CIÊNCIA
E TECNOLOGIA
Havana, 3 Junho de 2006.
Morreram 12 mil... e não é notícia!
Se
quatro prédios desabassem, quatro World Trade Center, por exemplo,
repletos de crianças, com o saldo trágico de 12 mil
mortos, imagino que ninguém duvidaria que essa notícia
terrível apareceria nas manchetes da mídia toda.
Ninguém,
em redação ou estação de rádio
ou televisão, objetaria que a notícia dessas 12 mil
crianças mortas seja mostrada em manchetes e colunas, opiniões
e reportagens, fotografias e testemunhos.
Ninguém,
com voz pública, deixaria passar a oportunidade de se referir
a acontecimento tão dramático, destacando que nunca
mais ocorreria tamanha tragédia.
Se
um terremoto sacudisse um país ou um tsunami surgisse
de improviso em uma praia e morressem 12 mil crianças, ninguém
pretenderia dar prioridade de espaço num meio de comunicação
a uma partida de futebol ou à doença de uma cantora
popular de toadas. Não haveria líder político
ou religioso no mundo que não se mostrasse consternado, nem
governo ou organização de ajuda humanitária que
não mobilizasse seus recursos.
Se
um bando terrorista seqüestrasse 12 mil miúdos e concedesse
um prazo de 24 horas, ameaçando de executá-los se não
fossem cumpridas suas exigências, não haveria largo no
mundo que não se lotasse de mãos brancas exigindo a
libertação dos condenados; não haveria um só
cidadão indiferente da sorte dessas 12 mil crianças.
Ora
bem, todos os dias, sempre que acordamos, já morreram 12 mil
garotos no mundo. Não por causa do tsunami que não
ocorreu ontem, nem da torre que também não desabou ou
do bando terrorista; essas 12 mil crianças morreram de fome,
de simples e maldita fome. E a fome e suas conseqüências
miseráveis não é notícia.
—
Seria cansativo para a audiência uma manchete de oito colunas,
todos os dias, em que a única variável fosse o número,
cada dia mais crescente — disse o diretor do meio de comunicação.
Por
isso, de jeito nenhum, vai dedicar uma manchete breve, uma crônica
triste, ou uma resenha na seção de Mundo Insólito.
Também
não há oportunidade de comemorar aniversários,
pois, todos os dias, se repete o número de mortos e suas causas,
e não haveria um só dia em que coincidissem tragédia
e aniversário.
Do
café da manhã ao jantar, da edição do
jornal matutino ao informativo da noite, morrem 12 mil crianças.
E
apenas estamos falando da fome. Muitos prédios caem todos os
dias por causas semelhantes.
Tsunamis
de doenças para aqueles que não podem adquirir as vacinas
adequadas, terremotos que desabam escolas e parques infantis, organizações
terroristas que lucram com a exploração do trabalho
infantil, com a prostituição de meninas e meninos.
E
apenas falamos da infância.
Porém,
não há um só largo repleto de mãos brancas
para condenar um crime que não por acontecer todos os dias,
deixa de ser um crime, nem um só meio de comunicação
que dê cobertura a tamanhos atentados, que interrompa seus programas
para divulgar ao vivo e em direto uma notícia de última
hora, no mesmo lugar da notícia, um correspondente
que emende o número de mortos e desaparecidos, que entreviste
os moradores, antes de devolver a imagem aos estúdios e passar
a outros comerciais.
O
relatório é das Nações Unidas. A cada
sete segundos, uma criança morre de fome. Por volta de
12 mil em cada dia. [(24 x 60 x 60) ÷ 7 = 12.342 crianças]
A
imprensa precisaria de várias edições especiais
ou acrescentar mais 60 páginas a cada número, para informar
seus nomes, seus rostos, as famílias magoadas pela dor e pela
raiva dessas 12 mil crianças que não têm quem
sofra por elas nem aparecem em manchetes, que carecem de história,
para as quais ninguém organiza missas de aniversário
e homenagens. Esses 12 mil garotos que morrem dia-a-dia – vítimas
da criminosa ordem econômica que nos é vendida como progresso
– que tem nas leis que a amparam a fortaleza de seu prédio
impune e que apavora, por meio de seus bandos monetários, o
deposto governo da vida. (Grifo e sublinhado meus).
Fonte:
http://www.granma.cu/portugues/
2006/julio/lun3/28noticia-p.html