Martin Luther

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

Venda de Indulgências em uma Igreja
(Xilogravura de um panfleto de 1521)

 

 

As Noventa e Cinco Teses ou Disputa sobre o Poder e Eficácia das Indulgências [Disputatio Pro Declaratione Virtutis Indulgentiarum] é uma lista de proposições para uma disputa acadêmica escrita em 1517 pelo padre, teólogo, autor, compositor de hinos, professor e frade agostiniano Martin Luther (Eisleben, Condado de Mansfeld, Sacro Império Romano-Germânico, 10 de novembro de 1483 – Eisleben, Condado de Mansfeld, Sacro Império Romano-Germânico, 18 de fevereiro de 1546), então professor de Teologia Moral na Universidade de Wittenberg, Alemanha. As Teses são, retrospectivamente, consideradas como tendo lançado a Reforma Protestante e o nascimento do Protestantismo, apesar de vários grupos protoprotestantes terem existido anteriormente. Ela detalhou a oposição de Lutero ao que ele via como abuso e corrupção da Igreja Católica Romana pelo clero católico, que estava vendendo indulgências plenárias, que eram certificados supostamente para reduzir a punição temporal no purgatório por pecados cometidos pelos compradores ou seus entes queridos. Nas Teses, Lutero afirmou que o arrependimento exigido por Cristo para que os pecados sejam perdoados envolve arrependimento espiritual interior, em vez de mera confissão sacramental externa. Ele argumentou que as indulgências estavam levando os católicos a evitar o verdadeiro arrependimento e a tristeza pelo pecado, acreditando que poderiam renunciar a isso obtendo uma indulgência. Estas indulgências, de acordo com Lutero, desencorajavam os católicos de doar aos pobres e realizar outros atos de misericórdia, o que ele atribuiu à crença de que os certificados de indulgência eram espiritualmente mais valiosos. Embora Lutero alegasse que suas posições sobre as indulgências concordavam com as do Papa Leão X [nascido Giovanni di Lorenzo de' Medici (11 de dezembro de 1475 – 1º de dezembro de 1521), chefe da Igreja Católica e governante dos Estados Pontifícios de 9 de março de 1513 até sua morte], as Teses desafiam uma bula papal do século XIV, afirmando que o papa poderia usar o tesouro do mérito [crença católica nos méritos de Jesus Cristo e dos seus fiéis, um tesouro que, por causa da comunhão dos santos, beneficia os outros também] e as boas ações de santos passados para perdoar a punição temporal pelos pecados. As Teses são enquadradas como proposições a serem discutidas em debate, em vez de necessariamente representar as opiniões de Lutero, mas, Lutero, mais tarde, esclareceu suas opiniões nas Explicações da Disputa Sobre o Valor das Indulgências.

Lutero enviou as Teses anexadas a uma carta a Alberto de Brandemburgo, Arcebispo de Mainz, em 31 de outubro de 1517, uma data agora considerada o início da Reforma e comemorada anualmente como o Dia da Reforma. Lutero também pode ter afixado as Noventa e cinco Teses na porta da Igreja de Todos os Santos e em outras igrejas, em Wittenberg, de acordo com o costume da Universidade, em algum momento entre 31 de outubro e meados de novembro. As Teses foram rapidamente reimpressas e traduzidas, e distribuídas por toda a Alemanha e pela Europa. Elas iniciaram uma guerra de panfletos com o pregador de indulgências Johann Tetzel, que espalhou a fama de Lutero ainda mais. Os superiores eclesiásticos de Lutero o julgaram por heresia, o que culminou em sua excomunhão, em 1521. Embora as Teses tenham sido o início da Reforma, Lutero não considerou as indulgências tão importantes quanto outras questões teológicas que dividiriam a igreja, como a justificação somente pela fé e a escravidão da vontade. Seu avanço nessas questões viria mais tarde, e ele não via a escrita das Teses como o ponto em que suas crenças divergiram daquelas da Igreja Católica Romana.

Este estudo meio maçante, reconheço, reproduz, para reflexão do leitor, as Noventa e Cinco Teses, sobre as quais, eventualmente, apresento alguns comentários esotéricos, e, portanto, obviamente, discordantes e impugnantes. Bem, se você não conhece as 95 Teses de Martin Luther, ao lê-las, a seguir, facilmente constatará que nenhuma delas ensina coisa nenhuma que possa ser chamada de útil ou profícua, ou seja, as Teses Luteranas são todas, digamos assim, espiritualmente inúteis, pois, nenhuma delas ensina como alcançar a Senda da Libertação para ninguém de coisa alguma. Em um certo sentido, hoje, ler essas 95 Teses é ± uma perda de tempo, ainda que, no século XVI, tenha sido o importantíssimo estopim para Reforma Protestante, Reforma Européia ou simplesmente Reforma, cujo início é geralmente datado em 31 de outubro de 1517, em Wittenberg, Saxônia, quando Martin Luther enviou suas Noventa e Cinco Teses sobre o Poder e a Eficácia das Indulgências ao Arcebispo de Mainz. As Teses, como você lerá abaixo, debatiam e criticavam a Igreja e o papado, mas. se concentravam na venda absurda de indulgências e nas políticas doutrinárias sobre o purgatório, o julgamento particular e a autoridade do papa. Mais tarde, no período entre 1517 e 1521, Martin Luther escreveria obras sobre a devoção à Virgem Maria, a intercessão e devoção aos santos, os sacramentos, o celibato clerical obrigatório e, finalmente, sobre a autoridade papal, a lei eclesiástica, a censura e a excomunhão, o papel dos governantes seculares em questões religiosas, a relação entre o Catolicismo e a lei, as boas obras e o monaquismo (ou monasticismo). Algumas freiras, como Katharina von Bora e Ursula de Munsterberg, deixaram a vida monástica quando aceitaram a Reforma, mas, outras ordens adotaram a Reforma, pois, os luteranos continuaram a ter mosteiros. Mas, seja como for, vamos ao estudo, pois, de uma forma ou de outra, tudo acaba sendo proveitoso.

 

As Noventa e Cinco Teses de Martin Luther

 

Martin Luther – Reforma Protestante

 

 

As Noventa e Cinco Teses

 

1 Ao dizer: Fazei penitência etc. [Mt, IV: 17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência. [Já expliquei que a entidade espiritual jesus cristo nunca existiu e não existe; o Cristo e o Mestre Jesus são Entidades distintas – Cada Um é Cada Um, porém, os Dois são Um. O Cristo é o Chefe (Cabeça, Líder) da Grande Loja Branca; o Mestre Jesus (Discípulo direto do Cristo) é um dos muitos Mestres Ascensos da Grande Loja Branca. Por outro lado, se a nossa vida inteirinha fosse exclusivamente de ou para fazer penitência, não faríamos outra coisa além de ficar fazendo penitência, o que, de fato, não deixa de ser um delírio egóico-esquizofrênico sem sentido. Por este simples motivo, s.m.j., tanto o Cristo quanto o Mestre Jesus jamais teriam recomendado essa maluquice. Afinal, tudo o que é demais é moléstia e, muitas vezes, o que é muito pior, a moléstia chega a ser aprisionadoramente retrogressiva. Portanto, por exemplo, eremitismo e celibatarismo são duas formas extremadas de egoísmo esquizofrênico, e, por isto, são inteiramente contrários à Ordem e às Leis Cósmicas. Não existe essa coisa de salvação celibatária e eremítico-solitária. Tentativa de Salvação Eremítico-Solitária = Esquizofrenia + Cagaço Sem-fim + Egoísmo + Apego + Miragem + Ilusão + Mentira + Delírio + Fantasia Teológica + ...]

2 Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).

3 No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; portanto, a penitência interior seria nula, se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne. [A Illuminação, a Compreensão e a Libertação não dependem de mortificação purificatória da carne. A carne não peca, digamos assim. A autoflagelação é uma doença esquizofrênico-fideísta sem pé nem cabeça e sem cabeça nem pé.]

 

Autoflagelação de Silas
[Cena do filme The Da Vinci Code (O Código Da Vinci.)
No filme, Silas, é interpretado por Paul Bettany.]

 

 

Penitente se Autoflagelando aos Pés de uma Imagem de Jesus Crucificado
(Pintura de Antonio da Firenze, século XV)

 

4 Por conseqüência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus. Ninguém entra em um reino dos céus lá, acolá ou em não sei onde. O Reino Dos Céus é Interior. In Corde in Sahasrara.]

5 O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas, senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.

6 O papa não pode remitir culpa alguma, senão declarando e confirmando que ela foi perdoada por Deus, ou, sem dúvida, remitindo-a nos casos reservados para si; se estes forem desprezados, a culpa permanecerá por inteiro. [As teologias enganosas e falsificadoras inventaram (e continuam inventando) deuses de araque e de todos os tipos que gostam e que não gostam, que querem e que não querem, que proíbem e que autorizam, que punem e que perdoam, que sim e que não, que isso e que aquilo... Daí, aquela maniazinha doentia e fedorenta dos baba-ovos de tentar fazer negócios com esses deuses fajutos (inventados pelos teólogos enganadores). É o velho e inócuo toma-lá-e-me-dá-cá!]

 

Igualzinho ao cordão dos puxa-sacos, a bufunfa
dos donos das religiões cada vez aumenta mais!

 

 

 

7 Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.

8 Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.

9 Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade. [Ora, tenha a santa paciência! Porque o Espírito Santo nos beneficia através do papa? Se alguma coisa nos beneficia, é somente o Bom Combate, isto é, o nosso esforço permanente para mudar e o mérito que, eventualmente, possa vir a decorrer desse esforço. Nada mais.]

10 Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório. [Purgatório = Invenção Teológica. Mais um estratagema para faturar dindim.]

11 Essa erva daninha de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.

12 Antigamente, se impunham as penas canônicas não depois, mas, antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.

13 Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.

14 Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais, quanto menor for o amor.

15 Este temor e este horror, por si sós, já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.

16 Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança. [Inferno, purgatório e céu foram inventados como forma de domínio eclesial autoritário (pode-não-pode) e para faturar dindim, através da venda de milagres impossíveis. O banco mais rico do Planeta é o Banco do .]

 

 

17 Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o horror diminua na medida em que cresce o amor.

18 Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontram fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.

19 Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza. [Quem pode ter plena certeza de quê? A única certeza absoluta que podemos ter é que, um dia, todos os vivos botarão o bloco na rua e comerão capim pela raiz.]

20 Portanto, sob remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas, somente, aquelas que ele mesmo impôs. [Ninguém tem poder, procuração ou mandato para perdoar ninguém. Não existe remissão de bulhufas. Há, sim, compensações educativas (sistemáticas e repetitivas ou não), eventual compreensão e futura libertação (de si mesmo) —› Divinização Consciente (Síntese de Ilimitadas e Intermináveis Sínteses).]

 

Somos responsáveis por todos os eventos que ocorrem em nossas vidas.

 

21 Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.

22 Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida. [Não se paga nada porque não há uma caixa registradora do lado de lá e ninguém cobra xongas. Somos nós que queremos e precisamos avançar. Mas, para avançarmos, precisaremos encarnar e compensar as babaquices e as trapalhices que fizemos. Simples assim. O resto é papo-furado de teólogo mal-intencionado.]

23 Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos. [Já disse e não repetirei mais: não há perdão nenhum. De nada.]

24 Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena. [Isto sempre foi assim e continua sendo. A questão é: até quando? Até o inferno congelar?]

25 O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular. [Poder sobre o que não existe? Ora, isto não é poder; é sacanagem para enganar trouxa bem-intencionado. Mutatis mutandis, por exemplo, quem soube aproveitar isto muito, muito, muito bem foi o médium marca roscofe João de Deus.]

 

 

26 O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas, por meio de intercessão.

27 Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu]. [E assim, conforme já comentei acima, o Banco do ficou podre de rico.]

28 Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.

29 E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas? Dizem que este não foi o caso com S. Severino e S. Pascoal. [Aqui, Martin Luther se referiu a Severino de Nórica (Roma, 410 – ?, 8 de janeiro de 482) e ao Papa Pascoal I (Roma, 775 – Roma, 11 de fevereiro de 824), que, segundo a lenda, preferiram ficar mais tempo no Purgatório, para que pudessem ter maior glória no céu. Enfim, se céu existe, como é possível haver um pedaço ou condição do céu com menor glória e outro ou outra com maior glória? Só um esquizofrênico pode imaginar um treco desses!]

 

 

30 Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.

31 Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo. [Isto não é raríssimo; simplesmente, não acontece.]

32 Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação, através de carta de indulgência. [Bem, vamos lá rapidinho. Se Deus existe, só pode ser um Deus bom e misericordioso. Se sim, como um Deus bom e misericordioso pode condenar alguém eternamente? Pior: se foi Ele quem criou tudo, segundo o entendimento teológico católico, Ele é o responsável pela sua criação. Condenar alguém ao sofrimento eterno é condenar a Si Mesmo. Falha no BRAShITh. Ou não? Essa coisa toda é mesmo uma maluquice!]

33 Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem ser as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Deus.

34 Pois, aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.

35 Não pregam cristãmente os que ensinam não ser necessária a contrição àqueles que querem resgatar ou adquirir breves confessionais.

36 Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão pela de pena e culpa, mesmo sem carta de indulgência.

37 Qualquer cristão verdadeiro, seja vivo, seja morto, tem participação em todos os bens de Cristo e da Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

38 Mesmo assim, a remissão e participação do papa, de forma alguma, devem ser desprezadas, porque (como disse) constituem declaração do perdão divino.

39 Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar perante o povo ao mesmo tempo, a liberdade das indulgências e a verdadeira contrição.

40 A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, pelo menos dando ocasião para tanto. [Só uma pessoa completamente biruta ama as penas! Não blasfemar e não se revoltar com as necessárias compensações educativas é uma coisa; curti-las e amá-las é esquizofrenicamente outra.]

41 Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.

42 Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia. [Nada pode ser comparado às obras de misericórdia.]

43 Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências. [Comprar Indulgência = Fazer Negócio Escalafobético com Deus.]

44 Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.

45 Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas, a ira de Deus. [Novamente, tenha a santa paciência! Ira de Deus? Como assim? Acho que Martin Luther não conseguiu se libertar das destruições, das vinganças e das matanças do Velho Testamento!]

 

 

46 Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.

47 Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.

48 Deve-se ensinar aos cristãos que, ao conceder indulgências, o papa, assim como mais necessita, da mesma forma mais deseja uma oração devota a seu favor do que o dinheiro que se está pronto a pagar.

49 Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas. [Sinceramente, eu nunca entendi por que os teólogos insistem tanto nesse tal de temor de Deus. Ora, se Deus é puro Amor Misericordioso, por que temê-Lo?]

50 Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

51 Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto - como é seu dever - a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extraem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.

52 Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.

53 São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.

54 Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ele.

55 A atitude do papa é necessariamente esta: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, de procissões e de cerimônias.

 

 

56 Os tesouros da Igreja, dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo. [Nem a própria Cúria sabe o tamanho da grana do Banco do !]

57 É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas, apenas, os ajuntam.

58 Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois, estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.

59 São Lourenço (Huesca ou Valência, Hispânia, 225? Roma, 10 de agosto de 258) disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.

 

São Lourenço de Huesca
[Martírio de São Lourenço, por Peter Paul Rubens,
queimado vivo por ordem do imperador romano
Públio Licínio Valeriano (cerca de 199 – 260 ou 264)]

 

60 É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que lhe foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem este tesouro.

61 Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos, o poder do papa, por si só, é suficiente.

62 O verdadeiro tesouro da Igreja é o Santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

63 Este tesouro, entretanto, é o mais odiado, e com razão, porque faz com que os primeiros sejam os últimos.

64 Em contrapartida, o tesouro das indulgências é o mais benquisto, e com razão, pois, faz dos últimos os primeiros.

65 Por esta razão, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.

66 Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.

67 As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tal, na medida em que dão boa renda.

 

 

68 Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade na cruz.

69 Os bispos e os curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.

70 Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbido pelo papa.

71 Seja excomungado e maldito quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.

 

Excomunhão Católica
(Quem pode excomungar quem?)

 

 

 

72 Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e a licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.

73 Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,

74 muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram defraudar a santa caridade e verdade.

 

 

75 A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes ao ponto de poderem absolver um homem, mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.

76 Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados veniais no que se refere à sua culpa.

77 A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o papa.

 

São Pedro Apóstolo (Betsaida, século I a.C. – Roma, cerca de 67 d.C.)
[Patriarca fundador da Igreja de Antioquia – Primeiro Papa da Igreja Católica]

 

78 Afirmamos, ao contrário, que também este, assim como qualquer papa, tem graças maiores, quais sejam, o Evangelho, os poderes, os dons de curar etc., como está escrito em Co. I: 12.

79 É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insignemente erguida, equivale à cruz de Cristo.

80 Terão que prestar contas os bispos, os curas e os teólogos que permitem que semelhantes conversas sejam difundidas entre o povo.

81 Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil, nem para os homens doutos, defender a dignidade do papa contra calúnias ou perguntas, sem dúvida argutas, dos leigos.

82 Por exemplo: por que o papa não evacua o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas o que seria a mais justa de todas as causas se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica, que é uma causa tão insignificante?

83 Do mesmo modo: por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?

84 Do mesmo modo, que nova piedade de Deus e do papa é essa, por causa do dinheiro, permitem ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, porém não a redimem por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta, por amor gratuito?

85 Do mesmo modo: por que os cânones penitenciais de fato e por desuso já há muito revogados e mortos ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?

86 Do mesmo modo: por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos mais ricos Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?

87 Do mesmo modo: o que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à remissão e participação plenária?

88 Do mesmo modo: que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que, se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações 100 vezes ao dia a qualquer dos fiéis?

89 Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?

90 Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.

91 Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.

92 Fora, pois, com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo: "Paz, paz!" sem que haja paz!

93 Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo: "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz!

94 Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno;

95 e, assim, a que confiem que entrarão no céu antes através de muitas tribulações do que pela segurança da paz.

 

Addendum

 

 

Racionalmente, como pode ser
que um sacana venda e que um babaca compre
sacolas e balaios de miragens e ilusões,
que nunca deixarão de ser Fatas Morganas?1

Racionalmente, como pode ser
que um sacana venda e que um babaca compre
– doando dízimos, trízimos e quatrízimos –
o que nunca poderá ser vendido nem comprado?

Racionalmente, como pode ser
que um sacana venda e que um babaca compre
uma remissão absoluta das penas temporais,
tanto para já quanto para quando largar a casca?

Racionalmente, como pode ser
que um sacana venda e que um babaca compre
milagres, bênçãos, proteção contra demônios
e passaportes ou salvos-condutos para o céu?

Racionalmente, como pode ser
que um sacana venda e que um babaca compre
águas consagradas milagrosas de araque
e feijões mágicos sobrenaturais fajutos?

Racionalmente, como pode ser
que um sacana venda e que um babaca compre
histórias teologais fantásticas da carochinha
e glossolalias para enganar zés-dos-anzóis?

 

 

 

 

_____

Nota:

1. O Efeito de Fata Morgana, do italiano Fata Morgana (ou seja: Fada Morgana), em referência à fictícia feiticeira (Fada Morgana), meia-irmã do Rei Artur, que, segundo a lenda, era uma fada que conseguia mudar de aparência, é um efeito ótico (Princípio de Fermat). Trata-se de uma miragem em alto-mar que se deve a uma inversão térmica (fenômeno atmosférico de milhares de metros de espessura que ocorre no topo da camada limite planetária (CLP), a uma altitude da ordem de 1 km sobre áreas continentais, e onde o gradiente térmico (gradiente vertical da temperatura do ar) decresce com a altura, numa razão inferior a 10º C por km (gradiente adiabático). Objetos que se encontrem no horizonte, como, por exemplo, ilhas, falésias, barcos ou icebergs, adquirem uma aparência alargada e elevada, similar aos castelos de contos de fadas. A Fata Morgana mais célebre é a que se produz no Estreito de Messina, entre a Calábria e a Sicília.

 

 

Música de fundo:

Verleih uns Frieden Gnädiglich (A Paz nos Queiras Conceder – Hino escrito em em 1529, baseado na antífona Da Pacem, Domine, do século IX) Verleih uns Frieden Gnädiglich
Composição: Martin Luther

Fonte:

http://openhymnal.org/Mp3/In_These_Our_Days_So
_Perilous-Verleih_uns_Frieden_Gnaediglich.mp3

 

Páginas da Internet consultadas:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Invers%C3%A3o_t%C3%A9rmica

https://jp.pinterest.com/pin/587930926358182854/

https://estiloadoracao.com/o-evangelho-de-mateus/

https://www.cnnbrasil.com.br/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Protestante

https://stock.adobe.com/

https://giphy.com/explore/optical-spiral

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_(ap%C3%B3stolo)

http://catholicisme13.blogspot.com/2009/01/venda-de-indulgencias.html

http://www.clubedotaro.com.br/site/h22_4_eliphas_levi.asp

https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/historia-da-excomunhao.phtml

https://br.pinterest.com/pin/make-dat-paper--342695852872684832/

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