Nicolas
Camille Flammarion, mais conhecido como Camille Flammarion (Montigny-le-Roi,
26 de fevereiro de 1842 – Juvisy-sur-Orge, 3 de junho de 1925), foi
um astrônomo francês. Foi o mais velho de quatro filhos.
Aos
quatro anos de idade já sabia ler, aos quatro e meio sabia escrever
e aos cinco já dominava rudimentos de Gramática e Aritmética.
Foi
educado em Langres, e começou a trabalhar com dezesseis anos de idade,
no observatório de Paris, no departamento de cálculo de Leverrier.
Sua
ruptura com os astrônomos se deu em 1862, com a publicação
do livro La Pluralité des Mondes Habités.
A
partir desta época, Flammarion começou a escrever livros populares
de Astronomia que foram traduzidos para diversas línguas. Uma de
suas obras mais conhecidas é Astronomia Popular, de 1880.
Editou uma série de revistas científicas e astronômicas.
No
fim de sua vida escreveu sobre pesquisas de Física. Em 1883, Flammarion
fundou o observatório de Juvisy-sur-Orge, dirigindo-o pelo resto
de sua vida, incentivando o trabalho de observadores amadores.
Em
1887, fundou a Société Astronomique de France. Seus
trabalhos para a popularização da Astronomia fizeram com que
fosse agraciado, em 1912, com um prêmio da Legião de Honra.
Em
1874, desposou Sylvie Flammarion. Em 1919, viúvo, ele se casou com
Gabrielle Flammarion.
Flammarion
foi amigo de Allan Kardec, o codificador do Espiritismo. Ao pé do
túmulo de Kardec, fez um discurso em sua homenagem afirmando que
o mesmo era o bom
senso encarnado. Posteriormente à morte de Allan Kardec,
Flammarion começou a se dedicar no aprofundamento teológico
do Espiritismo. A íntegra deste discurso consta do início
de Obras Póstumas, em edição da Federação
Espírita Brasileira.
As
obras de Flammarion, a partir de então, revelam a sua visão
espírita sobre questões fundamentais para a Humanidade. Em
algumas delas, como Narrações do Infinito, poderá
ser verificada, ainda, a atuação de Camille Flammarion como
médium.
O
capítulo VI de A Gênese – uma das obras básicas
do Espiritismo, intitulado Uranografia Geral – é
a transcrição de uma série de comunicações
à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título
Estudos Uranográficos, que trazem a assinatura Galileu,
e tiveram como médium Camille Flammarion.
Pensamentos
de Flammarion
Tudo
é número, correspondência, harmonia, relação
de uma causa inteligente, agindo universal e eternamente.
Tudo
é número...
E tudo é
regula(menta)do pela Lei do Triângulo.
O
corpo passa.
A alma vive no infinito e na eternidade.
O
método científico experimental – o único que
vale para a pesquisa da verdade –
tem exigências
as quais não podemos nem devemos nos eximir.
A
morte não existe; é apenas uma evolução, sobrevivendo
o ente humano a essa hora suprema, a qual não é, de modo nenhum,
a última hora. A morte é a porta da Vida. O corpo é
somente um vestuário orgânico do espírito; ele passa,
muda, desagrega-se, o espírito permanece.
O
Universo é um dinamismo; o Cosmos bem justifica seu nome (ordem).
O
Espiritismo não é uma religião, mas, uma ciência,
da qual apenas conhecemos o a, b, c. Passou o tempo dos dogmas.
O
comitê me ofereceu suceder a Allan Kardec como presidente da Sociedade
Espírita. Eu recusei, dizendo que nove décimos dos seus discípulos
continuariam a ver, durante muito tempo ainda, no Espiritismo
uma religião
mais que uma ciência, e que a identidade dos espíritos estava
longe de ser provada.
A
existência do Espírito em a Natureza, nas Leis do Cosmos, no
homem, nos animais, nas plantas é manifesta. Ela deve bastar para
estabelecer a religião natural. E tal religião será
incomparavelmente mais sólida que todas as formas dogmáticas.
Os princípios da justiça se impõem com a mesma autoridade,
e Confúcio, assim como Platão e Marco Aurélio, anteciparam
a base desta religião.
Todo
ser vivo é uma força dinâmica. O próprio pensamento
é um ato dinâmico.
Tudo
ignorais, princípios e causas. Átomos efêmeros sobre
um átomo móvel, nada sabeis de exato em torno do Universo
e, não obstante, tudo pretendeis julgar, tudo pretendeis compreender!
Ao
ver uma jovem tomando banho ao ar livre, por ocasião de um passeio
no campo: É uma alma vestida de ar!
Oh!,
noite majestosa! Como teu esplendor é ainda maior ante nossos olhos
desde que entrevimos a vida sob tua morte aparente! Como tuas harmonias
se tornaram deliciosas! Como teu espetáculo se transfigurou diante
de nossas almas! Outrora, eu me comprazia em vos contemplar no silêncio
da meia-noite, ó Plêiades longínquas cuja claridade
difusa nos leva para tão longe da Terra! Eu me comprazia em ver repousar
sobre vós o enxame de meus pensamentos, porque vós sois uma
estação brilhante do infinito dos céus. Mas, hoje,
que vejo em vossa múltipla irradiação tantos lares
onde famílias humanas estão reunidas; hoje, que nessa irradiação
tão calma eu creio reconhecer os olhares de irmãos desconhecidos,
o olhar, talvez, de seres queridos que amei tanto, e que a Morte inexorável
levou para longe de mim, desse ser, sobretudo, que se foi com um sorriso
nos lábios para não me deixar adivinhar seus sofrimentos,
e que, agora, está aí, sonhando, talvez, ainda, em algum ponto
obscuro de uma terra desconhecida, lembrando com uma tristeza inexplicável
nossos amores destruídos, e procurando, como eu, por olhares perdidos
no céu... Oh! Agora eu vos amo, deslumbrantes Plêiades; eu
vos amo, maravilhosas Estrelas; eu vos amo como o peregrino ama as cidades
de sua peregrinação, como ele ama o altar aonde se dirigem
seus votos, e onde depositará, um dia, o beijo das suas aspirações
mais caras.
Não
é somente a razão fria que indaga; não é somente
o espírito. É também o sentimento; é também
o Coração.
Não
se pode pedir a um elefante que voe até o ninho das águias.
A
passos lentos, avança a pesquisa da verdade, mas
as paixões humanas e os cegos interesses dominadores permanecem inalteráveis.
O
flogístico – que, segundo Baumé e seus contemporâneos,
era o 'deus ex machina' da Natureza e da vida
– jamais
existiu senão na imaginação dos professores.
Regra
de conduta da Ciência: Não admitir senão
o que se vê, o que se toca, o que se ouve, o que fica subordinado
ao testemunho direto dos sentidos, e não procurar conhecer o incognoscível.
Analisando
os testemunhos de nossos sentidos, verificamos que eles nos enganam de um
modo absoluto. Vemos o Sol, a Lua e as estrelas girarem em torno de nós:
é falso. Sentimos a Terra imóvel: é falso. Vemos o
Sol se levantar acima do horizonte: ele está abaixo do horizonte.
Tocamos corpos sólidos: não há corpos sólidos.
Ouvimos sons harmoniosos: o ar não transporta mais do que ondas em
si mesmas silenciosas. Admiramos os efeitos da luz e das cores que fazem
viver aos nossos olhos o esplêndido espetáculo da Natureza:
em realidade não há nem luz, nem cores, mas, somente movimentos
etéreos obscuros que, influenciando nosso nervo ótico, dão-nos
as sensações luminosas. Queimamos o nosso pé ao fogo:
é, sem o sabermos, em nosso cérebro somente que reside a sensação
da queimadura. Falamos de calor e de frio: não há no Universo
nem calor nem frio, mas, somente movimento. Como se vê, os nossos
sentidos nos enganam a respeito da realidade. Sensação e realidade
são coisas distintas.
Sharbat
Gula – A Garota Afegã
(Símbolo da década de 1980, do conflito afegão
e da situação dos refugiados em todo o mundo)
Desde
a última sensação acústica percebida por nosso
ouvido, resultante de 36.850 vibrações por segundo, até
a primeira sensação ótica percebida por nossos olhos,
e que é devida a 400.000.000.000.000 de vibrações na
mesma unidade de tempo, nada mais podemos perceber. Entre estes dois extremos,
existe
um intervalo
enorme, com o qual nenhum de nossos sentidos se põe em relação.
Se
as instituições monásticas tiveram o seu papel no período
das invasões bárbaras, nem por isso deixou de soar a sua hora
extrema, como sucede a todas as coisas perecíveis...
Fora
da Ciência não há salvação... a Humanidade
tanto tempo balouçada no oceano do ignorantismo, só tem um
porto a proejar: o da terra firme do saber.
Quanto
à [i]mortalidade
da alma e à [in]existência
de Deus, como podem criaturas inteligentes, seres racionais, pensantes,
entregar uma vida inteira a interesses transitórios, sem se abstraírem,
uma que outra vez, da sua apatia, para atender a estas interrogativas preciosas?
Assim
se balança nossa faculdade pensante ao sair desta vida: entre uma
realidade que não compreende ainda e um sonho não desaparecido
completamente. As mais diversas impressões se amalgamam e confundem,
e se, sob o peso de sentimentos perecedouros, tem saudades da Terra de onde
vem exilado, é, então, oprimida por um sentimento de tristeza
indefinível que pesa sobre nossos pensamentos, nos envolve de trevas
e retarda a clarividência.
Pode-se
distinguir no ser humano três princípios diferentes, ainda
que reunidos: 1º) Corpo Material; 2º) Corpo Astral; e 3º)
Alma. O Corpo Material é uma associação de
moléculas, formadas elas próprias de agrupamentos de átomos.
Os átomos são inertes, passivos, governados pela força,
e entram no organismo pela respiração e pelos alimentos, renovam
incessantemente os tecidos, são substituídos por outros, e,
eliminados, vão pertencer a outros corpos. Em alguns meses, o corpo
humano é totalmente renovado, e nem no sangue, nem na carne, nem
no cérebro, nem nos ossos resta mais um único dos átomos
que constituíam o todo alguns meses antes.
Respiramos,
bebemos e comemos milhares de vezes. Tal é o corpo: um complexo de
moléculas materiais que se renovam constantemente.
O
Corpo Astral é, por assim dizer, imaterial, etéreo, fluídico.
É por ele que o Espírito está associado ao Corpo Material;
é o envelope da Alma, a substância física do Espírito.
Pela
energia vital, a Alma grupa as moléculas, seguindo certa forma, e
constitui os organismos.
A
força rege os átomos passivos – incapazes de se conduzirem
eles próprios, inertes. A força os chama, faz que lhes obedeçam,
toma-os, coloca-os, dispõe de todos conforme certas regras, e forma
esses corpos tão maravilhosamente organizados que o anatomista e
o fisiologista contemplam. Os átomos são permanentes, a força
vital não. Os átomos não têm idade; a força
vital [em nós]
nasce, envelhece, morre.
A
alma é um ser intelectual, pensante e imaterial na essência.
O Mundo das Idéias, no qual vive, não é o Mundo da
Matéria. Não tem idade, nem envelhece; não muda em
um mês ou dois, igual ao corpo, pois, decorridos ano, lustro decênios,
sentimos que conservamos a nossa identidade, que o nosso Eu permanece.
As
preocupações das Almas, quaisquer que sejam, pertencem à
ordem intelectual e à
ordem moral,
que os átomos e as forças físicas não podem
conhecer, mas que existem tão verdadeiramente quanto a ordem material.
A
alma é ligada ao Corpo Material pelo Corpo Astral, intermediário,
que ela conserva depois da morte. Relativamente livre, a Alma pode se deslocar
facilmente e, às vezes, pode se projetar mesmo a imensas distâncias,
com a rapidez do pensamento. A transmissão da alma – mônada-psíquica
–
no Espaço
é da mesma ordem.
O
ano, os dias e as horas são constituídos pelo movimento da
Terra. Fora destes movimentos, o tempo terrestre não existe mais
no Espaço. É, pois, absolutamente impossível ter noção
deste tempo.
Em
virtude das leis da luz, podemos rever acontecimentos depois de ocorridos
e de consumados.
A
vida passada dos mundos e a vida
dos seres
existem sempre no Espaço, graças à transmissão
sucessiva da luz através das vastas regiões do ilimitado.
Uma
distinção profunda separa em geral as formas animadas dos
diferentes globos. Estas formas são o resultado dos elementos especiais
a cada orbe e das forças que o regem: matéria, densidade,
peso, calor, luz, eletricidade, atmosfera etc., diferem essencialmente de
um mundo a outro. Em um idêntico sistema, estas formas já diferem.
Assim, os homens de Titã, no sistema de Saturno, e os do planeta
Mercúrio não se assemelham em nada aos homens da Terra; e
aquele que os visse pela primeira vez não identificaria neles nem
cabeça, nem membros, nem sentidos.
Porque
nada se perde, a história de cada mundo, contida na luz que dele
emana incessante e sucessivamente, atravessa por toda a eternidade o espaço
infinito, sem que jamais possa ser aniquilada.
Na
realidade, não existe luz: há vibrações do éter.
Não existe visão: há percepções do pensamento.
Cada
criança traz, ao nascer, faculdades diferentes, predisposições
especiais, dessemelhanças inatas e incontestáveis...
A
alma não tem plena memória, integral posse de si mesma, senão
na sua vida normal, na Vida Celeste, isto é, entre suas encarnações.
Só então ela vê, não somente a sua vida terreal,
mas ainda as outras existências precedentes.
A luz
constitui o modo de transmissão da História Universal.
Toda crença, para ser verdadeira,
deve concordar com os fatos da Natureza. O espetáculo do mundo nos
ensina que a imortalidade de amanhã é aquela de ontem e de
hoje, que a eternidade futura não é senão a eternidade
presente. Eis aí nossa fé. Nosso paraíso é o
infinito dos mundos.
Segundo
a Lei de Transmissão
Sucessiva da Luz, todos os acontecimentos do Universo e a história
de todos os mundos são espargidos no Espaço em quadros imperecíveis,
verídicos e grandiosos. A Lei
de Transmissão
Sucessiva da Luz é
um dos elementos fundamentais das condições da Vida Eterna.
Há
uma diversidade inimaginável que distingue os mundos, em sua geologia,
na fisiologia orgânica, nas condições da habitabilidade,
nas formas humanas, nas mentalidades.
Cosmos:
universal diversidade.
Virá o tempo em que todas
as mentes instruídas e independentes saberão se libertar dos
preconceitos que pesam ainda sobre nossas cabeças, e confessarão,
com o acento de uma convicção inabalável, a doutrina
da pluralidade dos mundos. Mas, hoje, grandes dificuldades de escolas ou
seitas ainda se opõem. São estes preconceitos que cabe à
Filosofia dissipar. É deles que se deve libertar as almas adormecidas.
E não se trata de uma missão tão rude nem tão
penosa quanto nos séculos passados, pois, o progresso intelectual
propagou por todo lugar sua claridade benfazeja.
O
corpo humano terrestre deve sua forma e seu estado ao meio atmosférico
e às condições de densidade, peso e nutrição
dentro das quais a evolução vital terrestre se exerceu.
O
tipo Homem não é universal. No Universo, há seres pensantes
de todas as formas possíveis, de todas as dimensões, de todos
os pesos, de todas as cores,
de todas as sensações
e de todos os caracteres.
O
Universo é ilimitado. Nossa existência terrestre é apenas
uma fase nesse ilimitado.
A
Terra foi, pois, criada para o homem, e a matéria para a vida. E,
onde quer que vejamos outra terra, somos forçados a convir que ela
foi, como a nossa, criada para a raça intelectual e imortal.
Se
todo acontecimento é imperecível, o passado resulta presente.
Nós
podemos rever a nossa própria existência diretamente e nossas
diversas existências anteriores; para tanto, basta
estarmos
à uma distância conveniente dos mundos onde houvermos vivido.
Quando
o Senhor Jesus fala do aprisco do qual é a porta, da ovelha que o
segue e que conhece sua voz, e pela qual dá sua vida, acrescenta:
— Tenho, ainda, outras ovelhas que não são deste rebanho;
é preciso que eu também as conduza. Elas escutarão
minha voz, e haverá um só rebanho e um só Pastor.
Os
fenômenos físicos, sobre os quais a princípio não
se insistia, se tornarão objeto da crítica experimental, a
que devemos a glória dos progressos modernos e as maravilhas da eletricidade
e do vapor.
A
alma: a) existe como personalidade real independente do corpo; b) é
dotada de faculdades ainda desconhecidas da Ciência; e c) pode agir
e perceber à distância sem necessitar dos sentidos como intermediários.
Pobres
mitos humanos os que supõem Te conhecer, ó Deus!
Deus
é a força inteligente, universal e invisível, que constrói
sem cessar a obra da Natureza.
Filhos
da Terra, nossos organismos estão em consonância vibratória
com todos os movimentos que constituem a Vida da Natureza.
Deus
é simultaneamente potência e ato.
Quando as regras se generalizam,
as exceções aparentes se tornam regulares. Qualquer equívoco
na sua legislação portentosa é tão inaudito
como um ato mal-entendido.
Preciso
fora falar de Deus sem nomeá-Lo.
Dizia
Goethe que os homens tratam Deus como se o Ente Supremo, o Ser Incompreensível,
fosse a eles semelhante, pois, de outro modo não diriam, o Senhor
Deus, o nosso Bom Deus. Para eles, e sobretudo para a gente beata, que O
tem sempre nos lábios, Deus se torna um simples vocábulo,
uma expressão habitual, desligada de qualquer sentido. Entretanto,
se estivessem compenetrados da grandeza de Deus, silenciariam e, respeitosamente,
se absteriam de O vocalizar.
Que
orgulhoso insensato pretendeu Te definir, ó Deus! Ó meu Deus,
todo poder e ternura, imensidade sublime e inconcebível!
A
voz do oceano não abafa a minha voz, e meu pensamento a Ti se eleva,
ó Deus, com a prece coletiva!
A
investigação imparcial da Verdade exclui de seus domínios
os exageros do fanatismo tanto quanto os do Ceticismo. Ela prossegue na
sua tarefa laboriosa e fecunda, e expõe sinceramente o ensinamento
recolhido das suas descobertas sucessivas.
E
o homem vive à margem, indiferente a tantos esplendores, sem olhos
de ver nem ouvidos de ouvir, ignorando a Harmonia Universal, em cujo seio
deveria encontrar a sua felicidade e a sua glória.
A
ordem universal reinante em a Natureza, a inteligência revelada na
construção dos seres, a sabedoria espalhada em todo o conjunto,
qual uma aurora luminosa, e, sobretudo, a universalidade do plano geral
regida pela harmoniosa Lei da Perfectibilidade Constante, apresenta-nos,
já, agora, a onipotência divina como sustentáculo invisível
da Natureza, lei organizadora, força essencial, da qual derivam todas
as forças físicas, como outras tantas manifestações
particulares suas. Podemos,
assim, encarar Deus, como um pensamento imanente, residente e inatacável
na essência mesma das coisas, sustentando e organizando, Ele mesmo,
tanto as mais humildes criaturas quanto os mais vastos sistemas solares,
de vez que as Leis da Natureza não poderiam ser concebíveis
fora deste pensamento. Antes, são Dele – eterna expressão.
Ah!
Se nossa vista fosse penetrante o bastante para descobrir, ali, onde só
distinguimos pontos brilhantes no fundo negro do céu, os sóis
resplandecentes que gravitam pelo espaço e os mundos habitados que
os seguem em seu curso, se nos fosse dado abranger em um relance geral esses
milhares de sistemas-solidários, e, se nós, avançando
com a velocidade da luz, atravessássemos durante séculos de
séculos esse número ilimitado de sóis e de esferas,
sem nunca encontrar fim para esta imensidão prodigiosa, onde a Natureza
fez germinar os mundos e os seres, voltando nossos olhares para trás,
mas, não sabendo em que ponto do ilimitado encontrar este grão
de poeira que se chama de Terra, nos deteríamos fascinados e confundidos
por um tal espetáculo, e unindo nossa voz ao concerto da Natureza
Universal, diríamos do fundo de nossa alma: Deus todo-poderoso! Como
fomos insensatos ao crer que não há nada além da Terra,
e que nossa pobre morada tenha, só ela, o privilégio de refletir
Tua grandeza e Teu poder!
A
pluralidade dos mundos é uma doutrina verdadeira, pois os gênios
ilustres de todas as eras e, mais do que isto, as grandes vozes da Natureza,
ensinaram-na e proclamaram-na. Ela é uma doutrina admirável,
pois o Sopro da Vida que ela propaga sobre o Universo, transforma a aparente
solidão e povoa os espaços com os esplendores da Vida.
Se
a Terra fosse o único mundo habitado no passado, presente e futuro,
se fosse a única natureza, a única habitação
da vida, a única manifestação do Poder criador, seria
um fato incompatível com o esplendor eterno, ter formado, como obra
única, um mundo inferior, miserável e imperfeito. Aquele que
acredita na existência de um só mundo, portanto, é inevitavelmente
conduzido a esta monstruosa conclusão, de que as divinas hipóstases,
eternamente inativas até o dia da criação terrestre,
se manifestaram tão-somente pela criação de uma sombra,
e que toda a efusão de seu poder infinito não teve como resultado
senão a produção de um grão de poeira animada.
Beleza
eterna, não engendrada e imperecível, isenta de decadência
como de crescimento, que não é bela em uma parte e feia em
outra, bela somente em tal tempo, em tal lugar, em tal relação;
bela para esses, feia para aqueles; beleza que não tem forma sensível,
um rosto, mãos, nada de corporal; que também não é
tal pensamento ou tal ciência em particular, que não reside
em nenhum ser diferente dela mesma, como um animal, ou a Terra ou o céu,
que é absolutamente idêntica e invariável por si mesma,
da qual todas as outras belezas participam, de maneira, contudo, que seu
nascimento ou sua destruição não lhe acarrete nem diminuição,
nem crescimento, nem a menor mudança. Para chegar a ti, beleza perfeita,
é preciso começar pelas belezas de aqui embaixo, e, os olhos
fitos na Beleza Suprema, elevar-se sem cessar, passando, por assim dizer,
por todos os graus da escala, até que, de conhecimento em conhecimento,
se chegue ao Conhecimento por excelência, que não tem outro
fim que não o próprio Belo, e que se acaba conhecendo tal
como é em si...
De
onde vem ao meu espírito esta impressão tão pura da
Verdade? De onde lhe vêm essas regras imutáveis que orientam
o raciocínio, que formam os costumes, pelas quais ele descobre as
proporções secretas das figuras e dos movimentos? De onde
lhe vêm, numa palavra, essas Verdades Eternas que tanto tenho examinado?
Serão os triângulos, os quadrados e os círculos que
traço grosseiramente no papel que imprimem em meu espírito
suas proporções e relações? Ou será que
há outros cuja perfeita exatidão causa este efeito? Em qualquer
parte, no mundo ou fora do mundo, os triângulos e os círculos
subsistem nessa perfeita regularidade. De onde a Verdade seria impressa
em meu espírito? E sei que as regras do raciocínio e dos costumes
subsistem também em qualquer parte. De onde elas me comunicam sua
Verdade Imutável? Ou não seria, antes, que Aquele que espalhou
por toda à parte a medida, a proporção e a própria
Verdade imprima em meu espírito a idéia certa? É certo
que Deus é a razão primitiva de tudo o que existe e de tudo
o que se entende no Universo; que Ele é a Verdade Original, e que
tudo é verdadeiro por ligação com Sua Verdade Eterna,
que buscando a Verdade nós O encontramos, e que encontrando-A nós
O encontramos.
As
Humanidades dos outros mundos e a Humanidade da Terra são uma só
Humanidade.
'Todas
as vezes que um fato novo se revela no campo da Ciência, logo o averbam
de apócrifo; depois, que é contrário à Religião;
e, por fim, que há muito era sabido.' (Jean
Louis Rodolphe Agassiz, apud Camille Flammarion).
Ainda
hoje, sábios, filósofos, teólogos, metafísicos
e pensadores, que nos falam de Deus, da Providência, da prece, da
alma, da vida presente
e da
vida futura,
das relações da Divindade com o mundo, das causas finais,
da marcha dos acontecimentos, da independência do espírito,
das fórmulas de culto, das entidades espirituais etc. no mesmo sentido
e nos mesmos termos da escolástica do século XVI!
O
que constitui o gênio não é o entusiasmo (pois este
pode existir nos espíritos mais medíocres e vazios), e, sim,
a superioridade do racionalismo. O homem de gênio é o que vê
mais claro, o que percebe maior contingente de verdade, o que pode relacionar
maior número de fatos a uma idéia geral, o que encadeia todas
as partes de um todo a uma lei comum, e que, mesmo quando cria, qual se
dá na poesia, não faz mais do que realizar, pela imaginação,
a idéia que a sua inteligência concebeu.
Nascemos
para ficar de pé e contemplar o céu.
O
cérebro e todo o organismo não passam de uma sucessão
de moléculas em mutabilidade constante.
A
unidade da alma não existe somente a cada instante, considerada em
si mesma, mas, persiste de um a outro instante, e fica idêntica em
si mesma, apesar das mudanças que o tempo acarreta à composição
da substância cerebral.
O
movimento é amigo do repouso, e o melhor processo de criar no mundo
uma instituição estável e sólida é lançar
a idéia através de um turbilhão de cabeças frívolas.
Nosso
Corpo Físico se renova sucessiva e completamente, molécula
a molécula, de forma perpétua e rapidíssima, bastando
trinta dias para que se tenha um corpo integralmente renovado... A rigor,
o homem corporal não fica dois instantes idêntico a si mesmo...
A
matéria circula perpetuamente em todos os seres, e no ser humano,
em particular, não permanece dois dias análoga a si mesma...
Não
se pode provar que a constância dos traços seja o resultado
de simples fenômenos de assimilação e desassimilação,
e da modificação incessante da substância. Ainda que
assim fosse, não existiria nisto senão uma identidade de forma,
aparente, conservada pelas moléculas sucessivas, e não identidade
fundamental, um ser substancial que fica. A alma não é uma
sucessão de pensamentos, uma série de manifestações
mentais e, sim, um ser pessoal com a consciência de sua permanência.
Todas
as operações da inteligência humana são análises
sintéticas ou sínteses analíticas, isto é: consistem
essencialmente na decomposição de um dado todo ou na coordenação
de elementos distintos, em que cada qual intervém com a sua cota
e toma o seu lugar lógico.
Qualquer
que seja a ciência focalizada, nela se afirma a lei do espírito
humano, sem a qual não haveria qualquer relação entre
os diversos objetos do nosso conhecimento e nem a própria Ciência
existiria.
Se
julgarmos a alma pela sua ação intelectual, reconheceremos,
sem hesitação, que a força pensante não pode
ser um agregado de forças elementares. De fato, como poderia a alma
centralizar todas as observações que se lhe impõem,
grupar silogismos secundários em torno do principal, associar julgamentos
segundo as regras da Lógica, perceber a relação dos
termos convenientemente enunciados, coordenar em uma mesma intuição
os fenômenos estudados, formular hipóteses, comparar resultados?
Como poderia, em suma, abstrair e generalizar senão como força
absolutamente simples, indivisível e dotada da faculdade de tudo
avocar a si, como juiz único, em consciência única?
Alma
Força.
Longe
de ser um mal, a pobreza, quando provida de energia e de iniciativa pessoal,
poderá se transformar em benefício, de vez que faz sentir
ao homem a necessidade de lutar com o mundo, onde, a despeito dos que compram
o bem-estar a preços degradantes, também há confiança,
justiça e triunfo para os valorosos e honestos.
A
condição precípua da liberdade é a inteligência
ou a faculdade de conhecer e escolher os motivos. Quanto mais ativa for
a inteligência, mais ampla será a liberdade.
A
responsabilidade individual começa com a reflexão e com a
possibilidade de proceder voluntariamente.
Quando
não se tem nenhuma base sólida sobre a qual se possa apoiar
as hipóteses, quando não se tem, para as excursões
caprichosas da imaginação, senão o terreno movediço
do possível ou mesmo do verossímil, só se podem construir
castelos de fadas, que o vento leva com a mesma facilidade com que são
construídos.
Devemos
adotar este princípio: para avaliar sadiamente a natureza das coisas,
importa, antes de tudo, não tomarmos a nós mesmos como ponto
de comparação, e não ver os objetos em seu valor relativo
frente a nós, mas tentar conhecê-los em seu valor absoluto.
As
modificações causadas nas condições de vida
reagem sobre o organismo dos indivíduos e sobre a geração
das espécies.
O
absoluto não existe na Física; tudo é relativo.
A
mente humana procura conhecer relações; eis tudo o que pode
ousar. Cada um de seus conceitos se encontra no meio de uma linha que se
perde no alto e embaixo, no infinitamente grande e no infinitamente pequeno:
é na medida do infinito que reside toda ciência, e é
a comparação das coisas a uma unidade arbitrária tomada
como base que resulta o valor de nossos conhecimentos.
A
força é tão poderosa e a matéria tão
dócil que a diversidade na intensidade, na relação
e na combinação de forças em ação sobre
os diversos mundos não deixou de estabelecer uma diversidade nada
menor no estado orgânico dos seres. Quando se está convencido
que este estado nada mais é do que a resultante de todas as forças
que concorreram para a manifestação da vida, admite-se sem
dificuldade que um número infinito de estados diversos seja possível.
Se tomamos um astro em particular, por exemplo Júpiter, os elementos
deste globo, a brevidade de seus dias e noites, a rapidez de seu movimento,
a intensidade de sua gravidade, o grau de luz e de calor que recebe do Sol,
o concurso, enfim, de todas as condições nas quais este mundo
está colocado, esta reunião de elementos tão essencialmente
distintos dos elementos terrestres constituiu em sua superfície uma
ordem de existências incompatível com aquela ao qual pertencemos
na Terra.
As
forças diversas que estiveram em ação na origem das
coisas deram nascimento, nos mundos, a uma grande diversidade de seres,
seja nos reinos inorgânicos, seja nos reinos orgânicos. Os seres
animados foram, desde o começo, constituídos segundo formas
e organismos em correlação com o estado fisiológico
de cada uma das esferas habitadas. Os homens dos outros mundos diferem de
nós, tanto em sua organização íntima quanto
em seu tipo físico exterior.
Não
existe morte; o progresso é a lei da existência.
Quando
a alma, liberta das atenções, preocupações e
tendências corporais, vê em sonho um objeto que a encanta e
para o qual se sente atraída, tudo desaparece em torno de tal objeto
– que permanece só e se constitui o centro de um mundo de criações.
Ela o possui inteiramente e sem reservas, contempla-o, dele se apossa e
o faz seu, o Universo inteiro se apaga da reminiscência, para deixar
um domínio absoluto ao objeto da contemplação da alma.
Na
Criação, existem
ligações
invisíveis que não se rompem, qual acontece com os laços
mortais, correspondências íntimas que subsistem entre as almas,
apesar da separação pelas distâncias.
O
número exato de mundos ultrapassa toda a numeração
humana escrita ou passível de ser escrita. Se compreendermos o ilimitado,
ser-nos-á, talvez, permitido dizer que este número é
ilimitado.
Daí podermos concluir que há uma altíssima probabilidade
em favor da existência de muitos mundos exatamente semelhantes à
Terra, na superfície dos quais se realizam a mesma história
e a mesma sucessão de acontecimentos, e que se acham habitados pelas
mesmas espécies vegetais e animais, a mesma Humanidade, os mesmos
homens, as mesmas famílias, identicamente.
Fora
do movimento da Terra, o
tempo não existe.
As
leis do som diferem essencialmente das da luz. O som percorre somente 340
metros por segundo, e seus efeitos nada têm em absoluto de comum com
os da luz. Todavia, é evidente que, se avançamos no ar com
uma velocidade superior à do som, ouviremos ao inverso os sons saídos
dos lábios de um interlocutor. Se, por exemplo, este recitasse um
alexandrino, o audiente, distanciando-se com a predita rapidez – a
partir do instante em que ouvisse a última sílaba –
encontraria sucessivamente as outras onze – pronunciadas antes –
e ouviria o verso ao avesso! Luís de Camões