Brasil, duas
esquerdas: uma voltada para o Brasil moderno, consciente, organizado; e
outra voltada para o Brasil da bagunça. Então, essas duas
esquerdas refletem a divisão do País que deveriam ter por
tarefa superar e, por isto, acabam sendo partes do problema, em vez de serem
partes da solução. Segunda condição: é
o desenvolvimento de um discurso político, uma prática política,
uma forma de imaginar, de praticar a política que combine a política
orientada ao Estado e aos partidos políticos com a política
que se desenvolve dentro da sociedade civil, organização por
organização, grupo por grupo. E que, ao mesmo tempo, junte
a política como um apelo aos interesses reconhecidos e a política
como um apelo aos mundos alternativos; a política como estratégia
e a política como profecia. Agora, eu sustento que ainda há
uma terceira condição, que é mais psicológica
e moral, do que coletiva e política. Nós estamos agora vivendo
um quadro de desesperança. E a esperança é muito mais
a conseqüência do que a causa da ação. Então,
uma das condições para formação de uma alternativa
é que muitos brasileiros, em suas vidas individuais, tirem a couraça
protetora e se exponham ao risco e ao despojamento, aceitando um grau mais
elevado de vulnerabilidade pessoal. Que sejam eles, cada um a seu modo,
pequenos profetas. Para que sejam também depois cidadãos.5
O
Brasil tem que virar um clube de debates, o País tem que se lançar
nessa discussão dos seu futuro alternativo. Não se pode dizer
que haja uma arena prioritária para resolução desse
problema, que a salvação vem de um lugar: a salvação
vem de qualquer lugar! Esse é o ponto essencial para compreender.
O
egoísmo e a desesperança só serão vencidos por
uma prática permanente de resistência, por uma insurreição
nacional, que não é como um fenômeno revolucionário
que acontece de repente, mas, é uma mudança gradativa dos
brasileiros que se levantam.
Muitos
indivíduos, em muitos âmbitos da vida social, precisam dar
aos outros brasileiros o exemplo do risco e da ruptura, da resistência
e da esperança, que é um trabalho exemplar e uma forma essencial
de subversão da ordem estabelecida no País.
Olha,
eu acho que ser realista e ser visionário são duas tarefas,
duas ambições conexas. Porque o realista não pode ser
a pessoa que confunde o possível com o existente. O realista precisa
ser a pessoa que compreende as coisas como funcionam, à luz de como
as coisas poderiam ser, e que aprofunda a visão da realidade, compreendendo
os caminhos e os limites da transformação. Esta é a
trajetória do realismo. É desses realistas que nós
precisamos no País, e não dos pragmáticos e dos antipragmáticos,
que são a maldição da política brasileira.
O
que tem caracterizado a política brasileira é a prática
repetida desses golpes de esperteza... Então,
foi uma coisa depois da outra, um golpe de esperteza depois do outro, que
conduziu o País ao descalabro em que está.
Sou
menos pessimista do que qualquer das pessoas com que eu tenha falado no
Brasil. Eu acredito na existência e na viabilidade de alternativas.
Eu acredito que nós temos os elementos para construir aqui uma forma
exemplar de Democracia, que ofereça à Humanidade um exemplo
real de um outro caminho. Eu acredito também que a cultura brasileira
tem uma mensagem a oferecer à Humanidade. Que, no coração
da cultura brasileira, a idéia da vida humana é levada ao
plano da pungência da própria Natureza, desonerada das ilusões
da grandeza pagã e sublimada pela ternura do amor cristão.
Eu não sou pessimista, eu sou uma pessoa que acredita no Brasil como
um lugar de formação de uma experiência humana alternativa.
No
momento, o Brasil é visto como um País em que as elites não
conseguem arrumar as coisas. Está completamente marginalizado dos
grandes blocos que estão se formando no mundo. É preciso compreender
a grande mudança que está ocorrendo na divisão internacional
do trabalho. Aquela indústria tradicional de produção
em grande escala de bens padronizados, com maquinaria rígida e mão-de-obra
semiqualificada, que os economistas chamam de "fordista", está
sendo desmontada nas economias ricas, para ser remontada nas economias de
vanguarda do Terceiro Mundo, como a brasileira. Serve, aqui, para reproduzir
os bens de consumo produzidos nos países ricos, mas, não nos
permite concorrer no mundo, senão na base da repressão dos
salários internos, e muito menos permite equipar essa retaguarda
imensa e marginalizada da Economia Brasileira. Então, a contrapartida,
o complemento dessa política de enfrentamento da divisão interna
do País é uma rebelião nacional, contra o papel que
está sendo preparado para nós na Economia Mundial: de sermos
o receptáculo que um "fordismo de segunda mão".
Nós precisamos aproveitar as vantagens correspondentes às
nossas desvantagens. Estamos marginalizados desses grandes blocos econômicos
que se estão formando no mundo, mas, a nossa pauta de exportações
é muito distribuída pelo mundo todo. Então, vamos,
pela ação diplomática –
pelo multilateralismo, quando necessário,
e pelos acordos bilaterais quando possível –
criar espaço para essa ampliação, essa expansão
da concorrência brasileira, sustentada numa vanguarda tecnológica
que, ao mesmo tempo, procure equipar esse segundo Brasil! Essa seria uma
grande tarefa de afirmação nossa, no mundo que se está
reorganizando.
O
problema de uma política de pactos é que uma política
de pactos é mais facilmente viável num Brasil organizado.
E o outro Brasil? Tome o caso das propostas políticas do PT, na última
campanha presidencial. É um exemplo típico. Apresentava duas
propostas principais: a redistribuição pela política
salarial, que não alcança a maioria dos brasileiros no subemprego,
no emprego instável, e a estabilização econômica,
pela negociação em câmaras setoriais. O minicorporativismo,
a concertação, mesas nas quais o Brasil da bagunça,
o outro Brasil não senta. Então, uma imaginação
política que privilegia os pactos, que privilegia o diálogo
organizado entre as forças organizadas, está esquecendo o
enigma brasileiro, que é aquele outro Brasil que está lá
atrás, e que, se for esquecido, se vingará pelo voto ou pela
violência.
Foi
nas empresas públicas, lá no passado, empresas como o Banco
do Brasil e a Vale do Rio Doce, que se abriu caminho para uma meritocracia
de classe média, para a gente subir sem ter ligações
de família.
A
forma pragmática da mudança é a reforma revolucionária,
não é a revolução total.
A
tarefa, agora, é reformar esse Presidencialismo e mudar as regras
do jogo na política.
Em
um País como o nosso, altamente dividido e altamente hierárquico,
combinar o voto distrital com o monopólio do poder pela classe política
é tornar as coisas invisíveis, é fragmentar de tal
forma a luta política, que a questão nacional nunca se porá.
E ela se coloca no contexto da luta plebiscitária da campanha presidencial.
Eu
defendo um Presidencialismo que dê grande relevo a mecanismos para
resolução de impasses entre o presidente que propõe
reformas e o Congresso que resiste. Então, primeiro, deve-se fazer
uma distinção entre Programa de Governo e legislação
episódica. O Programa
de Governo tem primazia, pois, é
até registrado antes da eleição na Justiça Eleitoral.
Corre com rito especial antes de negociação sobre legislação
episódica. O Congresso aceita ou recusa. Se o presidente e o Congresso
não se acertam sobre o Programa, podem, talvez, se acertar sobre
os termos e a realização de uma consulta popular.
Cada
poder do Estado –
o Congresso e o presidente –
deve ter o direito de convocar eleições antecipadas, desde
que o poder que convoque as eleições, impondo o risco eleitoral
a outro poder, tenha que correr ele próprio esse risco.
Nós
temos que ter uma discussão sobre a forma essencial da tributação.
O tributo mais eficiente e mais eqüitativo para o Brasil seria o tributo
universal e direto sobre o consumo, que funciona da seguinte forma: o contribuinte
prova a renda, como ele prova hoje, ele prova a poupança no sentido
amplo. Isenta-se o consumo popular e o tributo incide em escala altamente
progressiva sobre a diferença entre a renda e a poupança.
A reforma nos mecanismos da tributação
precisa andar em paralelo com o investimento na máquina arrecadadora
do Estado. E precisa começar com uma providência muito simples,
que é pôr duzentas pessoas na cadeia e dar o exemplo das conseqüências
da sonegação.
A
maldição da política brasileira é esse "pragmatismo
antipragmático".
O
Governo de Michel Temer mostra falência intelectual.
O
engrandecimento do Brasil soará em todos os recantos da Terra, como
o grito de uma criança ao nascer, prometendo um novo começo
para o mundo.
A
necessidade é a mãe da invenção.
A
combinação da nossa mortalidade com nossa falta de fundamento
transmite à vida humana seu caráter premente e enigmático.
O
eu encarnado é a mesma pessoa que despertou para o mundo em um estímulo
de imediatismo visionário, e que logo descobriu que ele não
era o centro deste mundo, mas, pelo contrário, uma criatura dependente,
e até mesmo infeliz, e que estava condenado a morrer.
Devemos
correr entre estes dois sóis em nosso firmamento
– o pressentimento da morte e a consciência
da vida
– e evitar ser transfigurados por
qualquer um deles. Se tivermos sorte nesta distância intermediária
e incerta, poderemos construir anexos e projetos que melhorem o sentimento
da vida. No entanto, mesmo quando tentamos nossa sorte, a morte vem até
nós e leva o nosso experimento ao fim.
Na
medida em que estamos mortos, a existência é urgente e espantosa.
Na medida em que é infundada, é vertiginoso e sonhador. Na
medida em que somos insaciáveis, é inquietante e atormentador.
Se
o eu permanecer em sua cidadela, ansioso para controlá-la e defendê-la
fortemente,
declinará das fontes de vitalidade. Para manter a cidadela aberta,
no entanto, é preciso enfrentar o perigo: um perigo inseparável
do aprimoramento da vida.
A
estrada de volta à realidade admite duas afirmações
sobre a Natureza: a singularidade do Universo
[conceito que exprime fenômenos tão extremos que as equações
físicas conhecidas não são capazes de descrevê-los,
e que, portanto, estão além da nossa capacidade de cognição
e de previsibilidade] e a realidade do tempo.
Juntas, têm uma conseqüência imediata, que é a hipótese
central do nosso programa: que as Leis da Natureza evoluem, e fazem isto
através de mecanismos que podem ser descobertos e experimentalmente
conhecidos, porque dizem respeito ao passado.
O
poder de adoração de Prometeu
[na Mitologia Grega, é um titã da segunda geração]
equivale a um travesti do aprimoramento da vida.
É
a hora da transformação da transformação.
A
esperança é mais a conseqüência da ação
do que a sua causa. Como a experiência do espectador favorece o fatalismo,
a experiência do agente produz esperança.
Morreremos,
muitas vezes,
pequenas mortes. São mortes à prestação.
Use
pequenas coisas para quebrar grandes coisas, diz São Paulo, descrevendo
uma característica essencial da Psicologia da Esperança.
Nossos
desejos são insaciáveis. Buscamos o ilimitado no limitado.
Deveremos falhar. Na vida humana, a insaciabilidade é um terceiro
defeito incurável.
Nossa
idéia dominante sobre a mente não reconhece o conflito entre
os dois lados da mente –
a
mente como máquina e a mente como antimáquina
–
se deliciando com seus poderes de combinação e de transgressão.
Ela também não consegue apreciar a extensão que a presença
relativa desses dois lados da mente é influenciada pela organização
da sociedade e da cultura, dando como resultado que a história da
política é interna na história da mente. Neste, como
em muitos outros aspectos, nossas crenças sobre nós mesmos
resistem a reconhecer a relação entre nosso contexto e nossas
identidades e poderes transcendentes no contexto.
Você
sabe que, na Divina Comédia, do escritor, poeta e político
florentino Dante Alighieri (1265
–
1321), o castigo dado aos que fazem previsões
é que há uma corda no pescoço virando a cabeça
deles para trás. Então, eu não me aventuraria a fazer
previsões.
Um
Soneto-Rascunho Profético-Epilogal Pizzinguiano
(Eu não sou de me encagaçar com corda
no pescoço)
panamá, tanta safadeza,
tanto
escamoteio, tanta baixeza,
consegue
aromatizar
a morrinha.
Desde
os idos de Dom João VI,
só
vem se intrincando o contexto:
ou dá
um sesquipedal fudelhufas
ou dá
um descomunal cagalhufas.
Mas,
isto está chegando ao fim,
e, aí,
todos poderão se alforriar,
e deixar
de malsinar o Calabar.
Profecia:
esse Lindo Dia, enfim,
está
bem proximinho de aurorar,
e acabarão
os petrolões ao luar!