São
tempos, no continente sul-americano, de populismo, que constitui a variante
mais recente do Patrimonialismo entre nós. Ora, este consiste na
gestão do Estado como se fosse propriedade particular de quem governa.
São favorecidos regularmente os membros do partido governante e os
aliados, com benesses pagas com o dinheiro público. Esta é
a essência do mensalão e das demais falcatruas que são
desvendadas, dia após dia, pela imprensa.
Patrimonialismo
hidráulico = Prática do “poder total” condicionado
pela necessidade de controlar a água em regiões caracterizadas
pelo regime de chuvas irregulares.
Está
a se efetivar o maior processo de entropia republicana da nossa
História. O fenômeno poderia ser ilustrado com a frase, um
tanto esquisita, do prefeito de São Paulo, quando falou da formação
de novo partido, mais ou menos nos seguintes termos: 'não é
uma organização nem de direita, nem de esquerda, nem de cima,
nem de baixo.' A frase do prefeito lembra a definição que
do ser fazia o pré-socrático Heráclito de Éfeso:
'não é nem quente, nem frio, nem branco, nem preto, nem alto,
nem baixo.' Enquanto a definição heraclitiana ficou nas névoas
da metafísica grega, o significado da afirmação de
Gilberto Kassab é relativamente simples de ser desvendado: trata-se
da ressurreição do velho "centrão", criado
na era Sarney para fazer as delícias de políticos de carreira
e dos burocratas de plantão, que não queriam largar o osso
das benesses oficiais. Todo mundo com o Governo, ninguém contra,
que não somos de ferro!
Síndrome
chavista da "vontade geral":
impede que os cidadãos se expressem pela boca dos seus representantes.
Perversa
tendência à anulação de qualquer signo de insatisfação
da sociedade por meio da imprensa livre:
protagonizada, ao longo da última década, pelo casal Kirchner,
nesse tango de mau gosto de um passo para frente e dois para trás,
em que ficou enredada a democracia argentina.
Ensaios
de intimidação e de prepotência em nada ajudam a vida
democrática e a defesa dos direitos humanos.
Neoliberalismo
de Fernando Henrique Cardoso:
garantiu as privatizações (as quais desoneraram o Tesouro
Nacional e aumentaram o ingresso de dinheiro nas arcas oficiais) e efetivou
o saneamento das contas públicas com a promulgação
da Lei de Responsabilidade Fiscal.
O
Itamaraty precisa voltar ao seio da tradição do Barão
do Rio Branco, que fez os nossos diplomatas serem respeitados porque punham
em prática políticas diuturnamente amadurecidas na análise
estratégica do mundo e das necessidades do País.
O
fato de Renan Calheiros se apresentar como paladino da ética, num
momento em que está sendo questionado pelo Ministério Público,
em denúncia que foi apresentada pela Procuradoria ao Supremo por
prática de atos contrários à dignidade republicana
é, no mínimo, um acinte aos cidadãos que ainda acreditamos
que é possível viver em um País civilizado. De outro
lado, a posse, na presidência da Câmara, do deputado Enrique
Alves, cuja proposta governativa se centra na manutenção de
práticas clientelistas que atrelam o Congresso ao Executivo (como
as emendas parlamentares), completa o quadro de desmoralização
do Legislativo.
O
crime organizado vai cumprindo o seu papel de amedrontar os cidadãos,
mediante uma prática que, no século passado, Pablo Escobar
pôs em funcionamento na decomposição colombiana: o assassinato
sistemático de policiais e a realização rigorosamente
programada de atos de terrorismo que têm como finalidade fragilizar
ainda mais a psique coletiva, como está acontecendo, de vários
meses para cá, em São Paulo e no interior de Estados outrora
pacíficos como Santa Catarina. Afinal, se se trata de colocar o Brasil
a serviço de interesses particulares, o crime organizado aproveita
a brecha e pratica a sua própria demolição das Instituições.
O
Brasil é, hoje, vítima da terceira epidemia da dengue patrimonialista,
que se seguiu às duas outras sofridas durante os governos de Lula.
Conseguirá o corpo social da Nação agüentar toda
essa carga negativa?
"Lula
malufou" ou "Maluf lulou"? Eu responderia: ambas as coisas,
mas Lula age como diretor da orquestra. Porque tanto Lula quanto Maluf são
encarnações da cultura política patrimonialista, aquela
identificada por Oliveira Vianna (em 'Instituições Políticas
Brasileiras') como "política alimentar", e que Max Weber
chamara de Patrimonialismo, ou seja, aquela forma de organização
política em que o Estado emerge como hipertrofia de um poder patriarcal
original, que alarga a sua dominação doméstica sobre
territórios, pessoas e coisas extrapatrimoniais, administrando tudo
como se fosse sua propriedade. Era o que John Locke, na sua juventude, quando
viajou pela França na época de Luís XIV, identificou
como "o mal francês", na pequena obra intitulada 'De Morbo
Gallico', fazendo referência ao absolutismo do rei que falava de si
mesmo: "L'État c'est moi".1
Brizola,
na sua retórica dos pampas, identificou a tendência às
cooptações amplas do lulismo com aquela frase que ficou famosa:
'O PT é a esquerda que a direita gosta'. Trocado em miúdos,
Lula tem disposição para cooptar todo mundo que apareça
no cenário político, não importando a ideologia.
A
Economia vai mal justamente porque, nesse terreno, impera também
a cooptação, mediante a seleção prévia
dos empresários amigos que serão guindados às alturas
graças às benesses dos empréstimos oficiais subsidiados
via BNDES. É a velha prática lusitana do pombalismo em matéria
econômica, que constitui o nosso colbertismo tupiniquim. O caso Cachoeira-Delta
está a revelar a extensão dessa prática deletéria
na Economia brasileira.
A
sociedade brasileira já pressente, na inflação que
regressa, o tamanho do rombo. Os excedentes obtidos a partir da valorização
das 'commodities' que exportamos foram utilizados pelo Governo para encher
os bolsos dos companheiros ou cooptar os movimentos sociais, deixando de
fazer o dever de casa no que tange às obras de infra-estrutura, que
potencializariam o nosso desempenho comercial no mundo globalizado.
Dom
Quixote2
como modelo do que Weber denominou de 'ética da convicção',
justamente porque o Cavaleiro da Triste Figura vivenciou até as últimas
conseqüências o ideal de agir movido pelas próprias convicções,
custasse o que custasse e sem enxergar os efeitos dos atos praticados.
Yo
soy yo y mi circunstancia, y, si no la salvo a ella, no me salvo yo. Eu
sou eu e minha circunstância, e, se não salvo a ela, não
me salvo a mim. (José Ortega y Gasset,
apud Ricardo
Vélez Rodríguez).
Se
há um traço que marca a personalidade de Dom Quixote, este
é a defesa incondicional que o herói cervantino faz da liberdade.
O ponto essencial do seu programa cavalheiresco é a ética
da honra, que se centra na defesa da liberdade individual. Liberdade de
ir e vir, liberdade de não ser importunado pelos burocratas do rei,
liberdade de amar e de folgar com os amigos, liberdade para os cativos,
liberdade das amarras contra-reformistas expressas no direito filipino e
nos preconceitos inquisitoriais.
A
defesa incondicional da liberdade, tal é o 'leitmotiv' do belo discurso
que Cervantes põe na boca de Dom Quixote, no Capítulo LVIII
da Segunda Parte da obra. Eis as palavras do herói cervantino quando
deixa o palácio dos Duques, após ser tratado por estes com
todas as delicadezas e afagos da alta nobreza: "A liberdade, Sancho,
é um dos dons mais preciosos, que aos homens deram os céus;
não se lhe podem igualar os tesouros que há na Terra, nem
os que o mar encobre; pela liberdade, da mesma forma que pela honra, se
deve arriscar a vida, e, pelo contrário, o cativeiro é o maior
mal que pode acudir aos homens. Digo isto, Sancho, porque bem viste os regalos
e a abundância que tivemos neste castelo, que deixamos; pois no meio
daqueles banquetes saborosos, e daquelas bebidas nevadas, parecia-me que
estava metido entre as estreitezas da fome, porque os não gozava
com a liberdade com que os gozaria, se fossem meus, que as obrigações
das recompensas, dos benefícios e mercês recebidas são
ligaduras que não deixam campear o ânimo livre. Venturoso aquele
a quem o céu deu um pedaço de pão, sem o obrigar a
agradecê-lo a outrem que não seja o mesmo céu!”
'Que
idéia da liberdade se faz Dom Quixote? A mesma que, a partir do século
XVIII, farão na Europa os chamados liberais: a liberdade é
a soberania de um indivíduo para decidir a sua vida sem pressões
nem condicionamentos, em exclusiva função de sua inteligência
e sua vontade. Quer dizer, o que vários séculos mais tarde
um Isaias Berlin definiria como liberdade negativa, a de estar livre de
interferências e de coações para pensar, se exprimir
e agir. O que reside no coração desta idéia de liberdade
é uma desconfiança profunda em face da autoridade, dos desaforos
que pode cometer o poder, qualquer poder'. (Jorge
Mario Vargas Llosa, apud Ricardo
Vélez Rodríguez).
Discurso
com o qual Sancho dispõe-se a justificar a sua saída do poder,
para desfrutar a simples liberdade dos filhos de Deus:
“Abri caminho, senhores meus, e deixai-me voltar à minha antiga
liberdade; deixai-me ir buscar a vida passada, para que me ressuscite desta
morte presente. Eu não nasci para ser governador, nem para defender
ilhas nem cidades dos inimigos que as quiserem acometer. Entendo mais de
lavrar, de cavar, de podar e de pôr bacelos nas vinhas do que de dar
leis ou defender províncias ou reinos. Bem está São
Pedro em Roma, quero dizer: bem está cada um, usando do ofício
para que foi nascido. Melhor me fica a mim uma fouce na mão, do que
um cetro de governador. Antes, quero comer à farta feijões,
do que estar sujeito à miséria de um médico impertinente,
que me mate à fome. E, antes, quero me recostar de verão à
sombra de um carvalho, e me enroupar de inverno com um capotão, na
minha liberdade, do que me deitar, com a sujeição do Governo,
entre lençóis de Holanda, e me vestir de martas cevollinas.
Fiquem Vossas Mercês com Deus, e digam ao duque, meu senhor, que nasci
nu, nu agora estou e não perco nem ganho. Quero dizer: que sem mealha
entrei neste Governo e sem mealha saio, muito ao invés do modo como
costumam sair os governadores de outras ilhas. E apartem-se, deixem-me,
que me vou curar, pois suponho que tenho arrombadas as costelas todas, graças
aos inimigos que esta noite passearam por cima do meu corpo”.
Dom
Quixote, herói libertário: liberdade, mas também justiça.
'Dura
coisa me parece o se fazerem escravos indivíduos, que Deus e a Natureza
fizeram livres.' (Miguel
de Cervantes y Saavedra,
apud Ricardo
Vélez Rodríguez).
'O
Quixote não acredita que a justiça, a ordem social e o progresso
sejam funções da autoridade, mas, obra de indivíduos
que, como os seus modelos, os cavaleiros andantes, e ele mesmo, tenham chamado
a si a tarefa de tornar menos injusto e mais próspero o mundo em
que vivem. Isto é o cavaleiro andante: um indivíduo que, motivado
por uma vocação generosa, lança-se pelos caminhos a
buscar remédio para tudo aquilo que anda mal no Planeta. A autoridade,
quando aparece, em lugar de lhe facilitar a tarefa, torna-a difícil.'
(Jorge Mario Vargas Llosa,
apud Ricardo
Vélez Rodríguez).
Um
demagogo3
– no sentido aristotélico do termo –
chefia
uma versão de Democracia deformada, aquela em que as massas seguem
o líder em razão de seu carisma, em que pese o fato de esta
liderança conduzir o povo à sua destruição.
Já o cinismo do líder populista fica por conta da duplicidade
que ele vive, entre uma promessa de esperança, de um lado, e, de
outro, a nua e crua realidade que ele ajudou a construir, ou melhor, a desconstruir,
com a falência das instituições que garantiriam a esse
povo chegar lá, à utopia prometida.
A
política social do programa Bolsa-família se converteu em
uma faca de dois gumes, que, se bem distribuiu renda entre os mais pobres,
levou à dependência do favor estatal milhões de brasileiros,
que largaram os seus empregos para ganhar os benefícios concedidos
sem contrapartida nem fiscalização.
Desgraças
da saúde: uma administração estupidamente centralizada
em Brasília, que ignora o que se passa nos municípios, onde
os cidadãos morrem na fila do SUS.
'Não
é para me escusar pelo meu entusiasmo em relação à
liberdade, que explicito as circunstâncias pessoais que contribuíram
para tornar mais caro para mim esse ideal [fé
incondicional na liberdade]. Creio que devo me orgulhar desse
entusiasmo em lugar de me escusar, pois quis dizer, desde o início,
que o grande reproche do Imperador Napoleão contra mim, é
o amor e o respeito que sempre tive pela verdadeira liberdade. Estes sentimentos
me foram transmitidos como uma herança, a partir do momento em que
pude refletir acerca dos altos ideais dos quais derivam e das belas ações
que eles inspiram. As cenas cruéis que desonraram a Revolução
Francesa, não sendo mais do que tirania sob modalidade popular, não
fizeram esmaecer em mim, creio, o culto à liberdade. Poderíamos
nos desencorajar em relação à França. Mas, se
este País tivesse a desgraça de não possuir o mais
nobre dos bens, não era necessário, por isto, proscrevê-lo
da Terra. Quando o Sol desaparece do horizonte dos países do Norte,
os habitantes dessas regiões não amaldiçoam os seus
raios, que luzem ainda em outros lugares mais felizardos do céu.'
(Anne-Louise Germaine Necker,
baronesa de Staël-Holstein, apud Ricardo
Vélez Rodríguez).
'A
Democracia não é o lugar da identidade miraculosa entre os
homens; mas, é aquele regime que se consolida na relação
entre as classes antagônicas.' (Françoise
Mélonio, apud Ricardo
Vélez Rodríguez).
A
figura do Ditador em García Márquez é trágica.
É trágica porque é ciclicamente prevista: aparece desenhada
nos irregulares traços da mão despótica, nas premonições
das pitonisas e nas cartas de adivinhação. É trágica
porque é engendro e projeto do desamor. É trágica porque
termina em morte. A convicção de que nunca saberá amar
produz no Ditador uma amargura ontológica, que se traduz na sua empresa
particular de ódio com que identificará sua vida, e que culmina
com o exercício cego do poder pelo poder... O Ditador acaba sendo
enganado pela própria mídia mentirosa que cria para não
ser incomodado, convertendo-se ele, de forma irônica, em mais uma
mentira. A consciência dessa mentira universal produz no Ditador um
vazio de morte. A ficção do seu poder total será a
grande mentira em que o Ditador acredita, ao passo que a verdade está
do lado da vida de todos os dias, limitada, escorregadia, pobre, mas final
vida que foi esquecida na liturgia vazia e brutal da dominação...
O destino trágico do Ditador está inscrito ontologicamente
na sua natureza. Nasceu da morte e o vazio será a sua descendência.
Ambos os extremos desta cruel epopéia são simbolizados na
placenta materna que é jogada aos porcos, e na vacuidade da sua capacidade
reprodutiva: o Ditador é um monstro gerado às pressas no fundo
de um barracão imundo, numa copulação acidental da
mãe, “em pé e sem tirar o chapéu”, com
um retirante anônimo, e leva em si uma ferida niilista – símbolo
de sua capacidade autodestrutiva, uma hérnia escrotal que faz com
que um testículo tenha sido preenchido pelo ar, lhe conferindo a
aparência monstruosa de gaita-de-foles que assobia um assobio de funeral.
Charles
Chaplin
(The
Great Dictator – O Grande Ditador)
Não
ter consciência da própria história é não
existir. Mas, para encontrar o caminho da própria história,
a condição 'sine qua non' é a opção pela
liberdade.
A
Argentina se transformou em um dos melhores exemplos vivos de que é
possível andar para trás, como um caranguejo. Afinal, o País
apresenta hoje indicadores socioeconômicos muito inferiores aos que
já ostentou no passado e, ao que tudo indica, a descida ladeira abaixo
não vai parar tão cedo. À medida que o tempo vai passando,
vejo o Brasil cada vez mais perto do futuro sonhado e a Argentina mais longe
do passado brilhante.
O
que a França tem de comum com o Brasil? Poderíamos dizer que,
em primeiro lugar, a estrutura centralizada do Estado. Em segundo lugar,
poder-se-ia afirmar, validamente, que os nossos marxistas são tão
estatizantes e dogmáticos quanto os comunistas franceses. Stalinistas
mesmo. Com uma diferença: na França, e talvez em Portugal
e na Espanha, esses dinossauros ficaram confinados no PC. No Brasil, mimetizam-se
em tudo quanto é partido de esquerda, do PT ao PC do B, ocupando
sofregamente o segundo escalão dos Ministérios, quando não
a direção das Universidades Federais e as Secretarias Estaduais
ou Municipais, nos lugares onde há governantes favoráveis.
A recente derrota da esquerda nas eleições presidenciais francesas,
talvez deva ser inserida nesse contexto. A sociedade não acredita
mais no discurso ideológico tradicional da esquerda. Jospin levou
ao seu palanque o nosso bravo Lula, e está provado que isso não
melhorou as suas condições eleitorais. Será que Lula
é pé-frio? Deixemos a resposta a essa pergunta para os que
administram bola de cristal. O problema, no plano real, não é
este. O problema radica na semelhança entre as esquerdas francesa
e brasileira. Nenhuma das duas conseguiu se modernizar, ao contrário
do que fizeram os esquerdistas na Espanha (com Felipe González),
na Itália (com Massimo d'Alema) e na Inglaterra (com Anthony Giddens
e Tony Blair). Moral da história: por não terem se modernizado,
as esquerdas francesa e brasileira metem medo no eleitorado e nos investidores.
No caso francês, logo após a eleição de Jospin
para o cargo de primeiro-ministro, mais de quinze mil empresas cruzaram
o Canal da Mancha, fugindo do espírito orçamentívoro
dos socialistas e buscando os ares mais liberais da Grã Bretanha,
onde o Novo Trabalhismo teve a sensatez de manter uma política tributária
que não desestimulasse os investimentos e a livre iniciativa. Moral
da história: a Economia francesa estagnou-se e perdeu competitividade,
não diminuiu o desemprego, tendo aumentado sensivelmente, em decorrência
desses fatores, as tensões sociais e a insegurança geral da
população. Até os imigrantes do Centro da Europa preferem
se expor aos riscos de fugir dos refúgios para imigrantes construídos
no noroeste da França, e se aventuram a percorrer a pé a perigosa
rota do Eurotúnel. O clima na Inglaterra é melhor, até
para os que não têm nada.
O
processo de democratização do país
[na Rússia] sofre com a estrutura do poder ferreamente
controlada pela burocracia, centralizada ao redor dos organismos de segurança,
cujo chefe continua sendo o ex-presidente (e agora primeiro ministro) Vladimir
Putin. Trata-se de um contexto político que é, sem dúvida,
patrimonialista. A Rússia, aliás, tinha sido considerada por
Max Weber e Karl Wittfogel, no século passado, como paradigma desse
tipo de dominação, cuja nota característica consiste
em que o poder é exercido, pela elite dominante, como se fosse a
sua propriedade familiar.
De
forma semelhante a como Hitler destroçou a intelectualidade alemã,
a fim de erguer à liderança do País as mediocridades
de que se compunha a elite do Partido Nacional Socialista alemão,
Lênin e Stalin fizeram outro tanto na Rússia: eliminaram simplesmente
todos aqueles que fossem capazes de pensar ou elaborar uma visão
da União Soviética e do mundo, diferente da que eles professavam.
A mentalidade que se estabeleceu no poder era essencialmente unilinear,
o que fez com que ficasse comprometido o processo de consolidação
da Rússia como nação moderna. Isto se viu agravado
com a perpetuação, sob Stalin, das erráticas políticas
agrícolas de Lenine, que levaram, pura e simplesmente, como lembra
Antônio Paim, ao desaparecimento dos empresários rurais. O
próprio líder da revolução bolchevique tinha,
aliás, uma visão bastante ingênua do que era a Economia
industrial, imaginando que esta se reduziria a simples controle cartorial,
pelo Estado, sem maior preocupação com as questões
técnicas. Em 1937, depois de Stalin ter eliminado os velhos bolcheviques
que lhe faziam oposição, somente 17,7% dos secretários
regionais do Partido Comunista e 12,1% dos chefes urbanos do mesmo tinham
educação superior, enquanto que 70,4% (dos chefes regionais)
e 80,3% (dos chefes urbanos) somente tinham recebido educação
primária. Ou seja: o velho ditador nivelou o país por baixo,
de forma a não ser incomodado.
Claro
que os beneficiários dos programas sociais (Bolsa-família
e outras benesses) tiveram ganhos relativos. Mas de cunho precário,
levando em consideração que não foram postas em prática
políticas públicas que efetivamente os tirassem da pobreza,
sem precisar dos subsídios estatais. Mais animador seria um passo
à frente na recuperação da produção econômica,
para garantir o crescimento sustentado da riqueza.
Na
concepção mágica de Sampaio Bruno valem os seguintes
axiomas, que o animaram ao longo da busca de um princípio de unidade
de onde tudo decorre: 1) Todas as coisas no mundo estão predeterminadas.
A fatalidade é a Lei do Mundo; 2) Mesmo sabendo isto, o ser humano
pode obedecer ou desobedecer à fatalidade; 3) Se, no Mundo, a Liberdade
é Lei para mim, há Responsabilidade. A Moral, conseqüentemente,
é uma instituição positiva, de caráter rigoroso.
Não é uma questão subjetiva; e 4) A predeterminação
do Universo é conhecida por seres espirituais superiores a nós
e existindo fora de nós, mas que, quando queiram, podem comunicá-la
a nós, fazendo-nos conhecer com antecedência o futuro. Logo
a angelologia é intuição positiva e a profecia é
realidade anômala.
No
princípio, era a Perfeição, o Espírito homogêneo
e puro. No segundo momento, mercê do efeito de um mistério,
temos o Espírito diminuído e a seu par, a diferença
que se tornou homogênea, isto é, o mundo. No terceiro momento,
reintegrar-se-á o Espírito puro, pela absorção
final de todo o homogêneo. Assim, três são os instantes
supremos do crescimento. Um: é o Espírito homogêneo
e puro, que foi e há de voltar a ser. Eis o ponto de partida e eis
o ponto de chegada. Outro: é o Espírito puro, mas diminuído
atualmente, pelo destaque separativo do Universo. Enfim, o outro ainda:
é esse Universo, que aspira a regressar ao homogêneo inicial.
Nós não podemos compreender como foi esse mistério
da diferenciação da parte do Espírito puro. Porém,
que ele dado se houvesse é necessário: para que, um tanto
inteligivelmente, o enigma universal nos seja, ainda que em seu limiar,
acessível. (José
Pereira de Sampaio, Sampaio Bruno para a posteridade, apud
Ricardo
Vélez Rodríguez).
A
recomendação da revista inglesa The Economist para que a Presidente
demitisse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pelo fato de ele não
saber gerir a Economia brasileira, que foi qualificada de "moribunda",
não foi propriamente uma ofensa à nossa dignidade nacional.
Foi mais um alerta dos mercados internacionais quanto à capacidade
de o Brasil atrair investimentos em épocas de turbulência global
e vacas magras financeiras. Ora, o que os jornalistas da conceituada revista
queriam destacar era, a meu ver, o significado do péssimo gerenciamento
da nossa Economia, entravada por um intervencionismo governamental asfixiante
que tolhe investimentos, afugenta inversionistas e assinala que voltamos
aos tempos da insegurança jurídica generalizada. Nas condições
em que se encontra a nossa "moribunda" Economia, não vale
a pena investir no Brasil. Além das razões apontadas, destaquemos
estas outras, que, sem dúvida, devem ter sido levadas em consideração
pelos observadores internacionais: 1ª) corrupção generalizada
desatada pelos "companheiros" no poder; 2ª) baixíssima
competitividade com que o Brasil se apresenta perante as agências
internacionais de classificação, em decorrência da elevadíssima
carga tributária e da desindustrialização do País;
3ª) situação precária da nossa infra-estrutura
aeroportuária, portuária e de rodovias; 4ª) baixíssimos
índices de qualidade da nossa educação; 5ª) péssimo
gerenciamento da Petrobrás em face da política de preços
dos combustíveis; 6ª) aparelhamento, pela petralhada, de outrora
confiáveis agências de pesquisa, como o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) e o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), que passaram a dizer o que o Governo quer, não
o que de fato acontece na realidade econômica brasileira; 7ª)
desastrada mania intervencionista do Governo; E 8ª) o desastre que
é a nossa infra-estrutura de saúde pública e de segurança,
que afasta investidores e aumenta os gastos com internamentos hospitalares
e mortes de cidadãos.
As
novas gerações entenderam a mensagem sobre os danos que o
tabaco causa, sobre álcool e sobre
a violência
no trânsito. Mas a divulgação de dados sobre os estragos
da maconha está na esfera do 'politicamente correto'. Não
se pode falar dos riscos da maconha sem ser alcunhado de careta... A descriminalização
não é suficiente para solucionar os impasses inerentes ao
consumo de drogas no Brasil. A solução não é
liberar o consumo, mas tratar os dependentes. Não é o caso,
evidentemente, de puni-los, mas de tratá-los. As políticas
tipo "liberou-geral" trazem mais problemas do que soluções.
Hoje, no Brasil, estamos na fase da carnavalização da narcodependência
e do narcotráfico que a alimenta. E já estamos pagando um
alto preço por essa atitude irresponsável.
Uma
falsa idéia apoderou-se das mentes após a abertura: a de que
a Democracia consiste na frouxidão da lei. À sombra dessa
falácia cresceu o pudor em relação à sua aplicação.
Somos democratas, logo sejamos tolerantes com os marginais.
Ser
esperto é isso: saber driblar a lei, já que, como dizia uma
professora do colégio da minha filha, “o mundo é dos
espertos”. Só que a esperteza termina por inviabilizar a Democracia,
que não é outra coisa do que a igualdade (e o respeito) de
todos perante a lei. Precisamos reciclar, numa urgente educação
cívica, a nossa cabeça macunaímica, que estranhamente
paparica bandidos e pune cidadãos.
'A
liberdade não é um conceito nem uma crença. A liberdade
não se define: se exerce. É uma aposta. A prova da liberdade
não é filosófica mas existencial: há liberdade
toda vez que encontramos um homem livre, toda vez que o homem se atreve
a dizer não ao poder.' (Octavio
Paz Lozano, apud Ricardo
Vélez Rodríguez).
'As
sociedades não morrem vítimas de suas contradições,
mas da sua incapacidade para resolvê-las. Quando isto ocorre, uma
espécie de parálise imobiliza o corpo social: primeiro os
centros pensantes e deliberativos, depois os braços executores. A
parálise é uma resposta da sociedade a perguntas sobre as
que a sua tradição e os pressupostos de sua história
não oferecem outra saída do que o silêncio. Isto foi
o que aconteceu com o Império Espanhol. Todas as desgraças
dos povos hispano-americanos são efeitos longínquos deste
estupor feito de obstinação, orgulho e cegueira, que tomou
conta da monarquia austríaca em meados do século XVII.' (Octavio
Paz Lozano, apud Ricardo
Vélez Rodríguez).
'O
Fogo se converte em mar e uma metade do mar vira Terra, enquanto a outra
se converte em nuvem ardente. No entanto, o mar não cessa de provir
do mesmo Logos, a partir do qual ele se originou, antes mesmo de que nascesse
a Terra.' (Heráclito
de Éfeso, apud Ricardo
Vélez Rodríguez).
'São
águas sempre novas as que correm no mesmo rio e outros os que flutuam
sobre elas'. (Heráclito
de Éfeso, apud Ricardo
Vélez Rodríguez).
Mas, se
encontramos aqui a idéia de devir, de movimento, encontramos também
a idéia de permanência. É no seio do mesmo rio por onde
correm as águas sempre novas.
Existe,
pois, no pensamento de Heráclito, permanência sob o movimento
das coisas. Esta relação entre permanência e movimento
é ilustrada por Heráclito com a imagem do combate. Nada pode
chegar a ser, senão mediante uma luta entre contrários. A
respeito, frisa Heráclito: “Deus é o dia e a noite,
o inverno e o verão, a guerra e a paz, a abundância e a carência.
Ele se converte em outro como o fogo misturado aos aromas; Ele é
chamado como melhor agradar a cada um”. O combate ('pólemos')
tudo permeia. É o que o filósofo afirma no seguinte texto:
“O combate é pai de tudo, rei de tudo. É ele que faz
com que uns pareçam deuses, outros homens, outros escravos, outros
livres”. O combate, para Heráclito, é a unidade dos
contrários. O pensador exprime esta idéia acudindo às
imagens do arco e da flecha, e das cordas da lira: é graças
à sua tensão que é produzido o som. O combate é
também harmonia; não estática, mas dinâmica,
entendida como tensão entre o movimento e o repouso.
A
questão da moral social é que dá embasamento às
instituições. Acontece que sem equacionar essa questão
tudo o mais fica no ar: Constituição, Códigos de Direito
Civil e Penal, funcionamento adequado dos poderes públicos, pacto
federativo, respeito às leis, organização e funcionamento
dos partidos políticos, fundamento das práticas econômicas
em rotinas de transparência, que dariam ensejo ao que Alain Peyrefitte
denominava "sociedade de confiança", governabilidade etc.
Antônio
Paim, no seu Tratado de Ética, afirma que a moral consiste em um
"conjunto de normas de conduta adotado como absolutamente válido
por uma comunidade humana em uma época determinada". A moral
tem uma dupla dimensão, individual e social. A primeira se identifica
com o que Immanuel Kant denominava "imperativo categórico da
consciência". A segunda consiste na definição do
mínimo comportamental que uma sociedade exige dos seus indivíduos
para que se torne possível a vida em comunidade. A moral social pode
ser de dois tipos: vertical, quando um grupo de indivíduos impõe
ao restante o padrão de comportamento; social, quando o padrão
de comportamento é adotado por consenso da comunidade. A moral social
consensual constitui, no mundo contemporâneo, o fundamento axiológico
da vida democrática.
Neopopulismo
= Personalismo
+ Demagogia +
Sedução
+
Semelhança
popular +
Feição
antipolítica +
Antielitismo
+
Nacionalismo...
Quo
Vadis?4
Quo
vadis, homine?
Não
é lá que acharás
a tão
cara Liberdade.
Lá,
tu só garimparás
insone
intranqüilidade.
Quo
vadis, homine?
Fatigaste
de ir-e-vir?
Cansaste
de morrer?
Esperas
o Reexistir?
Queres
já (Re)Viver?
Sus!
Vade, homine!
Só
em ti encontrarás
a Tinctura
Universalis.
Só
in
Corde acharás
o Lapis
Universalis.